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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Falcão de Prata: 25 anos do Esquadrão VF-1

 

No próximo mês de outubro, a única Unidade Aérea da Aviação Naval da Marinha do Brasil equipada com aeronaves de asa fixa, o 1º  Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (EsqdVF-1), também conhecido como Esquadrão Falcão, estará completando seus 25 anos de atividade. Para celebrar esta data marcante, o site Aviação em Floripa convida seus leitores a conhecerem em detalhes, a Unidade Aérea e a sua máquina, o AF-1 Falcão. Dividida em capítulos, a matéria traz os principais fatos e acontecimentos que nortearam a história do Esquadrão VF-1 desde antes de sua criação, passando pelos primeiros anos de operação, o programa de modernização, o processo de formação de seus Pilotos e muito mais. Tudo isso, ilustrado por um conteúdo visual composto por imagens, tabelas, perfis e infográficos exclusivos, especialmente desenvolvidos pelo autor para esta matéria, uma obra que esperamos se torne uma referência para quem gosta de Aviação Militar e um guia e fonte de pesquisa em torno do Esquadrão Falcão. Boa leitura!!



A conjuntura de acontecimentos que culminaram com o surgimento do Esquadrão VF-1, teve sua gênese algumas décadas antes mesmo de sua criação, em 2 de outubro de 1998. Com o passar do tempo, novos elementos foram sendo adicionados ao roteiro, fornecendo as bases necessárias para o advento da Unidade Aérea. Não é exagero dizer que esta história começa curiosamente a partir de um final. Em janeiro de 1941, a criação da Força Aérea Brasileira, fez com que tanto a Marinha quanto o Exército perdessem suas aeronaves, pessoal e instalações, encampados pela recém-criada Arma Aérea. Existente desde agosto de 1916, a Aviação Naval da Marinha do Brasil, assim, como sua co-irmã Aviação Militar do Exército Brasileiro (fundada três anos mais tarde), seguia, neste momento de rompimento e extinção, em franco desenvolvimento de suas atividades, se modernizando e expandindo suas asas aos quatro cantos do território brasileiro.

Levaria quase duas décadas para que a Marinha ganhasse os céus novamente. Isso ocorreu primeiramente com a criação da Diretoria de Aeronáutica da Marinha em 1952, pela Lei nº 1658, de 04 de agosto do mesmo ano, que estabelecia uma nova organização administrativa para o Ministério da Marinha. Mais do que uma simples ação de reestruturação ditada apenas por questões administrativas, aquela Lei na verdade refletia o reconhecimento da necessidade da Marinha em voltar a possuir a sua Aviação Naval Orgânica. Somente em 1958, a Marinha recebeu suas primeiras aeronaves e, três anos depois, o Brasil adquiriu do Reino Unido, o Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) A-11 "Minas Gerais" (Ex-HMS "Vengeance"). Até este momento, não havia na Marinha, um Comando Operativo Superior que centralizasse as tarefas inerentes à Aviação Naval. Esta falta foi suprida, quando em 5 de junho de 1961, pelo Aviso Ministerial nº 1003, foi criada a Força Aérea Naval. O período que se seguiu, foi marcado por alguns conflitos de atribuições entre a FAB e a Marinha, relacionados ao papel de atuação que cada Força deveria dar para suas aeronaves. Para por um fim nesta disputa, o então Presidente da República, Humberto de Alencar Castelo Branco, em 1965, decidiu deixar a operação dos aviões com a FAB, cabendo à Marinha, o emprego dos helicópteros, embarcados em seus navios de escolta e no NAeL "Minas Gerais".

Os anos seguintes se passaram com a Aviação Naval se profissionalizando, modernizando seus meios aéreos e as doutrinas de emprego nas operações com sua força de helicópteros, entretanto, ainda existia o ressentimento da impossibilidade de operar aeronaves de asa fixa. O início da década de 1980, trouxe um fato novo para esta questão. Em abril de 1982, a Argentina invadiu as Ilhas Falklands, de posse do Reino Unido, reivindicando-as como Malvinas, dando início a um conflito que se estenderia por pouco mais de 2 meses, terminando com a vitória dos britânicos. Embora de curta duração, a guerra no Atlântico Sul modificou estratégias, trouxe novos ensinamentos e reforçou certezas, entre elas, a questão da projeção de poder de uma força embarcada de caças a partir de um Navio-Aeródromo, bem como sua utilização a partir de bases terrestres litorâneas contra uma força atacante. Atenta a isto, a Marinha já no ano seguinte apresentou ao Presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo, uma exposição de motivos para a compra de um lote de 12 aeronaves A-4 Skyhawk de origem israelense mas, na época por questões orçamentárias e políticas, a proposta acabou engavetada.

A década de 1990 adicionou dois elementos cruciais em favor do retorno da operação de aeronaves de asa fixa próprias pela Marinha. O fim da chamada "Guerra Fria" e do bipolarismo, causados pelo desmoronamento da União Soviética, alteraram as estratégias militares no mundo todo, inclusive no Brasil. Nossa Força Naval, capitaneada pelo "Minas Gerais" tinha até então, um caráter essencialmente de escolta e de emprego antissubmarino, de forma a atuar ao lado dos Estados Unidos, num hipotético conflito mundial. A partir deste momento, a Marinha alterou sua política de ação, defendendo a ideia de uma Esquadra mais equilibrada e diversificada em sua atuação, inclusive em apoio aéreo ao Corpo de Fuzileiros Navais. O segundo argumento estava relacionado à iminente desativação dos aviões de patrulha marítima e ataque antissubmarino P-16 Tracker operados pela Força Aérea Brasileira a bordo do "Minas Gerais". Nesta época, a FAB estava envolvida com uma série de projetos de grande porte como a implantação do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) e não havia recursos financeiros disponíveis para a modernização do avião ou a compra de um substituto. Seguiu-se então uma nova tentativa de reverter a situação e dessa vez, a decisão foi favorável para que a Marinha voltasse a operar suas próprias aeronaves de asa fixa. Finalmente, em 8 de abril de 1998, pelo Decreto Presidencial nº 2538, assinado pelo Presidente à época, Fernando Henrique Cardoso, ficou estabelecido em seu Artigo 1º que: “a Marinha disporá de aviões e helicópteros destinados ao guarnecimento dos navios de superfície e helicópteros de emprego geral, todos orgânicos e por ela operados, necessários ao cumprimento de sua destinação constitucional”. Acendia assim, de forma definitiva, a luz verde no convoo. Aqui começa a história do Esquadrão VF-1.

Nota Editorial: Para quem tiver interesse em conhecer os detalhes da história como a Marinha do Brasil recuperou sua aviação de asa fixa e os primeiros anos de operação do Esquadrão VF-1, o site Aviação em Floripa indica a obra "O Voo do Falcão Cinza", de Pedro Lynch. O livro encontra-se fora de catálogo há muito tempo, mas pode ser adquirido em sebos virtuais.  Clicando sobre a imagem abaixo, você será direcionado para um deles, que ainda possui alguns exemplares de segunda mão disponíveis para venda.


Antes mesmo da assinatura do Decreto Presidencial em 1998, já prevendo um desfecho favorável, a Aviação Naval já vinha formando e qualificando alguns Pilotos para a asa fixa. Ao mesmo tempo, o Alto-Comando da Marinha sondava o mercado em busca de oportunidades para as necessidades da Força. Quatro jatos de ataque com capacidade de operação em Porta-Aviões foram analisados pela Marinha do Brasil, o estadunidense Vought A-7 Corsair II, o britânico British Aerospace Harrier, o francês Dassault Super Étendard (operado pela Argentina e que ganhou notoriedade durante a Guerra das Malvinas/Falklands) e o também estadunidense McDonnell Douglas A-4 Skyhawk. Desta vez, os A-4 que estavam sendo cogitados, pertenceram originalmente à Força Aérea do Kuwait e encontravam-se estocados desde o término da Guerra do Golfo, em 1991. Por fim, prevaleceu uma compra de oportunidade, materializada nas aeronaves kuwaitianas em detrimento dos demais concorrentes, que tinham cada qual suas desvantagens: A-7 Corsair II (pesado demais para operar a bordo do "Minas Gerais"); Super Étendard e Harrier (custo de aquisição e de operação bem mais elevado). Uma série de fatores pesaram na decisão pelos A-4 de segunda mão, entre eles, o bom estado de conservação das células (o clima seco e árido do deserto contribuiu para evitar a corrosão), aeronaves pouco voadas (em média com 1.700 horas cada exemplar), nunca terem sofrido desgaste gerado pela operação em Porta-Aviões e uma grande quantidade de peças sobressalentes. O contrato, no valor de US$ 70 milhões (em valores da época, representando US$ 3,04 milhões por avião), foi assinado em 30 de abril de 1998. No total, foram adquiridas 23 unidades (20 monopostas A-4KU e 3 bipostas TA-4KU). O modelo operado pelo Kuwait era baseado no A-4M Skyhawk II e estava entre os últimos a saírem da linha de produção da McDonnell Douglas. Além disso, o modelo "Mike" incorporava uma série de melhoramentos em relação às versões mais antigas do A-4.

Durante a invasão do Kuwait pelo Iraque, em agosto de 1990, os aviões conseguiram voar para a Arábia Saudita e de lá, atuaram junto à Coalizão Aliada formada para a retomada do país, operando sob o  famoso lema "Free Kuwait". Todas as fotos: https://www.dstorm.eu/pages/en/kuwait/skyhawk.html

Com os meios aéreos garantidos, chegou o momento da criação da Unidade Aérea que iria operá-los. Assim, pela Portaria Ministerial nº 256, de 2 de outubro de 1998, nasceu oficialmente o 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (EsqdVF-1), designado como Esquadrão "Falcão", ficando estabelecida como sua base de operações, a Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), localizada no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, sede também de outros Esquadrões da Marinha. Os primeiros grandes desafios, montar toda a infraestrutura necessária para a chegada e operação dos aviões, incluindo adequações na própria estrutura física da Base Aérea Naval, construção do hangar, prédio administrativo, reforma e ampliação da pista de pousos e decolagens, aquisição de equipamentos de apoio e a escolha e treinamento das Praças e Oficiais da nova Unidade Aérea. Todo o processo aconteceu de forma bastante rápida, de forma que no dia 5 de setembro de 1998, quando o navio cargueiro de bandeira liberiana "Clipper Ipanema" desembarcou sua preciosa carga no Porto do Forno, em Arraial do Cabo, tudo já estivesse bem encaminhado nas dependências da BAeNSPA, à espera dos Falcões. Nos dias seguintes à chegada, todos os aviões, um a um, foram transferidos por via terrestre sobre carretas até sua nova morada.

Operação de retirada dos aviões do navio. Fonte: Revista Flap Internacional, Nº 316, de dez.98/jan.99

Uma das aeronaves, sendo desembarcada em Arraial do Cabo/RJ, em setembro de 1998. Fonte: https://www.angelfire.com/space/falcoes/aircrafts/fotosA-4KU.html

Chegada de um lote de aviões à BAeNSPA. Fonte: Print de vídeo da live com o C.-Alte Alvarenga, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mT7pFQeSunM&t=2580s

Os A-4 Skyhawk do Esquadrão VF-1 em sua nova casa, ainda ostentando o padrão de camuflagem de deserto da Força Aérea do Kuwait. Fonte das fotos: https://www.dstorm.eu/pages/en/kuwait/skyhawk.html

No dia 2 de outubro de 1998, ocorreu em São Pedro da Aldeia, a Solenidade Oficial de criação da nova Unidade Aérea e de incorporação das aeronaves. Os próximos meses seriam de muito trabalho a fim de colocar as aeronaves em condições de voo. Para auxiliar nesta tarefa, a Marinha recebeu a assessoria da empresa estadunidense Kay And Associates Inc., para a realização das tarefas de revisão dos motores, sobressalentes e demais equipamentos de apoio, além de preparar os Aviadores Navais brasileiros para a operação plena da aeronave a partir de terra e do mar. O acordo também incluiu a capacitação técnica da equipe de manutenção do Esquadrão. Os primeiros a voar os aviões no Brasil foram os dois Pilotos norte-americanos contratados e com larga experiência na operação com o A-4 Skyhawk, inclusive embarcada, ou seja, pousos e decolagens a partir de Porta-Aviões, Tenente-Coronel (USMC) James Edwin Rogers e o Comandante (CDR) Daniel G. Canin (U.S. Navy). Foram eles que iniciaram a condução dos voos no Brasil, a partir de 27 de março de 2000, quando o Marinha N-1007, tornou-se o primeiro AF-1 Falcão a ganhar os céus brasileiros, sob o comando de James Edwin Rogers. Pouco tempo depois, em maio e com a mesma aeronave, foi a vez do então Capitão-Tenente Aviador-Naval José Vicente de Alvarenga Filho fazer história, tornando-se o primeiro Piloto da Marinha do Brasil a voar o A-4.

Para a cerimônia de ativação do VF-1, o Marinha N-1001 recebeu uma pintura provisória. Foto: ComForAerNav

Um momento histórico! O Marinha N-1007 decola para o primeiro voo de um A-4 a partir de solo brasileiro. Foto: Marinha do Brasil 

Com as atividades do Esquadrão VF-1 em São Pedro da Aldeia seguindo seu ritmo, as atenções se voltaram para sua base flutuante, o NAeL "Minas Gerais". A embarcação passou por uma grande reforma, incluindo uma série de melhorias e a instalação de novos equipamentos de auxílio à operação embarcada, visando a atuação com seus novos vetores, sobretudo naqueles diretamente ligados com a atividade aérea, em especial, o sistema de assistência de pouso e decolagem dos aviões (ganchos e catapultas). A campanha de testes com as aeronaves foi deflagrada em setembro de 2000, inicialmente apenas com testes de toque e arremetida. Um fato curioso e pouco conhecido é que a Marinha optou por não operar com os aviões biplaces a bordo do "Minas Gerais", como forma de evitar o desgaste precoce dos mesmos, bem como reduzir a chance de acidentes e de perda destas valiosas células. O primeiro pouso enganchado efetivo a bordo ocorreu no dia 13 de janeiro do ano seguinte, quando o AF-1 Falcão Marinha N-1006, sob o comando do Piloto estadunidense Daniel G. Canin. No mesmo dia, o então Capitão-Tenente Aviador-Naval Fernando Sousa Vilela repetiu a experiência, tornando-se o primeiro piloto da Marinha a pousar no A-11 "Minas Gerais". Por sua vez, a primeira operação de catapultagem aconteceu cinco dias após o pouso, novamente com Canin, no Marinha N-1006. Toda a operação foi concluída com sucesso, demonstrando o alto grau de profissionalismo dos envolvidos. A partir deste momento, o Esquadrão VF-1 estava pronto para cumprir suas missões junto à Esquadra brasileira.

Flagrante do primeiro pouso enganchado a bordo do "Minas Gerais". Foto: Bill Sowers

Primeira operação de catapultagem, no dia 18 de janeiro de 2001. Foto: Bill Sowers



Os anos de operação do Esquadrão VF-1 com os AF-1/A Falcão demonstraram todas as capacidades do avião no cumprimento de suas missões, entretanto, a moderna guerra aérea e a constante evolução tecnológica dos sensores eletrônicos, armamentos e das táticas, imprime uma velocidade impressionante aos sistemas de combate, principalmente às aeronaves de caça, uma das pontas da lança de qualquer força militar. Mesmo os aviões da Marinha, como já visto, pertencentes aos últimos modelos de A-4 produzidos, eles ainda assim, se encaixavam na categoria de um caça de segunda geração e como tal, estavam bem distantes do que as principais Forças Aéreas e Marinhas mundo afora, voavam na primeira década do século XXI, dominada por aeronaves de quarta e de quinta geração, equipadas com o "estado da arte" em termos de sistemas de gerenciamento de informações, de ataque e defesa. Atento a isso, o Alto-Comando da MB iniciou estudos para a implementação de um MLU (Mid-Life Update, ou Programa de Atualização de Meia-Vida) para parte da frota original adquirida em 1997. A ideia inicial seria que doze exemplares fossem elevados para o padrão AF-1M, entretanto, os repetidos problemas com o sucessor do NAel "Minas Gerais", o Navio-Aeródromo A-12 "São Paulo" (ex R-99 "Foch") da Marinha francesa, adquirido pelo Brasil em 2000, terminaram por concentrar a operação do Esquadrão VF-1 apenas de sua base terrestre, a partir de 2004.

Duas aeronaves AF-1, vistas no convoo do NAe A-12 "São Paulo". Problemas operacionais no navio, extensos períodos de reformas e a sua retirada precoce do serviço ativo, prejudicaram e por fim, interromperam definitivamente as operações embarcadas do Esquadrão VF-1. Foto: Marinha do Brasil

Em vista disso, a quantidade de aeronaves a serem modernizadas foi reduzida para nove e depois para sete exemplares. Durante a edição de 2009 da conhecida feira de produtos de Defesa, LAAD, no Rio de Janeiro, foi firmado o contrato no valor de US$ 106 milhões entre a Marinha do Brasil e a Embraer Defesa e Segurança e demais empresas associadas ao projeto. O Programa AF-1M envolveu a instalação de um novo glass cockpit produzido pela AEL Sistemas (em substituição aos equipamentos analógicos), controle de voo do tipo HOTAS (Hands-On-Throttle-And-Stick, ou Mãos no Acelerador e no Manche), adoção de um moderno radar ELTA Systems ELM-2032, sistema de geração de oxigênio a bordo, rádios Rohde & Schwarz, equipamentos de navegação, receptor de alerta de radar (RWR) da Elbit Systems e computador de missão, além da completa revisão de toda a estrutura e motor dos aviões. Um fato curioso sobre a modernização, foi a retirada dos dois canhões de 20 mm orgânicos da aeronave, embora possam ser rapidamente reinstalados em caso de necessidade. 

Marinha N-1011, a aeronave utilizada como protótipo do programa de modernização. Acima, detalhes do glass cockpit e do radar ELTA ELM-2032. Crédito das imagens: Embraer Defesa e Segurança, AEL Sistemas e Elbit Systems.

Antes e depois. (1) Boca do canhão Colt Mk.12 de 20mm, instalado na raiz da asa esquerda do AF-1 Falcão Matrícula N-1019. (2) AF-1B Falcão Matrícula N-1001 visto em Florianópolis, em janeiro de 2022. Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)

A aeronave escolhida para ser o protótipo do programa foi o Marinha N-1011, seguindo posteriormente para as instalações da Embraer em Gavião Peixoto/SP, a fim de iniciar os trabalhos. O primeiro voo do avião em sua nova configuração ocorreu em 17 de julho de 2013 e, em 26 de maio de 2015, numa cerimônia na sede da Embraer Defesa e Segurança, o primeiro exemplar modernizado, o agora denominado AF-1B Falcão com a Matrícula N-1001, foi oficialmente entregue para a Marinha. Por sua vez, o N-1011 continuou junto à Embraer, servindo como plataforma de testes e de desenvolvimento. O exemplar foi entregue em definitivo ao Esquadrão VF-1, em 01 de abril de 2016. Meses depois, o N-1011 foi perdido em colisão de voo com o outro AF-1 Falcão modernizado, o Marinha N-1001. O acidente, infelizmente vitimou o Piloto, Capitão de Corveta Aviador-Naval Igor Simões Bastos. 

AF-1B Falcão, Marinha N-1001 durante a Solenidade Oficial de entrega. Foto: Embraer

As aeronaves modernizadas passaram a receber as seguintes designações: AF-1B para as monopostas e AF-1C para as bipostas. No total, o programa contemplou sete aeronaves, cinco AF-1B (Matrículas N-1001, N-1004, N-1008, N-1011, perdido em acidente, como visto e N-1013) e dois AF-1C (Matrículas N-1021 e N-1022). No próximo capítulo, esta matéria apresentará uma tabela detalhada com mais informações sobre todas as aeronaves operadas pelo Esquadrão VF-1. O último avião modernizado e entregue foi o Marinha N-1004, recebido em 20 de abril do ano passado. No momento, a Unidade Aérea encontra-se com sua dotação completa e em plena atividade operacional.



Concebido no início da década de 50 pela fabricante estadunidense Douglas, mais tarde McDonnell Douglas, o A-4 Skyhawk é um jato de ataque com asas em delta, projetado para operar a bordo dos Porta-Aviões da Marinha dos Estados Unidos (U.S. Navy). Foi bastante utilizado e ganhou notoriedade como aeronave de ataque convencional e caça-bombardeiro ao longo da Guerra do Vietnã (1955-1975), com a Força Aérea de Israel nos confrontos com os árabes, sobretudo na Guerra dos Seis Dias (1967) e Conflito do Yom Kippur (1973) e também com os argentinos durante a Guerra das Malvinas/Falklands (1982). O desempenho em combate mostrou as qualidades do aparelho e do projeto, tornando o A-4 um grande sucesso, com o desenvolvimento de diversas versões ao longo do tempo, sendo produzidos entre 1954 (ano em que ocorreu o primeiro voo) até 1979 (quando a linha de produção se encerrou), um total de 2.960 exemplares, operados por várias Forças Aéreas e Marinhas ao redor do mundo. Atualmente apenas o Brasil e a Argentina, além da Draken International (Estados Unidos) e da Top Aces (Canadá), duas empresas privadas que prestam serviços de treinamento de combate aéreo, continuam a utilizar o A-4.

O modelo empregado pelo Brasil foi originalmente operado pela Força Aérea do Kuwait a partir de meados da década de 70. Na ocasião foram adquiridos um total de 30 A-4 monopostos da versão "M", chamada de Skyhawk II, mais 6 aeronaves bipostas TA-4 (todos novos de fábrica), passando a serem designadas como A-4KU (matriculadas de 801 a 830) e TA-4KU (de 881 a 886), respectivamente. Esse conjunto de aeronaves foi destinado a dois Esquadrões (os de Número 9 e 25), ambos com sede na Base Aérea de Ahmad al-Jaber. Os aviões que futuramente iriam pertencer ao Esquadrão VF-1 participaram de inúmeras missões de combate real contra as forças invasoras iraquianas em 1991, durante a Guerra do Golfo. Da encomenda inicial de 36 aviões, 9 exemplares monopostos e 1 biposto foram perdidos ou seriamente danificados entre os atritos normais de operação pré-guerra e em decorrência dos combates frente aos iraquianos. Mais 2 bipostos e 1 monoposto encontram-se preservados em museus no Kuwait. Restaram então as 23 aeronaves (20 monopostas e 3 bipostas), que ficaram estocadas até serem adquiridas pelo Brasil no final dos anos 90.



Tabela contendo as aeronaves que foram modernizadas. Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal), exceto quando indicado.

Tabela com os exemplares que encontram-se preservados e as células estocadas na BAeNSPA em São Pedro da Aldeia/RJ. Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva, exceto quando indicado.


Tão importante quanto voar, é manter. A manutenção dos AF-1B/C Falcao ocorre em diferentes níveis e graus de complexidade, chamados de escalões. As inspeções rotineiras e de menor monta são realizadas no dia-a-dia, dentro da própria Unidade Aérea. Para serviços que demandem uma atenção maior, o Esquadrão VF-1 conta com o apoio do Grupo Aéreo Naval de Manutenção (GAerNavMan). Localizado no complexo da BAeNSPA, em São Pedro da Aldeia e atuando sob o lema "Pronto para fazer voar", a Organização foi criada em 28 de agosto de 2019 e tem a missão de supervisionar e executar a manutenção de 2º e 3º escalões e apoiar, quando necessário, as manutenções de 1º escalão, nos meios aeronavais da Marinha do Brasil (MB), em terra e quando embarcados nos navios da Força. Para realizar seu trabalho, a equipe técnica tem à disposição, uma estrutura composta por diversos Departamentos, Oficinas e Laboratórios. Desde que foi criado, o GAerNavMan vem se destacando pelo nível de excelência, auxiliando a Aviação Naval em manter sua operacionalidade.

O Marinha N-1022 nas dependêncis do GAerNavMan, durante o período do reparo. Foto: ComForAerNav

Prova disso, foram os recentes trabalhos executados no AF-1C Falcão com a Matrícula N-1022, no qual foram detectadas micro rachaduras em parte da asa direita. O serviço de reparo, realizado no período de 15 de junho a 20 de agosto de 2021, foi classificado como de 3º escalão e feito de forma inédita no local, exigindo por parte da equipe técnica, uma análise criteriosa para se buscar as soluções necessárias a fim de sanar o problema. No início deste ano, mais um trabalho de alta complexidade aconteceu nas oficinas do Grupo, desta vez, envolvendo a substituição de componentes internos ligados ao ponto de fixação ventral da aeronave, responsável pelo transporte de cargas externas, como armamentos ou tanque extra de combustível. Já as grandes manutenções programadas ou de 4º escalão, chamadas de "Nível Parque", são feitas pela Embraer, em Gavião Peixoto/SP.



Em qualquer Unidade Aérea de combate, um dos principais pilares é o seu grupo de Pilotos, considerados a elite dos céus. O nível de investimento que as Forças Aéreas e Marinhas mundo afora aplicam para a seleção e formação desses profissionais é altíssimo. Na outra ponta da linha, são necessários anos e anos de estudos e dedicação, para que jovens recém-saídos de casa, alguns deles inspirados por sucessos do cinema como "Top Gun, Ases Indomáveis", adquiram as condições físico-psicológicas e o conhecimento adequado para pilotar e combater com uma máquina de guerra altamente sofisticada e, ao mesmo, gerenciar uma grande quantidade de informações e utilizar com a máxima eficiência, todos os sistemas, sensores e armamentos à disposição.

A fase inicial de treinamento dos Aviadores Navais brasileiros acontecia nos turboélices T-34C Turbo Mentor uruguaios e argentinos. Foto: Armada Argentina

Pilotos da Marinha do Brasil junto a um MB-326GB da Armada Argentina. Fonte: Print de vídeo da live com o C.-Alte Alvarenga, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=mT7pFQeSunM&t=2580s

A maneira como a Aviação Naval recuperou sua aviação de asa fixa, obrigou-a a buscar soluções imediatas para a formação de seus Pilotos. A Marinha do Brasil não possuía à época, como ainda não tem até hoje, uma Unidade Aérea equipada com aviões de treinamento. A primeira geração de integrantes do Esquadrão VF-1 era composta por aviadores que já atuavam nos demais Esquadrões de Helicópteros da Aviação Naval, na maioria dos casos, ocupando os postos de Primeiro-Tenente (1T) ou Capitão-Tenente (CT). Tanto para essa massa crítica inicial, quanto nos primeiros anos de atividade da Unidade Aérea, o caminho até o cockpit do AF-1 Falcão, iniciava com uma rigorosa seleção médica, psicológica e técnica para detectar nos candidatos em comandar uma aeronave a jato, o perfil ideal para o desempenho da atividade. Entre 1994 e 1998, a parte teórica e prática do curso de pilotagem era realizada no Uruguai (em aeronaves T-34C Turbo Mentor) e na Argentina (T-34C Turbo Mentor e em jatos MB-326GB). Destes países, já qualificados como Aviadores Navais em aeronaves de asa fixa, os Pilotos seguiam para o Training Squadron No.7 (VT-7), uma das Unidades Aéreas de Treinamento da Marinha dos Estados Unidos (U.S. Navy), a fim de realizar a parte avançada do curso e a sua especialização operacional, incluindo, pousos e decolagens a bordo dos gigantescos Porta-Aviões nucleares estadunidenses. O treinamento no VT-7 era realizado nos TA-4J Skyhawk e, com a retirada de serviço deste, a tarefa dos voos de instrução foi assumida pelos T-45 Goshawk. A partir de 1999, a formação inicial passou a ser feita integralmente no Brasil, ministrada na Academia da Força Aérea (AFA) em Pirassununga/SP. e em Natal/RN, nos AT-26 Xavante. Depois, da mesma forma, os Pilotos seguiam para os Estados Unidos, a fim de concluírem sua qualificação.

O então Capitão-Tenente Aviador-Naval Alvarenga, em frente a uns dos TA-4J Skyhawk do VT-7, em 1999. Fonte:  Print de vídeo da live com o C.-Alte Alvarenga, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=mT7pFQeSunM&t=2580s

O sistema de formação dos Aviadores Navais tem um começo comum para todos aqueles que desejam seguir a carreira na Marinha nessa área, seja pilotando aeronaves de asa fixa ou rotativa. O início da jornada é o Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval Almirante José Maria do Amaral Oliveira (CIAAN), Instituição de Ensino da Marinha, localizada nas dependências da BAeNSPA, em São Pedro da Aldeia, que tem a missão de ministrar cursos de Especialização, Subespecialização e Aperfeiçoamento de Aviação para Oficiais e Praças, bem como adestrar o pessoal para a operação dos meios aéreos da Marinha, a fim de capacitá-los para o desempenho das atividades relacionadas com as operações aeronavais a bordo e em terra. O CIAAN recebe todos os anos, uma nova turma de Oficiais pertencentes ao Corpo da Armada ou do Corpo de Fuzileiros Navais para a realização do Curso de Aperfeiçoamento em Aviação para Oficiais (CAAVO). São cinco meses de curso teórico envolvendo conhecimentos nas áreas de navegação aérea, meteorologia, aerodinâmica, teoria de voo, técnicas de sobrevivência no mar, entre outras.

Piloto da Marinha do Brasil logo após realizar seu voo solo na aeronave T-25 Universal. Foto: MB

A partir de agora, falaremos como acontece o processo de formação dos futuros Pilotos que irão integrar os quadros do Esquadrão VF-1. O modelo de treinamento adotado atualmente, envolve parcerias firmadas com a Força Aérea Brasileira (FAB) e também com a Marinha dos Estados Unidos (U.S. Navy). Todos os anos, um grupo com aproximadamente dez Oficiais oriundos do CAAVO, segue para a Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga/SP, onde ingressam no Estágio Primário de Aviação (EPAv). Esta fase inicial é ministrada no 2º Esquadrão de Instrução Aérea (2º EIA), em aeronaves T-25 Universal e compreende cerca de 60 horas de voo. Concluída esta etapa, ocorre uma nova seleção, na qual, de dois a quatro candidatos, aqueles com melhores índices de aproveitamento, prosseguem para o 1º Esquadrão de Instrução Aérea (1º EIA), a fim de cumprirem o Estágio Básico de Asa Fixa (EBAF), voando cerca de 100 horas nos turboélices T-27 Tucano. Os demais Oficiais, retornam para São Pedro da Aldeia a fim de concluírem sua formação como Pilotos de Helicóptero no Esquadrão HI-1 da Marinha. Para aqueles que concluem com êxito as duas partes do programa na AFA, o curso completo tem uma duração de 16 meses e habilita para a próxima fase, ou seja, a formação e especialização na operação de aeronaves navais de asa fixa, propriamente ditas.

Treinador T-45C Goshawk, utilizado para a instrução dos Aviadores Navais brasileiros e estadunidenses.

Somente dois Oficiais seguem para os Estados Unidos, onde realizam o Curso de Piloto de Caça Aeronaval, chamado de "Total System". Lá, eles voam o jato de instrução T-45C Goshawk e aprendem todos os aspectos da operação com aeronaves navais, incluindo pousos e decolagens em Porta-Aviões. Ao término do período nos Estados Unidos, esses Pilotos retornam para São Pedro da Aldeia, a fim de realizarem os cursos de Ground School e de Simulador de Voo do AF-1B Falcão. Concluídas mais estas duas etapas, finalmente ingressam efetivamente no 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque, passando a cumprir a rotina de treinamentos e de voos, buscando a partir deste ponto, o aprendizado e o domínio de todas as missões executadas pela Unidade Aérea. Alguns Oficiais são selecionados, de acordo com suas notas de voo e histórico de aviação, para realizarem também o Curso de Especialização Operacional na Aviação de Caça (CEO-CA) da Força Aérea Brasileira, em Natal/RN. Desde 1999, quando começou a cooperação entre a FAB e a Marinha, mais de quinze Aviadores Navais concluíram este curso.

Capitão-Tenente Aviador-Naval Raggio, recebendo instrução em Natal/RN. Foto: FAB

Em toda Unidade Aérea militar, um Piloto ao ingressar em suas fileiras, recebe um código pessoal que o identifica e, a partir de então, se torna vitalício. Composto pelo nome da Unidade Aérea e uma numeração ordenativa crescente, no Esquadrão VF-1, a prática não foge à regra. Na chamada "Ordem dos Falcões", cada Aviador, desde o momento que passa a integrar a Unidade, recebe o código "FALCÃO" e um número de identificação próprio. Assim sendo, O "FALCÃO 01" foi seu primeiro Comandante, o Capitão de Fragata Aviador-Naval Carlos Augusto Andrade Marcondes. Prestes a completar 25 anos de criação, o Esquadrão Falcão está muito perto de alcançar a marca de uma centena de Aviadores Navais qualificados, ao longo desse tempo, em voar o AF-1.




O 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque é subordinado operacionalmente ao Comando da Força Aeronaval (ComForAerNav) e administrativamente, à Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA). Desde que foi criado, em outubro de 1998, a casa do Esquadrão VF-1 é a cidade de São Pedro da Aldeia, situada na Região dos Lagos, litoral norte do Estado do Rio de Janeiro e distante cerca de 142 km da capital fluminense. É nesse local que encontra-se a única Base Aérea Naval brasileira, abrigando em sua área, além de outras Organizações Militares, sete das onze Unidades Aéreas que atualmente compõem a Aviação Naval, entre elas, o Esquadrão Falcão, comandado atualmente pelo Capitão de Mar e Guerra (CMG) Aviador-Naval José Assunção Chaves Neto, no cargo desde 10 de dezembro de 2021 e o décimo quinto Oficial na linha sucessória a comandar a Unidade.

Para a realização das suas atividades diárias, a Unidade Aérea está alojada em um prédio com mais de 6 mil metros quadrados de área construída e uma infraestrutura completa e funcional para abrigar os aviões e fornecer todo o suporte para a operação dos mesmos. A edificação conta com dois amplos hangares, separados por uma construção com dois pavimentos, reunindo todos os setores, ambientes e salas necessárias para que os Pilotos, o corpo técnico e administrativo da Unidade Aérea possam exercer suas atribuições. O Esquadrão VF-1 é uma Unidade Aérea de Caça e como tal, está estruturado em quatro grandes Departamentos: Operações, Manutenção, Administrativo e Segurança de Voo.

Vista parcial da fachada principal do prédio do Esquadrão VF-1. Foto: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)

Uma outra estrutura, diretamente ligada à parte de formação operacional de seus Pilotos, encontra-se nas dependências do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval Almirante José Maria do Amaral Oliveira (CIAAN). Trata-se do Simulador de Asa Fixa para as aeronaves modernizadas AF-1B Falcão. O Advanced Aviation Training Device (AATD, ou Dispositivo de Treinamento de Aviação Avançado), como é chamado, é um sistema projetado para prover um ambiente com alto grau de realidade para que os Pilotos possam executar o treinamento de procedimentos e exercícios de voo.  Desenvolvido pela Embraer e contando com a participação do próprio Esquadrão VF-1 no seu desenvolvimento, o sistema proporciona treinamento eficiente a Pilotos iniciantes e experientes, incluindo a adaptação ao cockpit, procedimentos normais e de emergência, pouso e decolagem, coordenação de manobras básicas de voo, comunicação, navegação visual e por instrumentos e sistema de armamento. A implantação da estrutura no CIAAN é bem recente, data de novembro do ano passado. No momento, os técnicos da Embraer trabalham para capacitar o pessoal do Departamento de Simuladores de voo do CIAAN e os Pilotos-Instrutores do Esquadrão, na utilização do equipamento.

Foto: Marinha do Brasil

Ao longo do ano, o Esquadrão VF-1 mantém uma rotina de voos operacionais e de treinamento, visando atender não apenas à formação e qualificação de seus integrantes mas também, o cumprimento das missões em apoio aos demais meios da Esquadra e do Corpo de Fuzileiros Navais. Todas as maiores e mais importantes Operações de adestramento da Marinha do Brasil contam com a presença do Esquadrão Falcão, entre elas, Aspirantex, Aderex, Fraterno, Dragão, Furnas, entre outras. A Unidade Aérea costuma se deslocar regularmente para outras regiões do país para a realização de treinamentos específicos, como a sua Campanha de Emprego Ar-Solo, feita no Estande de Tiro de Maxaranguape, em Natal/RN. Exercícios conjuntos com a Força Aérea Brasileira envolvendo o combate ar-ar dissimilar (tipos diferentes de aeronaves) e Reabastecimento em Voo (REVO) também são frequentes. Dentro do próprio Complexo Aeronaval de São Pedro, utilizando-se a pista de pousos e decolagens, acontece a Campanha denominada de Preparação em Terra para Pouso em Navio (PTPN), através da simulação de aproximação e pousos em Navios-Aeródromos, a fim de prover a capacitação e qualificar Pilotos e Oficiais de Sinalização de Pouso (OSP) neste tipo de atividade, além de manter viva a cultura da aviação embarcada da Marinha.

Foto: Marinha do Brasil

Foto: Marinha do Brasil










A criação do Esquadrão VF-1 representou muito mais que apenas o surgimento de uma nova Unidade Aérea. Quando naquela manhã chuvosa de 2 de outubro de 1998, o Falcão N-1001 estampando em sua fuselagem e asas, o glorioso cocar da Aviação Naval foi oficialmente apresentado, ele trouxe consigo a materialização de um desejo mantido vivo por várias gerações de aviadores, traduzido na reconquista do direito da Marinha poder operar e manter suas próprias aeronaves de asa fixa, algo que havia sido perdido há mais de três décadas. Os anos seguintes foram pautados por um árduo e incansável trabalho na busca do aprendizado e da maturidade necessários para que o Esquadrão Falcão estabelecesse sua doutrina de emprego e atingisse a plena capacidade operacional.

Em abril do ano passado, a última aeronave modernizada pela Embraer foi entregue de volta ao Esquadrão VF-1, encerrando um ciclo (iniciado em abril de 2009, por ocasião da assinatura do contrato entre a Marinha e a Embraer) e, ao mesmo tempo, inaugurando uma nova fase para a Unidade Aérea que, a partir deste momento, passou a contar com sua dotação plena de aeronaves. No futuro próximo, o Esquadrão Falcão continuará operando com seus AF-1 modernizados no cumprimento das missões em apoio à Esquadra, ao Corpo de Fuzileiros Navais e na defesa de nossa imensa Amazônia Azul. Da mesma forma, seguirá mantendo a doutrina da aviação embarcada e um grupo de Pilotos habilitados em executá-la. Pensando mais além, a médio prazo, inevitavelmente os AF-1B/C Falcão precisarão ser retirados do serviço ativo e substituídos por um novo vetor. Este é um assunto que já deve estar no pensamento do Alto-Comando da Força Aeronaval e da Marinha do Brasil de forma a não se perder o que foi reconquistado com grande dificuldade, muito menos, a capacidade operacional da Unidade Aérea e o investimento na formação e qualificação do corpo técnico. Que venham os próximos 25 anos e com eles, novas conquistas para o Esquadrão VF-1. Bravo Zulu, Falcões!
 

Agradecimentos


O site Aviação em Floripa gostaria de agradecer à Marinha do Brasil e à Força Aeronaval, todo o apoio recebido para a realização desse trabalho, materializado através do 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque e de seu Comandante, Capitão de Mar e Guerra José Assunção Chaves Neto. Agradecimentos ao Cabo Caio, encarregado pelo setor de Relações Públicas do Esquadrão VF-1 e à Sra. Márcia Prestes, bibliotecária da Diretoria de Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM). Enfim, a todos que de alguma forma, auxiliaram na elaboração desta matéria.

11 comentários:

sergio m. borba disse...

Parabéns Marcelo, por mais esta excelente reportagem abordando em detalhes os tramites burocráticos que autorizavam a marinha a ter seus próprios aviões. As fotos dos aviões desembarcando e sendo transportadas por carretas foi sensacional. Resumindo nota 1000, pelo seu trabalho.

Koprowski disse...

Excelente matéria, sr. Marcelo. Apenas uma dúvida: o N-1013 já foi recuperado do acidente ? Está operacional ?

Aviação em Floripa disse...

Prezado amigo, a informação que tenho sobre o 1013 é que sua recuperação ficou inviável, dado o valor cobrado pela Embraer para fazer os reparos necessários.

Koprowski disse...

Obrigado, Marcelo.

Anônimo disse...

Excelente matéria, entusiastas e modelistas agradecem.

Anônimo disse...

Parabéns Marcelo. É muito satisfatório ver os seus trabalhos publicados a respeito do dia a dia do nosso esquadrão.

Angelo disse...

Marcelo, esse conteúdo dava pra publicar em um livro. De mais cara!

Anônimo disse...

Bom dia, Marcelo. Com certeza um admirável trabalho. Parabéns.

CMG Assunção disse...

Parabéns, Marcelo! Em nome de todos os tripulantes do Esquadrão VF-1, de hoje e ontem, agradeço pela excelência do trabalho. Foram vários momentos que pudemos reviver através da sua pesquisa e capacidade de transpor os fatos para o "papel" com tanta clareza. Com certeza, este material será impresso e será usado como o principal arquivo histórico do Esquadrão. AD CULUS BANDIT

Silvio Adriani disse...

Excelente trabalho de pesquisa Marcelo. Parabéns!

Anônimo disse...

Linda matéria! Parabéns!

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