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sexta-feira, 23 de maio de 2025

Santa Cruz: uma Base Aérea com muitas histórias para contar - Parte 2

 

Na segunda e última parte da matéria sobre a Base Aérea de Santa Cruz, o site Aviação em Floripa vai levar os seus leitores para um passeio inédito pelos seus monumentos e construções históricas. Você vai conhecer também em detalhes, através de imagens exclusivas, todas as aeronaves preservadas, um resumo histórico e operacional de cada uma delas, além de muitas outras informações. Boa leitura!


Caminhar pela Base Aérea de Santa Cruz é uma verdadeira jornada pela história da Aviação Militar brasileira. O local reúne um importante acervo de aeronaves preservadas, monumentos e construções com um grande valor histórico e cultural. Ao todo, são sete aviões que marcaram época na Força Aérea Brasileira, incluindo todos os modelos operados pelo Primeiro Grupo de Aviação de Caça. Dos tempos em que a Base ainda se chamava Campo Bartolomeu de Gusmão e recebia os grandes dirigíveis, ficaram como testemunho daquela época, o Hangar do Zeppelin, o reservatório usado para armazenar o gás hidrogênio, além de outras edificações. Outro ponto que merece destaque é o Memorial Senta a Púa, construído para eternizar o legado daqueles que voaram e combateram nos céus da Itália, na Segunda Guerra Mundial. O monumento guarda também os restos mortais do Brigadeiro Nero Moura, primeiro Comandante do Primeiro Grupo de Aviação de Caça e Patrono da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. Completando o conjunto, existem ainda diversos monumentos individuais e temáticos, espalhados pela Base Aérea de Santa Cruz, conforme mostra a arte abaixo. Nesta matéria especial, o site Aviação em Floripa vai conduzir seus leitores para uma visita exclusiva, apresentando através de muitas imagens e informações, cada um deles. 


A Base Aérea de Santa Cruz (BASC) é uma Organização Militar da Força Aérea Brasileira, subordinada operacionalmente ao Comando de Preparo (COMPREP) e administrativamente ao Terceiro Comando Aéreo Regional (III COMAR). É também denominada como Campo Nero Moura, um tributo ao primeiro Comandante do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa) e Patrono da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. Há quase um século, o local guarda uma ligação muito forte com fatos importantes.da aviação brasileira, desde o tempo em que os grandes dirigíveis cruzavam os céus do mundo, transportando passageiros. O principal testemunho desta época é o imponente hangar, construído para abrigar e prestar serviços de manutenção para os gigantes voadores. Sua denominação oficial é Hangar "Bartolomeu de Gusmão", em homenagem ao padre luso-brasileiro precursor nos experimentos e na utilização de balões, entretanto, a edificação atende por outro nome, "Hangar do Zeppelin", termo pelo qual os dirigíveis eram popularmente conhecidos. A obra teve início em 1934 e dois anos mais tarde, precisamente em 26 de dezembro de 1936, o hangar foi inaugurado. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, em janeiro de 1941, o local tornou-se um Aeródromo Militar e a grande estrutura continuou servindo aos mesmos propósitos de outrora, porém, a partir de então, apoiando as aeronaves da FAB. 

Tudo no hangar reflete a sua grandeza, representada por números superlativos. São 274 metros de comprimento e 58 metros, igualmente de largura e atura, medida equivalente a um prédio de 20 andares. A estrutura, vista de longe, se destaca na paisagem e de perto, impressiona pelo tamanho. Era pela abertura localizada do lado sul que os dirigíveis adentravam a edificação, por intermédio de uma torre de atracação sobre trilhos. As duas laterais da porta abriam-se em toda a extensão de altura e largura do hangar, e cada uma das folhas, pesava cerca de 80 toneladas. A abertura e o fechamento eram realizados por motores elétricos ou de forma manual, por meio de um sistema de contrapesos e manivelas. Em 2011, todo o conjunto foi completamente restaurado. O portão norte, apresenta dimensões menores, 28 metros de largura por 26 de altura e tinha as funções de ventilação e saída da torre de atracação. É um dos últimos hangares destinados a dirigíveis existentes no mundo e também o que apresenta melhores condições de preservação, mantendo as suas linhas arquitetônicas originais. Desde 1998, a construção é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Próxima ao hangar, uma outra estrutura chama a atenção. É o reservatório em formato circular, para armazenamento do gás hidrogênio, usado para preencher o compartimento interno dos dirigíveis. Sugestivamente pintado como um grande globo terrestre, hoje em dia, funciona como reservatório de água para abastecer a Base Aérea de Santa Cruz.

Fotos: Marcelo Lobo da Silva

O entorno do Hangar, abriga um grande acervo arquitetônico, formado por diversas construções da década de 30 do século passado, como o prédio que sedia o Comando da Base Aérea de Santa Cruz.

Ainda é possível encontrar alguns vestígios da linha férrea que ligava o Campo Bartolomeu de Gusmão ao centro do Rio de Janeiro. Por estes trilhos, chegou todo o aço usado na construção do Hangar.


Outra construção que se destaca na Base Aérea de Santa Cruz é o Memorial Senta a Púa, projetado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), em homenagem aos veteranos do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa) e da Primeira Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO), que atuaram durante a Campanha da Itália, na Segunda Guerra Mundial. A pedra fundamental da obra foi colocada no dia 20 de abril de 2000, em meio às comemorações do Dia da Aviação de Caça daquele ano. Na mesma data, o antigo Campo Bartolomeu de Gusmão, que mais tarde se transformou na Base Aérea de Santa Cruz, passou a ser denominado como Campo Nero Moura. No ano seguinte, em 22 de abril de 2001, o Memorial foi inaugurado. O projeto idealizado por Niemeyer é formado por uma estrutura curva em concreto armado, simbolizando o movimento dos aviões do Grupo de Caça, em atitude de bombardeio picado, lembrando ainda, a trajetória das bombas lançadas rumo ao solo. Junto à entrada do monumento, encontra-se o famoso Emblema do Primeiro Grupo de Aviação de Caça e, no seu interior, uma série de placas metálicas com os nomes de todos os integrantes das duas Unidades Aéreas, que participaram do conflito. 

Fotos: Marcelo Lobo da Silva

Um fato marcante aconteceu em abril de 2002, quando os restos mortais do Brigadeiro Nero Moura, Patrono da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, foram trazidos da Cripta dos Aviadores no cemitério São João Batista, na cidade do Rio de Janeiro e colocados em uma Urna junto ao Memorial. A iniciativa partiu do Capitão Osias Machado da Silva (1925-2016), membro do Escalão Terrestre do Grupo de Caça e contou com o apoio do então Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista e do Comandante da Base Aérea de Santa Cruz à época, Tenente-Coronel Jorge Cruz de Souza e Mello. Todos os anos, durante a Solenidade pelo Dia da Aviação de Caça, uma coroa de flores é depositada sobre o Mausoléu. Na praça que abriga o Memorial, encontram-se os bustos do Brigadeiro Nero Moura e do Capitão Pedro de Lima Mendes, herói de guerra com 95 missões de combate e Patrono do Segundo Esquadrão do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (2º/1º GAvCa), morto em um acidente na Base Aérea de Santa Cruz, em julho de 1946, durante um voo de instrução. Existem ainda no local, duas placas metálicas, uma delas, com informações sobre o projeto de Niemeyer e outra, alusiva aos 60 anos do dia 22 de abril de 1945, comemorado em 2005. Por fim, um caça P-47D Thunderbolt, aeronave utilizada pelo Grupo de Caça nos céus da Itália, encontra-se disposto em um pedestal, próximo ao Memorial. Sobre ele, falaremos em detalhes, mais adiante.

Fotos: Marcelo Lobo da Silva



Anexa ao Hangar do Zeppelin, está localizada a Sala Histórica da Base Aérea de Santa Cruz, um local dedicado a guardar o acervo e preservar, através dos mais variados itens, os fatos marcantes, a história da Base Aérea e a contribuição de personalidades e Unidades Aéreas para o desenvolvimento da Aviação Militar e da própria Força Aérea Brasileira. A iniciativa visa retomar as antigas instalações, que guardavam uma rica e vasta coleção de objetos. O espaço atual é bem recente, inaugurado em 9 de novembro de 2024, durante o XXXVI "Raduno dos Adelphis" e ainda está em fase de montagem e organização. A ideia é que além de servir à sua atividade-fim, seja também um local de encontro para recepções, lançamentos de livros, apresentações culturais e exposições. O que já está pronto e à disposição dos visitantes, encontra-se disposto em três ambientes, reunindo algumas preciosidades, como o mobiliário de trabalho utilizado pelo Marechal do Ar Eduardo Gomes, Patrono do Correio Aéreo Nacional e da Força Aérea Brasileira, na época em que servia em Santa Cruz. Também lá estão as cadeiras originais usadas durante os briefings das missões, pelos integrantes do Primeiro Grupo de Aviação de Caça em seus primeiros anos de operação na Base Aérea de Santa Cruz, além de diversos totens com fotografias e informações sobre a participação da FAB na Segunda Guerra Mundial. Outro espaço que merece destaque é a Sala Histórica do Primeiro Esquadrão do Décimo Sexto Grupo de Aviação (1º/16º GAv), que operou em Santa Cruz entre os anos de 1988 e 2016, reunindo uma grande quantidade de fotos e itens que contam a história, os momentos marcantes e as conquistas da Unidade Aérea.






Fotos: Marcelo Lobo da Silva


A Base Aérea de Santa Cruz conta com um grande acervo de aeronaves utilizadas pela Força Aérea Brasileira em suas dependências, quase um museu a céu aberto. São sete no total, incluindo todos os modelos de aviões já operados pelo Primeiro Grupo de Aviação de Caça ao longo de sua história, a saber: Republic P-47D Thunderbolt (1944-1953), Gloster F-8 Meteor (1953-1974), Lockheed TF-33A Thunderbird (1968-1972), AT-26 Xavante (1972-1975) e Northrop F-5B Freedom Fighter (1975-1996). Existem ainda em exposição, um Grumman P-16 Tracker, empregado entre os anos de 1961 e 1996, pelo Primeiro Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE) e um caça-bombardeiro A-1A, utilizado pelo Primeiro Esquadrão do Décimo Sexto Grupo de Aviação, no período compreendido entre 1989 a 2016. Importante destacar que essas duas Unidades Aéreas, hoje extintas, tiveram a Base Aérea de Santa Cruz como sua sede única, durante todo o tempo em que permaneceram em atividade. Conheça a partir de agora, através de fotos exclusivas e informações, detalhes de cada uma dessas aeronaves. 

Um dos principais caças norte-americanos a atuar na Segunda Guerra Mundial, o P-47 Thunderbolt fez seu primeiro voo em 6 de maio de 1941. Ele foi projetado em torno de seu potente motor Pratt & Whitney R-2800, conferindo-lhe incríveis 700 km/h de velocidade máxima, apesar de seu tamanho e peso avantajados. Outras características marcantes do avião eram sua blindagem e o poder de fogo, composto por oito metralhadoras de 12.7 mm, transformando-o num verdadeiro tanque voador. Em virtude disso, apesar de ter bom desempenho em combate aéreo, o P-47 acabou se destacando como caça-bombardeiro. A partir da versão P-47D-25 foi introduzida uma capota do tipo bolha, conhecida como "bubbletop", melhorando sensivelmente a visibilidade do piloto, uma queixa recorrente em relação aos modelos mais antigos. Mais de 15 mil P-47 foram construídos, sendo a principal variante fabricada o modelo "D" em diferentes subtipos.

P-47D pertencente à Esquadrilha Amarela do 1º Grupo de Aviação de Caça, prestes a iniciar mais uma missão durante a guerra. Foto: A. Camazano A.

Em 18 de dezembro de 1943 foi criado o Primeiro Grupo de Aviação de Caça. Após um período de treinamento no Panamá e nos Estados Unidos, a Unidade seguiu para a Europa a fim de juntar-se ao esforço de guerra contra as forças do Eixo, atuando na Itália e executando principalmente missões de Reconhecimento Armado e Ataque ao Solo. O avião operado pela Unidade Aérea no conflito foi o P-47D Thunderbolt. No total o 1º GAvCa utilizou, entre perdas e reposições, 48 exemplares do avião. Com o término das hostilidades, 25 P-47D remanescentes seguiram desmontados de navio para o Brasil. Ao mesmo tempo, foram adquiridos nos Estados Unidos, mais 19 P-47D-40-RA novos de fábrica e com vários aperfeiçoamentos em relação aos modelos utilizados pela FAB durante a guerra. Estas aeronaves chegaram em julho de 1945 e passaram imediatamente a equipar o Primeiro Grupo de Aviação de Caça, em Santa Cruz/RJ. Por sua vez, os P-47D empregados na Campanha da Itália foram distribuídos ao 2º Grupo de Caca, também sediado no mesmo local.

Grupo de caças P-47 no pós-guerra operando na Base Aérea de Santa Cruz. Foto: A Camazano A.

Em 1947 a FAB recebeu dos Estados Unidos mais 25 P-47D-40-RA, também alocados em Santa Cruz/RJ, mas agora aos 1º e 2º Esquadrões do 9º Grupo de Aviação, como as duas Unidades Aéreas do 1º Grupo de Caça passaram a ser conhecidas. Os próximos anos trouxeram novas mudanças para a operação do modelo na FAB, com a recuperação da designação original dos Esquadrões de Caça em Santa Cruz, a criação de um terceiro Esquadrão e a alteração da denominação do tipo de P-47 para F-47. Em 1953, a fim de repor as perdas operacionais, um lote adicional de 25 P-47D-40-RA foi recebido, porém, com o advento da era do jato na FAB, no mesmo ano, todos os aviões restantes foram transferidos para Natal/RN e três anos mais tarde realocados em Fortaleza/CE. Finalmente, em 1957, após 13 anos de utilização o P-47/F-47 foi definitivamente retirado do serviço ativo. No total a FAB operou 94 exemplares da variante "D" de diferentes subtipos. Alguns deles encontram-se expostos em Bases Aéreas, locais públicos ou museus. Em Santa Cruz, os P-47 Thunderbolt operaram com o Primeiro Grupo de Aviação de Caça, entre os anos de 1945 e 1953. Dentre todas as aeronaves preservadas na Base Aérea de Santa Cruz, o P-47 é a mais antiga delas, inaugurada em 22 de abril de 1966. O monumento foi completamente revitalizado recentemente pelas mãos do Restaurador Aeronáutico, Luciano André Schneider.

O exemplar exposto na Base Aérea de Santa Cruz é um veterano de guerra e participou das ações do dia 22 de abril de 1945. Embora sendo uma representação do P-47D-28-RE (nº de série 44-19660 e código "C5", no pós-guerra utilizado com a matrícula FAB 4118), pilotado pelo Tenente Pedro de Lima Mendes,, na verdade, trata-se do P-47D-25-RE (nº de série 42-26757 e código A5), utilizado pelo Tenente Hélio Langsch Keller e que mais tarde, recebeu a matrícula FAB 4107.  Fotos: Marcelo Lobo da Silva

Durante o desenrolar da Segunda Guerra Mundial os primeiros modelos de caças e bombardeiros a jato começaram a ser testados em combate pelas grandes potências, liderados por Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha. Dentre estas aeronaves estava o britânico Gloster Meteor, que voou pela primeira vez em 5 de março de 1943, a tempo ainda de ser empregado em ação nos meses finais do conflito durante o avanço aliado pela Europa, entretanto, o esperado embate com os caças a jato alemães nunca aconteceu. Quase 4 mil exemplares do Meteor foram fabricados, até o encerramento da linha de produção, em 1954. A principal versão foi denominada de F.8, apresentando diversas melhorias aerodinâmicas, a adoção de um assento ejetável, uma mira giroscópica, quatro canhões de 20 mm no nariz, maior capacidade interna de combustível e uma nova capota em forma de bolha. O Meteor tornou-se um grande sucesso de exportação, empregado por diversas forças aéreas mundo afora, sendo inclusive para muitas delas, seu primeiro caça a jato.

Gloster F-8 Meteor, pertencente ao 1º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação de Caça. Foto: A. Camazano A coleção particular)

No início dos anos 50, com vistas a substituir sua frota de caças a pistão, a Força Aérea Brasileira começou a procurar modelos a jato que se adequassem à realidade econômica do país. Até aquele momento, todos os aviões de caça utilizados pelo Brasil, eram de procedência estadunidense, entretanto, os modelos de caças a jatos daquele país, apresentavam um alto custo de aquisição e os mais modernos nem mesmo estavam disponíveis para exportação. Assim, buscou-se outras opções para o ingresso da FAB na era do jato e ela veio com o britânico Gloster Meteor. A negociação para a compra destes aviões foi inusitada, tendo o governo brasileiro adquirido 60 exemplares F.8 (monipostos) e 10 de treinamento T.7 em troca de 15 mil toneladas de algodão. Aqui foram designados como F-8 e TF-7 respectivamente e começaram a chegar durante o ano de 1953, sendo transportados desmontados de navio do Reino Unido para o Brasil e posteriormente montados na fábrica do Galeão/RJ, seguindo depois em voo para a Base Aérea de Santa Cruz/RJ, sede do Primeiro Grupo de Aviação de Caça, a primeira Unidade Aérea a operá-lo na FAB.

Modelo TF-7 de dois assentos. Foto: A. Camazano A (coleção particular)

O exemplar da foto acima, foi o último Gloster Meteor a voar na FAB. Ele foi montado no início da década de 70, a partir de uma fuselagem central e com peças de outros aviões. Inicialmente matriculado como FAB 4399, depois alterado para FAB 4460, o modelo recebeu uma pintura em tons de verde e marrom e serviu como rebocador de alvos aéreos no Primeiro Grupo de Aviação de Caça durante alguns anos. Seu último voo ocorreu em 22 de abril de 1974, pousando em seguida no Campo dos Afonsos/RJ, sede do Museu Aerospacial, local onde encontra-se preservado até os dias atuais. Foto: A. Camazano A. (coleção particular)

Um ano mais tarde, foi a vez do 1º Esquadrão do 14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv), em Canoas/RS, receber seus primeiros exemplares do Meteor, sendo dois bipostos TF-7 e seis monopostos F-8. Os anos seguintes transcorreram com as Unidades Aéreas empregando seus aviões na formação de pilotos para operá-los e na realização das missões inerentes à Aviação de Caça, principalmente aquelas ligadas ao seu emprego como atacante ar-solo. Entretanto, alguns problemas começaram a afetar a operacionalidade do jato na FAB, um deles, já conhecido, era a fragmentação do canopy devido à variações de temperatura. O outro problema constatado foi decorrente do emprego da aeronave nas missões de ataque ao solo, causando sérios danos à sua estrutura. Diante disso e sem uma solução adequada, os aviões foram gradativamente sendo retirados de operação, com os últimos deixando o serviço ativo em 1968 e recolhidos ao Parque Aeronáutico de São Paulo. Apenas um exemplar, com a matrícula FAB 4460, permaneceu operacional até 1974, servindo como rebocador de alvos aéreos junto ao 1º GAvCa. Diversos Meteor encontram-se expostos em cidades brasileiras, Bases Aéreas e também em Museus, entre eles, o FAB 4430, preservado em Santa Cruz.

Imagens do FAB 4430, preservado na Base Aérea de Santa Cruz. O avião ostenta a vistosa pintura conhecida como "ovo estalado", padrão utilizado por algum tempo, implementado para auxiliar em missões de treinamento de combate aéreo. Os Meteor do 1º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação de Caça empregavam a pintura na cor azul, enquanto seus irmãos do 2º Esquadrão, utilizavam a cor vermelha. Fotos: Marcelo Lobo da Silva

No final da década de 40, o voo em aviões de caça a jato ainda era uma novidade. Os treinadores que existiam eram propulsados a hélice e não conseguiam fazer a transição de forma adequada para o voo à reação. Isso ficou evidente com a entrada em serviço do caça Lockheed P-80 Shooting Star, acarretando inúmeros acidentes. Pensando nisso, a Lockheed desenvolveu em parceria com a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) uma variante de treinamento baseada na célula do P-80C. Para tal, foram acrescentadas duas seções extras à fuselagem (à frente e atrás da asa), a fim de acomodar um segundo assento. Esta mudança acarretou em uma sensível redução na capacidade interna de combustível, problema solucionado com a instalação de grandes tanques nas pontas das asas, uma das características marcantes do novo avião. A cabine de pilotagem ganhou comandos duplos e assentos ejetáveis em tandem (com o assento traseiro mais elevado que o dianteiro). Inicialmente designado como TF-80C, o exemplar de testes fez seu primeiro voo em 22 de março de 1948 e dois meses depois ganhou a denominação definitiva de T-33A. O avião tornou-se um enorme sucesso de vendas com mais de cinco mil exemplares fabricados, inclusive sob licença em outros países. Até os dias atuais ainda encontram-se vários T-33 voando mundo afora nas mãos de operadores civis e colecionadores.


Imagens do TF-33 Thunderbird do 1º Grupo de Aviação de Caça, em Santa Cruz. Fotos: A. Camazano A. (coleção particular)

Em 1956, a Força Aérea Brasileira adquiriu 58 Lockheed T-33A, deste montante, 48 eram da variante armada AT-33A-20-LO com capacidade para lançar bombas e foguetes não-guiados e 10 da versão de treinamento, designados como TF-33, TF-33A ou AT-33A e os de treinamento como T-33 ou T-33A. A primeira Unidade a operá-los foi o 1º Esquadrão do 4º Grupo de Aviação (1º/4º GAv) em Fortaleza/CE, na função de transição para os Gloster Meteor. Com a progressiva retirada deste do serviço ativo, a partir de 1967 o T-33 assumiu o lugar do jato britânico, primeiramente em Canoas/RS e em seguida em Santa Cruz/RJ. Ele seguiu em operação com o 1º Grupo de Aviação de Caça até 1972, sendo substituído temporariamente pelo AT-26 Xavante. A partir desse momento, todos os exemplares remanescentes foram concentrados no 1º Esquadrão do 14º Grupo de Aviação, em Canoas/RS, tornando-se o último reduto do jato na FAB. O Esquadrão Pampa seguiu operando com o Thunderbird até 1975, aguardando a chegada dos novos Northrop F-5E Tiger II. Alguns exemplares do modelo encontram-se preservados em Bases Aéreas e também no Museu Aerospacial (MUSAL), na cidade do Rio de Janeiro.


TF-33 Thunderbird em voo e nas cores do 1º/14º GAv (Canoas/RS). Fotos: A Camazano A. (coleção particular)

O exemplar em exposição na Base Aérea de Santa Cruz, ostenta a matrícula FAB 4348 e encontra-se localizado junto ao portão principal de acesso à Base. Fotos: Marcelo Lobo da Silva

O desenvolvimento de caças a jato apresentou um enorme salto durante os anos 50. Um número crescente de modelos saíam das pranchetas dos projetistas, muitos deles tornando-se operacionais e vindo a equipar as Forças Aéreas em todo o mundo. Entretanto, para voá-los com eficiência e segurança, era necessário aprender e treinar as especificidades do voo à reação, porém, eram inexistentes treinadores dessa categoria. Pensando nisso, a empresa italiana Aermacchi desenvolveu uma avião com o objetivo de atender a esta demanda, nascia assim o MB-326. O primeiro voo ocorreu em 10 de dezembro de 1957 e a aeronave mostrou qualidades excepcionais, sendo encomendada pela Aeronautica Militare Italiana e logo despertando o interesse de outros países, inclusive sendo fabricado sob licença na África do Sul, Austrália e Brasil. Sua versatilidade de emprego se provou em inúmeras oportunidades, tendo participado inclusive em ações reais na Namíbia e na Guerra das Falklands/Malvinas.

Clássica foto de um dos primeiros AT-26 Xavante de série, o FAB 4463, provavelmente em voo de testes sobre a região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo, no início da década de 70. Foto: Embraer

Com a chegada ao fim da vida operacional do T-33A Thunderbird, a Força Aérea Brasileira necessitava com urgência de um novo treinador a jato, moderno e capaz de atender às demandas crescentes nesta área. Após inúmeros modelos analisados, o mais apropriado acabou sendo o MB-326, principalmente por preencher um requisito essencial para a FAB que era a sua montagem em território nacional, tarefa que ficou a cargo da recém-criada Empresa Brasileira de Aeronáutica, a EMBRAER. O contrato foi assinado em 1970, cabendo à fabricante brasileira a construção inicial de 112 exemplares. Aqui o avião recebeu a denominação comercial de EMB-326GB, o nome de Xavante e a designação militar de AT-26, tendo o primeiro exemplar montado no Brasil, voado em 6 de setembro de 1971. A primeira Unidade Aérea da FAB a operá-lo foi o 1º Grupo de Aviação de Caça em Santa Cruz/RJ, substituindo o TF-33A. A medida que mais unidades ficavam prontas, mais Esquadrões passavam a ser equipados com o Xavante, na sequência, o 1º Esquadrão do 4º Grupo de Aviação, em Fortaleza/CE (1973) e o então Centro de Aplicações Táticas e de Recompletamento de Equipagens (CATRE), em Natal/RN, no ano seguinte. Uma curiosidade do emprego do Xavante na FAB (aproveitando o período de inatividade da Esquadrilha da Fumaça), foi a criação por um breve período, de uma equipe de demonstração aérea com sete aviões, chamada de "Esquadrilha Alouette", que fez diversas apresentações pelo Brasil, entre os anos de 1981 e 1983. 

Um AT-26 da Esquadrilha Alouette durante um mergulho, mostrando o esquema de pintura presente na parte inferior da fuselagem, formado por faixas nas cores verde e amarela. No destaque, o Emblema da equipe. Fonte das imagens: https://aerobaticteams.net/

Dando prosseguimento ao reequipamento das Unidades Aéreas com o treinador, a próxima foi o 3º Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque (EMRA) em Santa Cruz/RJ, explorando um outro nicho de emprego importante da aeronave, a execução de missões de Reconhecimento Tático e Ataque ao Solo. Nestas funções, o Xavante também foi utilizado pelos 4º e 5º EMRAs, respectivamente em Cumbica/SP e Santa Maria/RS. A cidade do interior gaúcho viria futuramente a ser um dos últimos redutos do Xavante na FAB, operando-o até o fim da década de 90. Completando a lista de Unidades Aéreas operadoras do AT-26, o Centro Técnico Aerospacial operou com duas aeronaves, a partir de 1978, na formação de pilotos de testes, em ensaios de voo e na incorporação de novos sensores e equipamentos, entre eles, dotar o Xavante com uma sonda de reabastecimento em voo, projeto que acabou sendo abandonado. O Esquadrão, sediado em São José dos Campos/SP, inclusive foi o último a operar o modelo na FAB, em 2013, encerrando uma carreira de mais de 40 anos de excelentes serviços prestados. No total foram 166 exemplares operacionais e muitos deles receberam uma justa homenagem pela sua importância na história da Força Aérea Brasileira. De todas as aeronaves utilizadas pela FAB, o Xavante é aquele que tem o maior número de exemplares preservados e em exposição, marcando presença em praças públicas, Bases Aéreas, Museus e outros locais, pelos quatro cantos do país. 


Duas raras imagens dos AT-26 Xavante no curto período em que operaram com o 1º Grupo de Aviação de Caça. Após a chegadas dos supersônicos F-5, EM 1975, o Xavante continuou sendo empregado em Santa Cruz, dessa vez, com o Terceiro Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque (3º EMRA). Fotos: A. Camazano A. (coleção particular)

O AT-26 existente na Base Aérea de Santa Cruz, representa o período de três anos em que o jato operou com o 1º Grupo de Aviação de Caça. Entretanto o avião em exposição, guarda a curiosidade de nunca ter sido utilizado pela Força Aérea Brasileira, mas sim, pela Força Aérea da África do Sul (SAAF). Na realidade, trata-se de uma das nove células de Atlas Impala Mk.1 (versão do MB-326M fabricada localmente), adquiridas de uma empresa sul-africana, em 2003, juntamente com motores e sobressalentes, com o propósito de estender o tempo de serviço da frota de AT-26 da FAB. Dois anos mais tarde, um novo lote de aviões, peças e grupos propulsores foi negociado diretamente com a Força Aérea daquele país, desta vez, incluindo 14 exemplares do Impala Mk.2 (modelo monoposto, chamado de MB-326K), dos quais sete foram revisados para voar, mas apenas quatro, entraram em efetiva operação com a FAB, sendo utilizados entre os anos de 2006 e 2009 e designados como AT-26A. Com relação aos Impala Mk.1, como visto, nunca entraram em serviço e dos nove recebidos, seis acabaram virando monumentos, pintados com as cores e marcações da FAB e recebendo matrículas fictícias, originalmente pertencentes aos jatos Gloster F-8 Meteor. Esses aviões encontram-se em exposição nas cidades do Rio de Janeiro/RJ, em Santa Cruz (FAB 4458), Volta Redonda/RJ (FAB 4459), Brasília/DF (FAB 4461), Porto Velho/RO (FAB 4460), Recife/PE (FAB 4456) e Vinhedo/SP (FAB 4457). 

Fotos: Marcelo Lobo da Silva

Em meados da década de 50, os projetistas da Northrop criaram um caça a jato leve, do qual surgiram duas versões distintas, chamadas de N-156T e N-156F. Do primeiro, derivou o substituto na Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), do Lockheed T-33 Thunderbird, designado como T-38 Talon, utilizado ainda hoje no treinamento dos pilotos militares daquele país. Anos mais tarde, o modelo N-156F foi finalmente aceito, tornando-se um modelo de exportação para países aliados dos Estados Unidos com poucas verbas para adquirir e operar caças mais avançados. Ele recebeu a denominação de F-5A/B Freedom Fighter e sua performance e baixo custo de aquisição e operação logo atraíram o interesse de vários países, alguns inclusive o construindo sob licença. Ele também foi testado em combate durante a Guerra do Vietnã, atuando em um programa chamado de "Skoshi Tiger". Da experiência de combate adquirida no Sudeste Asiático, nasceu o F-5E/F, batizado de Tiger II, uma versão bastante melhorada do Freedom Fighter em todos os aspectos, quase um avião completamente novo. Ele superou seu antecessor se tornando um sucesso de exportação maior ainda, sendo utilizado ainda nos dias atuais por muitas Forças Aéreas. 

F-5B visto no pátio da Base Aérea de Santa Cruz. Foto: A. Camazano A. (coleção particular)

Linha de voo em Santa Cruz. Foto: A. Camazano A. (coleção particular)

Ayrton Senna, juntamente com integrantes do Primeiro Grupo de Aviação de Caça, logo após o voo no F-5B FAB 4803, em abril de 1987. Foto: FAB/Divulgação

Ainda dentro do programa de reequipamento da FAB proposto no fim da década de 60, além de um vetor supersônico para Defesa Aérea, havia a necessidade de uma aeronave com o mesmo desempenho para as funções de Superioridade Aérea e Ataque Tático. Vários modelos foram analisados e o escolhido foi o Northrop F-5E Tiger II, compreendendo a aquisição de 36 exemplares do modelo monoposto e seis do modelo biposto F-5B, todos novos de fábrica. As entregas se estenderam entre março de 1975 a fevereiro de 1976, com as aeronaves vindo em voo dos Estados Unidos para o Brasil, realizando diversas escalas. Cabe ressaltar que na época da compra, a variante de dois assentos do F-5E ainda estava em desenvolvimento, por este motivo optou-se pelo modelo F-5B. A distribuição inicial das aeronaves contemplou o 1º Grupo de Aviação de Caça e seus dois Esquadrões, em Santa Cruz/RJ (com 24 F-5E e os 6 F-5B) e o 1º Esquadrão do 14º Grupo de Aviação, em Canoas/RS, com os 12 monopostos restantes. Na presente matéria, vamos nos concentrar apenas no histórico do F-5B com a Força Aérea Brasileira. Os aviões receberam as matrículas FAB 4800 a FAB 4805 e como visto, foram operados exclusivamente pelo 1º Grupo de Aviação de Caça. Em 1987, o piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna, fez um voo no FAB 4803, antes do GP Brasil daquele ano, realizado no Autódromo de Jacarepaguá. Os F-5B permaneceram em atividade até 1996, quando foram retirados de serviço e armazenados no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP). Dos seis exemplares, apenas um foi perdido em acidente (FAB 4801), os demais encontram-se preservados e em exposição na seguinte ordem: FAB 4800 (Museu Aerospacial/RJ), FAB 4802 (sede do Comando-Geral de Apoio/SP), FAB 4803 (Parque de Material Aeronáutico de São Paulo/SP), FAB 4804 (Base Aérea do Galeão/RJ) e FAB 4805 (Base Aérea de Santa Cruz/RJ).

Fotos: Marcelo Lobo da Silva

Fruto de uma parceria entre Brasil e Itália, o embrião do que viria a se tornar o A-1 começou a ganhar forma no final da década de 70, quando os dois países, cada um por si, buscava dotar suas Forças Aéreas com uma nova e moderna aeronave de ataque. A convergência de ideias e a cooperação anterior com os italianos na fabricação sob licença do Xavante pesou a favor e assim, após alguns ajustes nas especificações e requerimentos técnicos do avião, um acordo conjunto de desenvolvimento foi firmado em 27 de março de 1981, tendo como participantes, as empresas Aeritalia (depois Alenia) e Aermacchi, além da EMBRAER, cada uma com responsabilidades específicas no projeto e na produção do avião, que ficou conhecido como AMX. O planejamento incluiu a construção de seis protótipos, dois deles, fabricados no Brasil. O primeiro deles, designado de YA-1, recebeu a matrícula FAB 4200 e fez seu primeiro voo em 16 de outubro de 1985. O avião representou um enorme salto de qualidade técnica e operacional para a FAB, incorporando o que de mais moderno existia em termos de sistemas de ataque, auto-defesa e navegação, não à toa sendo apelidado à época, de "o computador que voa". A produção em série teve início em meados de 1986 e os primeiros exemplares começaram a ser entregues para ambos os países, três anos mais tarde. O planejamento inicial contemplava um total de 187 aviões para a Itália e 79 para o Brasil, porém este número foi redimensionado e o número de aviões construídos acabou sendo reduzido.

Primeiro exemplar de série entregue à Força Aérea Brasileira. Foto: FAB/Divulgação

A-1 pertencente ao 1º/16º GAv, com o icônico Hangar do Zeppelin, ao fundo. Foto: FAB/Divulgação

Linha de voo com cinco jatos A-1 ostentando o segundo e definitivo esquema de camuflagem adotado pela FAB para o modelo. Observe que o segundo e o ultimo aviões que aparecem na foto (da esquerda para a direita), com as matrículas FAB 5506 e FAB 5520, são exemplares modernizados, identificados com a designação A-1M. Foto: A. Camazano A. (coleção particular)

No total, coube a Força Aérea Brasileira, 56 exemplares do A-1 (45 monopostos e 11 bipostos), que foram recebidos em três lotes distintos, divididos da seguinte forma: Lote 1 (8 monopostos e 1 biposto), Lote 2 (22 monopostos e 3 bipostos) e, Lote 3 (15 monopostos e 7 bipostos). A primeira Unidade Aérea a receber o A-1 na FAB foi o 1º Esquadrão do 16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv), sediado em Santa Cruz/RJ, criado especialmente para operá-lo. Em abril de 1998, o 3º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (3º/10º GAv), em Santa Maria/RS tornou-se o segundo operador e um ano mais tarde, o 1º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (1º/10º GAv), sediado no mesmo local, também passou a ser equipado com o avião. Em Santa Cruz, a trajetória do A-1 durou de 1989 até 2016, quando o Esquadrão Adelphi foi desativado. A partir deste momento, a frota remanescente de jatos foi concentrada em Santa Maria/RS. Em 2007 iniciou-se a modernização do A-1, incorporando equipamentos e sensores mais modernos e necessários às suas missões. 14 aviões (11 monopostos e 3 bipostos), passaram pelo processo, com o primeiro deles sendo entregue à FAB, em setembro de 2013. Atualmente poucos exemplares, todos modernizados, seguem em operação com o 1º/10º GAv e a previsão é que sejam retirados de serviço até o final desse ano. O exemplar preservado na Base Aérea de Santa Cruz é o FAB 5514, um A-1A (monoposto), pertencente ao segundo lote de produção e que voou durante toda a sua vida operacional com o 1º/16º GAv. O avião encontra-se exposto sobre um pedestal, junto ao Hangar Bartolomeu de Gusmão e o monumento foi inaugurado em 20 de novembro de 2020.

Fotos: Marcelo Lobo da Silva

O século XX trouxe com ele, o desenvolvimento de uma poderosa e silenciosa máquina de guerra, o submarino. Utilizando as profundezas dos oceanos como manto de proteção e capaz de desferir golpes certeiros e mortais contra as forças navais inimiga, a utilização deste tipo de embarcação ganhou força durante a Segunda Guerra Mundial. A partir dos anos 50, o surgimento dos mísseis balísticos e a sua implantação em submarinos, agora dotados de propulsão nuclear, transformou-os em um ativo com grande poder estratégico e de dissuasão e, ao mesmo tempo, em alvos militares de elevado valor. Começava assim, uma guerra silenciosa entre Estados Unidos e União Soviética, um jogo de gato e rato, com a construção de submarinos cada vez mais eficientes e ao mesmo tempo, o advento de meios aéreos capazes de detectá-los e neutralizá-los. Até o início da década de 50, as aeronaves utilizadas contra submarinos, eram modelos adaptados e desempenhavam apenas uma função, ou localizavam ou atacavam, conceito chamado de "Hunter-Killer". A estadunidense Grumman revolucionou este cenário ao criar o S2F-1 Tracker, uma plataforma capaz de executar as duas tarefas ao mesmo tempo, podendo operar de bases em terra ou embarcada em Porta-Aviões. O avião entrou em serviço com a Marinha dos Estados Unidos (U.S. Navy) em 1954, incorporando o que havia de mais moderno em termos de Guerra Antissubmarino. Ao todo foram construídos 1.284 exemplares em diferentes versões, utilizadas por quatorze países, entre eles, o Brasil.

P-16 prestes a "pescar" um dos cabos de aço de retenção, no convoo do NAeL A-11 "Minas Gerais". Fonte da imagem: https://www.naval.com.br/

Umas das principais características do P-16 Tracker, era a capacidade de dobrar as asas, facilitando o seu transporte e armazenamento a bordo. Fonte da imagem: https://www.naval.com.br/

A criação do Primeiro Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE), em 1957 e a posterior aquisição dos Grumman S-2, foi permeada por uma disputa envolvendo a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil, sobre o direito de operar aeronaves de asa fixa, principalmente após a compra do Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) A-11 "Minas Gerais", em dezembro de 1956. A ideia inicial era a constituição de dois Esquadrões, um de Patrulha e outro de Caça, depois modificado para Helicópteros Antissubmarino. Os embates a respeito de quem deveria operar os aviões a bordo da embarcação, culminaram com um Decreto Presidencial de 1965, determinando que à FAB, caberia o emprego dos aviões e à Marinha, o uso dos helicópteros. Nessa época, o 1º GAE já voava com o P-16 (como o modelo foi designado na FAB), com 13 exemplares adquiridos em 1961 e matriculados como FAB 7014 a FAB 7026. Enquanto o impasse não se resolvia, os aviões cumpriam suas missões a partir da sua sede em terra, a Base Aérea de Santa Cruz. Com o acordo, a FAB agora estava liberada para as operações embarcadas e o primeiro pouso no "Minas Gerais" aconteceu em 22 de junho de 1965, com o Capitão Antônio Claret Jordão nos comandos do FAB 7021. 

Linha de voo em Santa Cruz, formada por modelos P-16A, P-16E e UP-16. Foto: A. Camazano A. (coleção particular)

Vista lateral do P-16E com a matrícula FAB 7036, avião que serviu de protótipo para o programa de remotorização, ainda com os motores radiais. Foto: A. Camazano A. (coleção particular)

O mesmo avião, já com os novos motores. Foto: FAB/Divulgação

Em 1974, um segundo lote com oito S-2 da versão "Echo" foi adquirido dos estoques da Marinha dos Estados Unidos, recebendo a designação P-16E e as matriculas FAB 7030 a 7037. Com a chegada desses aviões, os mais antigos foram redesignados como P-16A e alguns deles foram convertidos posteriormente para as funções Utilitária e de Transporte, variante chamada de UP-16. A frota passou a ser dividida em dois Esquadrões, como os P-16E alocados ao 1º/1º GAE e os P-16A/UP-16, ao 2º/1º GAE. Entre os anos de 1976 e 1988, outros seis exemplares de S-2E foram recebidos, chamadas de células logísticas, por servirem como fonte de peças de reposição e dois deles, chegaram a ser matriculados como FAB 7038 e 7039. No final dos anos 80, o P-16 começava a apresentar sinais de obsolescência e principalmente, a dificuldade em manter os motores radiais  Wrighr R-1820, em plena atividade. Em virtude disso, decidiu-se em 1988, pela modernização dos sensores e a substituição dos motores por modernos e confiáveis turboélices Pratt & Whitney PT6A. A conversão ficou a cargo de uma empresa canadense e o avião que serviu de protótipo foi o FAB 7036. O primeiro voo com a nova configuração aconteceu em 14 de julho de 1990 e o avião retornou ao Brasil no final do mesmo ano, para os testes operacionais. A ideia era que doze exemplares passassem pelo processo, elevando-os ao padrão P-16H. Entretanto, problemas técnicos e de falta de recursos, inviabilizaram o projeto e apenas o FAB 7036 recebeu a nova motorização. Com isso, nos anos seguintes, a frota remanescente de aviões foi sendo retirada de serviço, até a desativação completa em dezembro de 1996. No total, foram perdidos dez P-16 em acidentes ao longo dos 35 anos de operação com a FAB. Seis deles encontram-se preservados, a saber: FAB 7015 (Laranjal Paulista/SP),  FAB 7016 e 7037 (Museu Aerospacial/RJ), FAB 7032 (Base Aérea de Santa Cruz/RJ), FAB 7021 (Parque de Material Aeronáutico de São Paulo/SP) e FAB 7034 (Museu Asas de um Sonho, São Carlos/SP). Com a desativação do Museu e o desmembramento do acervo, o destino desse exemplar deverá ser o Museu Aerospacial Paulista (MAPA), recentemente inaugurado no Campo de Marte.

Fotos: Marcelo Lobo da Silva





Além do Memorial em tributo aos integrantes do Primeiro Grupo de Aviação de Caça que combateram na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, das construções da época dos dirigíveis e das aeronaves preservadas, a Base Aérea de Santa Cruz abriga ainda nas suas dependências, diversos espaços com monumentos individuais e temáticos, representando momentos históricos e homenageando personagens marcantes da Aviação de Caça, além de Unidades Aéreas que operaram na BASC.

Localizado junto à entrada principal da Base Aérea de Santa Cruz, está o monumento em homenagem aos dirigíveis que operaram no Campo Bartolomeu de Gusmão, durante a primeira metade da década de 1930. A obra foi inaugurada em 22 de abril de 1982 e retrata o LZ 127 "Graf Zeppelin", um dos dois modelos que atendiam a linha ligando a Alemanha ao Brasil.

Localizado ao lado do P-16E Tracker, está o monumento ao Primeiro Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE), Unidade Aérea dedicada às missões de Guerra Antissubmarino, que operou em Santa Cruz entre os anos de 1957 a 1998. Apoiado sobre o pedestal com o Emblema da Unidade, encontra-se um gancho de parada da aeronave P-16, simbolizando as operações aéreas a bordo dos Navios-Aeródromos da Marinha, a segunda casa do 1º GAE.

Ao lado da aeronave A-1A e próximo ao Hangar do Zeppelin, encontra-se um dos monumentos em tributo ao Brigadeiro Nero Moura, Primeiro Comandante do Primeiro Grupo de Aviação de Caça e Patrono da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, composto por uma peça em granito, na forma do símbolo da Aviação de Caça, uma seta estilizada apontada para cima, também conhecida como "Sorvetão da Caça". O monumento foi inaugurado em 22 de abril de 2000.

O monumento acima não tem uma ligação direta com a aviação, porém, guarda um forte aspecto histórico com o local onde está situada a Base Aérea de Santa Cruz. Trata-se de uma homenagem aos 450 anos do bairro de Santa Cruz, comemorado em 2017. A peça central é composta por madeira de lei, que fazia parte do altar-mor da Igreja de Santa Bárbara, erguida originalmente pelos Padres Jesuítas, em 1752.

Um dos monumentos mais recentes na Base Aérea de Santa Cruz, é o Memorial "Médico de Esquadrão", uma homenagem ao Capitão Médico Thomas Girdwood, canadense de nascimento e integrante do Primeiro Grupo de Aviação de Caça, na Campanha da Itália. Inaugurado em 2018, traz uma representação do P-47 Thunderbolt "C5", voado pelo Capitão Lima Mendes, Patrono do Segundo Esquadrão do Primeiro Grupo de Aviação de Caça, incrustado em um bloco de pedra. Sobre o conjunto, repousa um capacete de combate, utilizado pelos integrantes da equipe médica, durante a guerra.

Monumento em homenagem ao Terceiro Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque (3º EMRA), Unidade Aérea que operou em Santa Cruz, entre os anos de 1972 e 1980, conhecido como "Os Polivalentes". Fotos: via Major-Brigadeiro Jorge Cruz de Souza e Mello



Homenagem às Esquadrilhas de Ligação e Observação. O topo do monumento apresenta uma empenagem de T-27 Tucano, aeronave utilizada pela Segunda Esquadrilha de Ligação e Observação entre os anos de 1986 a 2004. O monumento traz de um lado, o Emblema da 1ª ELO, Unidade Aérea que lutou ao lado da Força Expedicionária Brasileira (FEB), na Segunda Guerra Mundial e do outro, o Emblema da 2º ELO, que operou em Santa Cruz, entre 1995 e 2004.

Próximo ao prédio que abriga a sede do Primeiro Grupo de Aviação de Caça, encontram-se um conjunto de monumentos, homenageando o Brigadeiro Nero Moura, primeiro Comandante da Unidade Aérea. Também ali está localizado o monumento mais recente da Base Aérea de Santa Cruz, composto por uma empenagem de caça F-5 Tiger II, decorada com uma arte alusiva aos 80 anos do Grupo, celebrado em 18 de dezembro de 2023.



Encerrando o conjunto de monumentos existentes atualmente na Base Aérea de Santa Cruz, está um tributo aos Pilotos do Primeiro Esquadrão do Décimo Sexto Grupo de Aviação (1º/16º GAv), que perderam suas vidas no exercício da função, durante os 28 anos de atividade da Unidade Aérea. Chamado de "Preito aos Adelphis", o monumento é formado por uma estabilizador vertical do jato A-1 e de um bloco de pedra onde estão os nomes do Major Duarte, Tenente-Coronel Bombonato e Capitão Tibério, eternizados em placas metálicas na silhueta do caça-bombardeiro.


O site Aviação em Floripa agradece à Diretoria da Associação Brasileira de Pilotos de Caça (ABRA-PC), ao Comando e à Seção de Comunicação Social da Base Aérea de Santa Cruz (BASC) e ao Comando e à Seção de Comunicação Social do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa), pela oportunidade em visitar a Base Aérea de Santa Cruz e por todo o apoio dado para a realização desta e das demais matérias publicadas. Agradecimento especial ao Coronel Aviador Refm e Historiador Aeronáutico, Aparecido Camazano Alamino por sua inestimável contribuição para este artigo, através da cessão de diversas fotos de sua coleção particular.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, excelente matéria sobre a histórica Base Aérea de Santa cruz!!

Aparecido Camazano Alamino disse...

Abordou com maestria assuntos que são pouco abordados, valorizando e divulgando a história de tudo que existe na BASC. Parabéns e obrigado por divulgar tão bem a nossa História!

Jota A disse...

Caramba Marcelo!!!! Um verdadeiro Tour com Guia, explicando cada detalhe da Base Aérea de Santa Cruz. Parabéns. Dá para encardenar todo esse material com os outros e guardar como um livro. Sensacional. Parabéns pelo seu belíssimo trabalho. AeroJota. Câmbio

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