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sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Conhecendo o AF-1C Falcão

 


Entre os dias 22 e 25 de agosto, o 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (EsqdVF-1) da Marinha do Brasil, deslocou duas de suas aeronaves para Florianópolis/SC, com o objetivo de participar da Operação Fraterno XXXVI, um Exercício Naval conjunto com a Armada Argentina. Os aviões que estiveram na capital catarinense foram o monoposto AF-1B Falcão com a Matrícula N-1004 e o biposto AF-1C Falcão com a Matrícula N-1021. Na manhã de quarta-feira (23/8), o site Aviação em Floripa esteve no pátio da Base Aérea de Florianópolis para fotografar as aeronaves e aproveitamos a visita, para realizar um tour completo em volta do modelo de dois assentos, ensaio este que compartilhamos com nossos leitores a partir de agora.

Antes das fotos, um breve histórico operacional e algumas informações sobre o N-1021. Embora conhecida na Aviação Naval brasileira como AF-1 Falcão, a aeronave retratada aqui nesta matéria é na essência, um McDonnell Douglas TA-4KU Skyhawk, operado originalmente pela Força Aérea do Kuwait. Em meados da década de 70, o país árabe comprou novos de fábrica, um lote de 36 A-4, composto por 30 monopostos, designados como A-4KU e seis bipostos, classificados como TA-4KU. O modelo era baseado no A-4M Skyhawk II, desenvolvido para o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (U.S. Marine Corps), com aviônica aperfeiçoada e uma variante mais potente do motor J52, a "traço P-408". Por sua vez, o avião de dois assentos adquirido pelo Kuwait, era basicamente uma célula TA-4J (versão de treinamento do A-4F, porém, equipada com o mesmo motor J52-P-408), sendo os únicos Skyhawk bipostos no mundo com esta versão do motor J52. O primeiro A-4KU voou em 20 de julho de 1976 e o TA-4KU, fez seu voo inaugural em 14 de dezembro do mesmo ano. O lote de 36 aeronaves foi recebido entre 1977-78 e foram destinados aos Esquadrões Nº 9 e Nº 25, ambos sediados na Base Aérea Ahmed al-Jaber. Os monopostos receberam a sequência de matrículas 801-830 e os bipostos, os registros 881-886.

TA-4KU, registro BuNo. 160212 (o futuro Marinha N-1021), visto aqui durante o voo de entrega para o Kuwait, ostentando o padrão de camuflagem adotado por aquele país e a insígnia dos Estados Unidos na fuselagem. Fonte: http://www.AircraftSildes,com, via https://www.dstorm.eu/pages/en/kuwait/skyhawk.html

No início de agosto de 1990, com a invasão do Kuwait pelo Iraque, os A-4KU/TA-4KU conseguiram se refugiar na Arábia Saudita, operando a partir da Base Aérea King Abdul Aziz, juntando-se posteriormente à coalizão de países formada para expulsar o ditador iraquiano Saddam Hussein, no que ficou conhecida como "Guerra do Golfo". Durante este período, os aviões utilizaram a célebre frase "Free Kuwait", estampada nas laterais da fuselagem e, entre eles, estava o TA-4KU com a matrícula "883", que viria a ser futuramente o N-1021. Entre suas ações durante o conflito, esta aeronave chegou a ser alvejada pela artilharia antiaérea inimiga, mas conseguiu retornar à base em segurança. Com o fim dos combates e a reconquista do país, as aeronaves remanescentes (20 A-4KU e 3 TA-4KU), voltaram para o Kuwait e algum tempo depois, foram substituídas pelos caças McDonnell Douglas F/A-18C/D Hornet, permanecendo desde então, estocadas, até serem adquiridas pela Marinha do Brasil em 1997. 

TA-4KU Skyhwak com a Matrícula 886 (posterior N-1023), com a famosa frase "Free Kuwait", visto em uma Base Aérea na Arábia Saudita, durante a Guerra do Golfo, em 1991. Fonte: https://www.dstorm.eu/pages/en/kuwait/skyhawk.html

Ao chegarem no Brasil, as aeronaves receberam as seguintes designações e matrículas: AF-1 Falcão (monopostas), de N-1001 a N-1020; e AF-1A Falcão (bipostas), de N-1021 a N-1023. A Marinha tem a tradição de denominar as suas aeronaves de acordo com sua função e adicionar um número sequencial a elas. Como exemplo, o helicóptero Esquilo é designado como UH-12, ou seja, é o décimo segundo helicóptero da Aviação Naval utilizado na função de Emprego Geral (U, de Utility, ou Utilitário) e assim, sucessivamente. No caso dos AF-1, significa dizer que são os primeiros aviões da Aviação Naval a cumprirem as missões de Ataque (A, Attack) e de Caça e Interceptação (F, Fighter). O N-1021 foi um dos dois aviões bipostos selecionados para serem modernizados pela Embraer, passando a receber a designação AF-1C. Um fato curioso sobre o emprego das aeronaves bipostas na Marinha do Brasil e desconhecido de muitos, é que estes aviões nunca operaram a bordo dos Navios-Aeródromos A-11 "Minas Gerais" ou A-12 "São Paulo". A explicação para isso, dada a pequena quantidade de aeronaves de dois assentos adquiridas, foi a de evitar o desgaste resultante dos pousos e decolagens em operações embarcadas, além de minimizar o risco de acidentes ou perdas destes exemplares, muito valorizados e de difícil reposição, por servirem como plataforma de Treinamento e Conversão Operacional.

O AF-1C Falcão com a matrícula N-1021, como comentado, foi um dos dois bipostos que passaram pelo programa de modernização, o outro foi o N-1022. Essas aeronaves têm um papel importante no processo de formação dos novos Pilotos que chegam ao Esquadrão VF-1, possibilitando a familiarização com o avião e seus sistemas, antes de voarem o modelo monoposto. Acompanhe a partir de agora, o conjunto de fotos que mostram o AF-1C Falcão, N-1021 em detalhes.










Vistas gerais do N-1021. O avião é um dos exemplares modernizados que recebeu um novo padrão de pintura com as marcações e instruções em baixa visibilidade.






A pintura em baixa visibilidade retira todas as cores das marcações externas da aeronave, tornando-a mais difícil de ser identificada em voo.

Detalhe do estabilizador vertical do AF-1C Falcão. No topo, observa-se as antenas do sistema do Contra-Medidas Eletrônicas (ECM), em formato horizontal e do sistema IFF (Identification, Friend or Foe, Identificação, Amigo-Inimigo), acima dela.

Em adição ao combustível interno, o AF-1 Falcão pode transportar até três tanques adicionais nos suportes internos da asa e no central, sob a fuselagem. Aqui é visto um dos tanques com capacidade para 1.136 litros.

Detalhe do suporte interno da asa direita. O AF-1 Falcão dispõe de cinco estações para o transporte de cargas externas. Duas sob cada asa e uma localizada na parte ventral. Este, além dos dois internos das asas, são "molhados", ou seja, capazes de carregar tanques adicionais de combustível.

Seção dianteira da fuselagem.


Detalhe do tubo e da sonda fixa de reabastecimento em voo. A versão Mike do Skyhawk foi a primeira a introduzir o tubo dobrado em ângulo, distanciado-o do nariz da aeronave. Os modelos anteriores tinham um tubo reto que interferia nos componentes eletrônicos ali instalados. Além do reabastecimento em voo, a sonda também pode ser utilizada para o reabastecimento em terra (com o motor acionado), reduzindo o tempo em solo durante missões de combate.

Com a modernização, os canhões Colt Mk.12 de 20 mm, instalados nas raízes das asas foram removidos. Ficou a pintura preta, utilizada para evitar que esta região ficasse manchada e suja pelo disparo da arma. Logo acima, é possível ver uma superfície plana, funcionando como um defletor, evitando que gases gerados a partir do disparo dos cartuchos do canhão fossem sugados para dentro do motor.

Detalhes da superfície superior da asa direita. Observe a fileira de pequenas lâminas, chamadas de geradores de vórtice, dispositivos aerodinâmicos que auxiliam no desempenho do avião em voo.


Boa parte da extensão do bordo de ataque das asas é ocupada pelos slats, dispositivos de acionamento automático comandados pela força do vento, que atuam de acordo com a condição de voo da aeronave. De maneira geral, em altas velocidades, são recolhidos, integrando-se à estrutura das asas. Em situações que necessitem fornecer maior sustentação ao avião, se estendem para baixo. Sobre os slats também há uma fileira de geradores de vórtice.

Na seção central da fuselagem, o que mais chama a atenção é a "corcova" na parte superior, um espaço extra para abrigar equipamentos eletrônicos e aviônicos, característica implantada a partir da versão A-4F.



Alojamento do paraquedas de frenagem.


Gancho de parada, equipamento utilizado para o pouso a bordo de Navios-Aeródromos.


Para auxiliar na diminuição da velocidade de pouso, o AF-1 conta nas laterais traseiras com um mecanismo chamado de "Speed Breaker", que se abre em voo, reduzindo a velocidade da aeronave.

Vista geral da parte traseira do AF-1C.


Colocados acima da tubeira do motor, estão as duas antenas traseiras do RWR (Radar Warning Receiver, ou Receptor de Alerta Radar), sistema que informa ao Piloto que a aeronave está sendo detectada por radares inimigos. Na parte da frente, existem outras duas antenas com a mesma função, compondo um quadrilátero de alerta em torno da aeronave. Este sistema não era original do AF-1 Falcão e foi implantado com a programa de modernização.


Interior do duto de exaustão e ao fundo, o motor Pratt & Whitney J52-P-408.


Detalhe da entrada de ar direita do motor.



Detalhes da seção inferior da fuselagem central, com destaque para os compartimentos de recolhimento do trem de pouso principal.

Parte interna da porta de recolhimento do trem de pouso esquerdo.

Detalhe do suporte ventral.

Detalhe do trem de pouso esquerdo.

Detalhe do trem de pouso direito.

Detalhe da bequilha do AF-1 Falcão. O que mais chama a atenção é o sistema de amortecimento, necessário para suportar o impacto dos pousos a bordo de Navios-Aeródromos. Todas as aeronaves que operam embarcadas têm como característica, o conjunto do trem de pouso reforçado.


Detalhe do alojamento da bequilha.



Detalhe do canopy e dos dois assentos ejetáveis ESCAPAC IG-3 do tipo zero-zero, ou seja, podem ser acionados em solo e com a aeronave parada.

Detalhe do assento dianteiro.

Detalhe do assento traseiro.




A versão de dois assentos AF-1C Falcão é cerca de 70 cm mais comprida que o modelo AF-1B, justamente pela acomodação do segundo assento.


4 comentários:

Angelo disse...

Obrigado por compartilhar! Ótimas referencias pra quem for montar um kit.

Anônimo disse...

Fantástica matéria!!!

sergio m. borba disse...

Pra variar, excelente matéria, principalmente pelas fotos e o histórico de vida dos aviões.

Anônimo disse...

Bom dia, Marcelo. mais um show de reportagem. Abraços. Geraldo.

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