Aviação e Literatura: revisitando a vida e a obra de Saint-Exupéry

 

Os alunos do curso de francês da Escola Básica Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes, localizada no bairro Campeche, no sul da Ilha de Santa Catarina, tiveram uma experiência diferente na tarde desta quarta-feira (19/4). Indo muito além da sala de aula, a atividade do dia envolveu conhecer a história da Aéropostale (Companhia de Aviação francesa que nas décadas de 20 e 30 do século passado, utilizou a cidade de Florianópolis como uma de suas escalas nos voos de serviço aéreo postal ligando a Europa à América do Sul) e de seus audazes pilotos, entre eles, Antoine de Saint-Exupéry que, além de aviador, era também escritor e deixou como legado para a humanidade, um dos maiores clássicos da literatura infanto-juvenil de todos os tempos, "O Pequeno Príncipe". Para se ter uma dimensão da grandeza e importância dessa obra, basta dizer que o livro é o segundo mais traduzido no mundo, ficando atrás apenas da Bíblia, contabilizando mais de 160 idiomas diferentes. Tal sucesso tem a ver com as mensagens de amor, fé e auto-conhecimento que o livro retrata, que encantaram e ainda encantam gerações de crianças e jovens desde seu lançamento oficial, em 1943.

O destino dos estudantes foi o Multi Open Shopping, no próprio bairro Campeche e que até o próximo dia 21 de abril, está abrigando a exposição "O Diário do Zeperri", contando através de relatos pessoais do autor, suas impressões e experiências durante suas passagens como piloto da Companhia de Aviação pela capital catarinense. Antes de prosseguirmos nessa matéria, cabe aqui uma rápida explicação sobre a origem desta curiosa expressão que dá nome à exposição. Em suas visitas pelo bairro que sediava o campo de pouso, uma tradicional e famosa comunidade de pescadores de Florianópolis, Saint-Exupéry, como todo bom escritor, gostava de colecionar novas vivências e amizades. Em seus contatos com os moradores locais, logo se estabeleceu um forte vínculo com estes, que, pela dificuldade de entender o idioma francês e de pronunciar corretamente seu sobrenome, o chamavam carinhosamente de "Zeperri". Até os dias de hoje essa relação com a Aviação e com a presença de Saint-Exupéry, guarda fortes raízes históricas e culturais, permanecendo viva no imaginário popular e influenciando o cotidiano do bairro de diversas formas. Esse é o principal motivo pelo qual a Escola Brigadeiro Eduardo Gomes (coincidentemente localizada em parte da área que servia como campo de pouso aos aviões da Aéropostale), foi escolhida para ser a pioneira no ensino do idioma francês na Rede Pública municipal de Florianópolis.

De acordo com informações repassadas pela Supervisora Fernanda Aparecida de Oliveira, responsável pela administração do projeto dentro da Instituição de Ensino, a inclusão do idioma francês teve início na escola em 2014 e até o ano de 2019, já havia formado cerca de 120 estudantes. Ainda segundo a educadora, o curso tem duração de dois anos e atende aos alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º Ano), regularmente matriculados na Escola, sendo o diploma reconhecido pelo Ministério de Educação da França. O programa é uma parceria entre a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis com a "Fondation Antoine de Saint-Exupéry Pour La Jeunesse" (Fundação Antoine de Saint-Exupéry para a Juventude), entidade sem fins lucrativos criada em 2008 por François d'AGAY, sobrinho e afilhado de Saint-Exupéry. Fiel ao pensamento do escritor e aviador francês e ao seu legado, que defendia uma sociedade baseada no respeito pela humanidade, na diversidade cultural, na cooperação, no compromisso e na responsabilidade individual, a Fundação incentiva ou realiza vários projetos em todo o mundo para melhorar a vida dos jovens e ajudá-los a alcançar um futuro melhor. Integrante dessa rede, o curso oferecido aos estudantes da EBM Brigadeiro Eduardo Gomes, é conduzido pela Aliança Francesa de Florianópolis, que fornece o suporte didático e os professores.

A visita foi acompanhada e dirigida pela Curadora da exposição e Presidente da Associação Memória da Aéropostale no Brasil (AMAB), Mônica Cristina Corrêa. Perguntada sobre suas impressões da história da Companhia Aérea e do legado de Saint-Exupéry serem objeto de divulgação para as pessoas através da mostra, ela disse ser, em suas próprias palavras: "Uma satisfação muito grande, porque concebi a exposição com esse propósito, trazer essa história para perto, divulgar, fazer com que ela pudesse trazer toda a sua poesia (porque pra mim, é uma história que vem com a poesia dos primórdios da aviação, a poesia do próprio Saint-Exupéry e de seus camaradas), para perto da população jovem e das crianças. Então eu vejo como uma grande oportunidade, criada aqui pelo Multi Open Shopping e também pela efeméride dos 80 anos do Pequeno Príncipe para que assunto seja possa ser revivido, sentido e compreendido como um dos mais importantes da história de Florianópolis". Seu pensamento também vem ao encontro do Multi Open Shopping, idealizador da exposição. De acordo com Sabrine Quarezemin, Superintendente do local, "Primeiramente nós havíamos pensado que este ano completamos 5 anos de Multi, 350 anos de Florianópolis e a gente procurava algo que de fato fosse bem expressivo para unir essas duas comemorações e nada mais significativo também que o lançamento do livro estar completando 80 anos, então achamos que seriam três datas importantes para celebrar algo que se relacionasse ao nosso bairro, ao Campeche, por isso escolhemos esse tema e essa exposição, com a ajuda e a Curadoria da Mônica". Sobre a receptividade e o retorno por parte do público, completou: "Tem sido excelente. Primeiramente é de uma beleza e também contando a história. Então isso abrangeu não apenas os nossos clientes mas também as escolas, que eu acho algo importante que o Multi sempre teve essa preocupação de trazer algo cultural e que de fato incluísse nossa cidade como um todo".

Além dos responsáveis pela organização da mostra, na outra ponta, estão aqueles que dão vida e sentido à exposição, representados por quem a visita e tem assim, a oportunidade de conhecer um pouco desta história que muito em breve estará completando 100 anos. Para Rita Kauana Gabriel Körmer, aluna do Sétimo Ano e frequentadora do curso, perguntada sobre o que a motivou a aprender o idioma francês e suas impressões sobre a exposição, ela justifica sua escolha: "Por ser uma língua nova para mim e achei que seria interessante estudar uma novo idioma, além do inglês. E na exposição, o mais interessante foi saber que ele (Saint-Exupéry), já esteve por aqui e que gostou muito de Florianópolis". Sua colega de curso, Ana Lúcia da Silva da Cunha, do Nono Ano, tem uma opinião parecida: "É uma língua nova e eu gosto bastante do francês, acho o lugar e um idioma muito bonito, por isso eu quis aprender". Já sobre suas impressões sobre a visita, pontuou: "O que mais gostei foi a origem de quem criou o Pequeno Príncipe, porque achei incrível a história e até fiquei chocada da forma que ele morreu, pois eu não sabia disso. Realmente foi muito interessante e vou pesquisar mais e mais para saber ainda melhor" e concluiu, dizendo que o que mais chamou sua atenção em tudo que viu, "Foi a origem do nome do Morro do Lampião. Gostei bastante da história deles usarem lampiões, da gordura da baleia. Gostei bastante". 

No caminho de volta para a escola, no pensamento de todos, certamente ficou registrado o expressivo significado histórico e cultural deixado pela presença da Aéropostale e sua trupe de audazes e corajosos pilotos, entre eles, Saint-Exupéry, no bairro do Campeche e na cidade de Florianópolis. Com certeza a experiência renderá discussões e material extra para ser trabalhado futuramente em sala de aula. Nesse sentido, a professora do curso, Laura Tellechea, com relação à importância da visita para os estudantes, explicou que são dois aspectos fundamentais: "Um deles é que ajuda para que eles conheçam melhor a história da cidade e do bairro onde moram, pois a maioria mora no Campeche e região. Então acho muito interessante que eles conheçam a história internacional que o bairro tem e a cidade também, consequentemente, e como ela é importante para o mundo todo, como faz parte da história mundial. E também porque o "Zeperri", é o grande idealizador dessa instituição que banca nossos cursos e nossas aulas. Então já contei para eles que não é só pelo Pequeno Príncipe e pela história do Campeche que a gente está vindo visitar mas também prestigiar essa pessoa tão importante na história do Campeche e do mundo, ainda mais porque, graças a ele, que a gente pode estar tendo o contato do francês, dando aulas de francês para estas crianças e enfim, adolescentes depois". Finalizando, ela concluiu dizendo que: "podemos usar muito esse conteúdo, porque, como são aulas de francês tem muito material sobre o Pequeno Príncipe, sobre o Saint-Exupéry, que é em francês, vídeos, documentários que podemos usar diretamente para aprender francês".