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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

CRUZEX 2024: Os visitantes

 

Entre os dias 3 e 15 de novembro, os céus do Rio Grande do Norte serão palco do maior treinamento de guerra aérea da América Latina, o Exercício Cruzeiro do Sul (CRUZEX), reunindo nesta edição, 16 países, mais de 2.000 militares e cerca de 50 aeronaves, entre brasileiras e estrangeiras. O site Aviação em Floripa estará pela primeira vez na Base Aérea de Natal, acompanhando todas as atividades de perto e apresenta de forma antecipada aos seus leitores, em duas matérias, as aeronaves que estarão atuando diretamente no Exercício. Além do Brasil, sete outras Forças Aéreas participarão do treinamento este ano. Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Paraguai, Peru e Portugal, estarão presentes com aeronaves de Caça, Ataque, Transporte e Reabastecimento em Voo. Nesta primeira parte, você vai conhecer, através de infográficos exclusivos, os aviões das Forças Aéreas estrangeiras na CRUZEX 2024, além do histórico de participações de países e aeronaves. Boa leitura!



A Força Aérea Argentina (FAA) estará participando pela quarta vez da CRUZEX. Ausente desde 2006, nesta edição, os "hermanos" se farão presentes com os jatos de fabricação nacional IA-63 Pampa III Bloco II, versão mais recente da aeronave de dois lugares, utilizada para Treinamento Avançado e Ataque Leve, marcando sua estreia no treinamento. Atualmente a FAA opera com cerca de 20 Pampa nas variantes "II" (IV Brigada Aérea, em El Plumerillo, Mendoza) e "III" (VI e X Brigadas Aéreas), sediadas respectivamente em Tandil (Província de Buenos Aires) e Rio Gallegos (Província de Santa Cruz), no extremo sul do país. Tudo indica que serão aeronaves da VI Brigada Aérea que estarão em Natal. Cabe ressaltar que esta Unidade Aérea foi a escolhida para receber os caças F-16A/B recentemente comprados da Dinamarca. Outra aeronave que participará do Exercício, será o quadrimotor KC-130H Hércules, operado pelo I Grupo de Transporte Aéreo da I Brigada Aérea, sediado na Base Aérea de El Palomar (Buenos Aires). Estes aviões são utilizados nas funções de Transporte e Reabastecimento em Voo e passaram a pouco tempo por uma ampla modernização. A FAA conta com dois KC-130 na frota, matriculados como TC-69 e TC-70. Com relação aos caças A-4AR Fighting Hawk, sempre uma presença aguardada na CRUZEX, apesar de aparecerem na primeira listagem de aeronaves participantes, divulgada no início do ano, não estarão no treinamento.


O Chile, ao lado da França. são os países com mais participações na CRUZEX (veja infográficos no final da matéria). Nesta edição, a Fuerza Aérea de Chile (FACh), virá com os caças F-16AM/BM Fighting Falcon Bloco 15/20, alocados junto à Quinta Brigada Aérea, em Antofagasta, no norte do país. Essas aeronaves foram adquiridas da Holanda, em dois lotes (2007 e 2011), totalizando 36 aviões, sendo 29 monopostos e 7 bipostos, servindo junto aos Grupos de Aviação nº 7 e 8. Recentemente foi anunciada a modernização destes vetores de combate, juntamente com os 10 F-16C/D Bloco 50, elevando toda a frota para o mesmo padrão. Além dos F-16, a Força Aérea chilena participará da CRUZEX com o KC-135E Stratotanker, aeronave baseada no icônico Boeing 707 e utilizada nas tarefas de Transporte e Reabastecimento em Voo. A FACh adquiriu três KC-135 em 2009, registrados com as matrículas 981 a 983. Dois deles permanecem em serviço. Todos são operados pelo Grupo de Aviação nº 10, subordinado à II Brigada Aérea, com sede na Base Aérea de Pudahiel, localizada junto ao Aeroporto Internacional Arturo Merino Benitez, em Santiago, capital do país.


A Fuerza Aérea Colombiana (FAC) participará da CRUZEX com uma aeronave Boeing 767 MMTT (Multi Mission Tanker Transport), batizada localmente de "Júpiter", utilizada para missões de Transporte e Reabastecimento em Voo. Apenas um avião desse modelo integra a frota da FAC, com a matrícula FAC 1202. Ele é operado pelo Grupo de Transporte Aéreo 81, localizado na Base Aérea de El Dorado, em Bogotá e subordinada ao Comando Aéreo de Transporte Militar (CATAM). A Unidade Aérea emprega, além do KC-767, uma diversidade de outros tipos de aeronaves de transporte. O KC-767 foi recebido em 2010 e é capaz de transportar 210 passageiros, 40 a 50 toneladas de carga, além da capacidade de reabastecer outras aeronaves em voo. Esta será a segunda participação da Colômbia na CRUZEX (a outra foi em 2013). Havia uma expectativa pela presença dos caças Kfir no treinamento, mas essa possibilidade acabou não se confirmando.


Estreando na CRUZEX, a Força Aérea Portuguesa será a representante europeia no treinamento, que em edições passadas já contou com a presença da França. A Unidade Aérea participante é a Esquadra 506, conhecida como "Rinocerontes" e sediada na Base Aérea nº 11, em Beja, no sul do país. O vetor empregado pela Unidade é o avião de transporte C-390 Millennium, fabricado pela brasileira Embraer, do qual Portugal adquiriu cinco exemplares, com dois deles já entregues e em atividade. A Esquadra 506 é recente, foi criada em 20 de maio de 2023, especialmente para operar o C-390. Embora o rinoceronte não seja um animal da fauna portuguesa, a escolha como símbolo, se traduziu pelo seu grande porte, força e resistência, tal qual a aeronave utilizada pela Unidade Aérea. Existe também uma ligação histórica, pois em 1515, um rinoceronte foi dado de presente à corte portuguesa pelo Vice-Rei da Índia. O lema da Esquadra 506, "Só pode o que impossível parecia", faz referência a uma passagem da obra "Os Lusíadas", de Luís de Camões (1524-1580), poeta português, um dos maiores ícones da literatura mundial de todos os tempos.


A outra estreante do Exercício CRUZEX é a Força Aérea Paraguaia (FAP). O país estará representado por aeronaves AT-27 Tucano e CASA C-212 Aviocar. A aviação de combate da FAP está concentrada no Grupo Aerotático (GAT). A Unidade que no passado já foi composta por três Esquadrões, atualmente opera apenas com um deles, o 3º Esquadrão de Caça, equipado com os turboélices de fabricação brasileira Embraer AT-27 Tucano. A Unidade atende pelo nome de "Moros", a mais aguerrida das tribos guaranis, conhecida por defender com ferocidade e determinação, o seu território. A Unidade Aérea encontra-se sediada na capital, Assunção, na Base Aérea de Ñu Guasu (Campo Grande, no idioma guarani), localizada nas dependências do Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi. Cabe ressaltar que, recentemente foi anunciada pelo Paraguai, a compra de seis turboélices Embraer EMB-314 Super Tucano. Além dos AT-27 Tucano, a aeronave de transporte CASA C-212-200 Aviocar também estará presente nos céus de Natal. O avião, de fabricação espanhola, é um bimotor turboélice, dotado de rampa traseira e capacidade para transportar 18 passageiros, 16 paraquedistas equipados ou cerca de 2 toneladas de carga. Os CASA C-212 da FAP estão alocados ao Grupo de Transporte Aéreo (GTA), dividindo espaço na mesma Base Aérea que abriga os AT-27 Tucano.


Fechando a participação das Forças Aéreas sul-americanas, o Peru estará presente pela segunda vez no Exercício CRUZEX. Em 2018, o país trouxe os supersônicos Mirage 2000P/DP e os jatos de ataque A-37B Dragonfly. Dessa vez, a Fuerza Aérea del Peru (FAP), estará representada pelas aeronaves KA-1P Woongbi e KC-130H Hércules. O Woongbi é um avião turboélice de Treinamento e Ataque Leve, fabricado na Coreia do Sul. Desde 2015, o Peru utiliza (de acordo com dados da revista Flight International em sua edição "World Air Forces 2024"), 20 exemplares do avião, chamado localmente de "Torito", em duas versões, KT-1P (para treinamento) e KA-1P (destinado para missões de ataque leve). Os primeiros ficam sediados na Escuela de Formación de Pilotos nº 51, na Base Aérea "Capitán Renan Elias Oliveira", em Pisco. Por sua vez, os KA-1P, encontram-se alocados na Base Aérea "Capitán Concha", em Piura, norte do país, na fronteira com o Equador, operando com o Grupo Aéreo nº 7, Unidade Aérea de onde devem vir os aviões para o treinamento no Brasil. Um dos dois KC-130H Hércules adquiridos da Espanha e recebidos no início de 2021, também estará na CRUZEX. Voando com as matrículas 393 e 396, estes aviões integram o Escuadrón de Transporte 842 e são empregados em tarefas de Transporte e Reabastecimento em Voo, a partir da Base Aérea "Jorge Chavez", localizada junto ao Aeroporto Internacional de Lima.


Da América do Norte, pela primeira vez participando do treinamento, estarão os caças F-15C/D Eagle da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Os aviões pertencem à 159ª Ala de Caças (159th Fighter Wing), Unidade da Guarda Aérea Nacional (ANG), sediada na Base Aérea Naval Conjunta de Reserva (NAS JRB) de Nova Orleans, no Estado da Louisiana. Criada durante a década de 40, a Unidade Aérea participou ativamente da Segunda Guerra Mundial e de todos os conflitos posteriores com o envolvimento dos Estados Unidos, incluindo ações na guerra global contra o terrorismo. Ao longo de sua história voou com os principais caças norte-americanos, como o F-86 Sabre, F-100 Super Sabre, F-102 Delta Dagger, F-4 Phantom II e o F-15 Eagle. A Unidade Aérea é conhecida pelo nome de "Bayou Militia", denominação que tem raízes históricas com a Guerra da Secessão (1861-1865). Sua missão primária é a Defesa Aérea da Louisiana e da costa do Golfo do México. O Exercício CRUZEX também contemplará a presença do KC-46A Pegasus. Estreante no treinamento, a nova aeronave de Transporte e Reabastecimento em Voo da USAF, é baseada no jato comercial Boeing 767. Escolhido após um longo e turbulento processo de seleção, o KC-46 será o substituto do veterano KC-135 Stratotanker. A primeira aeronave, de uma encomenda inicial de 179 exemplares (todos novos de fábrica), entrou em serviço em 2019 e atualmente, conta com cerca de 50 unidades em serviço. Até a publicação desta matéria, não foi possível verificar a localização ou a Unidade Aérea a qual pertence o KC-46A que estará participando do treinamento.





sábado, 28 de setembro de 2024

Gripen is on the air!! O diário de missão do FAB 4108

 

Decolou na tarde da última quinta-feira (26/9) do Aeroporto Internacional Ministro Victor Konder, em Navegantes/SC mais um caça F-39E Gripen para a Força Aérea Brasileira. Seu destino, a Base Aérea de Anápolis, em Goiás, sede do 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), Unidade Aérea escolhida como a primeira operadora do avião. No momento em que o FAB 4108 tocou a pista de sua nova casa, encerrou-se mais uma operação de entrega dessas aeronaves, uma incrível jornada por mar, terra e ar que temos a satisfação em apresentar aos nossos leitores, em mais uma matéria inédita do site Aviação em Floripa, trazendo muitas informações e imagens exclusivas. Para esta cobertura, mais uma vez contamos com a participação do amigo e colaborador, Ângelo dos Santos Melo, que gentilmente cedeu algumas de suas fotos. Da mesma forma, complementando o conteúdo visual e informativo da matéria, estão disponíveis os links para os vídeos produzidos pelo amigo Leandro Silva, referentes ao traslado e à decolagem do FAB 4108. Boa leitura!!

Com o recebimento deste avião, a Força Aérea Brasileira passou a contar com oito F-39E Gripen de série em operação, todos até o momento, em atividade com o Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA). Além destes, encontra-se em território brasileiro o FAB 4100, o primeiro a chegar, em setembro de 2020, utilizado como modelo de testes e desenvolvimento junto ao Centro de Testes em Voo (GFTC, Gripen Flight Test Center) e ao Centro de Projetos e Desenvolvimento (GDDN, Gripen Design Development Network), ambos sediados em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo. Acompanhe a partir de agora, através de artes e tabelas exclusivas, especialmente criadas para esta matéria, o diário de missão do FAB 4108, desde sua saída da Suécia até ganhar os céus brasileiros pela primeira vez.

Os caças Gripen E, não apenas para a FAB, mas também para a Força Aérea da Suécia são construídos na cidade de Linköping, onde ficam as instalações da Saab, a fabricante do avião. A única exceção a essa regra, são os F-39E que estão sendo produzidos na planta industrial da Embraer, em Gavião Peixoto, de onde vão sair 15 dos 28 Gripen monopostos encomendados pela FAB. Importante dizer que, caso novos exemplares desta versão sejam adquiridos futuramente, estes também serão construídos no Brasil. Concluída a etapa de montagem na fábrica da Saab e após a realização de testes, o avião está apto para ser entregue ao seu usuário final. No caso do Brasil, a forma de recebimento dessas aeronaves é feita por via marítima, muito mais econômica e segura do que trazer os aviões voando ou desmontados a bordo de um avião cargueiro. O porto aonde acontece o embarque, fica em Norrköping, distante a apenas 50 km de Linköping. São poucos minutos de voo entre os dois aeroportos. De lá, os aviões são transportados pelas ruas da cidade, em um trajeto curto, até a instalação portuária. Os navios utilizados são especialmente contratados para a operação, trazendo a bordo, somente o avião e seu material de apoio.



Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva/Aviação em Floripa



Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva/Aviação em Floripa






Após a entrada no aeroporto, iniciou-se a fase final de preparação do FAB 4108 visando a sua decolagem. Essa etapa levou de 2 a 3 dias, tempo necessário para a instalação do assento ejetável e do kit de sobrevivência, além da verificação de todos os sistemas da aeronave e abastecimento. O dia 26 de setembro marcou a despedida do Gripen de Navegantes. Antes da decolagem porém, foi realizado um teste de giro de motor. O procedimento é importante e consiste no acionamento e taxiamento do avião até uma das cabeceiras da pista, com o objetivo de aferir se tudo está em pleno funcionamento, afinal de contas, a aeronave ficou três semanas sem voar ou sequer ser acionada. É um teste rápido, que leva poucos minutos e que serve também como uma simulação da decolagem. Ao chegar no final da pista, o piloto por alguns instantes, dá plena potência no motor e na sequência retorna para o pátio. Após uma rápida reunião entre os técnicos da Saab e os militares da FAB, se tudo está em perfeito funcionamento para um voo seguro até Anápolis, são realizados os procedimentos para a decolagem. Acompanhe abaixo, uma arte especialmente criada para esta matéria, mostrando os locais por onde o FAB 4108 passou, após sua entrada no Aeroporto, além das imagens do teste de motor e da decolagem.







Sempre que uma operação de entrega dessas é finalizada, surge o comentário que foi a última vez que a logística passou por Navegantes. Essa situação já aconteceu no passado e agora, com a chegada do FAB 4108, novamente os rumores se repetiram. Entretanto, de acordo com o estabelecido em contrato, ainda restam quatro F-39E Gripen a serem fabricados na Saab e enviados ao Brasil. Sendo assim, é possível afirmar que, pelo menos mais duas vezes, teremos a cidade catarinense como a porta de entrada dos aviões no Brasil. Outro aspecto interessante, diz respeito aos exemplares bipostos, que estão sendo desenvolvidos e construídos na Suécia, com o voo inaugural do protótipo, previsto para o ano que vem. Ainda é desconhecida fora dos meios oficiais, como será a forma de entrega dessa variante, porém, se a opção recair sobre o transporte por via marítima, a possibilidade que as aeronaves de dois assentos passem por Navegantes é quase certa.

O futuro próximo reserva momentos marcantes para os F-39 Gripen da Força Aérea Brasileira. Em novembro acontecerá em Natal/RN, o Exercício Cruzeiro do Sul (CRUZEX), um grande treinamento multinacional, organizado pela FAB, envolvendo a participação de diversos países. Será a estreia do F-39 em exercícios operacionais e a primeira vez em que os aviões brasileiros serão colocados à prova contra aeronaves de caça de outras forças aéreas. Além disso, a CRUZEX servirá como um laboratório, onde serão testadas e validadas táticas e doutrinas de emprego para o Gripen, principalmente na arena de combate BVR (Beyond Visual Range, ou Além do Alcance Visual), na qual os aviões se enfrentam sem ter contato visual, valendo-se dos seus sensores e armamentos. A expectativa é muito grande e desde já, os pilotos do 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), a Unidade Aérea que opera o modelo, vêm se preparando com dedicação para o treinamento. Com a chegada de mais exemplares e a formação de novos pilotos, é esperado para o ano de 2025, um novo marco operacional no processo de implantação do Gripen na FAB, que é o alcance da Capacidade Inicial de Combate (IOC, do inglês Initial Operational Capability). Quando isso acontecer, os F-39 Gripen começarão a realizar o Alerta de Defesa Aérea (ALEDA), na Base Aérea de Anápolis e efetivamente passarão a cumprir uma das missões para as quais são destinados, que é a defesa do espaço aéreo brasileiro. 

O Programa Gripen também tem boas perspectivas para 2025. Ano que vem, o primeiro F-39E Gripen produzido no Brasil fará o seu primeiro voo e na sequência será incorporado à FAB. Da mesma forma, em Linköping, na Suécia, o exemplar biposto, designado como F-39F Gripen, atualmente em fase final de construção, também fará seu voo inaugural e iniciará as etapas de testes e certificações. Com o reforço da linha de produção brasileira, espera-se que mais unidades do caça entrem em operação, abrindo também a possibilidade de que uma segunda Unidade Aérea da FAB passe a operar com o F-39 Gripen. Conforme comentado pelo site Aviação em Floripa, em matéria publicada no dia 2 de setembro (clique nesse link para acessá-la), a aquisição de mais exemplares do caça e/ou a compra de um segundo vetor de combate para substituir a curto prazo a frota de A-1 e F-5EM/FM, que se aproximam do fim de suas vidas úteis, permanece no horizonte de possibilidades.


terça-feira, 10 de setembro de 2024

Batalhão de Aviação da Polícia Militar: Águias em céus catarinenses

 


Mais um dia vai seguindo seu curso em Santa Catarina, entretanto, dentro da aparente ordem e tranquilidade, sempre há espaço para situações de risco ou emergência. É final da manhã em Florianópolis, capital do Estado. Uma ocorrência policial de grande vulto está em andamento. Um assalto a uma agência bancária na região central da cidade mobiliza diversas guarnições da Polícia Militar. Em perseguição aos criminosos, é solicitado o apoio aéreo do helicóptero "Águia 2". Em poucos minutos, a aeronave está no ar e com uma visão privilegiada de todo o cenário, desempenha um papel fundamental na ação, repassando informações valiosas para as equipes de solo, resultando no cerco e prisão dos assaltantes. Quase ao mesmo tempo, o "Águia 5" decola do Aeroporto Internacional Hercílio Luz, com a responsabilidade de transportar um órgão para transplante na cidade de Chapecó, distante a cerca de 400 quilômetros da capital catarinense.  Em pouco mais de 1 hora, o avião chega ao seu destino, garantindo o sucesso da missão. Em outro ponto do Estado, durante um voo rotineiro de patrulhamento na área rural de Lages, o helicóptero "Águia 4", identifica um grande desmatamento em área de preservação, relatando o fato aos órgãos de fiscalização e proteção ambiental. Já no início da tarde, uma situação de afogamento na praia central de Balneário Camboriú, necessita da intervenção do "Águia 7". Rapidamente o helicóptero é acionado e realiza o salvamento da vítima. Pouco tempo depois, no norte do Estado, um grave acidente na BR-101 contou com a presença do "Águia 1", para o transporte de uma pessoa em estado grave para uma Unidade Hospitalar na cidade de Joinville.

As situações que você acabou de ler, são todas fictícias, mas ilustram muito bem o cotidiano das equipes do componente aéreo da Polícia Militar de Santa Catarina e o dinamismo das atividades em que estão envolvidas diuturnamente, todos os dias. Há quase 40 anos, esse é o dia a dia da Unidade Aérea e de suas Companhias espalhadas pelo território catarinense. Olhos vigilantes e asas protetoras, que desempenham um papel fundamental junto à sociedade, traduzido em seu lema: "Voar para Servir!". Conheça a partir de agora, em matéria inédita elaborada pelo site Aviação em Floripa, um pouco da história, a estrutura, as aeronaves e muitas outras informações sobre o Batalhão de Aviação da Polícia Militar. Boa leitura!


No início da década de 80, o Estado de Santa Catarina, sobretudo a região do Vale do Itajaí, foi atingida por repetidos episódios de chuvas volumosas, trazendo em seu esteio, enchentes históricas em várias cidades, resultando em enormes prejuízos materiais e na perda de inúmeras vidas. Muito embora as Forças de Segurança tivessem desempenhado um grande esforço e dedicação nas missões de salvamento, a presença dos helicópteros da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil, mostrou-se fundamental nas ações de resgate, chegando com rapidez a locais inacessíveis por outros meios. Além do auxílio à população em situações de calamidade, um outro aspecto chamava a atenção. Nos meses de alta temporada (dezembro a fevereiro), o grande fluxo de turistas, principalmente no litoral catarinense, gerava um expressivo aumento no número de acidentes nas estradas. Por sua vez, praias e balneários registravam diversos casos de afogamentos, muitas vezes necessitando de rápida remoção da vítima para uma Unidade de Saúde. Tanto nas adversidades climáticas quanto nas ocorrências policiais rotineiras, o suporte aéreo mostrava seu valor, garantindo agilidade e eficiência nos atendimentos. Era chegado o momento de Santa Catarina ganhar suas próprias asas.

Em julho de 1983, o Estado de Santa Catarina foi castigado por chuvas severas. Em apoio à população, helicópteros da Força Aérea Brasileira e da Aviação Naval, fizeram-se presentes, em solidariedade ao povo catarinense, salvando vidas, transportando pessoas e donativos, demonstrando o valor do helicóptero em situações desta natureza. Fotos: José Ferreira da Silva (1); Portal de Indaial (2); Arquivo Santa (3); Eurico Dantas (4); Siegmar Starke (5); Autor desconhecido/Portal O Município; Autor desconhecido/Jornal A Tribuna do Vale (7).

Iniciou-se assim, um trabalho de convencimento junto ao Governo do Estado e ao Alto-Comando da Polícia Militar, com o objetivo de transformar em realidade, a demanda cada vez mais crescente e necessária por uma aeronave a serviço da sociedade catarinense. Enfim, o ano de 1986 ficou marcado pelo início das atividades aéreas na Polícia Militar, através da locação de um helicóptero, modelo Bell 206B Jet Ranger III, a fim de ser utilizado em apoio à Operação Veraneio 86/87. A semente foi plantada e em breve mostraria que a decisão havia sido assertiva. Aqui começa a história do Batalhão de Aviação da Polícia Militar, porém, antes de tudo, é preciso citar o Tenente-Coronel PM Asteróide da Costa Arantes.


Pode-se dividir a história da Aviação da Polícia Militar de Santa Catarina em três fases distintas, pautadas pela constante evolução das atividades aéreas, consolidadas mais à frente, com a criação do Batalhão de Aviação, em 2008. Os primeiros anos foram marcados pela locação de helicópteros para atuarem em um período específico de tempo, sempre durante a chamada Operação Veraneio, entre os meses de dezembro e fevereiro, um esforço concentrado de todas as Unidades subordinadas à Secretaria de Segurança Pública do Estado (Polícia Militar e Civil), no combate à criminalidade e em atendimento às demais questões de ordem pública e de bem-estar para os turistas e a própria população catarinense. Cabe ressaltar que nesta época, o Corpo de Bombeiros Militar ainda era vinculado à Polícia Militar, separação que só viria a acontecer a partir de junho de 2003. 

A temporada de verão 1986/87 representou o marco zero no emprego de aeronaves a serviço da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) e é considerado o ponto inicial na história do seu componente aéreo. O primeiro helicóptero a operar em céus catarinenses foi o Bell Modelo 206B Jet Ranger III com a Matrícula PT-HOM, pertencente à empresa Helair Aerotáxi. O pioneirismo da Polícia Militar na operação com helicópteros, frente aos demais integrantes da Segurança Pública estadual (que só viriam a ter sua aviação orgânica mais adiante), fez com que desde o começo, a atuação das aeronaves e das tripulações à serviço da PMSC, carregasse no seu DNA, o perfil multimissão. A gama de atividades era diversificada, incluindo buscas, resgates, salvamentos, ações de Defesa Civil, monitoramento ambiental, participação em ocorrências policiais, transporte de autoridades, apoio aos demais Órgãos Públicos estaduais, entre outras. Importante dizer que nessa primeira experiência, o helicóptero era comandado por Pilotos contratados, porém, já contava a bordo com equipes da Polícia Militar no atendimento às demandas. Embora a utilização da aeronave tenha sido extremamente positiva, o contrato não foi renovado após o seu término e levaria alguns anos até que um outro helicóptero fosse locado, fato que viria a repetir-se apenas para a Operação Veraneio de 1992/93.

Primeiro helicóptero a serviço da Polícia Militar de Santa Catarina. Foto: PMSC/Divulgação

Durante esse meio tempo, cientes dos benefícios e importância da utilização do vetor aéreo em apoio às necessidades da sociedade e com os resultados estatísticos da Operação Veraneio 1986/87 como prova, os defensores da ideia, trabalharam arduamente nos bastidores e em diversas frentes, a fim de viabilizar o retorno de uma aeronave o quanto antes. Nesse período, foram construídos os alicerces para a retomada da atividade aérea em Santa Catarina, com ênfase na necessidade que esta operação se tornasse permanente e parte integrante da Corporação. Inserida nesse contexto, foi elaborada uma proposta para a criação de uma Unidade Aérea orgânica e de como deveria ser a sua estrutura. Ao mesmo tempo, os primeiros Oficiais iniciavam seus cursos para tornarem-se Pilotos de Helicóptero. Entre os precursores, estavam o Tenente-Coronel Valmir Lemos, o Major Dárcio José Maiochi, o Capitão Giovani de Paula e os Tenentes Amorim e Coelho. Da mesma forma, o programa de capacitação de Praças como Tripulantes Operacionais tinha prosseguimento. 

Em 1992, as asas da Polícia Militar começaram a ganhar forma, com a institucionalização da atividade aérea no Estado. Como primeiro Comandante, foi escolhido o Tenente-Coronel PM Valmir Lemos, um dos Pilotos pioneiros da Corporação. O retorno de um helicóptero para Santa Catarina aconteceu no final daquele ano, em atendimento à temporada de verão 1992/93. Novamente foi seguindo o modelo anterior, ou seja, uma aeronave locada por tempo determinado, dessa vez, junto à empresa paranaense Helisul Táxi Aéreo, a qual viria a tornar-se, a partir de então, uma parceira importante no processo de consolidação da aviação na Polícia Militar de Santa Catarina. O aparelho escolhido dessa vez, foi um Helibras HB-350B Esquilo, mais potente, com melhor desempenho e maior versatilidade de emprego que o antecessor, características que tornaram esse helicóptero de origem francesa e fabricado sob licença no Brasil, um grande sucesso e um dos mais utilizados pelas forças policiais e de segurança por todo o território nacional. Da mesma forma que no contrato anterior, a aeronave era voada por pilotos civis, porém, agora ao seu lado, ganhando experiência e coordenando as ocorrências, encontravam-se os Oficiais da Polícia Militar que haviam obtido habilitação para voar. A partir desse momento, as locações passaram a acontecer todos os anos mas ainda de forma sazonal, entretanto, aos poucos, o processo foi ganhando força e importância, primeiro com o emprego de uma segunda aeronave para a temporada seguinte, culminando mais à frente, com a presença permanente de um helicóptero em Santa Catarina. O ano de 1996 foi marcado por um fato histórico, as operações aéreas passaram a ser cumpridas com toda a tripulação composta por Policiais Militares: Piloto, Coordenador de Missão/Segundo Piloto (2P) e Tripulantes Operacionais Multimissão. Essa independência era o que faltava para o próximo passo.

Helicóptero Esquilo a serviço da Polícia Militar de Santa Catarina. Foto: PMSC/Divulgação

O ano de 1998 trouxe o início de um novo tempo para a Polícia Militar de Santa Catarina, com o surgimento do seu Grupo Aéreo, oficializado mais tarde, pela Portaria nº 042/PMSC/2002, de 18 de fevereiro de 2002. Finalmente a Corporação ganhava sua Unidade Aérea orgânica, com sede própria, nome e identidade visual. Nascia dessa forma, o Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo da Polícia Militar de Santa Catarina (GRAER/PMSC), instalado em Florianópolis, junto ao Aeroporto Internacional Hercílio Luz, ocupando o hangar antes utilizado pelo Governo do Estado. Nessa época aconteceu também o primeiro processo seletivo interno da PMSC, com o ingresso de seis Oficiais que viriam a compor o quadro de Pilotos da Unidade, em apoio aos pioneiros da Aviação Policial. Os helicópteros em uso continuaram sendo locados, mas agora, permaneciam mais tempo a serviço da Polícia Militar. Essa mudança fez com que a Corporação ganhasse um quadro de Pilotos e Tripulantes dedicados às atividades aéreas de forma integral. Aos poucos o GRAER ia ganhando as feições de uma Unidade Aérea. Um outro fato importante ocorreu durante o ano de 2001, em Joinville, norte do Estado, com a criação da Base Avançada Joinville, efetivada no ano seguinte, iniciando a expansão das atividades aéreas da Polícia Militar em caráter permanente para outras regiões do Estado.

Algumas imagens dos primeiros anos de operação com helicópteros no GRAER. No destaque, o primeiro Emblema criado para a Unidade Aérea. Todas as fotos, exceto quando indicada: BAPM/PMSC/Divulgação

Embora pautado por muitas conquistas, o começo da Aviação da Polícia Militar de Santa Catarina também teve seus percalços. Na véspera de Natal de 1998, aconteceu o primeiro acidente aéreo do Grupo, quando o Esquilo com a Matrícula PT-YCJ, ao decolar do heliponto do Grupo de Busca e Salvamento (GBS) em Florianópolis, colidiu o rotor principal contra o solo, resultando em danos na aeronave, porém, sem vítimas. Em meados do ano seguinte, ocorreria a página mais triste na história da recém-criada Unidade Aérea. No fim da noite do dia 10 de junho de 1999, retornando de Joinville, norte do Estado, para a capital catarinense, o helicóptero trazendo a bordo o Secretário de Segurança Pública do Estado à época, Sr. Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, acidentou-se a cerca de 40 km do seu destino final. Não houve sobreviventes. Além do mandatário, faleceram na ocorrência os dois Pilotos, Tenente-Coronel PM Dárcio José Maiochi (então Coordenador do GRAER) e o jovem Tenente PM Alan Vargas Guimarães. O trágico episódio, como não poderia ser diferente, marcou a todos e acelerou a implementação de normas e procedimentos mais rígidos, sobretudo aqueles ligados à Segurança de Voo, de forma a estruturar formalmente a Unidade.

Em 2006, o GRAER ingressou em uma nova fase, com a incorporação de sua primeira aeronave de asa fixa, um Embraer EMB-711 Corisco (PT-NKL), que passou a ser designado como "Águia 3", em complemento aos dois helicópteros já utilizados pelo Grupo. A chegada desse vetor, incrementou a capacidade operacional, permitindo à Unidade Aérea, diversificar o seu leque de missões. No início do ano seguinte, outro Corisco, agora um EMB-711T (PT-NUY) também foi integrado. Importante dizer que esses aviões eram procedentes de sequestros judiciais e tiveram a Polícia Militar de Santa Catarina como sua fiel depositária enquanto prosseguiam seus processos na Justiça, uma prática comum a muitas aeronaves utilizadas pelas Forças de Segurança no Brasil. Em 2008, chegou um bimotor EMB-810 Seneca II (PP-FFY), doado pela Polícia Federal, aumentando para três, a quantidade de aeronaves de asa fixa a serviço da Polícia Militar. Em 2011, entretanto, por decisão da Justiça, o PT-NUY foi devolvido, assim, a frota passou a contar com dois aviões, situação que permanece até os dias atuais. Cabe ressaltar ainda que em 2018, outro Corisco (PT-RIY) em trâmite judicial, chegou a pertencer ao Batalhão de Aviação para ser utilizado em ações de fiscalização ambiental, porém, pouco tempo depois, no ano de 2021, a aeronave retornou ao seu proprietário de origem.

A chegada do "Águia 3" e do "Águia 5", possibilitaram à Polícia Militar de Santa Catarina, um significativo incremento nos serviços ofertados à sociedade catarinense, principalmente nas missões em apoio à Secretaria de Estado da Saúde, através do transporte de órgãos e de pacientes. Todas as fotos: BAPM/PMSC/Divulgação

Embraer EMB-711T Corisco. Foto: Juliano Damásio

EMB-711ST Corisco, anteriormente utilizado pela Polícia Militar de Minas Gerais, visto no hangar do Batalhão de Aviação, em Florianópolis. Foto: BAPM/PMSC/Divulgação

Após uma década de operação, com uma ficha de excelentes serviços prestados à sociedade catarinense, o Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo atingiu um novo patamar, quando pelo Decreto nº 1.392, de 8 de maio de 2008, foi elevado à categoria de Batalhão, passando a ser designado como Batalhão de Aviação da Polícia Militar (BAPM). O mesmo documento, entre outras providências, também estabeleceu a sua estrutura organizacional, dividida em Companhias, nas cidades de Florianópolis e Joinville. Ao mesmo tempo, criava as Bases de Balneário Camboriú, Chapecó, Lages e Criciúma, para ativação futura. A partir de 2010, a prática de locação de aeronaves se encerrou definitivamente, com a incorporação dos dois primeiros helicópteros próprios, o Esquilo com o prefixo PR-HTA (aeronave que já havia passado pela Corporação, operando a partir da Base Avançada Joinville) e o Koala com a matrícula PR-PMM, designados com os códigos "Águia 1" e "Águia 2" e sediados respectivamente em Joinville (2ª Companhia) e em Florianópolis (1ª Companhia). Os anos subsequentes de atividade do Batalhão presenciaram a chegada de mais dois helicópteros do modelo Esquilo, permitindo a ativação das Bases de Lages (5ª Companhia, em 2015) e de Balneário Camboriú (3ª Companhia, em 2019). Como homenagem a um dos maiores incentivadores pela implantação da atividade aérea na Polícia Militar, o Batalhão de Aviação é denominado como Batalhão "Tenente-Coronel PM Dárcio José Maiochi".

Desde seus primeiros anos de operação (1986-1998), passando pela criação do Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo (1998-2008) e, finalmente, transformando-se em Batalhão, a partir de 2008, a Aviação da Polícia Militar de Santa Catarina vem se destacando no cumprimento de suas atribuições e no apoio à sociedade. Nesses quase quarenta anos da presença das águias em céus catarinenses, foram milhares de acionamentos realizados e incontáveis vidas salvas. Entre as muitas missões de valor, que permanecem vivas na memória coletiva da população, está a atuação durante a chamada "Operação Arca de Noé", uma das maiores ações de resgate da história do Brasil, em virtude das enchentes ocorridas em Santa Catarina, em novembro de 2008, principalmente na região em torno do Morro do Baú, em Ilhota. A atividade envolveu a participação de dezenas de helicópteros das Forças Armadas e de Corporações Policiais dos quatro cantos do país. Importante destacar que todo o trabalho foi coordenado pelo Batalhão de Aviação catarinense, marcando o batismo de fogo da Unidade Aérea, no ano em que iniciava as suas atividades. Para se ter uma ideia da grandeza da operação, desde a Guerra das Falklands/Malvinas em 1982, uma ação real na América do Sul não envolvia tantas aeronaves atuando de forma conjunta em uma área específica (cerca de 26 helicópteros), quantidade apenas superada nesse ano de 2024, com a catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul. Falando nisso, helicópteros e equipes do BAPM estiveram entre as primeiras Unidades Aéreas a chegar ao Estado gaúcho. A atuação das águias catarinenses foi exemplar e repleta de situações de extrema coragem, superação e dedicação, com o único propósito de que outros pudessem viver. A participação do Batalhão de Aviação no episódio foi essencial, respondendo por uma significativa parcela do total de salvamentos realizados durante a operação.


Com o objetivo de cumprir suas missões, a frota de aeronaves à disposição do Batalhão de Aviação da Polícia Militar é formada na atualidade, por quatro helicópteros e dois aviões, sediados nas cidades de Florianópolis, Balneário Camboriú, Lages e Joinville. Entre os anos de 1986 e 2010, todos os helicópteros empregados pela Corporação eram provenientes de contratos de locação com empresas de Táxi Aéreo. Com a consolidação da aviação na Polícia Militar de Santa Catarina, através da criação e ativação de sua Unidade Aérea, essa prática foi abandonada. Dos quatro helicópteros empregados, dois foram adquiridos em 2010, com recursos públicos do Estado. Os outros dois, chegaram nos anos de 2015 e 2019, por intermédio de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), entre empresas e Órgãos Públicos catarinenses. Quanto aos aviões, um deles foi doado pela Polícia Federal e o outro é oriundo de processo judicial, nesse caso, tendo a Polícia Militar como fiel depositária, ou seja, a aeronave fica em posse do Estado enquanto se aguarda uma decisão de devolução ou não ao proprietário de origem. As aeronaves a serviço do Batalhão de Aviação da Polícia Militar são designadas com o código de chamada "Águia" e numeradas de acordo com a incorporação de cada uma delas à Unidade Aérea. A seguir, apresentaremos aos nossos leitores, um breve histórico da utilização desses códigos por parte dos meios aéreos empregados pela Polícia Militar de Santa Catarina. 

Quando o Batalhão de Aviação foi criado, em 2008, os dois helicópteros locados que eram operados na época, utilizavam os códigos "Águia 1" e "Águia 2". Essas designações foram mantidas para a dupla de aparelhos próprios adquiridos em 2010. Entre os anos de 2006 e 2018, a Unidade Aérea chegou a possuir quatro aviões em sua frota, numerados como "Águia 3" a "Águia 6". Com a devolução do "Águia 4" em 2011, esse código foi repassado ao helicóptero Esquilo incorporado em 2015. Em 2019, mais um Esquilo entrou em operação, recebendo a designação "Águia 7". Quanto ao "Águia 6", com o retorno da aeronave ao seu proprietário de origem, o código ficou vago, porém, foi utilizado por curto período em outro helicóptero Esquilo, alugado para emprego temporário com o Batalhão de Aviação. Quanto à distribuição geográfica, o "Águia 1" fica sediado em Joinville com a 2ª Companhia, "Águias 2, 3 e 5", em Florianópolis (1ª Companhia), "Águia 4", em Lages (5ª Companhia) e "Águia 7" em Balneário Camboriú (3ª Companhia). Embora tenham uma sede fixa, é importante dizer que de acordo com a necessidade operacional, todas as aeronaves podem atuar de qualquer uma das Bases de Aviação ou mesmo a partir de outros pontos do Estado.

Um raro registro, com todas as aeronaves do Batalhão de Aviação reunidas no pátio da 1ª Companhia, em Florianópolis. Foto: BAPM/PMSC/Divulgação



Operando a partir de suas Bases, os helicópteros do BAPM conseguem chegar com rapidez a todos os locais dentro de suas áreas de atuação imediata, com um excelente tempo de resposta. Com a capacidade máxima de combustível, os Esquilo B2 e o Koala, em caso de necessidade, têm autonomia suficiente para atingir qualquer ponto do território catarinense, em no máximo, 3h de voo. Fonte do infográfico: Elaboração própria

Quando se precisa vencer grandes distâncias em pouco tempo, a resposta são os aviões a serviço do Batalhão de Aviação. Uma das principais tarefas desempenhadas pela dupla, é o transporte de órgãos, em apoio à Secretaria Estadual da Saúde e ao SC Transplantes. Fonte do infográfico: Elaboração própria

Ao longo do tempo, a Polícia Militar de Santa Catarina empregou diversos esquemas de pintura em suas aeronaves. Os helicópteros alugados eram por vezes, utilizados com o padrão original da empresa locadora ou ganhavam uma pintura totalmente branca, complementada com as identificações visuais da Corporação e do Estado. Também podiam receber cores personalizadas para uso durante o período de permanência com a Unidade Aérea. A partir da ativação do Batalhão de Aviação e com a chegada das aeronaves próprias, adotou-se uma pintura em tom único de cáqui (similar à cor do fardamento da tropa), com as inscrições e marcações em preto, além do Emblema do Batalhão e da logomarca da Polícia Militar de Santa Catarina em pontos da fuselagem, esquema que se mantém na atualidade. A exceção é o "Águia 3" que, por se tratar de uma aeronave ainda em trâmite judicial, permaneceu com um padrão de pintura diferente.

Alguns dos esquemas de pintura utilizados pelos helicópteros da Polícia Militar de Santa Catarina.

O Batalhão de Aviação da Polícia Militar (BAPM) tem como principal objetivo, realizar missões aeropoliciais em apoio à Segurança Pública, garantindo eficácia e um excepcional tempo-resposta em todo o território catarinense. Para isso, a estrutura atual da Unidade compreende quatro Companhias, distribuídas nas cidades de Florianópolis (1ª Companhia), Joinville (2ª Companhia), Balneário Camboriú (3ª Companhia) e Lages (5ª Companhia). Além destas, o Decreto Estadual que criou e ativou o BAPM, com o objetivo de dar uma melhor cobertura ao Estado de Santa Catarina, estabeleceu mais duas Bases, no Oeste e Sul catarinenses (4ª e 6ª Companhias, nas cidades de Chapecó e Criciúma, respectivamente). Embora a ativação dessas Companhias dependa da ampliação da frota de aeronaves e de efetivo, é importante ressaltar que essas duas regiões encontram-se no momento, atendidas pelo componente aéreo da Polícia Civil de Santa Catarina (PC-SC), que conta com Bases Operacionais e helicópteros justamente nas cidades de Chapecó, através do Serviço Aeropolicial de Fronteira (SAER FRON) e em Criciúma, com o Serviço Aeropolicial Sul (SAER SUL).


Dentro do organograma da Polícia Militar de Santa Catarina, o Batalhão de Aviação é subordinado ao Comando de Missões Especiais (CME), Organização Militar que congrega todas as Unidades especializadas da PMSC. Além do Batalhão de Aviação, integram essa estrutura, o Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque), o Regimento de Polícia Militar Montada (RPMMon), a Companhia de Policiamento com Cães (CiaPolCães) e o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). Por sua vez, o Batalhão de Aviação, conforme já mencionado, encontra-se dividido em Companhias. Cada uma delas, é composta por Seções: Administrativa, Inteligência, Operações, Logística, Relações Públicas, Manutenção de Aeronaves e Segurança de Voo. 

O Batalhão de Aviação conta com um efetivo aproximado de uma centena de Policiais Militares, atuando nas funções de Comandante de Aeronave/1P, Comandante de Operações Aéreas/2P, Tripulante Operacional Multimissão, Apoio Solo e Administrativo. Desde o início das suas atividades em 1986, o BAPM já realizou mais de 37 mil missões, atendendo de forma direta, cerca de 12 mil pessoas, além da participação em operações e ocorrências policiais (com inúmeras prisões efetuadas com o apoio das aeronaves), eventos esportivos, transporte de autoridades em visita ao Estado e diversas outras situações. A Unidade Aérea é comandada atualmente pelo Tenente-Coronel PM Felipe Sommer, nomeado ao cargo a partir de 19 de julho desse ano, sendo o décimo oitavo Oficial da Polícia Militar de Santa Catarina a assumir a função, desde que a Polícia Militar institucionalizou a sua aviação orgânica.




A rotina no Batalhão de Aviação começa bem cedo, desde o nascer do dia e prolongando-se até o chamado pôr do sol aeronáutico, que nos meses de verão, pode se estender até próximo das 21 h. As atividades iniciam com a verificação de todos os equipamentos. Tudo em ordem, as aeronaves são retiradas do hangar e colocadas no pátio. A gama de missões realizadas pelas Companhias que compõem o Batalhão é extensa e diversificada, advindo daí, o caráter multimissão que é a marca registrada da Unidade Aérea, incluindo o suporte aéreo em ocorrências policiais, apoio à Defesa Civil em situações de resgates, salvamento aquático e terrestre, combate a incêndios, fiscalização ambiental, remoção de vítimas de acidentes para hospitais, transporte de pacientes e de órgãos para transplantes, entre outras.

Fonte da imagem: RBA TV, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=xM3jCHJluGA&t=248s

A tripulação padrão é composta por quatro Policiais Militares, sendo dois Pilotos (Comandante da Aeronave/1P e Comandante de Operações Aéreas/2P), além de dois Tripulantes Operacionais Multimissão. Cada um desses profissionais tem funções bem definidas. Atuando como um time, é a coordenação e o trabalho de equipe que garantem o sucesso das missões. Antes mesmo da aeronave ser retirada do hangar, cabe aos Tripulantes Operacionais, a conferência de todos os materiais e equipamentos que poderão ser utilizados no atendimento às ocorrências, além da reposição de itens, caso seja necessário. Por sua vez, os Pilotos têm a responsabilidade de realizar os procedimentos pré-voo (inspeção externa da aeronave e todos os check lists previstos para a sua operação segura). Outro momento importante antes da decolagem é o chamado briefing, uma reunião entre os membros da tripulação, na qual todos os aspectos relativos ao voo e à atividade que se vai executar, são repassados, discutidos e acertados. O dia a dia operacional pode incluir missões de instrução ou outras, agendadas previamente, além dos acionamentos de emergência, que não têm hora nem momento para acontecer. Nesse caso, o nível de treinamento dos militares garante que em poucos minutos, a aeronave esteja no ar para prestar apoio às ocorrências.

Fonte da imagem: RBA TV, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=xM3jCHJluGA&t=248s

Sediada em Florianópolis, nas dependências do Aeroporto Internacional Hercílio Luz, está a 1ª Companhia do Batalhão de Aviação da Polícia Militar (1ª Cia./BAPM). Sua história se confunde com o próprio surgimento da aviação orgânica da Corporação e da posterior criação do Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo (GRAER), uma vez que, até 2001, todas as atividades aéreas da Polícia Militar eram irradiadas a partir da capital catarinense. Essa mescla histórica fez com que a 1ª Companhia adotasse como Emblema, uma versão atualizada do símbolo utilizado pelos pioneiros da aviação na PMSC, como forma de homenagem e perpetuação do legado deixado por aqueles precursores. As aeronaves à disposição da Unidade, incluem o helicóptero AW-119 Koala ("Águia 2") e os dois aviões do Batalhão, um monomotor EMB-711 Corisco ("Águia 3") e um bimotor EMB-810 Seneca II ("Águia 5"). Por ser a única das quatro Companhias instalada junto a um Aeroporto, a facilidade de uso das pistas de pousos e decolagens, faz com que essas duas aeronaves tenham sua sede na capital catarinense.

A área para atendimento imediato da 1ª Companhia envolve todas as cidades que compõem a Grande Florianópolis litorânea e serrana, incluindo a Região Metropolitana, composta, além da Capital, pelos municípios de São José, Biguaçu, Palhoça, Águas Mornas, Antônio Carlos, Santo Amaro da Imperatriz, São Pedro de Alcântara e Governador Celso Ramos. O helicóptero "Águia 2" por sua versatilidade de emprego, é utilizado na maioria das missões sob responsabilidade da 1ª Companhia, entre elas, resgates e salvamentos em terra e mar, combate a incêndios, ocorrências policiais, patrulhamento urbano e rodoviário, entre outras. Quanto aos aviões, por sua capacidade de cobrir grandes distâncias em menor tempo, atuam de forma direta em todo o Estado de Santa Catarina. Por esse motivo, a principal atribuição dessas aeronaves está relacionada ao transporte, seja de órgãos para transplante, materiais diversos ou pessoas.

Todas as fotos: 1ª Cia./BAPM/Divulgação


A 2ª Companhia do Batalhão de Aviação da Polícia Militar (2ª Cia./BAPM) é herdeira direta da Base Avançada Joinville, criada em 2001, marcando o início da descentralização das atividades da Aviação da Polícia Militar. O aumento significativo da criminalidade na região, além da necessidade de maior agilidade no tempo de resposta às ocorrências de acidentes e salvamentos no litoral norte catarinense, motivaram o surgimento da Unidade, que iniciou suas atividades com cinco Pilotos e cinco Tripulantes Operacionais, deslocados a partir de Florianópolis. No começo, as operações da Base Avançada tinham o 8º Batalhão de Polícia Militar, como ponto de partida. A partir de 2007, a Unidade ganhou suas próprias instalações, junto a uma área cedida pelo DEINFRA no bairro Santo Antônio, em Joinville. No ano seguinte, com a criação do Batalhão de Aviação da Polícia Militar, a Base Avançada passou a ser designada como 2ª Companhia.

A Unidade, através do helicóptero "Águia 1", é responsável pelo atendimento aos municípios localizados nas regiões Norte e Nordeste do Estado de Santa Catarina. Pela faixa litorânea, a atuação da aeronave segue desde Itapoá até Barra Velha, totalizando, aproximadamente, 60 km de extensão em linha reta. Dentre os principais municípios atendidos estão as cidades de Jaraguá do Sul, São Francisco do Sul, Itapoá, Garuva, Araquari, Barra Velha, Barra do Sul, Mafra, Rio Negrinho, São Bento do Sul, São João do Itaperiú e Luís Alves. O leque de missões realizadas é diversificado e inclui o atendimento e apoio às ocorrências policiais; Busca e Salvamento (sobre terra e mar); ações de Defesa Civil; Atendimento Pré Hospitalar; Transporte de Órgãos; remoções Inter Hospitalares; Fiscalização Ambiental e de Trânsito; monitoramento de eventos; combate a incêndios; patrulhamento preventivo, entre outras. Desde sua implantação em 2001, a Unidade acumula um total de 15 mil missões, cerca de 11 mil horas de voo, milhares de pessoas socorridas, além de criminosos detidos com a participação da aeronave.

Todas as fotos: 2ª Cia./BAPM/Divulgação


A 3ª Companhia do Batalhão de Aviação da Polícia Militar (3ª Cia./BAPM), tem sua sede junto ao 12º Batalhão de Polícia Militar, na cidade de Balneário Camboriú, localizada no litoral norte catarinense. É a caçula dentro da estrutura do componente aéreo da Polícia Militar de Santa Catarina. Ativada em 2019, o surgimento da Unidade foi possível com a chegada do "Águia 7", um helicóptero Esquilo adquirido através de um Termo de Ajustamento de Conduta entre a Justiça e um grupo de construtoras da região de Balneário Camboriú. Assim como suas irmãs, a 3ª Companhia opera sob o caráter multimissão, atuando em ocorrências policiais, salvamentos aquáticos, busca terrestre e resgate, combate a incêndios florestais, apoio à Defesa Civil, transporte de órgãos, fiscalização ambiental, atendimento pré-hospitalar, auxílio ao SAMU e Corpo de Bombeiros, fiscalização de trânsito rodoviário e urbano, além de apoio a outras Instituições Públicas.

A Unidade atende de forma imediata, mais de 50 municípios, atuando na faixa litorânea do Estado entre as cidades de Tijucas a Balneário Piçarras, estendendo-se para o interior até Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí. Desde o início de suas atividades, em março de 2019, foram mais de 2.300 missões realizadas. Em média são cerca de 360 acionamentos por ano, voando aproximadamente 300 horas/ano, constituindo um total de 1.584 horas voo até o presente momento. Durante este período de operações, a aeronave atendeu um total de 498 pessoas e atuou de forma direta em cerca de 251 prisões de criminosos. Apenas neste ano, já voou mais de 150 horas, com cerca de 170 missões realizadas, dentre essas, prestou auxílio à população do Rio Grande do Sul, no desastre natural sem precedentes que assolou aquele Estado. A 3ª Companhia conta atualmente com um efetivo de 21 policiais de carreira, entre Pilotos, Tripulantes Operacionais Multimissão, além de pessoal de Apoio Solo e Administrativo.

Todas as fotos: 3ª Cia./BAPM/Divulgação


Em meados de 2014, a estrutura do Batalhão de Aviação da Polícia Militar contava com duas Bases, uma em Florianópolis e outra, em Joinville. Diante da necessidade de ampliar a atividade aérea para outros pontos do Estado, o Planalto Serrano, em função da quantidade de habitantes, posicionamento estratégico (ocupando a área central do Estado), potencial turístico, número de rodovias, além dos dados estatísticos que apontavam o aumento da criminalidade, despontou como prioridade para a implementação de uma Unidade Aérea. Cabe ressaltar que, nessa época, as demandas da região eram atendidas pela aeronave "Águia 2", a partir da capital catarinense. Entretanto, a presença do serviço aéreo de forma permanente (acima da barreira geográfica da Serra do Mar), prestando apoio nas atividades de Segurança Pública e de Defesa Civil se mostrava indispensável e assim, iniciaram-se esforços no sentido em atender essa necessidade, com o objetivo de diminuir o tempo de resposta em apoio às ocorrências policiais, assim como em missões de resgate, salvamentos e na tarefa de fiscalização ambiental. 

O projeto ganhou o apoio da Fundação do Meio Ambiente (FATMA), atualmente Instituto do Meio Ambiente (IMA) e do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC). Por intermédio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com duas empresas com passivos ambientais junto ao Estado de Santa Catarina, foram viabilizados os recursos para a aquisição de um helicóptero, materializado no Esquilo B2 com a Matrícula PT-HZL, que recebeu a designação "Águia 4". O dia 29 de maio de 2015 marcou a entrega e o início das operações do novo vetor a serviço do Batalhão de Aviação da Polícia Militar, irradiando seus voos a partir do Aeroporto Federal Antônio Correia Pinto de Macedo, na cidade de Lages. Não tardou para que a presença da aeronave começasse a apresentar resultados positivos para a comunidade serrana, através da prisão de criminosos e apreensão de drogas, flagrantes de crimes ambientais, combate a incêndios, transporte de órgãos e em resgates, salvamentos e remoção de vítimas de acidentes. Uma outra conquista recente da 5ª Companhia, oficializada a partir de junho desse ano, foi a presença permanente de uma equipe médica de forma exclusiva e dedicada às atividades da Unidade Aérea, garantindo também medicamentos e equipamentos de suporte à vida a bordo da aeronave. A implantação do Serviço Aeromédico reduziu de forma significativa o tempo de resposta em situações de resgate, atendimento ou remoção de vítimas para Unidades Hospitalares.

A 5ª Companhia do Batalhão de Aviação da Polícia Militar (5ª Cia./BAPM) em abril de 2019, mudou de sede, centralizando suas operações aéreas a partir das margens da Rodovia BR-282, junto às instalações do DEINFRA. Atualmente, a Unidade Aérea conta com um efetivo composto por um Comandante de Aeronave/1P, três Comandantes de Operações Aéreas/2P, nove Tripulantes Operacionais Multimissão e dois militares nas funções de Apoio Solo e Administrativas. Além deles, uma equipe formada por médicos e enfermeiros encontra-se diuturnamente à disposição, para o atendimento das ocorrências que demandam o apoio desses profissionais no suporte avançado. Com autonomia de combustível para três horas de voo, o helicóptero "Águia 4" atua de maneira imediata nos 18 municípios que compõem o Planalto Serrano e, em casos de necessidade, pode atuar com rapidez também sobre o Meio-Oeste, Oeste e Extremo-Oeste de Santa Catarina. Uma peculiaridade da Unidade Aérea diz respeito ao seu Emblema. Diferente das demais Companhias, que trazem a Águia, símbolo do Batalhão de Aviação, como elemento central em seus Escudos, a 5ª Companhia presta homenagem à Gralha Azul, ave típica da região. 

Todas as fotos: 5ª Cia./BAPM/Divulgação


O voo policial não tem rotina. É uma atividade que envolve trabalho em equipe, atenção, além de muito treinamento. Na maioria dos casos, a decolagem representa o atendimento de uma situação real, colocando à prova, os conhecimentos e habilidades de todos a bordo para lidar com qualquer ocorrência que necessite do apoio aéreo. Estar preparado para tudo é a palavra de ordem. A tripulação das aeronaves a serviço da Polícia Militar de Santa Catarina é composta por Oficiais e Praças da Corporação. Em certas situações, profissionais da Saúde também participam das missões, entretanto, a configuração mais usual é formada pelo Comandante da Aeronave/1P, um Comandante de Operações Aéreas/2P e dois Tripulantes Operacionais Multimissão. Cada uma dessas funções tem tarefas e responsabilidades específicas. Ao Comandante da Aeronave/1P, cabe a pilotagem em si. Ao seu lado, no assento da esquerda, vai o Comandante de Operações Aéreas/2P, na maioria dos casos, um Piloto em formação, ganhando experiência. Cabe a esse policial, o gerenciamento de toda a ocorrência, em contato permanente via rádio ou celular, com as guarnições em terra e com o Centro de Operações Policiais Militares (COPOM). Em caso de necessidade, ele também é capaz de pilotar a aeronave. Por sua vez, os Tripulantes Operacionais Multimissão, também conhecidos pela sigla TOM, são aqueles que vão executar toda a ação durante as missões. São profissionais com um nível altíssimo de treinamento, capacitados a atuar em ações policiais e de resgate, salvamento e primeiros socorros. Completando o efetivo a serviço das Companhias do Batalhão de Aviação, estão os militares responsáveis pelo apoio em solo e atividades administrativas.

Foto: BAPM/PMSC/Divulgação

Para se tornar um integrante do Batalhão de Aviação, independente da função que se vai exercer, o caminho passa por pertencer aos quadros da Polícia Militar e o acesso depende da oferta de vagas disponíveis. Não é necessário ter experiência prévia de voo. Para os Pilotos, tanto para aqueles que vão ingressar na Aviação de Asa Rotativa quanto na Asa Fixa, o requisito primordial é ser Oficial da Corporação. O treinamento é diferenciado, formando Pilotos de Helicópteros ou de Aviões, cada um deles preparado para voar o seu tipo de equipamento. Para ambas as habilitações, são cerca de cinco anos de muita dedicação e estudos para atingir o posto de Comandante de Aeronave. O primeiro passo é participar de processo seletivo interno, envolvendo entre outros critérios, a apresentação de diversas competências e habilidades físicas e intelectuais. Importante dizer que, a partir desse momento, todas as etapas são eliminatórias, com o candidato podendo ser desligado do processo a qualquer tempo, caso não atenda aos requisitos estabelecidos. 

Ao longo dos 5 anos de formação, são muitas etapas e cursos, como o treinamento de escape de aeronaves submersas, realizado com o apoio da Marinha do Brasil. Essa qualificação é essencial tanto para os candidatos a Piloto quanto para os Tripulantes Operacionais Multimissão. Fotos: BAPM/PMSC/Divulgação

A Polícia Militar de Santa Catarina obedece às regras e critérios exigidos pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para a formação de Pilotos. Para aqueles que não estão familiarizados com esses procedimentos, qualquer pessoa interessada em conduzir um helicóptero ou avião, precisa passar pelo curso de Piloto Privado (PP), habilitando-a para a utilização da aeronave para uso particular ou recreativo. Quando a mesma é empregada como ferramenta de trabalho, envolvendo atividade remunerada, é necessário também o curso de Piloto Comercial (PC). No caso do Batalhão de Aviação, tanto para os Pilotos de Asa Rotativa quanto para a Asa Fixa, ambos são obrigatórios para a função. Outros requisitos são comuns para as duas habilitações, como o Curso de Treinamento de Emergências, ministrado pelo Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx), em Taubaté/SP e o Curso de escape de aeronaves submersas (UTEPAS) junto à Marinha do Brasil, no Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval Almirante José Maria do Amaral (CIAAN), em São Pedro da Aldeia/RJ. Estágios e intercâmbios com a Aviação de Segurança Pública de outras Unidades da Federação também podem acontecer, complementando a formação. Importante dizer que os primeiros Policiais Militares de Santa Catarina habilitados para o voo, fizeram seus cursos com a Força Aérea Brasileira, Marinha do Brasil e Polícia Militar de Minas Gerais.

O curso de Piloto Privado é realizado em Escolas de Aviação Civil. A parte teórica, também chamada de Ground School, tem duração aproximada de 3 meses. Vencida esta etapa, o aluno faz uma prova, na qual seus conhecimentos sobre o funcionamento de uma aeronave, além da Teoria de Voo, Navegação Aérea, Meteorologia e Legislação Aeronáutica, são avaliados, com nota mínima 7 (sete) para aprovação. Atingida essa pontuação e com o Certificado de Capacidade Física em mãos, inicia-se a parte prática, que envolve cerca de 35 horas de voo em aeronave de instrução e mais 1 hora de voo adicional, com um Piloto Checador da ANAC a bordo, a fim de verificar se o candidato está apto a conduzir com segurança uma aeronave. Todo esse processo se repete para o curso seguinte, que é o de Piloto Comercial, porém, com um reforço na parte teórica e na fase de voo, exigindo agora um total de 65 horas de treinamento. Da mesma forma, a conclusão passa pelo voo de verificação. Importante dizer que o curso de Piloto Comercial, seja para habilitação em helicóptero ou avião, é realizado no próprio Batalhão de Aviação, utilizando-se as aeronaves que os futuros Pilotos da Corporação irão empregar em seu dia a dia.

A próxima etapa da formação como Piloto Policial Militar é o curso de Comandante de Operações Aéreas. Em sua parte teórica, inclui as normativas que regem o Batalhão de Aviação, conceitos de Operações Aéreas e adaptação para habilitação inicial no modelo de aeronave que se vai voar (currículo de solo e de voo, além de estágio como Observador Aéreo das práticas de voo e acompanhamento de cabine). Após a conclusão dessa fase, o Oficial começa a parte prática, cumprindo escala de serviço em uma das quatro Companhias do Batalhão, voando na função de Segundo Piloto (2P), ganhando experiência nos mais diversos tipos de missões. Depois de atingir 400 horas de voo, parte-se para os cinco estágios de Instrução de Voo: Alfa (adaptação aprofundada na aeronave; Bravo (navegação aérea); Charlie (voo de precisão); Delta (manobras operacionais multimissão) e; Echo (mais 50 horas de voo, operando em ocorrências reais como Comandante de Aeronave, sendo supervisionado por um Comandante Master). O nível de exigência é alto e a avaliação é constante. As fichas de desempenho de voo de cada fase, são submetidas e verificadas pelo Conselho de Voo do Batalhão, composto por todos os Comandantes de Aeronave da Unidade Aérea. Para aqueles que conseguem vencer todas as etapas, o prêmio é o tão almejado brevê e a oportunidade de colocar no macacão de voo, a tarjeta de identificação com as Asas da Polícia Militar de Santa Catarina, a fim de ingressar no rol dos "Águias" da PMSC. Até o momento em que você lê esta matéria, o Batalhão de Aviação formou 36 Pilotos como Comandante de Aeronave Policial Militar, sendo 32 qualificados para a operação com helicópteros e 4 para aviões (veja a tabela abaixo). O processo é contínuo e em breve novos Águias serão alçados à condição de Comandante de Aeronave.


Compondo a tripulação a bordo das aeronaves da Polícia Militar de Santa Catarina, estão os Operadores Aerotáticos, também conhecidos como Tripulantes Operacionais Multimissão (TOM). A própria designação da atividade já expressa o trabalho desses profissionais, considerados uma verdadeira Tropa de Elite dentro da Corporação, em função do nível de preparo e pela diversidade de situações em que são qualificados para atuar. "Muitos querem, alguns tentam, poucos conseguem". O lema do curso de formação dá a tônica exata das dificuldades que os candidatos irão enfrentar. A possibilidade de operar junto às aeronaves do Batalhão de Aviação atrai muitos candidatos, porém, as poucas vagas disponíveis e o treinamento rigoroso, fazem com que apenas os melhores e mais capacitados consigam o objetivo de ser tornar um Tripulante Operacional.

Fonte das fotos: https://www.youtube.com/watch?v=_E95uzzFsrI

A seleção é composta por diversas etapas, nas quais os candidatos são submetidos a exames médicos, testes de aptidão física, testes de habilidades específicas, exame psicológico e avaliação intelectual. Aqueles que passam essa fase inicial, realizam um curso com duração de quatro meses e 810 horas-aula. O conteúdo teórico e prático é dividido em disciplinas, destacando-se entre elas, Segurança de Voo, salvamento aquático, sobrevivência na terra e no mar, atendimento pré-hospitalar, salvamento em altura, procedimentos operacionais a bordo da aeronave, táticas policiais, tiro policial embarcado e também resgate veicular. Desde o ano 2000, o curso de Operador Aerotático da PMSC vem capacitando profissionais de excelência, inclusive tripulantes para Forças de Segurança de outras Unidades da Federação. Durante o transcorrer da formação, os alunos são submetidos à condições extremas de treinamento, visando a formação e o aprimoramento das capacidades técnicas, físicas e mentais, para que possam exercer o variado leque de missões atribuídas a eles. Desde o início das atividades aéreas na Polícia Militar de Santa Catarina, foram mais de uma centena de Tripulantes Operacionais formados.

Com qualquer tempo, a qualquer hora, preparados para todas as missões. Esse é o mantra que rege o trabalho dos Tripulantes Operacionais. Todas as fotos: BAPM/PMSC/Divulgação

Recentemente o Batalhão de Aviação ingressou em uma nova era, com o início do emprego de Aeronaves Não Tripuladas (UAs, do inglês, Unmanned Aircraft), popularmente conhecidas como drones. A ferramenta promete modernizar e fornecer uma maior eficiência nas operações aéreas, desempenhando um importante papel em apoio ao policiamento ostensivo, proporcionando uma visão aérea estratégica e reforçando o combate à criminalidade. Os aparelhos utilizados são do modelo DJI Mavic 3T, dotados de recursos de última geração, incluindo câmeras de alta resolução, capacidade de transmissão de vídeo em tempo real, sensores avançados de detecção e captura de imagens noturnas, através de imageamento térmico. Com capacidade de voar a grandes altitudes e cobrir vastas áreas em um curto período de tempo, além da discrição, o equipamento é utilizado em missões de busca e resgate, patrulhamento e monitoramento de áreas de risco. No momento, o Batalhão de Aviação da Polícia Militar vem capacitando profissionais pelo Estado na operação com os RPAs (Remotely Piloted Aircraft, ou Aeronave Remotamente Pilotada), além do aperfeiçoamento da doutrina de emprego com o novo tipo de vetor, baseada na atuação de forma coordenada e integrada aos demais componentes das forças de segurança, em diversos tipos de ocorrências. Muito em breve, a frota de Aeronaves Remotamente Pilotadas da Corporação ganhará o reforço do NAURU 500C ISR, um vetor projetado e fabricado no Brasil, com maiores dimensões e melhor desempenho, apresentando autonomia de 4 horas de voo e raio de operação de 60 Km.

Fonte do infográfico: BAPM/PMSC/Divulgação


Além da incorporação da nova ferramenta tecnológica, o Batalhão de Aviação segue formando e qualificando suas equipagens, através dos cursos de Pilotos e Tripulantes Operacionais Multimissão. Com relação às aeronaves, a perspectiva é a manutenção da frota atual, composta por quatro helicópteros e dois aviões, distribuídos pelas Companhias atualmente em operação, nas cidades de Florianópolis, Joinville, Balneário Camboriú e Lages. A ativação de novas Unidades, previstas para Chapecó e Criciúma, depende de recursos para a aquisição ou incorporação de novos meios aéreos.

"Quando há uma tormenta, os passarinhos escondem-se, as águias, porém, voam mais alto". Esta frase, proferida pela ex-Primeira-Ministra indiana Indira Gandhi, filha do grande Estadista Mahatma Gandhi, expressa muito bem o espírito dos integrantes do Batalhão de Aviação, através do legado dos pioneiros, das conquistas do passado e dos desafios do presente. Norteadas pelos princípios de preservar a ordem e proteger a vida, as Águias da Polícia Militar de Santa Catarina seguem voando e servindo com prontidão e eficiência, a sociedade catarinense.

Entre os responsáveis que contribuíram para o trabalho que você acabou de ler, está o Coronel PM Herlon Martins Ferreira, então Comandante do Batalhão de Aviação, quando fizemos nosso primeiro contato com a Unidade Aérea. Ao tomar conhecimento da intenção do site Aviação em Floripa em produzir um artigo a respeito da Aviação da Polícia Militar, prontamente abraçou a ideia, fornecendo total apoio para a realização dessa matéria. Da mesma forma, o atual Comandante do BAPM, Tenente-Coronel PM Felipe Sommer, seguiu os passos do seu antecessor, demonstrando o mesmo interesse e entusiasmo com o projeto. Agradecimentos especiais ao Coronel PM da Reserva Remunerada, Alessandro Felzcky, um dos Pilotos com mais experiência na Aviação da Polícia Militar de Santa Catarina, por colocar seus conhecimentos à disposição e principalmente, pela paciência e empenho demonstrados ao longo do caminho, respondendo com prontidão a todas as demandas, seja no levantamento de dados, informações ou dúvidas que iam surgindo com o andamento da pesquisa. Enfim, a todos que de alguma forma, auxiliaram na elaboração desse trabalho. Assim, é com satisfação e orgulho que entrego esse material e espero que possa se tornar uma referência e uma valiosa fonte de consulta e pesquisa para todos aqueles que desejam saber um pouco mais sobre a história e a trajetória das Asas da Polícia Militar de Santa Catarina.