18 de dezembro de 1943. Exatamente nesta data, há oitenta anos, era criado o 1º Grupo de Caça, a mais antiga e uma das mais tradicionais Unidades Aéreas da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. Com o tempo, seu emblema e, principalmente seu grito de guerra, tornaram-se conhecidos nos quatro cantos do país, incorporando-se inclusive na cultura popular brasileira. Nascido no calor dos combates da Segunda Grande Guerra, não demorou para que seus integrantes atravessassem o Atlântico e lutassem nos céus da Europa contra as forças do Eixo, deixando um legado incontestável de coragem e patriotismo, servindo como exemplo e fonte de inspiração para todas as gerações de Pilotos de Caça que os sucederam. Para homenagear esta data marcante, o site Aviação em Floripa preparou uma matéria especial, na qual vamos trazer aos nossos leitores, dividida em oito tópicos, a história, os feitos, os personagens, os aviões, curiosidades, atualidades e muitas outras informações a respeito desta lendária Unidade da Força Aérea Brasileira. Boa leitura!
Quando a Força Aérea Brasileira foi criada, em 20 de janeiro de 1941, herdou todas as instalações, pessoal e aeronaves até então pertencentes à Aviação Naval e à Aviação Militar, os componentes aéreos respectivamente da Marinha e do Exército. No tocante às aeronaves de caça, ambas as Forças operavam com diversos modelos biplanos, muitos deles, já obsoletos para a época. No começo de 1942, com os Estados Unidos já ingressos na Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a receber uma grande quantidade de equipamentos militares estadunidenses, entre os quais, aviões, utilizados para o patrulhamento e defesa da costa brasileira, cada vez mais ameaçada pela presença de submarinos pertencentes às Forças do Eixo, sobretudo os temidos U-Boats alemães. É nesse contexto que foram recebidas dez aeronaves Curtiss P-36A Hawk, tornando-se estes, os primeiros aviões de caça operados pela FAB após a sua criação. Ainda no mesmo ano, começaram a chegar os P-40 Warhawk, aeronaves também fabricadas pela Curtiss, porém, com melhor desempenho, mais velozes e com maior poder de fogo. Pode-se dizer que a entrada em serviço do P-40 representou o marco inicial da Aviação de Caça no Brasil, permitindo que os pilotos tivessem contato com algo mais próximo do que as grandes potências voavam e combatiam nos céus, além de permitir o treinamento e o cumprimento das missões de forma mais eficiente, estabelecendo-se também na oportunidade, as primeiras doutrinas e táticas de emprego.
Cessadas as hostilidades, era chegada a hora de voltar para casa. O 1º Grupo de Caça ainda permaneceu mais algum tempo na Itália, como força de ocupação Aliada e organizando o seu retorno, que efetivamente aconteceu em 7 de julho de 1945. Os aviões remanescentes, um total de 25 P-47D, foram desmontados, encaixotados e seguiram para o Brasil a bordo do navio USS "W. S. Jennings". Outros 19 P-47 Thunderbolt, estes da versão D-40-RA, mais modernos, foram trazidos em voo dos Estados Unidos. Uma parte dos Pilotos do 1º Grupo de Caça, partiu de Pisa, na Itália a bordo de uma aeronave de transporte da USAAF a fim de receber e trasladar essas aeronaves para o Brasil. O restante do contingente embarcou no USS "General M. C. Meigs" diretamente para o Brasil, juntamente com o Primeiro Escalão da FEB e integrantes da 1ª ELO. Aqui, todos foram recebidos como heróis e com grande entusiasmo pela população, entretanto, passado esse momento inicial de festividades e de reencontro com os familiares, era necessário começar a organizar a Aviação de Caça da FAB e a formação de seus Pilotos, aproveitando o conhecimento e a experiência de combate dos "Veteranos de Guerra".
Enquanto o Grupo de Caça estava na Itália, aqui no Brasil haviam sido criados os 2º e 3º Grupos de Caça, em Natal/RN e Porto Alegre/RS, respectivamente, equipados com os caças Curtiss P-40 em suas diferentes variantes. Em outubro de 1944, o 2º Grupo foi transferido para a Base Aérea de Santa Cruz/RJ, passando a operar posteriormente com os P-47 Thunderbolt que haviam atuado na guerra, das versões D-25-RE, D-27-RE, D-28-RA, D-28-RE e D-30-RE. Essas aeronaves, como já mencionado, vieram por via marítima, sendo montadas e colocadas em condições de operação nas dependências da Fábrica de Aviões do Galeão/RJ e depois, trasladadas em voo para Santa Cruz. Por sua vez, os 19 P-47D-40-RA, novos de fábrica, chegaram em julho de 1945 (antes mesmo dos P-47D "italianos"), compondo a frota do 1º Grupo de Aviação de Caça, também em Santa Cruz. Os aviões estavam equipados com o que de mais moderno havia na época para eles: miras K-14B; cabides subalares S-1 de maior capacidade, quilha dorsal instalada de fábrica; radar de alerta AN/APS-13 (para detecção de aeronaves aproximando-se pelo quadrante traseiro); equipamento para roupas anti-G, entre outros aperfeiçoamentos. Para a formação dos novos Pilotos de Caça da FAB, foi criado em 1946, o Estágio de Seleção de Pilotos de Caça (ESPC), também em Santa Cruz, voando com os treinadores North American AT-6D e tendo alguns Veteranos do Grupo de Caça como Instrutores de Voo. A sistemática adotada previa que após formados, os novos Pilotos de Caça da FAB seguiriam para o 2º Gp Ca, a fim de realizarem a conversão operacional para o P-47D.
Em 1947, com o objetivo de repor as perdas operacionais e incrementar a frota, foram adquiridos nos Estados Unidos, mais 25 P-47D-30-RA. O ano também foi marcado por mudanças na organização da FAB, composta por uma grande reestruturação das suas Unidades Aéreas, com muitas delas deixando de existir, outras sendo criadas ou recebendo novas denominações, como foi o caso dos dois Grupos de Caça sediados em Santa Cruz, que passaram a ser tratados como 1º e 2º Esquadrões do 9º Grupo de Aviação, designações estas que não tardaram a ser revistas, por causa principalmente das tradições e da história destas Unidades e assim, dois anos mais tarde, foram redesignadas, agora como 1º Esquadrão ("Jambock") e 2º Esquadrão ("Pif-Paf") do 1º Grupo de Aviação de Caça, permanecendo assim, até os dias atuais. Por sua vez, a partir de 1951, o ESPC passou a ser chamado de 3º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação de Caça, porém mantendo a mesma função e as mesmas aeronaves AT-6D.
A década de 50 começou com um novo conflito, desta vez tendo como palco o sudeste asiático. A Guerra da Coréia (1950-53) mostrou que os caças a jato, voando mais rápido, mais alto, mais longe e com maior capacidade de transportar armas, tinham conquistado em definitivo seu espaço como a ponta da lança neste tipo de função nas principais Forças Aéreas do planeta. No Brasil, a espinha dorsal da Aviação de Caça, formada pelos agora denominados F-47 Thunderbolt e Curtiss P-40 Warhawk, já davam sinais de cansaço e obsolescência e precisavam ser substituídos com urgência. À frente da pasta do Ministério da Aeronáutica estava o ex-Comandante do Grupo de Caça, Brigadeiro Nero Moura. Atento à necessidade de equipar a FAB com caças mais modernos, buscou-se no mercado e junto aos parceiros estratégicos do Brasil, opções que atendessem a esta demanda. Assim, fechou-se a aquisição com os britânicos, de um lote de caças a jato Gloster F.8/T.7 Meteor. A hélice iniciava sua despedida da Aviação de Caça da FAB, substituída pelos motores à reação. Começava uma nova era para o 1º Grupo de Aviação de Caça.
Com a chegada dos caças Meteor, os F-47 Thunderbolt remanescentes foram transferidos para o 2º Esquadrão do 5º Grupo de Aviação em Natal/RN, Unidade Aérea responsável, desde a extinção do 3º/1º Gp Av Ca em 1953, pela formação e treinamento dos novos Pilotos de Caça. Finalmente, em 1957, o valoroso caça com o qual a FAB voou e combateu nos céus da Itália foi definitivamente retirado de serviço, sendo sua ultima morada, a Base Aérea de Fortaleza/CE. Voltando ao 1º Grupo de Caça e ao Meteor, a negociação para a compra destes aviões foi curiosa, tendo o governo brasileiro adquirido 60 exemplares monopostos F.8 e 10 de treinamento T.7 em troca de 15 mil toneladas de algodão. Aqui os modelos foram designados como F-8 e TF-7 respectivamente e começaram a chegar durante o ano de 1953, sendo transportados desmontados de navio da Inglaterra para o Brasil e posteriormente montados na fábrica do Galeão/RJ, seguindo depois em voo para a Base Aérea de Santa Cruz/RJ. No entanto, inicialmente as primeiras aeronaves montadas permaneceram baseadas no Galeão, enquanto se aguardava o término de obras físicas em Santa Cruz.
Os anos seguintes à implantação do Gloster Meteor no 1º Grupo de Aviação de Caça transcorreram com a Unidade Aérea empregando seus aviões na formação de pilotos para operá-los e na realização das missões inerentes à Aviação de Caça. Embora bastante utilizado como um interceptador por diversas Forças Aéreas, na FAB, o avião teve seu emprego mais voltado para tarefas de ataque ao solo, interdição e apoio aéreo aproximado. Com o passar do tempo, os voos a baixa altura começaram a cobrar seu preço, com muitas aeronaves apresentando graves problemas estruturais. Além disso, a frota sofria com um problema crônico de fragmentação do canopy (a cobertura da cabine de pilotagem), devido à variações de temperatura. Essa questão foi resolvida com a substituição das peças por outras, com novo desenho e materiais mais resistentes. Entretanto, os danos estruturais não tiveram solução, com a fabricante do avião emitindo uma série de restrições de operação e por fim, boa parte da frota foi condenada para o voo. Diante disso e sem uma solução adequada, os Meteor foram gradativamente sendo retirados de operação, com os últimos exemplares deixando o serviço ativo na FAB em 1968. Importante dizer que os jatos britânicos não eram a primeira escolha na época de sua aquisição, muito menos a melhor, para o ingresso dos Pilotos da FAB na era do jato. Porém, naquele momento, foi a opção encontrada, diante dos poucos recursos disponíveis ou pelas negativas estadunidenses em fornecer seus aviões de caça mais modernos.
Diante da retirada de serviço prematura do Meteor, o Alto-Comando da FAB se viu em busca de alternativas para reequipar suas Unidades Aéreas de Primeira Linha da Aviação de Caça com um novo vetor. Era necessário com urgência a busca de uma solução rápida e temporária para suprir a ausência do jato britânico e, em um segundo momento, a aquisição de uma aeronave mais moderna e a mais próxima possível do "estado da arte". Para a questão imediata, foi escolhido o jato de treinamento Lockheed T-33 Thunderbird, já operado pela FAB, que havia comprado 58 unidades em 1956, tendo alguns exemplares então, redistribuídos para Santa Cruz/RJ e Canoas/RS. Embora não fosse um caça propriamente dito, o modelo era relativamente numeroso na FAB e confiável na sua operação, servindo ao seu propósito por um breve período.
O dia-a-dia operacional e o cumprimento das missões inerentes à Aviação de Caça exigiam uma aeronave dedicada e projetada para a função. Da mesma forma que no início dos anos 50, quando o Brasil utilizava caças a pistão e muitas Forças Aéreas já operavam com aeronaves à jato, o início da década de 70 trouxe à tona novamente esta defasagem, com a frota da FAB empregando vetores subsônicos, enquanto os caças supersônicos eram o padrão mundo afora. Felizmente, os estudos para a aquisição destas aeronaves estavam bem adiantados, mas ainda levaria alguns anos para se concretizar. Enquanto isso, mais uma vez, o 1º Grupo de Aviação de Caça teve que adotar outra aeronave temporária. A vez agora seria do AT-26 Xavante, a exemplo do T-33, um jato de treinamento militar, porém, de origem italiana e fabricado sob licença pela Embraer. Como diferencial, o Xavante era bem mais moderno que seu antecessor e coube ao 1º Grupo de Caça em 1972, inaugurar seu uso na FAB. Além de utilizar o Xavante para o cumprimento das missões de Caça, Ataque, Apoio Aéreo Aproximado e Treinamento, a Unidade Aérea teve a responsabilidade de avaliar na prática, o desempenho da máquina e também, desenvolver e propagar uma doutrina de emprego operacional, dos armamentos e uma rotina de manutenção para os demais Esquadrões que iriam utilizá-lo. Isso permitiu ao Grupo manter-se em atividade e ao mesmo tempo, auxiliar na implantação do AT-26 Xavante na FAB, enquanto esperava pela chegada do seu vetor supersônico, o que não tardaria a acontecer.
Desde meados da década de 60, a FAB já vinha estudando a adoção de uma aeronave supersônica, sobretudo pela necessidade de prover a Defesa Aérea da nova Capital Federal, Brasília, inaugurada em abril de 1960, além de ser a ponta da lança do Sistema de Defesa Aérea que estava sendo implantado. Os problemas com a operação e disponibilidade dos Gloster Meteor reforçaram a necessidade de se achar um substituto para o jato britânico. Na época, dois modelos despontaram como favoritos, ambos norte-americanos, o McDonnell Douglas F-4 Phantom II e o Northrop F-5 Freedom Fighter, porém, o veto dos Estados Unidos para a operação de seus modelos de aeronaves supersônicas na América do Sul (com a justifica de quebrar o equilíbrio de forças na região), além das conhecidas questões orçamentárias, acabaram adiando a compra, que viria a se concretizar apenas em 1972, quando foi adquirido um lote de caças franceses Dassault Mirage IIIE/D, vetores estes que foram destinados à recém-criada 1ª Ala de Defesa Aérea (1ª ALADA), sediada em Anápolis/GO, tornando-se assim, a primeira aeronave supersônica da FAB.
Por sua vez, o 1º Grupo de Caça seguiu suas operações, como já visto, com soluções paliativas e inadequadas para substituir o Gloster Meteor. Em 1974, a FAB lançou uma concorrência internacional visando a aquisição de uma nova aeronave supersônica para seus outros Esquadrões de Caça de Primeira Linha, tendo como finalistas, o anglo-francês SEPECAT Jaguar, o italiano Aermachi MB-326K (versão monoposta do AT-26 Xavante), o britânico BAe Harrier e os norte-americanos McDonnell Douglas A-4F Skyhawk e Northrop F-5E Tiger II (versão aperfeiçoada do F-5A Freedom Fighter e recém-lançada), com este último, sagrando-se vitorioso. A favor do F-5 Tiger II, além de preencher todos os requisitos técnicos, estava o custo de operação e a confiabilidade da aeronave, com a sua versão anterior, voando em diversas Forças Aéreas ao redor do mundo e inclusive testada em combate com sucesso na Guerra do Vietnã. O contrato assinado contemplou 36 aeronaves F-5E Tiger II novas de fábrica, mais 6 exemplares do F-5B Freedom Fighter, para realizar a conversão operacional, uma vez que a versão de treinamento do F-5E ainda estava em desenvolvimento. Ao 1º Grupo de Caça e seus dois Esquadrões, coube o recebimento de 24 aeronaves, além dos seis F-5B. Por sua vez, o 1º Esquadrão do 14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv), sediado em Canoas/RS, ficou com os doze supersônicos restantes.
A introdução em serviço destas aeronaves, classificadas como de terceira geração, colocou a Aviação de Caça da FAB em um novo patamar tecnológico e operacional, empregando um caça com conceitos e desempenho mais próximos do "estado da arte" da época, algo que, guardadas as proporções, havia sido experimentado apenas em um passado distante, quando o 1º Grupo de Caça recebeu seus P-47D Thunderbolt, então, um dos aviões mais avançados do seu tempo. A partir deste momento, "Jambocks" e "Pif-Pafs" voltavam a cumprir com eficiência todas as suas missões, incluindo a possibilidade do Reabastecimento em Voo, uma novidade para a FAB, introduzida com a chegada dos F-5E e possibilitada pela recente aquisição de duas aeronaves KC-130H Hércules, dedicadas para esta função. A primeira dessas missões, que com o passar do tempo, se tornariam corriqueiras e essenciais para a operacionalidade da FAB, foi realizada entre o KC-130H FAB 2462 e os F-5E Tiger II com as Matrículas FAB 4828 e FAB 4854, pilotados respectivamente, pelos Tenentes-Coronéis Carlos de Almeida Baptista (então Comandante do Grupo de Caça) e Sérgio Ribeiro.
Em 1982, dois episódios relacionados à Guerra das Falklands/Malvinas, testaram a eficiência do Sistema de Defesa Aérea brasileiro e a pronta-resposta das aeronaves de caça da FAB. Em 9 de abril, um avião de transporte Ilyushin IL-62M da empresa Cubana de Aviación, a serviço do governo de Cuba, invadiu o espaço aéreo brasileiro a caminho da capital argentina, Buenos Aires, sendo interceptado por dois caças Mirage III do 1º GDA e obrigado a pousar em Brasília/DF. No dia 2 de junho, foi a vez de um elemento de F-5E Tiger II do 2º/1º GAvCa escoltar um bombardeiro britânico Avro Vulcan. O grande avião a jato com asas em delta retornava de uma missão de ataque às estações de radar argentinas nas ilhas e teve um problema com a sonda de reabastecimento em voo. Com combustível insuficiente para chegar a sua base, na Ilha de Ascenção, solicitou um pouso de emergência no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. A ação ganhou as manchetes dos principais jornais brasileiros da época e colocou o 1º Grupo de Aviação de Caça em evidência. Para seus Pilotos entretanto, apesar da adrenalina de uma interceptação real, nada mais que uma atividade que rotineiramente era treinada e para a qual estavam plenamente capacitados a cumprir.
No Dia da Aviação de Caça de 1986, na Base Aérea de Santa Cruz, um momento marcante, principalmente para os Veteranos do 1º Grupo de Caça que combateram na Itália, a entrega oficial da comenda "Presidential Unit Citation" (PUC), também chamada de "Blue Ribbon", honraria concedida à Unidade Aérea pelo governo norte-americano pelas ações de bravura e cumprimento do dever durante a Ofensiva da Primavera (1945), na região do Vale do Pó, Itália, tornando-se assim, a terceira Unidade estrangeira na história a receber este reconhecimento.
Desde então, como uma forma de homenagem, o 1º Esquadrão passou a portar abaixo do seu Emblema, uma pequena barra nas cores que representam a medalha (azul marinho com faixas horizontais douradas nas extremidades). Atualmente as aeronaves do 1º Grupo de Caça ostentam a mesma barra, disposta no topo do estabilizador vertical. Da mesma forma, seus Pilotos carregam com orgulho, uma representação bordada da condecoração no braço esquerdo do macacão de voo. No ano seguinte, um outro fato especial, a visita do Piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna da Silva que aproveitou a presença no Rio de Janeiro para a disputa do Grande Prêmio do Brasil em Jacarepaguá e visitou o Grupo de Caça, voando em um dos F-5B Freedom Fighter da Unidade Aérea.
O F-5 sempre foi uma aeronave com excelentes características para o combate aéreo, principalmente por ser rápido, ágil e manobrável, com seu desempenho em voo nesses quesitos, equiparando-se aos melhores aviões utilizados pelas Forças Aéreas dos principais países oponentes dos Estados Unidos. Não por acaso, até os dias atuais, ainda é utilizado por Esquadrões chamados de "Agressores" da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos para testar seus Pilotos contra as táticas de combate de nações inimigas, constituindo-se em um adversário formidável, mesmo para caças de gerações mais recentes. Entretanto, se a performance sempre foi um ponto positivo do F-5, o cérebro da máquina, formado por seus aviônicos e sensores estava à anos-luz de distância da moderna guerra aérea, dominada, no começo do novo milênio, por caças de quinta geração e pelos combates aéreos além do alcance visual, também conhecidos pela sigla BVR (do inglês, Beyond Visual Range), em que os aviões adversários se enfrentam e disparam suas armas, sem um contato mais próximo, valendo-se de seus sensores e mísseis ar-ar de médio/longo alcance.
Os Exercícios Multinacionais que a Força Aérea Brasileira havia participado entre o final da década de 90 e o começo dos anos 2000, enfrentando aeronaves de combate de potências como Estados Unidos e França, demonstraram o grande gap tecnológico em que a frota de caças brasileiros se encontrava. Ciente disso, o Alto-Comando da FAB já vinha buscando um sucessor para seus caças de Primeira Linha, através do Programa F-X e depois F-X 2. Enquanto a decisão não era tomada, resolveu-se apostar as fichas nos F-5E/F Tiger II, a espinha dorsal da Aviação de Caça da FAB. Nascia assim, o Programa F-5BR, capitaneado pelas empresas EMBRAER Defesa e Segurança e AEL Sistemas, subsidiária da israelense Elbit Systems. O contrato, no valor de US$ 285 milhões foi assinado em 2000 e logo em seguida, os dois primeiros aviões que serviriam de protótipos (um exemplar monoposto e outro biposto, respectivamente os FAB 4874 e FAB 4808), foram enviados em fevereiro de 2001 à Gavião Peixoto/SP, para iniciarem os trabalhos. O programa contemplou a conversão de 43 F-5E (monopostos) e 3 F-5F (bipostos) para o padrão F-5M, além da entrega de dois Simuladores de Voo, suporte logístico e treinamento. A primeira aeronave modernizada foi entregue para a FAB em setembro de 2005. Mais tarde, um novo contrato foi assinado, visando a modernização dos três F-5F que haviam sido adquiridos da Jordânia em 2008, elevando o total de aviões que passaram pelo processo para 49 unidades. As entregas se encerraram no ano de 2020, quando o F-5FM com a matrícula FAB 4810 foi oficialmente recebido pela FAB.
Com a entrada em serviço do F-5M, a Força Aérea Brasileira ganhou uma aeronave com um poder muito maior de letalidade e sobrevivência na moderna arena da guerra aérea, graças aos aperfeiçoamentos e novos equipamentos instalados, fazendo com que internamente o avião subisse um nível, passando a ser considerado como um caça de quarta geração em relação aos seus sensores e capacidade de combate. Dentre as principais melhorias trazidas pelo programa, estava a adoção do radar de fabricação italiana Leonardo Grifo F, capaz de detectar alvos a uma distância de aproximadamente 80 km; reformulação total da cabine de pilotagem, com a substituição dos instrumentos de voo analógicos por três telas multifuncionais e a atualização dos sistemas de comunicação, navegação e direção de tiro com equipamentos de última geração; instalação de um HUD (Head-Up Display, ou Visor ao Nível dos Olhos) de grandes dimensões; incorporação de capacetes do tipo HMD, desenvolvidos pela AEL Sistemas e capazes de projetar informações importantes para o Piloto na própria viseira; sistema de comunicação mais moderno e com uso de criptografia, com operação compatível com a aeronave de Alerta em Voo e Controle Aéreo E-99; adoção do sistema HOTAS (do inglês Hands On Throttle And Stick, ou Mãos na manete de potência e no manche), permitindo que todas as principais funções e comandos durante o voo possam ser centralizados nestes dois dispositivos; instalação de Receptores de Alerta Radar (RWR) e de mecanismos de auto-defesa (chaffs e flares) para interferir nos radares inimigos e despistar mísseis guiados por calor, respectivamente. Para cumprir a missão de Defesa Aérea, foram adquiridos os mísseis ar-ar de fabricação israelense Rafael Python 4 (curto alcance) e Derby (médio alcance), considerados entre os melhores de suas categorias. Com a modernização, um dos dois canhões M39A2 de 20 mm foi retirado para ceder espaço para componentes do novo radar. O programa contemplou ainda uma completa revisão de toda a estrutura do avião e de seus motores.
Com a modernização, os aviões ganharam um novo padrão de camuflagem tático, em tons de cinza e verde, similar ao empregado pelos outros modelos de aeronaves operacionais da FAB. Todos também passaram a dispor da sonda de Reabastecimento em Voo, uma capacidade que havia sido perdida por parte da frota, uma vez que os F-5E/F do segundo lote, não dispunham de tal equipamento. Com a padronização, deixou de existir a separação entre aviões do primeiro e segundo lote. Assim, à medida que os F-5 modernizados deixavam a linha de montagem e eram entregues, seguiam para qualquer uma das Unidades Aéreas operadoras. Com relação à manutenção, as mais simples são executadas nos próprios Esquadrões. Já os trabalhos de maior complexidade são realizados no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA/SP). Cabe ressaltar que após finalizada a manutenção, de acordo com o interesse da FAB ou a necessidade operacional, a aeronave pode ser redistribuída para uma Unidade Aérea diferente da qual veio. A FAB chegou a ter cinco Esquadrões operando o F-5M simultaneamente: 1º e 2º Esquadrões do 1º Grupo de Aviação de Caça (Santa Cruz/RJ); 1º Esquadrão do 14º Grupo de Aviação (Canoas/RS); 1º Esquadrão do 4º Grupo de Aviação (Manaus/AM) e 1º Grupo de Defesa Aérea (Anápolis/GO). Atualmente apenas os três primeiros seguem empregando o F-5 Tiger II de forma plena. O 1º GDA encontra-se no momento em fase de recebimento e implantação dos caças F-39 Gripen, por esse motivo, ainda utiliza alguns poucos exemplares do F-5 apenas para guarnecer a missão de Alerta de Defesa Aérea. Já o Esquadrão Pacau foi desativado no final de 2021, com suas aeronaves sendo distribuídas para as outras Unidades Aéreas.
5 comentários:
Trabalho digno de ser divulgado na TV, muito bem elaborado, rico em detalhes históricos além das fotografias e manchetes da época. Eu mandaria esse seu trabalho diretamente para o Comandante do Grupo de caça e para o Comandante da aeronáutica, quem sabe não rola um voozinho num f5, seria o mínimo que fariam para demonstrar agradecimento pelo seu excelente trabalho, Parabéns é pouco pela qualidade de seu trabalho.
Excelente reportagem sou seu admirador parabéns
Parabéns Marcelo mais um excelente trabalho muita pesquisa e informação a disposição do leitor,um abraço.Nilton.
Bom dia. Grande Marcelo. Parabéns, com certeza um árduo trabalho. Mereces todo reconhecimento da parte deste apreciador. Abraços. Geraldo.
Esse foi o melhor resumo sobre o 1º Grupo de Aviação de Caça que já li. Parabéns à equipe!
Postar um comentário