Site voltado para a divulgação da Aviação Comercial, Militar e Civil, mostrando através de textos informativos e
fotos, as aeronaves, suas histórias e curiosidades, Operações Militares, Eventos Aeronáuticos e muito mais!

Seja bem-vindo a bordo!!!

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Segue a viagem dos caças Gripen rumo ao Brasil

 


Decorridas quase duas semanas que o navio trazendo mais uma remessa de caças Gripen para a Força Aérea Brasileira (FAB) deixou a Suécia, o MV MITIQ (nome da embarcação), iniciou agora a etapa de travessia do Atlântico Sul rumo à costa brasileira, concluindo assim, aproximadamente dois terços da viagem. A última posição conhecida do navio, atualizada no dia de ontem (25/4), conforme indicam os prints abaixo, mostrava o navio se afastando da costa africana rumo ao corredor de navegação usualmente utilizado para a travessia. A partir deste ponto, os sites e aplicativos de rastreio marítimo deixam de fornecer a localização dos navios em tempo real, pois o afastamento da costa implica na perda do sinal pelos receptores localizados junto ao litoral dos países. Apenas quem utiliza os serviços pagos desses websites consegue continuar recebendo dados de posição atualizados, através de rastreio via satélite. 


Fonte: https://www.marinetraffic.com/en/ais/details/ships/shipid:383086/mmsi:246308000/imo:9081306/vessel:MITIQ

Em poucos dias, o MV MITIQ completará a travessia do Atlântico e chegará ao litoral brasileiro, na altura do Rio Grande do Norte, seguindo então, rumo ao seu destino, o Porto de Navegantes, em Santa Catarina. Pelos dados de navegação, a chegada do navio foi antecipada em um dia, estando, no momento, marcada para 4 de maio, apenas faltando ser definida a hora exata para a entrada no porto e atracação, que será apenas confirmada poucas horas antes  A informação da data, inclusive consta no website oficial da Portonave, com o MITIQ já aparecendo na grade de navios esperados. O site Aviação em Floripa continua acompanhando a viagem e fará para seus leitores, a cobertura completa de mais esse importante capítulo na entrega dos caças Gripen para a FAB, desde a chegada no porto, o traslado para o aeroporto e a decolagem das aeronaves.

Fonte: https://extranet.portonave.com.br/line-up/


segunda-feira, 24 de abril de 2023

Entrevista com o Comandante da Base Aérea de Florianópolis

 

Sempre procurando trazer conteúdos inéditos e exclusivos para seus leitores, na tarde da última terça-feira (18/4), o Editor do site Aviação em Floripa foi recebido pelo Comandante da Base Aérea de Florianópolis (BAFL), Tenente-Coronel Aviador Jaques da Silva Valle, para uma conversa, abordando diversos assuntos, entre eles, sua carreira como Piloto Militar, temas relacionados com a administração da Organização Militar sob seu Comando, além de outros tópicos relativos à Aviação Militar e à própria FAB, que julgamos serem pertinentes e de interesse de nossos leitores. 

No próximo mês de maio, a Base Aérea de Florianópolis estará celebrando duas datas importantes, os seus 82 anos de criação e os 100 anos que o local abriga a operação de aeronaves militares. Para quem não sabe, em 10 de maio de 1923, foi ativado pela Marinha do Brasil, o Centro de Aviação Naval de Santa Catarina, estabelecendo de forma definitiva, a presença da Aviação Militar na capital catarinense. A entrevista que você vai ler a partir de agora, faz parte de um conjunto de matérias especialmente elaboradas pelo site Aviação em Floripa, a respeito dessa história. Muito em breve, estaremos publicando uma grande reportagem, contando em detalhes esta trajetória, repleta de fatos marcantes e que está entrelaçada com o próprio desenvolvimento da Aviação em Florianópolis e no Estado de Santa Catarina.

O Tenente-Coronel Aviador Jaques da Silva Valle é natural de São João do Meriti/RJ, tem 40 anos de idade e possui mais de 3.500 horas de voo, sendo 2.500 horas, dedicadas à Instrução de Voo. Ao longo de sua carreira voou as aeronaves Neiva T-25 "Universal", Embraer T-27 "Tucano", Embraer C-95 "Bandeirante" e ENAER T-35 Pillán. É Aspirante de 12 de dezembro de 2003 e foi promovido ao atual posto, em 31 de agosto de 2021. Realizou todos os cursos de carreira até o de Comando e Estado-Maior. É Piloto Operacional na Aviação de Transporte, Instrutor de Voo na Aeronave C-95 A/B "Bandeirante", Instrutor de Voo, Piloto de Experiência e Líder de Esquadrão de Instrução Aérea na Aeronave T-27 "Tucano" e Instrutor de Voo nas aeronaves T-25 "Universal" e T-35 "Pillán". Entre as principais funções em que atuou ao longo da carreira, estão a de Chefe da Seção de Navegação do 3º Esquadrão de Transporte Aéreo (3º ETA); Oficial de Operações da Esquadrilha Castor do 1º Esquadrão de Instrução Aérea (1º EIA); Chefe da Seção de Navegação da Academia da Força Aérea (AFA); Comandante da Esquadrilha Castor do 1º Esquadrão de Instrução Aérea; Instrutor de Voo na Escuela de Aviación Capitán Manuel Ávalos Prado, no Chile; Chefe da Seção de Controle de Operações Aéreas Militares de Pirassununga; Chefe da Seção de Operações do 1º Esquadrão de Instrução Aérea; Chefe da Seção de Coordenação Acadêmica da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica (EAOAR); e Chefe da Seção de Cursos desta mesma Instituição de Ensino, seu último cargo antes de assumir o comando da Base Aérea de Florianópolis, onde está à frente desde 11 de janeiro de 2022.


AF: Em primeiro lugar, muito obrigado por nos conceder parte de seu tempo para esta entrevista. Iniciando, gostaria que o Senhor explicasse aos nossos leitores como funciona o processo de escolha de um Comandante de Organização Militar do porte de uma Base Aérea. De quem parte a nomeação e quais critérios são levados em consideração?

Ten.-Cel. Valle: Dentro do que eu tenho conhecimento, o processo de seleção é uma decisão do Alto-Comando da FAB e leva em consideração, critérios baseados em avaliações que são feitas de maneira anual em todas as Unidades. Todos os militares passam por esse processo de avaliação, então, tem a Comissão de Formação de Oficiais que hoje em dia é a Secretaria de Formações, que gerencia esse processo. Essa análise, que é feita anualmente, gera, junto com outros fatores, como preparo acadêmico, preparo em idiomas, preparo físico, uma nota, que é a Lista de Mérito Relativo. Essa pontuação, a qual os Oficiais são contemplados e atualizada anualmente, acaba entrando nesse cômputo e quando há a entrega das listas dos potenciais futuros Comandantes, é levada em consideração, toda essa parte de pontuação, das avaliações e também o próprio conhecimento e a participação do militar no que ele teve de progressão na carreira em relação a cargos assumidos, responsabilidades e avaliações. Tudo isso é analisado e é uma decisão da Assessoria do Alto-Comando e do Comandante da Aeronáutica de fazer a seleção dos Comandantes, não apenas das Bases Aéreas, mas de todas as Unidades da FAB, sejam Unidades Aéreas ou outras Organizações que a Força Aérea tem, então, todos os Comandos das Unidades de Força Aérea são passados por esse crivo e aprovadas pelo Comandante da Aeronáutica.


AF: No seu caso em particular, qual o caminho trilhado para chegar até aqui? Foi uma surpresa ou era algo que o Senhor já tinha conhecimento prévio?

Ten.-Cel. Valle: O caminho que eu trilhei até chegar aqui ao Comando da Base Aérea foi um caminho muito mais voltado na minha vida operacional com a Instrução de Voo. Eu sou oriundo da Aviação de Transporte e fiz a minha formação no Esquadrão Rumba, o 1º/5º GAv, na época, ainda sediado em Fortaleza. Fiz minha especialização lá e fui destinado para o 3º ETA. Fiquei dois anos na Aviação de Transporte como Piloto Operacional e depois fui designado para a AFA. Não foi algo planejado, mas a atividade é muito gratificante e permaneci dez anos como Instrutor de Voo. Nesse intervalo, tive a oportunidade de ser nominado Instrutor de Voo no Chile por dois anos. Então, eu fiquei cinco anos em Pirassununga, depois dois anos no Chile e mais três anos em Pirassununga novamente. Assumi quase todas as funções dentro do Esquadrão de Instrução de Voo, desde Auxiliar do Escalante, Escalante, Comandante de Esquadrilha e depois Operações de Esquadrão, só não fui Comandante do 1º EIA e, com essa experiência, por mais que fosse uma Instrução de Voo, eu me identifiquei com a atividade e depois de ter feito o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais em 2014 como Aluno e ter sido indicado, a época, para ser Instrutor da Escola, eu vi como uma oportunidade, seguir na área de Ensino. Fiquei quatro anos como Instrutor na Escola de Aperfeiçoamento, lá no Campo dos Afonsos e a sequência normal da carreira seria fazer o Curso de Estado-Maior, que eu fiz em 2021. Nesse momento, quando chegou a época da divulgação para os Comandos daquele ano, pelo menos eu não estava com expectativa, principalmente para Comando de Base Aérea, porque normalmente nesse momento da carreira é um Comando de Unidade Aérea. Os meus contemporâneos de turma, a grande maioria deles, estão como Comandante de Unidades Aéreas, somente um outro amigo meu de turma, o Tenente-Coronel Lauro, que está comandando a Base Aérea de Fortaleza, ficou na mesma situação que eu estou agora. À época, a Base Aérea, como estava subordinada à SEFA, a previsão era que o Comando da Base fosse de Tenente-Coronel, então, dentro daqueles critérios que eu comentei, de escolha do Alto-Comando, acabou que nós fomos selecionados, mas tanto eu como ele, ficamos muito tempo fora da Aviação. Eu tinha feito nesse período que estava no Rio como Instrutor na EAOAR, uma Especialização em Gestão Pública, então acredito que isso talvez tenha pesado no aspecto de ter sido designado para ser Comandante da Base Aérea aqui. Traçando um paralelo com os demais Comandantes de Base Aérea, só eu e ele atualmente estamos como Tenente-Coronel, todos os outros são Coronéis. Então, se eu disser que não foi uma surpresa eu estaria mentindo. No momento que eu recebi a designação para ser Comandante aqui da Base Aérea de Florianópolis, foi uma gratíssima surpresa, primeiro porque era algo que estava completamente fora do radar e do que seria o normal para minha atividade, como Tenente-Coronel recém promovido e segundo, por nunca ter servido aqui, uma localidade a qual eu não tinha nenhum vínculo pessoal ou profissional. Se eu fosse pegar o recorte dos meus últimos quinze anos de carreira, eu estava na área de Ensino e anteriormente eu era da Aviação de Transporte, que também não guardava muita relação com o histórico da Base Aérea, muito mais ligado à Aviação de Busca e Salvamento e de Patrulha, então, foi uma surpresa não apenas para mim, mas também para o efetivo da Base. Quando meu nome foi divulgado aqui, ninguém me conhecia, então, foi uma grande surpresa para todos, além de ser uma oportunidade que o Comando da Aeronáutica disponibilizou para que eu pudesse desempenhar essa função e uma responsabilidade, assumir a função de Comandante de uma Unidade que agora, se for considerar o período de Marinha, já quase centenária. É realmente uma responsabilidade muito grande e para mim, tem sido um motivo de orgulho e um desafio poder estar como Comandante nesse momento aqui na Base Aérea de Florianópolis.


AF: Como tem sido a experiência em comandar a Base Aérea de Florianópolis? Quais eram as suas expectativas e quais foram as suas primeiras impressões da BAFL?

Ten.-Cel. Valle: Esta é minha primeira experiência de Comando. Por mais que os outros cargos da carreira se tenha essa designação como, Comandante de Esquadrilha de Voo, Comandante do Corpo de Alunos na Escola de Aperfeiçoamento, mas são cargos em que se está na verdade, dentro de uma estrutura na qual você tem o Comandante da Unidade então, é uma responsabilidade apenas sobre uma Esquadrilha de Voo com 30 Cadetes ou um Corpo de Alunos com 100 Oficiais. Na Academia, a gente tem o Comando de Brigadeiro, lá na EAOAR, o Comando da Escola é de Coronel e ainda tem o Comando da UNIFA que é um Brigadeiro também. Então, você tem uma cadeia hierárquica superior. O Comando aqui da Unidade, sendo uma Organização Militar que é isolada, vamos colocar assim, porque dentro da estrutura, eu ainda tenho o V COMAR que está lá em Canoas, mas que me dá completa autonomia para poder fazer a gestão da Base Aérea em todos os seus vértices que seriam a parte de Segurança e Defesa, a parte Administrativa, Operacional, Logística e de Saúde, estes são os cinco Grupos que compõem hoje em dia a estrutura da Base Aérea. Nesse aspecto, o desafio foi justamente após uma carreira muito mais voltada para o Ensino, por mais que a capacitação que a Força entrega, tanto no Curso de Estado-Maior e no meu caso, que fiz uma Especialização em Gestão Pública pela FGV, por mais que você tenha essa carga teórica, na prática, a gente sabe que os desafios são muito maiores e principalmente em alguns campos nos quais eu realmente não tinha muito contato, que era essa parte de Segurança e Defesa. Mas a equipe que aqui está estabelecida é muito competente e praticamente metade do meu efetivo da guarnição é voltado para esta atividade-fim. O GSD não apenas cuida da formação dos nossos recrutas, que depois vão lotar os nossos postos de serviço aqui no limite da base e a segurança interna, mas também a função de Polícia de Aeronáutica e de especialização em outros campos voltados para essa área. Outra grande parte do efetivo, vamos colocar assim, um terço, talvez um pouco mais, vai para a área de Administração, então, o Grupo de Serviços de Base, ocupa boa parte do efetivo mais especializado e o outro terço é a área médica. Quando eu pego os Grupos da Base atualmente, o que é mais desidratado é o da área Operacional. Com a saída do Esquadrão (n.e.: 2º/7º GAv), a minha estrutura da área operacional e logística voltada para a aviação, é o necessário para que se possa manter a Base em boas condições de receber o treinamento de uma Unidade Aérea. Exercícios Operacionais de um vulto maior, como acontece na Carranca, a gente consegue receber aqui uma gama de aproximadamente 300 militares para poder fazer o treinamento de Busca e Salvamento e outros Exercícios com essa quantidade de militares. Se for um Exercício maior, como o Tínia, que acontece aqui na Região Sul, dividido entre Santa Maria e Canoas, lógico que a Base não teria condição de receber todo o efetivo, mas se em algum momento, nós formos designados para poder ficar como um dos lados do Exercício Operacional, para poder participar, a gente teria capacidade, mas é muito mais uma questão de como o Comando de Preparo planeja as suas Operações e procura dar esse treinamento não apenas para uma Unidade. Essa distribuição dos Exercícios, visa não apenas o próprio treinamento das equipagens mas também da estrutura organizacional da Força, para que todas as Bases tenham essa capacidade de treinamento e de desdobramento dos seus efetivos. Dentro do que eu tenho percebido de principais desafios, que seria o principal tópico em relação às impressões da Base Aérea, eu acho que foram as mais positivas possíveis. Somando o efetivo da Base Aérea com o do Destacamento de Controle do Espaço Aérea de Florianópolis, nós chegamos a aproximadamente 600 militares, que são muito imbuídos naquilo que fazem e a despeito desse momento de redução de efetivo, porque a Base aqui já contou com quase 1.200 pessoas quando tinha Unidade Aérea, então, essa estrutura foi colocada de maneira mais enxuta. Para quem passou por esse processo de diminuição da Base, gera uma preocupação e o entendimento de que a Base está perdendo sua importância mas, dentro do encaminhamento que está sendo dado para o cumprimento da missão da Base, a missão para a qual é destinada, isso não foi modificado, nós continuamos prestando apoio às Unidades de Força Aérea, às Unidades Aéreas que estejam sediadas ou deslocadas aqui na Base, então, a nossa missão continua, mesmo com essa diminuição no efetivo, sendo muito bem cumprida e o efetivo tem respondido muito bem a essa nova capacidade de atendimento das Unidades que operam aqui.


AF: Diferentemente de alguns de seus antecessores, que ao assumirem o cargo de Comandante já tinham uma história com a Base, o Senhor nunca havia servido aqui antes. Já conhecia Florianópolis? Como foi sua adaptação à cidade?

Ten.-Cel. Valle: Não conhecia Florianópolis. Isso aí era uma coisa que eu comentava até com a minha esposa, de que era um local que a gente deveria conhecer, por toda a questão de belezas naturais e pela similaridade que tem, vamos dizer assim, geográfica, com nossa cidade natal, porque eu e minha esposa somos do Rio. Conhecia o Nordeste, por ter servido lá, conhecia outros locais até fora do Brasil, mas Florianópolis era um lugar que realmente a gente não conhecia e, quando veio a designação do Comando aqui, pensamos que, se não conhecíamos a cidade tendo visitado por uma semana ou dez dias, então, vamos ter dois anos para isso. As atividades administrativas e operacionais aqui na Base, consomem bastante tempo do dia a dia. Por ser uma Unidade isolada, eu tenho outras atribuições como Comandante. Tenho que cumprir protocolos de relações institucionais com as outras Forças estabelecidas aqui no Estado de Santa Catarina, não apenas na cidade em si, da parte da Força Aérea, mas também de relações institucionais com Prefeitura Municipal, Governo do Estado, as duas outras Forças Armadas, Exército e Marinha, Forças de Segurança Pública, então, essa responsabilidade acaba ocupando bastante tempo. Também tem as relações sociais, tanto a prestação de assistência social, que a Base guarda essa relação já intrínseca com a sociedade, principalmente com os nossos bairros próximos, como a Tapera e o Carianos, além dos clubes que nós temos, que são o clube dos Graduados, o de Oficiais e outras Instituições que congregam militares das Forças, seja Associação dos Amigos da Base Aérea, que congrega tanto civis quanto militares, a Associação de Militares da Reserva, que congrega todas as Forças Armadas e da AMRAER que é Associação de Militares da Reserva da Aeronáutica. Toda essa gama de atividades acaba tendo uma demanda de tempo não apenas laboral mas também de finais de semana, para participar de diversos eventos, então, na questão de adaptação à cidade, foi a melhor possível mas digo que talvez eu aproveite menos a cidade do que gostaria, não apenas a cidade mas o redor também, até pela questão de conhecer outras praias aqui do litoral norte e litoral sul em relação a Florianópolis e, para o interior, a parte de serra. Dentro do tempo que me sobra pra poder fazer essa parte particular de visitação, do que eu já conheci, posso dizer que a cidade, não apenas ela, mas o Estado como um todo, tem me deixado muito impressionado com toda a infraestrutura, toda a capacidade, o povo, realmente tem sido uma experiência muito positiva e o que eu tenho comentado inclusive, de colocar como um possível local para passar a aposentadoria depois de ir para a Reserva, assim como eu já tenho percebido que muitas pessoas têm escolhido Florianópolis e o seu redor para passar depois a sua aposentadoria. É um local que eu já coloco como um dos possíveis candidatos, mesmo que não tenha um vínculo familiar aqui. Realmente, o que a cidade oferece, o que eu tenho tido de experiência nesse um ano e quatro meses e espero que nesses próximos meses mais à frente, até a Passagem de Comando, ao final do ano ou início do próximo, que possa deixar esse cantinho ali no coração para levar em consideração depois de finalizada a carreira na ativa, de quem sabe, fincar raízes aqui e seguir como um cidadão florianopolitano.


AF: Como resultado do Plano “Força Aérea 100”, lançado a partir de 2016, a Força Aérea Brasileira vem experimentando diversas mudanças em sua estrutura organizacional. como exemplo, podemos citar a transformação de diversas de suas Bases Aéreas em Alas Aéreas e depois o retorno para a condição anterior. No caso específico de Florianópolis, além da ida do Esquadrão Phoenix para Canoas/RS, o que mais mudou? Como a Base se enquadra hoje em dia na estrutura da FAB?

Ten.-Cel. Valle: Quanto à saída do Esquadrão e à diminuição do efetivo, conforme eu tinha comentado, a Base se adaptou da maneira que lhe cabia no momento em relação, primeiro ao rearranjo da própria estrutura e ao entendimento do fato de uma Base, que desde os anos 70, sempre teve um Esquadrão sediado, deixando de ter, como que seria realmente essa rotina. Eu pude conversar com os Comandantes que passaram esse período por aqui e saber como foi a adaptação e as dificuldades em manter a motivação do efetivo, ficando aquela perspectiva, a Base vai diminuir de tamanho, vai passar a ser talvez menor ainda do que já está estabelecido, saída de banda de música, então, realmente houve uma diminuição grande do efetivo conforme já comentei e isso daí fez com que esse período de adaptação, chegasse até o ponto que culminou com o início do meu Comando, que ocorreu depois de todo esse rearranjo como comentado, de mudança de Base para Ala, de Ala para Base novamente, aonde você tinha uma estrutura maior e, mesmo com essa mudança, aqui não deixou de ser Base em momento nenhum. Aqui continuou como Base Aérea de Florianópolis mas, com esta estrutura mais enxuta e subordinada a um grande Comando administrativo, pois a Base estava subordinada à Secretaria de Economia e Finanças. Quando eu assumi o Comando, a mudança veio a reboque de todas as Bases Aéreas sem Unidades Aéreas, que estavam subordinadas à SEFA, retornarem ao Comando de Preparo. Foi uma adequação à nova estrutura que o COMPREP estabeleceu para as Bases Aéreas fundamentado no plano piloto que ocorreu na Base Aérea de Campo Grande e essa adaptação fez com que houvesse um rearranjo inclusive das estruturas internas. A Base deixou de ter um Subcomandante e passou a ter Comandantes de Grupo. Você tinha uma estrutura mais verticalizada e acabou tendo uma horizontalidade na gestão, cada um tomando conta da sua parte. Nós temos agora, o Grupo de Serviços de Base, que lida com toda a parte administrativa, o Grupo Operacional e o Grupo Logístico, que operam basicamente em conjunto. Como não temos Unidade Aérea, o efetivo é reduzido e acaba trabalhando muito de maneira harmônica até porque as atividades são basicamente atreladas, então, a parte Operacional e Logística trabalha mantendo a área operacional em condições de fornecer o suporte logístico para o sistema de Correio Aéreo Nacional, quanto em manter as instalações de maneira adequada para qualquer necessidade de operação de Unidade deslocada ou de Exercícios Operacionais. Segurança e Defesa, para prover a segurança das instalações e participar de operações. Por exemplo, nós servimos de apoio ao GSD de Canoas, que é o responsável pela atividade de fazer lá em Navegantes, o recebimento das aeronaves Gripen, que são recebidas no porto e esse traslado do porto para o aeroporto, é responsabilidade do GSD de Canoas, porque dos níveis de atuação, ele é um nível superior ao nosso em relação à capacidade e treinamento, então, nós servimos de apoio e de base deslocada para o GSD de Canoas. Além disso, tem também a questão da defesa interna e a atuação como Polícia da Aeronáutica para qualquer missão que venha a ser acionada e, o último, que não era uma atribuição da Base mas passou a ser, até para prover um melhor apoio administrativo, é o Grupo de Saúde. Antigamente, a nossa Esquadrilha de Saúde era uma unidade apoiada e passou a fazer parte da estrutura da Base Aérea não apenas na parte administrativa, mas também no apoio e identificação das necessidades do Sistema de Saúde da Aeronáutica, atuando de maneira mais presente, para que não ficasse algo muito distante do Hospital de área de Canoas. Então são esses os cinco Grupos que compõem a estrutura atual da Base. Lógico que ocorreram adaptações nesse processo. O primeiro ano, foi basicamente de aprendizado mas agora, como essa estrutura já está estabelecida, os resultados obtidos pelo menos no ano passado e o que a gente já teve de aprendizado, demonstram que foi um bom rearranjo nesse momento, retomando alguma coisa da estrutura que era antiga das Bases Aéreas e fazendo algumas adequações para que localmente, cada Unidade, cada Base Aérea, o Comandante pudesse atuar em apoio aos seus Comandantes de Grupo de maneira a obter melhores resultados, principalmente nos aspectos de melhoria de eficiência e efetividade dos serviços e dos resultados apresentados. Por exemplo, nós temos aqui aproximadamente 5 mil pessoas atendidas pelo nosso Hospital, entre militares da ativa, dependentes, veteranos, pensionistas e esse número cresce anualmente numa taxa de 10%, justamente porque as pessoas têm buscado viver aqui na região em função de diversos fatores e isso aumenta cada vez mais a nossa necessidade, a nossa capacidade de atendimento. Lógico que isso demanda uma maior estrutura, maior número de médicos, talvez uma maior necessidade de atendimento em clínicas conveniadas. Isso é um desafio, considerando os recursos cada vez mais escassos e a gente sempre tem que fazer cada vez mais com menos. Esses indicadores de efetividade e de eficiência são atualizados mensalmente aos órgãos de controle e pelo menos do que a gente tem recebido de feedback, a Base Aérea tem se portado muito bem dentro desses índices em todas as áreas.


AF: Referente às Unidades Aéreas, em sua história recente, a Base Aérea de Florianópolis abrigou duas delas, o Esquadrão Pelicano (1972-1980) e o Esquadrão Phoenix (1982-2016). O Senhor poderia nos informar se existe no presente, algum estudo em andamento junto ao Alto-Comando para que a Base volte a ter uma Unidade Aérea? Existe alguma definição nesse sentido?

Ten.-Cel. Valle: Os estudos são feitos baseados em Diretrizes de Planejamento e todas as movimentações que são estabelecidas em âmbito organizacional da Força Aérea como um todo, são demandadas pelo Estado-Maior. A Base Aérea estando agora subordinada ao Comando de Preparo e com o V COMAR retornando à estrutura com uma visão muito mais de governança das Bases Aéreas, esses estudos acabam ficando muito mais no nível estratégico da Força e essa movimentação de qual é a destinação da Base Aérea, principalmente com a saída do Esquadrão mais recente daqui, que foi o Phoenix, ela continua em estudo, não deixou de ser contemplada. Eu acho que é um aspecto que foi baseado no que a Base conseguiu entregar, mesmo com a saída da Unidade Aérea, porque havia a perspectiva, isso estava dentro da Diretriz de Planejamento, de qual seria a destinação da Base Aérea. Em algum momento, foi cogitado sim, talvez uma diminuição da Base ou até a possibilidade de fechamento. Isso foi levado a estudo mas, no momento, baseado no que está em Diretrizes de Planejamento, é estabelecer a destinação da Base Aérea para sua finalidade, ou seja, manter o cumprimento da sua missão, então, não consta mais a possibilidade no estágio atual, de fechamento de Base. A destinação da Base Aérea pode abarcar uma gama gigantesca de possibilidades, desde manter a estrutura que ela tem agora, servindo como localidade de apoio para treinamento e para operações reais quanto no futuro, quem sabe, o retorno de alguma Unidade Aérea. Não é algo que pode ser taxativo, que irá acontecer mas, estudos sempre continuam ocorrendo. A minha percepção é que ela vai se manter no curto prazo do modo que está, até porque, a Diretriz de Planejamento tem um prazo temporal. Então, provavelmente nos próximos quatro ou cinco anos, considerando que a atual Diretriz de Planejamento está no seu primeiro ano de execução, a destinação da Base deve se manter, mas continua em estudo e isso aí pode ser modificado mais adiante.


AF: Durante sua gestão, está se completando 100 anos que este local funciona como uma Base Aérea, 82 deles, sob a tutela da Força Aérea Brasileira. Quais ações e atividades estão sendo planejadas para celebrar estas marcas importantes?

Ten.-Cel. Valle: Em função das atividades operacionais que a Base está tendo e, lógico, isso aí acaba ocupando o nosso pátio operacional, que não é um pátio muito grande mas, dependendo do tamanho do Exercício acaba que a gente fica impossibilitado de fazer uma formatura de grande porte. O aniversário do Centro de Aviação Naval é 10 de maio, nesse período, ainda estará ocorrendo o EXOP SAR Carranca. Lógico que é uma efeméride que nós consideramos bastante importante, até porque foi a Unidade que deu origem à Base Aérea. Em função do próprio aniversário da Base que é logo na sequência, quase duas semanas depois, no dia 22 de maio, completando 82 anos, então, numa decisão minha aqui de Comando e isso já está despachado até com o V COMAR e já está autorizado, nós iremos realizar uma Cerimônia única no dia 17 de maio para as duas datas. Faremos a divulgação a todos os que são envolvidos com a Aeronáutica e com a Aviação em geral, com a Marinha, que já confirmou a participação no evento com uma fração de tropa e com a presença provavelmente da banda de música do 63º BI para poder abrilhantar ainda mais a Cerimônia, buscando assim, esse congraçamento das Forças Armadas, além da comemoração do centenário da Aviação Militar no Estado de Santa Catarina. Então, a nossa previsão é fazer essa formatura no dia 17, com a presença e o convite a todos os órgãos participantes das três Forças, os órgãos de Segurança Pública, enviaremos convite para Prefeitura, Governo do Estado, autoridades militares também de fora do Estado e que tenham relação com a Aviação Militar e com a possibilidade de participação de todos os envolvidos que curtem e que gostam da Aviação. Ainda estamos fechando o lançamento de uma moeda comemorativa em alusão aos 82 anos da Base e ao centenário do Centro de Aviação Naval, que depois, a gente pode até fazer uma tiragem maior por interesse das pessoas, que poderá então ser adquirida. Não pensamos em algo muito vultuoso para esse evento, até por uma questão que como não é um evento comemorativo de data redonda da Força Aérea, o último que a Base teve, foi o de 80 anos, em 2021, então acabou que nós tivemos que fazer algo com o mínimo possível de recursos mas o máximo de esforço em querer rememorar o centenário da Aviação Militar no Estado. Talvez o maior patrimônio que a gente venha a ter dessa comemoração seja a presença de todos aqueles que de alguma maneira contribuíram ou contribuem para aquilo que a Base consegue continuar fazendo hoje, junto à Aviação Militar e junto à sociedade catarinense. A presença de todos aqui nesse dia 17 é que vai dar o brilho especial para essa comemoração. 


AF: Além da Cerimônia e do lançamento da moeda, algo mais planejado? Teremos Portões Abertos esse ano?

Ten.-Cel. Valle: Portões Abertos, a previsão é que ele ocorra em outubro. Nós vamos ainda estabelecer com a coordenação de outros Portões Abertos, principalmente da Região Sul aqui mas, a previsão é que ele ocorra no dia 14 de outubro, próximo ao feriado do dia 12 que é uma quinta-feira e para evitar questões de conflitos de datas com eventos em outras Bases, no intuito de conseguir ter uma maior facilidade de apoio de Unidades Aéreas para trazer aeronaves para a exposição estática, busca junto ao Gabinete da Aeronáutica e aprovação para tentar talvez trazer a Esquadrilha da Fumaça e uma facilidade logística em função das outras Bases, Santa Maria e Canoas. A proposta é que o nosso seja no sábado, dia 14 de outubro. Nós já estamos com os processos administrativos necessários para poder fazer um evento com praça de alimentação, exposição estática, então, somente se acontecer alguma coisa muito fora do normal, nós não teremos a execução do Portões Abertos no dia 14 de outubro. E uma outra coisa, não atrelada ao Centenário do Centro de Aviação Naval mas à Aviação brasileira como um todo, é o fato que nesse ano, completam-se os 150 anos de nascimento de Santos Dumont e isso daí o próprio Comando da Aeronáutica vai entrar agora com a parte de divulgação dessa efeméride também e algumas ações serão empreendidas por parte do Comando da Aeronáutica e será uma possibilidade para que nós, agora no mês de julho, que marca a data do aniversário de Santos Dumont, tenhamos algum evento comemorativo, que já é feito normalmente aqui no dia 20 de julho. Então, é bem provável que nessa data nós façamos uma cerimônia aqui. Ela ocorre todo ano de forma usual mas, vou tentar junto a outras organizações até por uma questão de divulgação da data, quem sabe fazer algum outro evento externo à Base para que possa junto talvez com Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores, fazer alguma coisa aqui que remonte localmente, dentro do Estado de Santa Catarina, nessa campanha que o Comando da Aeronáutica vai empreender para fazer a comemoração dos 150 anos de Santos Dumont.


AF: A Base Aérea de Florianópolis recebe ao longo do ano, diversas Unidades Aéreas para a realização de Treinamentos Operacionais. Estamos no momento com o Esquadrão Pantera de Santa Maria/RS aqui e nos próximos dias terá início na capital catarinense, um dos maiores Exercícios anuais da FAB, que é o EXOP Carranca. Quais são os motivos da escolha de Florianópolis para esses Treinamentos?

Ten.-Cel. Valle: A Base Aérea de Florianópolis tem uma característica muito peculiar que é a possibilidade de ter Esquadrões concentrados aqui, seja Pantera, EXOP Carranca ou outros Exercícios ligados principalmente com esse aspecto de Busca e Salvamento, realizando o treinamento das tripulações e das equipagens que lidam com esse tipo de missão que a FAB faz. A característica que a Base oferece, é que num curto raio de ação, você consegue ter diversas possibilidades de treinamento bastante distintas porque, num raio talvez de 25 milhas, nós temos a baía, para fazer o treinamento em águas mais calmas, na parte de resgate e localização de alvos, nós temos mar aberto, nós temos região de descampado, nós temos serra, então, essa possibilidade de concentrar em um local essas Unidades e você ter essa otimização de recursos, cada vez mais escassos, faz toda a diferença. Quanto mais eficiente a gente for na utilização desses recursos, principalmente pensando que o custo de operação de qualquer aeronave seja ela qual for, é um custo muito alto, então, você poder fazer esse treinamento das equipagens, aproveitar o máximo possível a hora de voo para poder já estar diretamente ligado ao treinamento e não ao deslocamento. Essa capacidade que a Base tem, concentrando meios para poder fazer o treinamento de diversos tipos diferentes de cenários e principalmente a integração de aeronaves de asas rotativas com asa fixa, agora com a parte da Patrulha Marítima inserida dentro desse grande guarda-chuva da doutrina básica da Força Aérea que é a Inteligência, Vigilância e Reconhecimento então, dentro desse escopo, a Base oferece características geográficas que são muito interessantes para essa otimização e sem contar que, em função dessa própria geografia, acaba gerando historicamente algumas situações climáticas mais extremas, com embarcações que ficam à deriva, pessoas que ficam perdidas no mar, enchentes que acontecem em localidades próximas de Florianópolis, que geram esse tipo de situação em que há a necessidade do apoio humanitário. Então, aqui acaba sendo um ponto que, em situações reais, pensando nessa parte sul do Brasil, além de estar no mar já diretamente, você está no meio do caminho entre o litoral do Rio Grande do Sul e o litoral também do Paraná pegando também um pouco ali de São Paulo, então, você tem um raio de ação que aqui acaba sendo exatamente o ponto geográfico para poder fazer uma varredura na parte sul do Brasil e, pensando para o interior, toda essa parte de serra que a gente sabe que tem enchentes de rios, cidades que às vezes ficam em situação de calamidade pública. Treinar numa localidade que você já tem um conhecimento prévio das características daquela região também é muito positivo, então, quanto mais e melhor a gente puder fazer esses treinamentos, numa situação real, a execução dessa atividade operacional vai ser muito mais facilitada. 


AF: A Base sempre teve uma relação muito próxima com a sociedade catarinense, seja nos momentos de crise, como nas tragédias climáticas que frequentemente assolam o Estado de Santa Catarina ou apoiando diversas iniciativas sociais e esportivas. A chegada da pandemia acabou interrompendo esse vínculo. Como está o processo de retomada desses projetos? Quais estão em atividade no momento?

Ten.-Cel. Valle: Durante a pandemia acabou que todas essas atividades, tiveram uma diminuição mas, assim que houve a estabilização da Covid, talvez o principal projeto que foi retomado seja o projeto Forças no Esporte. Esse é um projeto do Ministério da Defesa em que ele busca fazer por meio do Esporte, apoiar e dar um suporte para as crianças em situação de vulnerabilidade social. Utilizando a estrutura que nós temos, com campo de futebol, pista de atletismo, quadra poliesportiva, no momento que ela não é utilizada pelo efetivo, duas vezes por semana nós temos aqui o apoio ao Colégio Tenente Almáchio, que é um Colégio Estadual que fica, por sessão de uso ao Governo do Estado de Santa Catarina, dentro da nossa área. No momento, estamos com 120 crianças de 6 a 14 anos sendo apoiadas pelo projeto, que trabalha no contraturno escolar, então, as crianças, por exemplo, estudando de manhã, quando dá meio-dia, uma equipe nossa vai até o portão Sul que é onde fica exatamente a entrada do colégio, busca as crianças e elas já chegam indo direto para o rancho. Então, recebem o almoço e depois iniciam as atividades físicas das mais diversas. Temos a nossa Seção de Educação Física e os nossos militares lidam diretamente com as crianças e procuram trabalhar com elas não apenas a atividade física mas repassar também o ensinamento dos valores que nós temos como Instituição, patriotismo, amor à profissão, profissionalismo, valores que a própria Força Aérea estabelece para o seu efetivo e que procuramos também passar para as crianças. E um espaço pequeno de tempo mas, ao término das atividades, no final da tarde, elas retornam já com lanche para a escola e é ela que faz a entrega das crianças para os responsáveis. Esse projeto acontece não apenas aqui, mas em outras Unidades não apenas da Aeronáutica mas também do Exército e da Marinha, espalhadas pelo Brasil. Em paralelo a isso, temos outros projetos que a gente procura fazer. Temos pela Capelania da Base, a ação social Nossa Senhora do Loreto que também procura via Capelania e as pessoas que participam lá das cerimônias religiosas comandadas pelo nosso Capelão o Capitão Valmir, fazer o recolhimento de doações de mantimentos, cestas básicas a essas mesmas famílias que são apoiadas pelo PROFESP e, havendo uma maior quantidade de donativos, a gente procura atender principalmente o bairro da Tapera que é o nosso bairro mais próximo aqui da base e que tem essa vulnerabilidade social. Somente como exemplo, a retomada do projeto esse ano aconteceu próxima à data da Páscoa e nós conseguimos fazer o apoio a quase 400 famílias, com a doação de mantimentos, chocolate e roupas, inicialmente para o PROFESP e depois, estendido aos projetos sociais que já existem dentro da própria Comunidade da Tapera. Esse apoio já é histórico junto à comunidade do bairro e não é à toa, que nós temos servindo aqui conosco, ex-participantes do PROFESP e do nosso outro projeto que existe desde quando a Base foi criada, em 1941, que é o Caravanas do Ar. Esse é um projeto também de cunho social e que apoia não apenas crianças até 14 anos mas jovens que já tenham avançado para a vida adulta. Lá nos anos 40, chegou até a ser uma equipe de futebol amador competindo inclusive no campeonato estadual. Ultimamente ficamos apenas com o suporte para a equipe de judô, com o atendimento de alguns jovens e crianças no período noturno com a colaboração de militares nossos e professores. Uma próxima tentativa para aumentar a possibilidade de atendimento social, pois o PROFESP ocupa apenas dois dias da semana e o Caravanas do Ar, dois dias na parte noturna, já foi feito um contato com a Prefeitura de Florianópolis e foi verificada a possibilidade de ter um retorno ainda maior, porque a Prefeitura está desenvolvendo o trabalho de Bairro Educador, que conta no momento com 12 sedes e está se propondo a extensão para 18 sedes e uma dessas, seria aqui na Base Aérea. Então é bem provável que a partir do segundo semestre, a Base passe a ser uma das sedes, com a possibilidade de termos essa atividade sendo desenvolvida de segunda a sexta, de manhã e de tarde, ou seja, um projeto que no momento a gente consegue oferecer, já que é um recurso que vem do MD, aplicado somente em dois dias, com recursos oriundos da Prefeitura, talvez se consiga fazer isso de maneira ininterrupta que é até um pedido que muitos pais fazem. Essa era uma demanda que a própria Associação de Moradores fazia também junto aqui à Base e era uma restrição nossa, então, com a conjunção desses esforços, podendo utilizar recursos sejam de qual fonte for, Municipal, Estadual ou Federal, a gente consiga realmente aumentar a capacidade e dar esse retorno e por que não, um futuro melhor. Um dado que foi trazido a pouquíssimo tempo para mim é que historicamente, aproximadamente 400 militares soldados aqui que entraram pelo recrutamento, teriam passado em algum momento pelo PROFESP ou pelo Caravanas do Ar. Isso acaba sendo a continuidade de um processo para que a gente consiga dar para esses jovens, um rumo, um norte, culminando na parte de formação do Serviço Militar, nem que seja uma profissionalização em alguma área porque, inclusive, isso é um projeto que existe dentro do serviço militar obrigatório que é o Projeto Soldado Cidadão que dentro da capacitação que existe na execução das nossas atividades internas, esse soldado após o término do seu tempo de serviço, ele saia daqui com algum diploma profissionalizante de qualquer que seja o curso. Nós temos dentro das nossas oficinas, atividades de alvenaria, carpintaria, serviços gerais, então, nós conseguimos dar várias capacitações para esse jovem e se ele vem fazendo o acompanhamento desde o PROFESP, com a possibilidade de servir conosco aqui e depois prosseguir, em torno dos seus 22 ou 24 anos, com esse vínculo com a Base e principalmente com os valores que nós temos aqui, ou seja, que a gente consiga entregar para a sociedade brasileira não apenas a parte de formação militar de ser um cidadão melhor. Essa parte do vínculo social, eu tenho procurado incentivar e cada vez mais fazer com que a Base Aérea seja um pólo propagador de melhores e mais bem formados cidadãos e que a gente possa realmente fazer isso daí como se fosse aquela corrente do bem, cada um colocando um pouquinho do tijolinho ali, de fazer seu esforço para poder melhorar um pouco mais a nossa sociedade. 


AF: No início do próximo ano, se encerram os dois anos que habitualmente são reservados para um Oficial no Comando de uma Base Aérea. Quais foram suas principais realizações até o momento e o que o Senhor ainda gostaria de fazer? 

Ten.-Cel. Valle: Essa questão social é uma que eu tenho procurado apoiar bastante dentro do escopo de atendimento que, se eu for olhar para missão-fim da Base, ele é um plus, então, é algo que a gente consegue fazer muito das vezes com pouco recurso mas colocando nosso esforço, se consegue ter um resultado bastante positivo. Com relação à parte da missão da Base em si, o principal que eu vejo seria a retomada das atividades operacionais, porque foi uma dificuldade durante a própria pandemia de fazer as operações e nessa transição de retomada das atividades operacionais do COMPREP em reassumir a parte de estrutura organizacional da Base, foi um desafio, principalmente no meu caso, por ter ficado muito tempo longe da área operacional. Então, foi um trabalho que eu me senti bastante realizado de conseguir conduzir a Base nessa transição de retornar ao Comando de Preparo e de conseguir obter, e eu procuro sempre repassar isso ao nosso efetivo, a questão do reconhecimento de quem sempre vem aqui operar, independentemente do tamanho da Operação, o reconhecimento dos nossos visitantes, dos militares que são apoiados, os parabéns por como a base se empenha em bem entregar o seu serviço, seja por um bom atendimento de hospedagem, um bom serviço de rancho, um bom serviço prestado, de ter uma área operacional em boas condições, por mais que não tenha uma Unidade Aérea. É como se fosse uma casa que está fechada e você tem que manter em boas condições, caso venha um inquilino, então, por mais que não tenha uma ocupação plena durante todo o período do ano, sempre quando há uma Operação aqui, todos os militares que vem operar na Base se sentem muito bem acolhidos e se sentem em casa. Isso é algo que a gente percebe não apenas no reconhecimento do dia a dia mas também nos relatórios que são emitidos após o término dos Exercícios, lógico, sempre com algumas pontuações ali buscando pontos de melhora mas, tendo o reconhecimento da excelência do serviço prestado dentro da missão atribuída à Base Aérea. Outra questão que eu vejo, é a ação junto aos nossos veteranos, seja de qual grupo for, Associação de Amigos da Base Aérea, Associação de Militares da Reserva da Aeronáutica ou das outras Forças, todas elas contam com ex-integrantes veteranos, então, acho que essa questão também de você fazer esse reconhecimento, dar o devido valor e buscar retomar também as atividades. Foi um período bastante difícil para poder fazer esses encontros, então, prestigiar, abrir o portão da base, fazer reuniões com os veteranos aqui dentro, disponibilizar toda a nossa infraestrutura para que possam continuar se sentindo parte integrante da Instituição, porque as pessoas guardam um carinho muito grande com a Base e muitas das vezes, a gente tem militares que passaram a vida toda dentro da Força aqui em Florianópolis. Manter essas pessoas ativas aqui dentro para nós, é muito importante, então, a gente vê que existe um brilho no olhar tanto de quem vem aqui quanto de nós, que recebemos esses veteranos. Uma das melhorias que estamos buscando é procurar fazer um aumento da área de atendimento da Seção de veteranos que fica dentro do Grupo de Serviços de Base e nós estamos finalizando uma adequação dentro de uma ala do Hospital. Isso aí vai facilitar o atendimento, não apenas o atendimento médico, mas o atendimento à parte administrativa também. É um local que está sendo reformado, o piso já está colocado, faltando pequenos ajustes de mobiliário para realizar a migração de duas salas acanhadas dentro do Hangar para um local muito mais amplo, arejado e com a possibilidade de fazer até outros tipos de atendimentos e aí, tentando buscar parcerias para isso na questão de ter talvez, uma oficina de música, aula de pilates, funcional, algo nesse sentido, para tentar oportunizar para esse público também alguma atividade física em que ele possa vir aqui e ter esse tempo. É uma possibilidade que estamos vislumbrando, em função que a gente tinha no Hospital, uma área que estava sendo pouco utilizada, então, fizemos alguns rearranjos estruturais lá dentro e vamos procurar dar essa facilidade e oportunizar esse atendimento extra para os nossos veteranos. Isso também era algo que estava um pouco adormecido e procuramos colocar um esforço para que isso acontecesse e é bem provável que esse ano ainda, esteja concluído. E do que eu gostaria de fazer, que é algo que também está no planejamento, que seria fazer a retomada dos Portões Abertos. Um evento assim, chama a sociedade como um todo, nítido que quem gosta de aviação aguarda esse evento, então, com a pandemia, acabou que ficou parado. A gente não conseguiu fazer o evento ano passado em função das diversas atividades de retomada da parte operacional e de todo rearranjo administrativo. Entre fazer algo malfeito e não fazer, preferimos não fazer até porque estamos fazendo algo em espaço público e precisa ter todo um suporte para exploração da praça de alimentação, colocação de uma estrutura adequada de banheiros químicos, o pessoal poder fazer aqui a comercialização de artigos ligados à Aviação. Nós temos que fazer uma licitação para exploração do espaço público e isso demanda um tempo. Então, quando nós visualizamos todo o calendário que é necessário para poder cumprir esse planejamento, a gente já estava muito atrasado, por isso que no ano passado nós preferimos não fazer para que esse ano, tivesse com o calendário todo ajustado para que pudesse realmente fazer o planejamento e a execução já programada para que, no dia 14 de outubro, possa acontecer o Portões Abertos.


AF: É um evento que já é bastante tradicional aqui na região e costuma atrair, 20, 30, 40 mil pessoas... 

Ten.-Cel. Valle: E isso é uma preocupação que eu tenho pelo histórico do pessoal que já tem muito tempo aqui na Base, para que a gente possa junto com os outros órgãos da cidade, procurar facilitar o máximo possível o acesso à Base Aérea e otimizar a entrada e a saída, dentro daquilo que for pertinente fazer, que a gente consiga receber a máxima quantidade de público, pois sabemos que é um dia que, como fala o manezinho, “tranca a ilha”, então, a gente vai tentar o máximo possível estabelecer contato com Prefeitura, Governo do Estado para a questão de apoio de Polícia, se possível aumento de linhas ou até algum tipo de otimização das linhas de ônibus para poder facilitar o acesso pelo transporte público, porque aqui, uma dificuldade nossa é a área para estacionamento. Essa é uma das saídas que eu vou tentar, aproveitando a boa relação com o consórcio do transporte público, até porque ele utiliza a nossa área de Base para o cruzamento do portão Sul para o portão Norte para atendimento ali dos bairros do Ribeirão da Ilha e Tapera. Baseado em outros grandes eventos que eu tive a oportunidade de participar, não aqui, mas o que eu tenho mais memória é o Portões Abertos da Academia da Força Aérea e lá, quando teve a retomada das atividades da Fumaça com o A-29, o público estimado contabilizado para aquele dia foi de aproximadamente 90 mil pessoas. É um desafio porque a área de estacionamento lá, a AFA tem um gramado gigantesco do lado da pista que a gente consegue colocar milhares de carros e aqui, o nosso espaço de estacionamento é realmente bastante restrito, então, é um desafio para que a gente consiga fazer esse evento aqui. Lógico, vai ser em menor escala até por causa do público que historicamente é atendido pelo Portões Abertos mas, sendo uma retomada, a gente já tem uma projeção que será um evento de maior vulto. Estamos em abril, estamos seis meses fora, ainda há tempo para a gente tentar otimizar o máximo possível e fazer algo no intuito de, talvez, ter um acesso por tempo para o pessoal poder circular, fazer um fluxo de entrada e saída para entrar por um portão e sair pelo outro, então, toda essa parte de gestão da nossa área aqui para poder receber o público, já está dentro do nosso planejamento para que a gente possa fazer um evento bastante proveitoso para todo mundo, tanto para nós como Instituição, de poder abrir os portões e receber novamente a sociedade, quanto para quem vem aqui, se sinta bem à vontade e se sinta em casa.


AF: Mudando um pouco de assunto, boa parte de sua carreira como Piloto na FAB foi a bordo de aeronaves de treinamento, exercendo a função de Instrutor de Voo na Academia da Força Aérea. Qual sua análise sobre a situação atual de nossa aviação nessa área? 

Ten.-Cel. Valle: Eu servi na Academia da Força Aérea, de 2007 a 2011. Eu tive um período de dois anos fora da Academia, por causa do intercâmbio lá no Chile e depois eu retornei para ficar mais três anos, de 2014 a 2016, então, já se vão aí seis anos e meio que eu estou afastado da parte de Instrução Aérea. Mas quando eu estava saindo de lá, estava em desenvolvimento, ao que já está operando agora, três modalidades distintas de simuladores de voo desenvolvidos pela própria Academia com o apoio de alguns Engenheiros e entusiastas do ITA, utilizados tanto para a Instrução Primária no T-25 quanto com a Instrução Básica no T-27. Às vezes pode parecer um contrassenso dizer que é primário e básico mas, o entendimento que a Força coloca é que a avançada, seria a Especialização Operacional já em Natal então, na formação do piloto mesmo ele não sendo um piloto, entre aspas, operacional, ele sai da Academia com a formação básica por isso, o estágio primário, que é a preparação dele para poder fazer o voo solo, aprender as técnicas primárias de voo e depois fazer a formação básica onde ele vai desenvolver ainda mais as suas capacidades numa aeronave de melhor capacidade como o Tucano, para fazer manobras de acrobacia, voos de ala, voo por instrumento. O próprio Tucano modernizado trouxe um ganho absurdo em relação à capacidade de treinamento das tripulações que saem formadas da Academia. Quando eu saí de lá, o Tucano ainda não estava modernizado, ainda não tinha os simuladores, então o que eu vivi até 2016, era uma situação que a gente ficava “brigando” para sair da Academia para fazer um VOR ou uma vetoração-radar. Mas agora do jeito que está, a capacidade instalada de treinamento que o simulador oferece e principalmente a modernização do Tucano, ofereceu para os Cadetes em formação, um ganho operacional muito grande. Era algo que estava latente, essa necessidade de atualização e isso realmente pelo que eu tenho conversado com alguns colegas meus que servem na Academia e serviram comigo a época, foi uma evolução muito grande nesses últimos seis anos e meio. Foi realmente um ganho muito bom, considerando que o T-25 que já tem mais de 50 anos de operação e o Tucano, que no ano que vem vai completar 40 anos de operação na Academia. São aeronaves que, pelo fator tempo, lógico, aí agora é uma opinião pessoal minha, é bem provável que em algum momento isso venha a entrar em discussões em nível estratégico na questão da substituição do treinador. Nesse momento, não existe uma previsão para a substituição seja do treinador primário ou do treinador básico até porque o T-27 acabou de ser modernizado, ele ainda tem bastante lenha para queimar na questão da operação dele. O T-25, como uma função muito mais de ensinar o piloto a fazer ali a parte básica, controlar a aeronave e sair do voo solo, fazer o básico de acrobacias, fazer um voo de formatura realmente básico, ele ainda atende bem. É uma aeronave que, por mais que seja antiga, aguenta muito erro do Cadete então, ela é muito amigável e possibilita que o Cadete erre bastante e ainda assim dá uma margem grande para o Instrutor poder atuar em segurança e fazer uma adequada seleção dos Cadetes que irão prosseguir no curso. O Tucano é uma aeronave excelente, das 2.500 horas que eu tenho de Instrução, mais de 1.500 foram nele. Não à toa, era a aeronave que a Esquadrilha da Fumaça utilizava anteriormente, uma aeronave excepcional na parte acrobática. Voos de formatura com o T-27 é muito bom de fazer. Ele dá a capacidade de operação para o Cadete ter a noção do voo de formação e com esse ganho agora operacional da parte de instrumento, estendeu em alguns anos realmente a vida operacional da aeronave. Mas seguramente em algum momento no futuro, no médio e longo prazo deve entrar em pauta de discussão talvez um substituto, seja para os dois treinadores ou um para cada, isso aí lógico, vai entrar em estudos de Alto-Comando através das Diretrizes de Planejamento para identificar qual será o caminho a ser tomado, pois a aeronave acaba tendo uma vida útil então, fatalmente isso em algum momento vai acontecer.


AF: O Senhor atuou durante algum tempo junto a Força Aérea Chilena como Instrutor de Voo na Escuela de Aviación Capitán Manuel Ávalos Prado, Instituição equivalente a nossa Academia da Força Aérea. Como surgiu a oportunidade e como foi essa experiência?

Ten.-Cel. Valle: Eu estava no meu quinto ano como Instrutor na Academia e esse intercâmbio com a Força Aérea Chilena tinha justamente iniciado no ano anterior, em 2010. Era o segundo intercâmbio que a Força Aérea Brasileira estava desenvolvendo à época porque o primeiro tinha sido com a Força Aérea Portuguesa. Nós já tínhamos um Instrutor português conosco lá e em 2011, ano em que recebi a notícia que iria para o intercâmbio no ano seguinte, a gente já estava com o primeiro Instrutor chileno também na AFA. Por questão de similaridade de projetos, a Força Aérea Portuguesa, se eu não me engano, voa com Pilatus (n.e.: Aerospatiale Epsilon TB-30) e ele se aproxima talvez ali na questão de aerodinâmica e na questão de operação de sistemas com o Tucano, então, o Instrutor português fazia o intercâmbio dele no T-27 e, pela similaridade do Pillán, que é a aeronave usada como treinador lá na Escola de Aviação chilena, guarda muita similaridade com o T-25, inclusive a motorização é igual, então, o Instrutor chileno vinha para fazer o intercâmbio no T-25. Nesse mesmo ano iria começar o intercâmbio com a Força Aérea Argentina, então, nesse período que eu fui designado para ser Instrutor no Chile, a Academia da Força Aérea tinha intercâmbio com três Forças Aéreas, Portugal, Chile e Argentina. Nesse momento, o intercâmbio com o Chile era de um ano só, então, a rotatividade acabaria sendo um pouco maior. No início de 2011, eu tinha acabado de assumir a função de Comandante de Esquadrilha e já estava no meu quinto ano como Instrutor de Voo. Já estava com uma experiência bastante grande na instrução e eu já tinha meio que colocado na minha cabeça que naquele ano encerraria a minha passagem pela Academia, iria colocar meu nome no plano de movimentação, pois eu já tinha considerado que a minha missão como Instrutor já havia se encerrado, ou seja, aquele ciclo ali já tinha se completado. Aí, para minha surpresa, aproximadamente em abril, o Comandante da Academia me chamou na sala dele e disse que havia sido feito um conselho interno dentro da Divisão de Operações Aéreas, que faz a gestão dos dois Esquadrões de Voo e, considerando os critérios que foram estabelecidos no momento, que eram, tempo de instrução, experiência na atividade na Academia, conceito profissional, funções desempenhadas na Academia, ou seja, eu ter tido essa progressão dentro do Esquadrão em ter ocupado todas as funções, considerando todos os critérios e fatores de antiguidade, o meu nome tinha sido selecionado para ser Instrutor no ano seguinte no Chile, ou seja, estava em abril de 2011 e eu iria para lá somente em janeiro de 2012. Nesse processo, lógico que a minha ideia de colocar o nome no plano de movimentação foi encerrada e ficou o restante do ano naquela expectativa de confirmação. Continuei cumprindo as minhas atividades e tive cerca de seis ou oito meses para poder aprender e praticar espanhol e, quando foi em dezembro de 2011, houve a assinatura da Portaria com a designação para prosseguir para o Chile. Portaria para cumprir um ano de intercâmbio e aí, lógico que depois desse tempo, a previsão seria voltar para Academia e dar o retorno à Instituição daquilo que o intercâmbio prevê e fazer as adequações à nossa instrução. Cheguei lá no início de 2012 mas, a realidade acaba sendo bem diferente porque a gente acaba treinando espanhol meio que o padrão e quando chega lá no Chile, talvez um dos países da América do Sul que tenha a maior quantidade de sotaques e modismos de gíria diferente, isso não dito por mim, mas por eles próprios. Depois que eu cheguei, até acostumar realmente com a parte de gíria, sotaque, velocidade de fala, demandou um tempo, só que a instrução já havia começado, então, para fazer a minha preparação para ser Instrutor de Voo, tive que cumprir uma Ordem de Instrução deles que contemplava aproximadamente 50 horas, 20 para formação na aeronave e 30 para fazer a formação deles para ser designado como Instrutor de Voo. Finalizado esse processo inicial, isso já era aproximadamente abril, o intercâmbio iria até dezembro, então, eu sabia que tinha um período ali que até para a própria Força Aérea Chilena, era uma situação um pouco mais dificultosa porque, 50 horas de formação de um piloto para dar um retorno depois de pouco mais de oito meses também era difícil. Sem eu saber, essa situação já tinha sido levada para uma reunião de intercâmbio entre as Forças e a missão foi modificada para 2 anos e então, para minha surpresa, quando eu estava no meio da missão, estava operando lá com eles, houve essa possibilidade, quando eu já estava buscando saber como seria o retorno, mudança de volta, aí o meu contrato lá com a Força Aérea Chilena foi estendido em mais um ano. Então, eu tive a oportunidade de ficar dois anos lá no Chile. Essa experiência foi bastante interessante. Atualmente a AFA mantém intercâmbio com o Chile e a Argentina e esse fluxo segue a cada dois anos e ficou sincronizado que a cada ano tem a troca de um, então, um ano é a troca no Chile e no outro, a troca da Argentina. Esse intercâmbio segue de maneira continuada sem interrupção pelo menos até o presente momento. Na Argentina eles utilizavam o Tucano, se não me engano agora, eles usam o Grob, que é alemão então, pela questão de similaridade à época, o argentino ia para o 1º EIA até porque a gama de horas voadas é muito maior que no T-25, apesar da turma ser menor mas, o número de fases e as horas de voo são muito maiores no T-27 que no T-25. Então, a gente tinha dois instrutores no T-27 e um no T-25, o português e o argentino no T-27 e o chileno no T-25. Agora, como encerrou Portugal, o argentino fica no T-27 e o chileno, no T-25.


AF: Quais as similaridades e diferenças entre o processo de formação do piloto militar chileno e brasileiro?

Ten.-Cel. Valle: É bastante similar com a formação primária dos Cadetes aqui do Brasil com a diferença que, se o nosso Cadete na fase primária, faz 40 horas, lá pelo voo não ser no Primeiro Ano, como é hoje em dia aqui no Brasil, o voo acontece apenas no Quarto Ano. É um processo completamente distinto, onde ele teve a formação do Primeiro ao Terceiro Ano idêntica para todos os Quadros que são formados lá no Chile, Aviação, Intendência, Infantaria, Meteorologia e Engenharia. O Primeiro ao Terceiro Ano é uma formação militar padrão para todos e o Quarto Ano, acaba virando o ano de Formação Especializada do Quadro e depois, como Aspirante ou mesmo Segundo-Tenente, ele continua ainda fazendo a parte de formação operacional. Isso é uma característica interessante porque mesmo sendo Segundo-Tenente, eles continuam tendo que morar no Cassino dos Oficiais, não podem ser arrimo de família, então, é uma concepção completamente diferente. É como se eles finalizassem a Academia, fossem para as Unidades e ainda continuassem na formação profissional dentro de sua área de atuação e só depois, como Primeiro-Tenente é que eles ficam full operacionais e aí sim, podem ser arrimo de família, casar, ter filhos. Eles têm esse período maior de proteção, vamos dizer assim, diferente do nosso Cadete que, depois que se forma é declarado já Segundo-Tenente e pode ser arrimo de família, casar, ter filhos. A formação dele continua mas com a vida pessoal, sendo mais dono de si. Eu fiz esse adendo porque é uma coisa que determina muito o que é a formação deles na Escola de Voo, por que? No Quarto Ano, mesmo sendo um curso muito mais adensado, eles praticamente voam 120 horas cada Cadete. Fases de voo, muito similares, Pré-Solo, Manobras de Acrobacias, Formatura Básica e Navegação Visual, basicamente o que o nosso Cadete faz no T-25 mas, uma diferença primordial que existe é que se o nosso Cadete no Primeiro Ano for desligado, ele é desligado e ponto. Se quiser voltar para a Força, tem que fazer prova para outro Quadro. Lá não, uma diferença principal é que o Cadete desligado no Quarto Ano, ele cai de turma e segue em outro Quadro. Era engraçado até ver como acontecia pois o cara era desligado no curso, no dia seguinte era o Conselho dele e o seu nome era encaminhado para a Diretoria de Ensino equivalente deles lá e no dia seguinte, ele já estava com platina do Terceiro Ano, em outro Quadro e seguindo a carreira. Por que que isso acontecia? Porque o curso de formação militar deles lá é como um curso superior como qualquer outro, pelo menos era na época em que eu servi lá. Todo curso superior chileno é pago, não tem recurso Federal. Você tinha um financiamento estudantil e depois tinha que fazer o pagamento daquele financiamento. Então, ele estava pagando o curso para ser Oficial da Força Aérea. Nesse quesito, caso ele não quisesse seguir, podia pedir as contas e sair, mas ele normalmente caía de turma e mudava de Quadro. Falando agora da parte específica da Aviação e das fases de voo, é um curso muito mais adensado. A própria concepção das fases e o acompanhamento do Instrutor é completamente diferente. Aqui no Brasil, nós temos um Instrutor de Voo com quatro, cinco, seis Alunos a depender, se o Instrutor é orgânico do Esquadrão de Voo ou se ele também cumpre uma função administrativa na Academia, ele toma conta do Aluno dele mas o Aluno rotaciona com todos os Instrutores, então, ele acaba sendo um Instrutor sempre que ele tem a necessidade de fazer uma orientação, explicar, mas ele acaba tutorando mais do que sendo um Instrutor de Voo fixo. No Chile não, lá você é um Instrutor fixo daquele Aluno e aí vai acompanhando ele e você só troca de Aluno em duas situações. O nosso Cadete aqui, se ele tomar três deficientes numa fase ou cinco no curso, ele vai a Conselho. Lá não, ele pode ter cinco deficientes em cada fase e só então vai a Conselho e ele não tem limite de deficientes totais no curso. Então ele pode tomar sem ir a Conselho, quatro em cada fase e o Instrutor de Voo é somente trocado se você, como Instrutor, der dois deficientes seguidos ou três alternados em uma fase de voo. Por exemplo aqui, a fase de Pré-Solo, são três missões, lá são 25, muito mais extensa, então, se você deu a instrução, voo deficiente na missão seguinte, voo deficiente, troca de Instrutor e você recebe outro Aluno. Acaba sendo normal esse rodízio porque é natural levar voo deficiente dentro da fase de instrução, então, você recebe um Aluno novo, faz um voo de adaptação e segue com aquele Aluno já entendendo quais são as deficiências dele. Se você tiver uma situação que já está com muito Aluno, acaba passando para outro Instrutor que tenha menos. Essa então, é uma característica bastante peculiar, porque aqui no Brasil, eu era muito mais de acompanhar e pegar algumas missões-chave que sabia que era um pouco mais complicada e que eu acompanhava com o Cadete, preparando ele para a missão de cheque que aí sim, tem que ser um Piloto que seja já mais experiente que tenha uma padronização já mais regrada para poder verificar se realmente o Cadete tem condições de fazer o voo solo naquela fase. Lá no Chile, a gente ia acompanhando até a hora 18, até a décima oitava missão. Você tinha uma missão de padronização no meio do caminho, na hora 10 e, quando chegava na hora 18, você fazia três tráfegos com o Cadete e ali mesmo, se ele já fizesse bem o toque e arremetida, você voltava para o pátio e liberava para o voo solo. E tinha todo um procedimento, eles têm uma pequena flâmula lá que eles prendem no canopy por fora, travam ela e o Cadete vai para a cabeceira, decola, faz um pouso completo, volta para o pátio, decola e aí, quando volta, vem a flâmula todo esfarrapada e o pessoal faz ali a anotação. Comemoração de voo solo é engraçada, cada cultura tem a sua. Eu acho que aqui, os Aeroclubes têm a tradição do pessoal fazer o banho de óleo, não sei, nunca frequentei Aeroclube mas, acho que tem alguns que têm essa tradição antiga de fazer um banho de óleo. Lá eles mantém essa tradição, eles têm um tonel de óleo e o Cadete vai até o pescoço. A nossa é fazer uma recepção calorosa (n.e.: passagem pelo corredor polonês), tocar o sino e colocar o cachecol. Banho de água antigamente tinha o Lago do Lachê mas acabou sendo desativado e ficou muito longe na Academia. Voltando então, o Cadete depois desse voo solo, segue até o final da fase na hora 25 aí sim, para poder fazer o voo solo na área com o Piloto Checador. Então, você continua depois desse voo solo com seu aluno vai até ali e na troca de fase é questionado se seria interessante que esse Aluno trocasse de Instrutor. Fase de Manobras de Acrobacias, a mesma coisa, 25 missões. Na fase de Formatura Básica, uma coisa que para mim era inconcebível mas, que lá eles consideram como normal. Aqui a gente fazia dois Instrutores e um Cadete. O Cadete só voa de ala. Lá, você voa dois Instrutores e dois Cadetes e no meio da missão, troca a posição e aí o Cadete meio que lidera a formação de duas aeronaves ou quatro aeronaves e aí, eu me perguntava, como é que o Cadete vai fazer o voo porque, o nosso voo de formação aqui, tem muito mais fases de voo atreladas. Tem a “cobrinha”, que é uma formação mais afastada de cinco a dez aeronaves, tem a “ataque dois”, que é uma formação mais fluida de ala, o Cadete aqui, duplo comando, ele gira na ala, faz barril, looping e trevo na ala. Lá, é uma formação muito mais simples, basicamente o Cadete aprende a formar na posição, fazer curva para um lado, para o outro, subir e descer, voar em coluna, passar para outra ala e basicamente o voo deles de formação é esse. Teve uma vez que aconteceu de eu ir para a instrução, sozinho com dois Cadetes, um, no voo solo dele e simplesmente, eu ia com um Cadete, dando instrução e dando a ficha para o outro fazer o solo, ou seja, na minha ala ou me liderando então, era algo assim que conceitualmente era inconcebível, um Cadete com 50 horas de voo estar liderando mas, é a conceituação deles e para o que eles faziam, era plenamente viável. A fase de Navegação Visual deles é uma navegação autante, em que o Cadete tinha que fazer o mapa, o planejamento, toda parte de calunga, cálculo de combustível e tudo mais e ele finalizava o curso com que chamavam de “raid”, aí era uma navegação em formação, decolava em formação, com troca de posição no caminho e ia até Concepción ou uma outra cidade lá no Sul. E outros aspectos que são também interessantes comentar da instrução deles e aí são realmente curiosidades. Santiago está dentro de um vale. As áreas de instrução são muito pequenas. Não atrapalha no Aeroporto Internacional porque o Arturo Merino Benítez fica no norte da cidade e a Escola de Aviação fica para o sul, os eixos de aproximação do Aeroporto não interferem no tráfego local visual da Escola, então, não tem problema, comparando, era como se ainda hoje em dia, a nossa Academia da Força Aérea fosse na Escola de Aviação dos Afonsos, é mais ou menos nessa ideia. Lá, as áreas de instrução são muito menores do que as nossas e eles têm um limite de dez áreas de instrução. A área de instrução é muito pequena. O Cadete basicamente faz um mental de tudo que ele vai fazer na área de instrução, que vai de 1.500 a 2000 pés de slot vertical, então, para tudo que ele faz, tem que calcular recuperação de altura, posicionamento, curva nivelada, subir, descer, bater no final da área e voltar. Ele meio que mentaliza tudo que ele vai fazer durante aquela hora de voo, diferente do nosso Cadete. A área de instrução da Academia é uma área radial e você tem muita referência, você tem uma área muito grande e para cada área de instrução agora tem as sub-áreas. Então, você poderia ter doze ou quinze Tucanos numa área de instrução voando ao mesmo tempo, você poderia ter dez ou quinze T-25 voando ao mesmo tempo cada um em seu espaço, com coordenação de rádio e separados ali mais ou menos pelo fluxo de decolagem, para um estar fazendo acrobacia num ponto, outro estar fazendo treinamento de emergência num ponto e outro estar voltando para o tráfego. Aqui no Brasil, você perguntava, "E aí? Onde está a Academia?" Um dos tópicos que mais embaralha o Cadete aqui no Brasil é voltar para a Academia, quer dizer, ele não sabe onde está e isso aí tem muito deficiente por desorientação espacial. Lá ninguém se perde porque você só decola para o sul, vai para a área, faz tudo no espaço mínimo, volta para o norte e para a Escola, então, nunca aconteceu de um Cadete que tivesse se perdido, pelo menos não nos dois anos que eu dei instrução e, outra característica que eu acho isso bastante interessante na formação deles, no período do meio do ano, Santiago fica impraticável para instrução de voo. Por quê? Santiago está na mesma latitude de Montevidéu e talvez ali do Extremo Sul do Brasil e o dia é muito curto. E por características geográficas, é neblina quase o dia todo e fica perdurando por vários dias então, é impraticável fazer a instrução de voo nessas condições. Eles pegam toda a estrutura da Escola da parte do curso de Aviação e deslocam para o deserto de Atacama. É um deslocamento do Esquadrão de 3 a 4 meses, numa pista que fica no Altiplano, a 3.400 pés na mesma latitude de Iquique. É quase limite com o Peru, em latitude, fica ali pareado com a Bolívia. Tem uma aeronave de apoio que leva os Cadetes e aí o Esquadrão vai deslocando, pousa no meio do caminho, reabastece e segue para essa Base deles que na verdade é uma pista, o hangar, uma sala de operações, três alojamentos e só, no meio do deserto, do nada, 100 Km afastado de Iquique para dentro do Altiplano. Então, a gente fica isolado de segunda a sexta ou sábado, descendo para Iquique no final de semana e voltando e nisso aí, a escola fica nesse ritmo de 3 a 4 meses. Os Cadetes, a depender do tamanho da turma, se é uma turma muito grande ou muito pequena, podem ficar o período completo ou ter revezamento também dos Cadetes e os Instrutores vão se revezando a cada quatro ou cinco semanas então, tinha período que eu estava em Santiago e tinha período que eu estava lá, em Canchones, que é o nome da Base lá. As áreas de instrução acabam tendo como referências no Altiplano, uma árvore isolada lá no meio do deserto, uma árvore seca, por exemplo. É muito peculiar a instrução nesse local, porque você está completamente isolado, você está em ritmo de manobra, de segunda a sexta ou sábado operando só para instrução. Primeira decolagem, às 6 da manhã com o sol saindo, última decolagem com pouso previsto para 3 da tarde e não é por causa do pôr-do-sol e sim, pela variação de temperatura. Todo dia, 0 a 40 graus, você está no deserto, então, de manhã tem que fazer o procedimento de aquecimento de óleo para poder fazer a primeira decolagem e o último pouso tem que ser até às 3 da tarde por que fica impraticável para o Cadete, por mais que a pista lá tenha quase 3 km de extensão, mas fica antididático fazer o treinamento de pouso porque a aeronave fica muita arisca de asa, com perda de sustentação. A pista está a 3.400 pés e o Pillán, diferente do T-25, tem a superfície alar mais curtinha e, por mais que seja o mesmo motor e tudo mais, o Pillán é tandem e acaba sendo mais leve que o T-25, que é lado a lado e é mais pesado. Então, o Pillán acaba tendo um desempenho melhor com o mesmo motor em questão de razão de subida e tudo mais, só que ele é mais arisco de asa, então, quando o Cadete entra ali com menos superfície alar, ele chega e já vai querendo tocar e às vezes, o Cadete vem e dá aquela pancada, por isso, nessa questão de minimizar problemas estruturais na aeronave, eles limitam os pousos até às 3 da tarde. E aí eles entram num processo realmente de Manobra igual nós temos aqui em Esquadrões Operacionais, cada um faz um sistema, cada um faz um briefing meteorológico, cada um faz não sei o que, então, tem uma rotina de ações que os Cadetes tem que desempenhar em ritmo de Manobra Operacional e os Instrutores acabam fazendo avaliações de como eles também estão se portando não apenas na parte técnica, mas também, na questão de lidar com audiência, falar em público, então eles têm uma outra concepção e aproveitando esse momento que está deslocado porque realmente é um ritmo de Exercício Operacional que perdura aí de 3 a 4 meses. Então, são detalhes que eu considero bastante interessantes porque a gente não tem esse tipo de rotina aqui no Brasil e que lá, o Cadete já ganha essa experiência dentro da Escola de Aviação. 


AF: No caso da FAB, o Cadete depois que sai da Academia, segue para a sua Especialização Operacional, no exemplo do Senhor, foi para o treinamento em aeronave multimotor. Nós temos também as Unidades Aéreas de Instrução para a Caça e Asas Rotativas, na estrutura atual, os três Esquadrões estão concentrados em Natal. Lá no Chile, depois que eles terminam essa etapa inicial, eles tem essa escolha da Aviação ou dali eles já são designados para uma Unidade Aérea? Como funciona esse processo?

Ten.-Cel. Valle: A escolha da Aviação deles ocorre no final do Quarto Ano como ocorre também aqui no Brasil mas, como eles não fazem o treinamento de voo por instrumentos na Escola de Aviação, até pela característica da aeronave. Isso no futuro pode mudar, porque, inclusive eu estava vendo, está em desenvolvimento o projeto do Pillán 2, com aviônica nova, que talvez possibilite fazer o treinamento de instrumento dentro da própria Escola. Atualmente todos são destinados para Puerto Montt e lá, em uma outra aeronave, eles fazem o curso de voo por instrumentos. Então, o Cadete que lá não é Cadete, é Alferes e, aí depois ele vai a Subtenente, é um outro termo mas, é equivalente ao nosso Aspirante, não me recordo agora qual é o posto que ele sai formado mas, ele fica um ano nesse curso de formação de voo por instrumento lá em Puerto Montt e depois é que ele vai para a Aviação que ele escolheu lá atrás, como Aluno. Então, a Unidade Aérea recebe esse Piloto já pronto na formação completa básica e aí ele vai acabar especializando dentro da aviação depois, já no Esquadrão Operacional. Então, esses Esquadrões Operacionais que recebem os novos Segundo-Tenentes acabam tendo a incumbência de cumprir as OIs (n.e.: Ordens de Instrução) de formação de cada uma dessas Aviações, diferente do nosso caso, onde o Piloto vai para um curso de Especialização Operacional em uma Unidade específica para isso e dali depois ele vai para os Esquadrões Operacionais. 


AF: Interessante, toda essa dinâmica...

Ten.-Cel. Valle: A estrutura deles é bem menor que a nossa. Eles formam por ano, de 35 a 40 aviadores, não chega mais do que isso. A turma que eu peguei lá no meu primeiro ano no final de 2012, começou grande, para eles era gigantesca, eram 70 Cadetes e concluíram o curso, 41 ou 42, eu acho. E no segundo ano, começaram 55 e terminaram 32. Por sua vez, a taxa de atrito é próxima do que a gente tem aqui no Brasil, só que lá eles caem de turma e aqui o Cadete no Primeiro Ano acaba sendo desligado e tendo que buscar outra carreira. 


AF: Em comparação, aqui quantos se formam na Academia ao fim do Quarto Ano? 

Ten.-Cel. Valle: De 90 a 100 aviadores.


AF: Antes de assumir o Comando da Base, o Senhor servia junto à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica (EAOAR). Qual o objetivo dessa Organização Militar de Ensino e sua importância para a FAB?

Ten.-Cel. Valle: A Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais é um curso como o próprio nome diz, é responsável por fazer o aperfeiçoamento dos Oficiais mais ou menos ali na metade da sua carreira, considerando que ela começa depois de formado, como Segundo-Tenente, depois Primeiro-Tenente e Capitão. Então, como Capitão ou Tenente antigo, o militar precisa fazer esse curso, que é voltado para o aumento das competências de liderança, gestão e emprego das Forças Armadas. Isso está dentro da missão da Escola e o curso hoje em dia está estabelecido nesses três campos. O Oficial Aviador na sua atividade, acaba tendo um contato muito mais direto com a questão de liderança até por assumir comando de aeronave ou lidar com tripulação. Esse curso porém, é de carreira para todos os Quadros da Força então, acaba juntando Oficiais Aviadores, Intendentes, de Infantaria, Médicos, Dentistas, Farmacêuticos, Especialistas, Engenheiros, você tem toda a gama de Oficiais de carreira então, você pega ali uma turma de aproximadamente 100 a 120 Tenentes e Capitães e tem que fazer um curso que atenda a esse público porque, nesse momento, além de ser um curso de carreira, ele é também obrigatório para a promoção posteriormente a Major. Esses Oficiais, desde o início da carreira, independente do Quadro da Especialidade, vêm treinando, em menor ou maior nível, lidando com pequenas chefias, pequenos grupos, ele já veio praticando mas, a partir de um certo ponto, ele vai lidar com grupos maiores em que ele vai ter que liderar, trabalhar com planejamento, entender melhor a estrutura da Força, a atuação dentro de uma situação de emprego da própria Força Aérea e principalmente, entender um pouco mais de gestão, porque vai acabar caindo nessa área em função do encaminhamento da carreira, então, o curso vem nesse conceito de hoje em dia, de ensino o mais completo possível e com as técnicas variadas. O Aluno faz dois módulos EaD, um voltado para a Gestão de Projetos e Processos o outro voltado para a parte teórica de Emprego da Doutrina Básica da Força Aérea e Direito Internacional de Conflitos Armados e na parte presencial, Teoria e Prática de Liderança, complementação da parte de Doutrina e Direito Internacional de Conflitos Armados e Gestão da Força Aérea. Nesses três tópicos e depois mais 12 semanas presenciais, esse Oficial é colocado em regime de Dedicação Exclusiva e fica fora da Unidade dele. A turma de 100 a 120 alunos é dividida em oito grupos que trabalham técnicas de ensino de sala de aula invertida, passar a responsabilidade para o aluno em relação ao desenvolvimento do aprendizado, ele vai ter muito mais atividades práticas do que efetivamente teóricas, lógico que tem uma base teórica mas, hoje em dia, o Aluno fica muito mais atrelado ao trabalho em grupo e logo de início você vai ter pessoas que talvez serviram em alguma Unidade e já tenham a prática de uma atividade e cai num grupo novo de trabalho em que você tem que gerir situações em um curto espaço de tempo, em que você tem que atingir certos resultados. Então, a Escola contém vários, que nós chamamos de “Action One”, que são exercícios práticos de aprendizado para que eles possam trabalhar com uma situação-problema e depois é feito um debriefing de como o grupo trabalhou aquela situação para poder identificar as ações de liderança, quem se destacou, quem pode melhorar em algum aspecto o que, lógico, é tratado no caráter geral pelo grupo e depois o Instrutor trata individualmente, caso tenha alguma situação em que alguém não soube lidar com a pressão ou não se portou bem. Existe um acompanhamento psicopedagógico dentro da Escola. Então, é feita inicialmente essa parte da liderança que depois acaba sendo permeada por outras atividades desportivas e trabalhos em grupo. Depois você entra numa fase onde são apresentadas as ferramentas básicas que o Comando da Aeronáutica utiliza para poder fazer a parte de gestão orçamentária, estrutura do Grupo de Serviços de Base porque, muitas vezes, o pessoal só recebe o serviço prestado mas não sabe como a máquina por trás desse sistema funciona, até porque serão responsáveis por gerir contratos maiores, serão responsáveis por entender os fluxos administrativos e os diversos sistemas que hoje em dia a Força utiliza nessa parte de gestão não apenas orçamentária mas também, gestão de processos. Tudo isso está muito alinhado hoje em dia com os próprios sistemas corporativos que a Força Aérea tem e que acabam sendo utilizados no dia a dia, então, é um momento em que o Oficial está muito imerso na sua rotina e é entregue ali para ele, uma gama de ferramentas administrativas e o que a gente procura também passar no curso é justamente dentro dessa questão do treinamento de liderança, o desenvolvimento da capacidade para falar em público, se expressar porque ele vai começar a lidar teoricamente com grupos maiores cada vez mais de liderados. Isso é feito dentro dessa parte de liderança, um pacote de desenvolvimento dessa capacidade de se expressar de maneira, tanto oral quanto escrita. Então, ele tem que fazer, até para poder ter a validação curricular, um Trabalho de Conclusão de Curso e aí entra o desenvolvimento do trabalho da parte escrita e da parte oral. Ele aprende técnicas de plataforma, como nós chamamos, que são basicamente as técnicas que muitas das vezes o pessoal vende aí como cursos, de como se portar em público, então, nós temos um pacote lá de treinamento em que ele vai praticando junto com seu grupo e depois a apresentação e a defesa do trabalho dele é feita para um grupo maior junto com a banca avaliadora. A gente vai ver que tem pessoas que nascem com o dom para poder estar na frente de um público mas tem aquela pessoa que fica travada, então, você consegue fazer com que aquela pessoa que tem medo da audiência, que mesmo em um grupo pequeno, procura se restringir, ela consiga estruturar a sua capacidade de raciocínio e coesão entre os tópicos para poder se apresentar frente a uma audiência. A gente procura manter essa padronização para que dentro da Força, se consiga fazer uma boa instrução, falar com o público, então, tem esse desenvolvimento que meio que virou um padrão dentro da Força Aérea mas, é lá na Escola que a gente faz essa formatação. Então, é um curso que realmente acaba sendo um marco na carreira do Oficial porque, primeiro, é o curso que permite a promoção a Major e segundo, porque é o momento em que você dá uma ajustada no altímetro do pessoal para fazer pequenas percepções ou pequenos ajustes para que o Oficial perceba que ele está deixando de ser um executor e está começando a ser um dos gestores da Força, então, é um momento de mudança de percepção do nível de responsabilidade também do Oficial dentro da carreira.


AF: Finalizando a entrevista, em 2041, a Força Aérea Brasileira e a Base Aérea de Florianópolis estarão completando seu centenário. Como o Senhor imagina o futuro de ambas as Instituições?

Ten.-Cel. Valle: O projeto “Força Aérea 100”, ele é um manual, se não me engano, é um MCA (n.e.: Manual do Comando da Aeronáutica), que estabelece qual é a projeção para que a Força Aérea seja altamente eficaz. Tem um texto que diz qual a visão de futuro para a Força Aérea em 2041, que é justamente o ano de centenário da Força Aérea Brasileira. Então, nesse aspecto dentro das Diretrizes de Planejamento, os Planos Setoriais, os Programas de Trabalho Anual, eles vêm todos oriundos desse documento, que é estabelecido pela parte estratégica do Estado-Maior e depois colocado para os Planos Setoriais dos grandes Comandos, no nosso caso, o Comando de Preparo e depois, os Programas de Trabalho Anual que é de onde vem tudo que está previsto para a Base desempenhar suas atividades naquele ano, seja atividades operacionais ou a condução de todas as atividades administrativas para poder manter a estrutura adequada para o cumprimento da missão. Então, tudo está baseado nesse “Força Aérea 2041”, lógico que o grande vetor para poder levar ao cumprimento dessa visão de futuro da Força Aérea são os grandes projetos que estão em desenvolvimento, vou dizer ainda em desenvolvimento porque, o projeto não contempla mais a mentalidade antiga de “comprar o avião e depois vê o que a gente faz” mas, realmente, os projetos, as espinhas dorsais para o Comando da Aeronáutica hoje em dia são o projeto do KC-390 e do Gripen, então, esses dois programas são os que vão dar as bases para que lá em 2041, a gente consiga operacionalmente estar dentro de uma capacidade adequada tanto da parte de Suporte Logístico quanto de Defesa Aérea. Lógico que existem outros projetos que continuam em desenvolvimento ou que estão em vias de serem desenvolvidos na questão dos outros guarda-chuvas de acordo com a doutrina básica da Força Aérea, que estabelece quais são as principais tarefas que a Força tem que cumpri na questão de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento, na parte de Transporte Aerologístico, Defesa Aérea, então, tem as várias vertentes dentro da nossa doutrina e que todas elas estejam alinhadas com o cumprimento do “Força Aérea 2041”. É uma visão e justamente por isso é que o Plano e as Diretrizes de Planejamento são atualizadas a cada cinco anos, para que justamente, a depender do cenário futuro e da visão que a gente deseja, as correções possam ser feitas e é isso que já se percebeu, que houve algumas adequações baseadas no que era o planejamento original lá em 2016 e o que está previsto agora, na Diretriz de Planejamento atual. O que cabe à Base Aérea e a projeção que eu faço, pensando como Comandante, que é a parte que me cabe no momento, porque talvez seja muito difícil visualizar 2041, sendo que o meu tempo de Comando são dois anos, então, eu entro muito mais numa fase de execução daquele Plano e o que me cabe basicamente é estabelecer um Plano de Trabalho Anual baseado num documento que estabelece o que vem da parte estratégica, ou seja, venho para a execução aqui, na parte tática. A gente pega a Diretriz de Planejamento, que a parte estratégica, traz para o Plano Setorial que é a parte operacional e aqui no tático, aqui na Base Aérea, acaba estabelecendo algumas metas e prazos para poder cumprir isso daí mas, para 2041, se eu pudesse ter essa autonomia ou se lá na frente eu tiver, quem sabe o que o futuro me reserva dentro da carreira, mas seria manter primeiro, a Base Aérea o mais operacional possível se valendo principalmente da característica que é mais marcante da Base que é essa questão de ter a participação tanto em Treinamentos quanto em Operações, principalmente ligadas à Busca e Salvamento. Eu acho que é algo intrínseco desde a fundação da Base, Busca e Salvamento e Patrulha Marítima, ou seja, o que a Base teve de desenvolvimento desde ali no início, de quando foi a entrada da Força Aérea e a participação na Segunda Guerra Mundial, na utilização do Catarina, na utilização para Patrulhamento Marítimo, depois com o Segundo do Décimo e posteriormente com o Esquadrão Phoenix. Acho que está no DNA da Base, por mais que não tenha Unidade Aérea, a participação nesse aspecto de ser uma Base importante para a Força Aérea na manutenção operacional e no desenvolvimento das Operações na Região Sul, em situações reais de Busca e Salvamento e de Patrulhamento Marítimo dentro da nova concepção de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento e lógico, se houver a possibilidade de no futuro, pensando a médio e longo prazo, que a gente sabe que uma Unidade Aérea acaba sendo a alma de uma Base. Aqui se percebe que quem passou por esse processo de ficar órfão do Phoenix, há um desejo talvez mútuo, tanto daqueles que ficaram quanto daqueles que foram, de que em algum momento o filho pródigo retorne mas, é algo que foge realmente ao desejo de quem trabalha aqui na Base. Mas eu vejo que se houver a possibilidade no futuro e aí talvez seja uma percepção minha dentro do que eu tenho de campo de visão hoje, até onde eu consigo enxergar como Comandante da Base, é que talvez a grande possibilidade de voltar a ter uma Unidade Aérea na Base Aérea de Florianópolis, seria talvez em uma nova concepção de um novo projeto nessa área de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento. Dentro do que eu posso observar das documentações que estabelecem o planejamento da Força, da projeção para 2041 e da própria evolução do conceito da Guerra Aérea, não apenas voltado para a Patrulha Marítima mas talvez algum projeto que a Força venha a adquirir mais à frente e que contemple tanto a função de Patrulha Marítima mas, que também esteja dentro dessa parte de meios e recursos de trabalhar nessa área de Inteligência e Vigilância. 


AF: Quem sabe até a criação de um nova Unidade Aérea, quem sabe um 2º/12º GAv, assim como nós temos o Esquadrão Hórus em Santa Maria. O próprio 1º/7º GAv já trabalha no momento com Aeronaves Remotamente Pilotadas na função de patrulhamento marítimo... 

Ten.-Cel. Valle: Exatamente. É porque a Patrulha Marítima ficou debaixo desse guarda-chuva IVR que está dentro da nossa doutrina, como uma das principais tarefas desempenhadas pela Força, então, acaba que talvez seja uma mudança de paradigma, do pessoal querer o retorno do Segundo do Sétimo. Pode ser que seja ele ou talvez uma nova versão dele, assim como a Fênix ressurge das cinzas sempre, então talvez, em uma nova encarnação, porque o próprio projeto do Bandeirante Patrulha é um projeto que em algum momento vai encerrar sua vida útil, então, não estou dizendo que isso vai acontecer mas, a depender das escolhas pelo Alto-Comando mais adiante, isso lógico, estou falando no longo prazo, não estou falando nem no curto nem médio prazo, mas existe essa possibilidade e talvez isso daí mude a questão de paradigma mas, eu entendo que a Base tem condições plenas de se manter. Esse é o meu objetivo como Comandante e os que venham a me suceder, manter a Base o mais ativa possível no sentido de demonstrar a operacionalidade dela a despeito de não ter uma Unidade Aérea, ser a casa de todas as Unidades que venham aqui operar, fazer com que sejam bem atendidas, mostrar para o COMPREP, como o órgão superior, que acaba tendo uma grande influência, até porque o Comandante de Preparo faz parte do Alto-Comando, a importância da Base Aérea para a Força Aérea como um todo e que isso venha a fomentar com o tempo, a possibilidade de que em algum momento, voltar a ter uma Unidade Aérea mas, se não vier a ter, é aquilo, para que se prender a uma se a gente pode receber todas? Então, dentro desse pensamento, eu acho que o principal é manter a Base Aérea cumprindo bem a sua missão que é bem atender e fazer o necessário dentro das suas capacidades para bem receber as Unidades de Força Aérea que venham aqui operar ou que nela estejam sediadas então, isso daí, se a Base já estiver cumprindo bem nesse aspecto, já vai estar cumprindo bem a sua missão e vai estar atendendo bem as necessidades da Força Aérea.



Gostaríamos de agradecer ao Tenente-Coronel Valle por nos conceder parte de seu tempo para receber o site Aviação em Floripa, pela forma atenciosa com que nos recepcionou e pela disposição e paciência em responder às perguntas aqui apresentadas. Agradecimentos especiais à Seção de Comunicação Social da Base Aérea de Florianópolis (SCS/BAFL), através de seu encarregado, Suboficial Evangelista e ao 3º Sargento Tafarel, responsável pela Secretaria de Comando, por todo o empenho e apoio para a realização desta entrevista. Agradecimentos também ao 2º Sargento Jeber, autor das fotos que ilustram esta matéria. Aos três profissionais, nosso Muito Obrigado!