Entre os dias 22 e 25 de agosto, o 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (EsqdVF-1) da Marinha do Brasil, deslocou duas de suas aeronaves para Florianópolis/SC, com o objetivo de participar da Operação Fraterno XXXVI, um Exercício Naval conjunto com a Armada Argentina. Os aviões que estiveram na capital catarinense foram o monoposto AF-1B Falcão com a Matrícula N-1004 e o biposto AF-1C Falcão com a Matrícula N-1021. Na manhã de quarta-feira (23/8), o site Aviação em Floripa esteve no pátio da Base Aérea de Florianópolis para fotografar as aeronaves e aproveitamos a visita, para realizar um tour completo em volta do modelo de dois assentos, ensaio este que compartilhamos com nossos leitores a partir de agora.
Antes das fotos, um breve histórico operacional e algumas informações sobre o N-1021. Embora conhecida na Aviação Naval brasileira como AF-1 Falcão, a aeronave retratada aqui nesta matéria é na essência, um McDonnell Douglas TA-4KU Skyhawk, operado originalmente pela Força Aérea do Kuwait. Em meados da década de 70, o país árabe comprou novos de fábrica, um lote de 36 A-4, composto por 30 monopostos, designados como A-4KU e seis bipostos, classificados como TA-4KU. O modelo era baseado no A-4M Skyhawk II, desenvolvido para o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (U.S. Marine Corps), com aviônica aperfeiçoada e uma variante mais potente do motor J52, a "traço P-408". Por sua vez, o avião de dois assentos adquirido pelo Kuwait, era basicamente uma célula TA-4J (versão de treinamento do A-4F, porém, equipada com o mesmo motor J52-P-408), sendo os únicos Skyhawk bipostos no mundo com esta versão do motor J52. O primeiro A-4KU voou em 20 de julho de 1976 e o TA-4KU, fez seu voo inaugural em 14 de dezembro do mesmo ano. O lote de 36 aeronaves foi recebido entre 1977-78 e foram destinados aos Esquadrões Nº 9 e Nº 25, ambos sediados na Base Aérea Ahmed al-Jaber. Os monopostos receberam a sequência de matrículas 801-830 e os bipostos, os registros 881-886.
No início de agosto de 1990, com a invasão do Kuwait pelo Iraque, os A-4KU/TA-4KU conseguiram se refugiar na Arábia Saudita, operando a partir da Base Aérea King Abdul Aziz, juntando-se posteriormente à coalizão de países formada para expulsar o ditador iraquiano Saddam Hussein, no que ficou conhecida como "Guerra do Golfo". Durante este período, os aviões utilizaram a célebre frase "Free Kuwait", estampada nas laterais da fuselagem e, entre eles, estava o TA-4KU com a matrícula "883", que viria a ser futuramente o N-1021. Entre suas ações durante o conflito, esta aeronave chegou a ser alvejada pela artilharia antiaérea inimiga, mas conseguiu retornar à base em segurança. Com o fim dos combates e a reconquista do país, as aeronaves remanescentes (20 A-4KU e 3 TA-4KU), voltaram para o Kuwait e algum tempo depois, foram substituídas pelos caças McDonnell Douglas F/A-18C/D Hornet, permanecendo desde então, estocadas, até serem adquiridas pela Marinha do Brasil em 1997.
Ao chegarem no Brasil, as aeronaves receberam as seguintes designações e matrículas: AF-1 Falcão (monopostas), de N-1001 a N-1020; e AF-1A Falcão (bipostas), de N-1021 a N-1023. A Marinha tem a tradição de denominar as suas aeronaves de acordo com sua função e adicionar um número sequencial a elas. Como exemplo, o helicóptero Esquilo é designado como UH-12, ou seja, é o décimo segundo helicóptero da Aviação Naval utilizado na função de Emprego Geral (U, de Utility, ou Utilitário) e assim, sucessivamente. No caso dos AF-1, significa dizer que são os primeiros aviões da Aviação Naval a cumprirem as missões de Ataque (A, Attack) e de Caça e Interceptação (F, Fighter). O N-1021 foi um dos dois aviões bipostos selecionados para serem modernizados pela Embraer, passando a receber a designação AF-1C. Um fato curioso sobre o emprego das aeronaves bipostas na Marinha do Brasil e desconhecido de muitos, é que estes aviões nunca operaram a bordo dos Navios-Aeródromos A-11 "Minas Gerais" ou A-12 "São Paulo". A explicação para isso, dada a pequena quantidade de aeronaves de dois assentos adquiridas, foi a de evitar o desgaste resultante dos pousos e decolagens em operações embarcadas, além de minimizar o risco de acidentes ou perdas destes exemplares, muito valorizados e de difícil reposição, por servirem como plataforma de Treinamento e Conversão Operacional.
O AF-1C Falcão com a matrícula N-1021, como comentado, foi um dos dois bipostos que passaram pelo programa de modernização, o outro foi o N-1022. Essas aeronaves têm um papel importante no processo de formação dos novos Pilotos que chegam ao Esquadrão VF-1, possibilitando a familiarização com o avião e seus sistemas, antes de voarem o modelo monoposto. Acompanhe a partir de agora, o conjunto de fotos que mostram o AF-1C Falcão, N-1021 em detalhes.
A pintura em baixa visibilidade retira todas as cores das marcações externas da aeronave, tornando-a mais difícil de ser identificada em voo.
Boa parte da extensão do bordo de ataque das asas é ocupada pelos slats, dispositivos de acionamento automático comandados pela força do vento, que atuam de acordo com a condição de voo da aeronave. De maneira geral, em altas velocidades, são recolhidos, integrando-se à estrutura das asas. Em situações que necessitem fornecer maior sustentação ao avião, se estendem para baixo. Sobre os slats também há uma fileira de geradores de vórtice.
Para auxiliar na diminuição da velocidade de pouso, o AF-1 conta nas laterais traseiras com um mecanismo chamado de "Speed Breaker", que se abre em voo, reduzindo a velocidade da aeronave.
Detalhes da seção inferior da fuselagem central, com destaque para os compartimentos de recolhimento do trem de pouso principal.
Detalhe do alojamento da bequilha.
4 comentários:
Obrigado por compartilhar! Ótimas referencias pra quem for montar um kit.
Fantástica matéria!!!
Pra variar, excelente matéria, principalmente pelas fotos e o histórico de vida dos aviões.
Bom dia, Marcelo. mais um show de reportagem. Abraços. Geraldo.
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