Um parêntese nessa história, digno de nota, diz respeito à presença da Companhia Latécoère (mais tarde rebatizada como Aéropostale) em Florianópolis. No começo de 1925, o então campo de pouso da Ressacada recebeu uma missão francesa liderada pelo piloto Paul Vachet, tendo como objetivo, encontrar um local apropriado para servir como escala nas operações do serviço aéreo postal da empresa, ligando a Europa à América do Sul, sendo escolhida uma área no bairro Campeche para esta finalidade. O desfecho desta história é bem conhecido de todos e colocou Florianópolis não apenas na rota da aviação, mas também nas páginas da literatura mundial. Entre os pilotos da Companhia estava ninguém menos que Antoine de Saint-Exupéry, autor do clássico "O Pequeno Príncipe". Por diversas vezes, o piloto e escritor francês passou pela capital catarinense, deixando aqui profundas marcas que até os dias atuais permanecem vivas no bairro que abrigou o campo de pouso.
Desde o início, o Centro de Aviação Naval de Santa Catarina teve um papel fundamental em apoio ao Correio Aéreo Naval. No ano de 1934, um WACO CSO iniciou uma rota semanal, partindo do Galeão para Santos, Paranaguá e Florianópolis, itinerário este que passou a ser uma das Linhas-Tronco do Correio Aéreo Naval, ampliada na sequência, até a cidade de Rio Grande. Com a extensão dos voos até o extremo sul do país e o aumento da frequência (de uma para duas vezes por semana), a agora denominada Base de Aviação Naval de Florianópolis ganhou um reforço na sua infraestrutura, com a construção de uma rampa para o deslocamento das aeronaves da água para terra e vice-versa, além de melhorias no campo de pouso da Ressacada. Aviões de vários modelos, como os Vought Corsair, de Havilland DH-60 Moth e DH-82 Tiger Moth, entre outros, agora eram vistos com regularidade pelos céus da capital catarinense. Nos anos seguintes, a Base Aérea Naval de Florianópolis seguiu sua rotina de adestramento e em apoio ao serviço postal da Marinha, até a chegada da década de 40, quando uma grande mudança ocorreu na Aviação Militar brasileira.
Nas imagens acima, três aviões Savoia Marchetti S-55A durante passagem por Florianópolis, em fevereiro de 1932. Autor das fotos: Jorge Kfouri, via DPHDM/MB
Sai o Branco... entra o Azul!
O ano era 1941. A Segunda Guerra Mundial seguia em franca expansão dos combates pelo continente europeu e no fim daquele ano se tornaria global, com o ataque japonês a Pearl Harbor e a consequente entrada dos Estados Unidos no conflito. O componente aéreo centralizado em uma estrutura própria, unificando seu emprego e a tomada de decisões, era um conceito que já vinha sendo adotado com sucesso por diversos países e que teve sua importância validada de forma definitiva com a eclosão da guerra. No Brasil, essa ideia também ganhava força e assim, em 20 de janeiro de 1941, o Decreto-Lei nº 2.961 instituiu o Ministério da Aeronáutica, extinguindo as Aviações Militar e Naval e ao mesmo tempo criando as Forças Aéreas Nacionais, denominação esta alterada logo depois para Força Aérea Brasileira, pelo Decreto-Lei nº 3.302, de 22 de maio do mesmo ano.
Com a mudança, todos os meios aéreos, pessoal, equipamentos e instalações que pertenciam à Arma da Aeronáutica do Exército (Aviação Militar) e ao Corpo de Aviação da Marinha (Aviação Naval), foram incorporados à Força Aérea Brasileira. Assim, em 22 de maio de 1941, pelo mesmo Decreto (3.302/41), a outrora Base de Aviação Naval de Florianópolis passou a ser denominada como Base Aérea de Florianópolis, tendo como seu primeiro Comandante, o Tenente-Coronel Aviador Epaminondas Gomes dos Santos. Ao longo do tempo, a Base Aérea de Florianópolis recebeu diversas designações diferentes (veja figura abaixo), entretanto, a Organização Militar manteve-se como fiel guardiã do legado deixado por aqueles que iniciaram a história da aviação na capital catarinense.
Infográfico com a linha do tempo trazendo as diferentes denominações dadas pela Marinha e Força Aérea Brasileira. Autor: Marcelo Lobo da Silva
Nascida durante o calor dos combates da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira não demorou para ter seu batismo de fogo, primeiramente com o afundamento de um submarino italiano ao largo do litoral nordestino e logo depois, com a participação do 1º Grupo de Caça nos céus da Itália. Ao mesmo tempo, apoiando o esforço de guerra contra as forças do Eixo, diversos pontos da costa brasileira serviram como bases de apoio, de onde partiam aeronaves de países aliados e da FAB em missões de vigilância e patrulha, sobretudo contra a constante presença de submarinos alemães e italianos que, em suas ações, afundaram inúmeros navios mercantes, ceifando a vida de centenas de brasileiros. A Ilha de Santa Catarina, por sua posição estratégica, foi um destes locais e a Base Aérea de Florianópolis operou durante os anos de conflito, com aeronaves Martin PBM-3 "Mariner" da Marinha dos Estados Unidos e da própria Força Aérea Brasileira, como os Focke-Wulf 58 “Weihe”, Grumman J4F-2 “Duck” e Consolidated PBY-5 “Catalina”, entre outras, realizando missões de patrulha marítima e proteção de comboios ao longo da costa sul do Brasil.
Martin PBM-3 Mariner pertencente ao Esquadrão VP-74 da Marinha dos Estados Unidos. A aeronave da foto possivelmente operou a partir da Base Aérea de Florianópolis. As marcações de submarinos estampadas na fuselagem indicam a participação dela nos ataques aos U-Boats alemães U-128 e U-513, este último, afundado ao largo da capital catarinense, em 19/07/1943. Fonte da imgem: http://www.spmodelismo.com.br/howto/am/antissub2.php
Os primeiros anos de vida da Força Aérea Brasileira foram intensos. Além do engajamento e participação na Segunda Guerra Mundial, foi preciso forjar todo um conjunto de elementos para o funcionamento da nova arma aérea, tais como, a criação de diversas Organizações Militares e Unidades Aéreas, estabelecimento de doutrinas de emprego operacional, qualificação e treinamento de pessoal, entre tantas outras atribuições necessárias para o pleno emprego do Poder Aéreo. A Base Aérea de Florianópolis acompanhou essas mudanças. Em um intervalo curto de tempo, seguindo alterações na própria estrutura organizacional da FAB, a Base recebeu diferentes denominações: 14º Corpo de Base Aérea (1942), Base Aérea de 2ª Classe (1944) e Destacamento de Base Aérea (1947). As instalações e a infraestrutura para apoiar as aeronaves também tiveram um incremento substancial, com a pavimentação do pátio e pista de acesso, além da construção de diversas edificações em complemento ao conjunto já existente desde a época da Marinha. Entre as novas obras, estavam o prédio para abrigar o Comando da Base, imóveis residenciais e administrativos.
Construído entre os anos de 1942-43, o imponente prédio do Comando se destaca na paisagem e foi a primeira obra a ser concluída pela FAB na então recém-criada Base Aérea de Florianópolis. Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (arquivo pessoal)
A área anexa à Base Aérea de Florianópolis, antigamente conhecida como campo de pouso da Ressacada acompanhou o desenvolvimento da atividade aérea na capital, tornando-se o que é hoje o Aeroporto Internacional Hercílio Luz. Data de 1935, o primeiro voo de passageiros, ligando as cidades de Florianópolis e São Paulo, realizado pela empresa Aerolloyd Iguassú. A partir da década de 50, com a construção do pátio de estacionamento de aeronaves e da Estação de Passageiros, o local se modernizou para começar a receber aeronaves comerciais de maior porte. Em 1945, foi erguida pelos norte-americanos, a primeira Torre de Controle, feita de madeira, substituída por outra, de concreto, em fins da década de 60, época em que foi criado o Destacamento de Proteção ao Voo de Florianópolis. Em 1974, a empresa estatal INFRAERO recebeu a jurisdição do aeroporto e um novo Terminal de Passageiros foi inaugurado em 14 de agosto de 1976. Em 3 de outubro de 1995, o Aeroporto de Florianópolis foi elevado à categoria Internacional pelo então Ministério da Aeronáutica. Hoje em dia, é administrado pela iniciativa privada e conta com um novo e moderno Terminal de Passageiros, inaugurado em 28 de setembro de 2019. Suas duas pistas, a 14/32 (2.400 metros de extensão por 45 m de largura e pavimentação asfáltica) e 03/21 (1.320 m x 45 m, revestida por concreto), além de atender os tráfegos civis e comerciais, também são utilizadas pelas aeronaves militares que operam em Florianópolis. A Base Aérea de Florianópolis se conecta às pistas por um acesso chamado de Taxiway "C" ou "Charlie", ligação esta que existe desde os tempos de Marinha, cumprindo a mesma função, ou seja, naquela época, unindo o antigo Centro ao campo de pouso da Ressacada.
Registros fotográficos do Aeroporto de Florianópolis em fins da década de 60, com destaques para a pista 14/32 (em construção) e a Torre de Controle. Ao fundo nas imagens, pode se ver a pista 03/21, primeira a ser utilizada na capital catarinense, já pavimentada. Fonte das imagens: SCS/BAFL
Fonte: Livro "Base Aérea de Florianópolis: 90 anos de história".
Fontes: Livro "Base Aérea de Florianópolis: 90 anos de história"/SCS/BAFL
Aeronaves e Unidades Aéreas
Desde sua criação, em 1941, a Base Aérea de Florianópolis hospedou e operou com os mais diversos tipos de aeronaves. Em um primeiro momento, como já visto, a atividade aérea teve uma forte ligação com o apoio às ações de patrulhamento do litoral brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial. Com o término do conflito, a movimentação em seu pátio e hangares, de maneira geral, passou a estar relacionada ao contínuo e permanente adestramento da Força Aérea Brasileira, através de suas operações aéreas e treinamentos ou então, ao trânsito de aeronaves militares em passagem pela capital catarinense. Porém, havia a necessidade da Base ter seus próprios meios aéreos para realizar o transporte de pessoal, serviços administrativos fora da sede e a ligação com as demais Organizações Militares da FAB. Conhecidas como aeronaves orgânicas, a partir de meados da década de 40 até 2016, a Base Aérea de Florianópolis operou, de acordo com estudos realizados pelo entusiasta da aviação e pesquisador aeronáutico Giulliano Frassetto, variados modelos, tais como, Focke-Wulf Fw58 "Weihe", Beechcraft "Model 18" (AT-7/C-45), Consolidated CA-10 "Catalina", Vultee BT-15 "Valiant", North American T-6 "Texan" em diferentes versões, Neiva 360 "Regente", Embraer 810 "Seneca", Cessna 208 "Caravan", entre outros.
Infográfico com alguns dos modelos de aeronaves utilizados pela Base Aérea de Florianópolis, segundo o levantamento realizado pelo pesquisador Giulliano B. Frassetto. Autor: Marcelo Lobo da Silva
Aeronave Beechcraft AT-7/C-45, FAB 1598, em manutenção nos hangares da Base Aérea de Florianópolis. Foto: SCS/BAFL
U-42 Regente com a matrícula FAB 2994, utilizado pela BAFL entre os anos de 1988 e 1993, visto no Aeroclube de Santa Catarina. Foto: Giulliano B. Frassetto
C-95 Bandeirante, FAB 2176, no Portões Abertos de 2000. Foto: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
U-7 Seneca, FAB 2630, no pátio da Base Aérea de Florianópolis. Foto: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
C-98 Caravan, FAB 2706 em pintura cinza e branca (2011)...
...e camuflada (2014). Esta aeronave serviu à BAFL entre os anos de 2004 a 2016. Fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
Com relação às aeronaves de passagem pela capital catarinense, destaca-se em duas oportunidades (2008 e 2013), a presença da Fuerza Aerea Uruguaya (FAU) em Florianópolis, como uma das escalas técnicas em sua longa jornada até Natal/RN, a fim de participar das edições do Exercício Multinacional CRUZEX. Ao longo de sua história, a Base Aérea de Florianópolis, também recebeu vários Presidentes da República, Autoridades Militares e Chefes de Estado, em compromissos oficiais ao Estado de Santa Catarina. Nesse aspecto, uma das visitas mais marcantes foi a do Papa João Paulo II, em outubro de 1991, em sua viagem por diversas capitais brasileiras, incluindo Florianópolis.
Fuerza Aerea Uruguaya em Florianópolis (2013). Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
Quase todos os Presidentes do Brasil, militares e civis, passaram pelo pátio da Base Aérea de Florianópolis, por ocasião de compromissos na capital catarinense. Todas as fotos: SCS/BAFL
Passagem do Papa João Paulo II, pela Base Aérea, durante sua visita a Florianópolis, em outubro de 1991. Foto: SCS/BAFL
O início do ano de 1972 trouxe uma grande novidade para a Base Aérea de Florianópolis. Pela primeira vez a Organização Militar estava sediando uma Unidade Aérea, o 2º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação, conhecido como Esquadrão "Pelicano", um dos Esquadrões mais tradicionais e importantes da FAB, dedicado ao cumprimento de missões de Busca e Salvamento (SAR, do inglês Search And Rescue). O 2º/10º GAv foi criado em 6 de dezembro de 1957, na Base Aérea de São Paulo, em Cumbica, operando inicialmente aviões Grumman SA-16 "Albatroz" e helicópteros Sikorsky SH-19. Ao chegar a Florianópolis, o Esquadrão já tinha como seu vetor de asas rotativas, o Bell SH-1D atuando em conjunto com os "Albatroz". Ainda no mesmo ano, a Unidade recebeu os primeiros UH-1H, versão mais potente e capaz do SH-1D. Não demorou muito para que o treinamento e a capacidade de emprego da Unidade Aérea fossem colocadas à prova em seu novo lar. Nos anos de 1973-74, as cidades de Florianópolis e Tubarão (localizada no sul catarinense), respectivamente, foram atingidas por intensas chuvas, demandando um grande esforço e dedicação por parte de todos os integrantes em dezenas de horas voadas no socorro à população atingida pela catástrofe. Cerca de oito anos após sua chegada a Florianópolis, atendendo a novas diretrizes da FAB (que buscava uma localização mais central para sua Unidade especializada em Busca e Resgate e assim, poder atender com mais rapidez e agilidade, ocorrências em qualquer ponto do país), em 20 de outubro de 1980, o Esquadrão "Pelicano" se despediu da capital catarinense, sendo transferido para a Base Aérea de Campo Grande (MS), local onde permanece até os dias atuais.
Esquadrão Pelicano em Florianópolis (1972-1980). Todas as fotos: SCS/BAFL
Pouco tempo após a revoada dos Pelicanos para o Centro Oeste brasileiro, não tardou para que uma outra ave, desta vez, mitológica, fizesse seu "ninho" em Florianópolis. Estamos falando do Esquadrão "Phoenix". O 2º Esquadrão do 7º Grupo de Aviação foi criado pela Portaria Reservada nº 298/GM3, de 11 de setembro de 1981 e ativado em 15 de fevereiro de 1982, tendo como vetor, o P-95 Bandeirante Patrulha. Até meados da década de 70, a FAB possuía apenas um Esquadrão de Patrulha Marítima, o Esquadrão "Orungan", sediado em Salvador/BA e equipado com os Lockheed P-15 "Neptune", aviões com grande autonomia de voo mas já próximos da aposentadoria. Com a entrada em serviço do EMB-111 Bandeirante Patrulha, uma aeronave mais moderna, porém, com alcance menor, a FAB decidiu criar novas Unidades Aéreas com o objetivo de continuar tendo uma efetiva vigilância sobre o extenso litoral brasileiro. Este é o motivo principal que levou à criação do Esquadrão "Phoenix" (2º/7º GAv, Florianópolis/SC) e, algum tempo depois, do Esquadrão "Netuno" (3º/7º GAv, Belém/PA). Durante os anos em que operou na capital catarinense (1982-2016), era constante a presença dos "Bandeirulhas", como esses aviões são carinhosamente chamados, pelos céus da ilha e região próxima. Com sua silhueta característica e de fácil identificação, principalmente pelo seu proeminente radome que abriga o radar de busca, essas aeronaves se incorporaram à paisagem da capital catarinense e deixaram saudades por aqui, quando a Unidade Aérea foi transferida para a Base Aérea de Canoas, em fins de 2016.
Solenidade de ativação do 2º/7º GAv, em fevereiro de 1982. Fonte: SCS/BAFL
Primeiro voo operacional do Esquadrão Phoenix, em março de 1982. Fonte: SCS/BAFL
Esquadrão Phoenix em Florianópolis (1982-2016). Todas as fotos: CECOMSAER/FAB
Afiando o Sabre Alado
A Ilha de Santa Catarina, que abriga a maior parte da cidade de Florianópolis, é famosa pela sua exuberância paisagística e pelas belas praias. Sua posição estratégica já era há muito tempo conhecida, desde os tempos coloniais, prova disso, são as diversas fortalezas construídas pelos portugueses em seu entorno. Não por acaso, também foi escolhida pela Marinha como uma das guardiãs e ponto-chave para a defesa de nosso litoral. Após a criação da Base Aérea de Florianópolis, logo se percebeu que a geografia da ilha e região próxima, reuniam um conjunto de ambientes naturais ideais para o treinamento das diversas Unidades Aéreas da FAB, principalmente, aquelas ligadas à missão de Busca e Salvamento (SAR). Entre os principais atrativos, estavam a própria posição da Base Aérea de Florianópolis, de frente para a Baía Sul, uma porção abrigada de mar, com águas calmas, situada entre a costa oeste da ilha e a região continental. Localizada a poucos minutos de voo, resultando em substancial economia de tempo e combustível e por consequência, maior tempo útil de treinamento, a área oferece um cenário perfeito para a simulação de resgates em ambientes aquáticos. Outro aspecto favorável diz respeito ao próprio apoio logístico da Base, tanto para os integrantes das Unidades Aéreas (refeição, alojamento e assistência médica) quanto para as aeronaves (manutenção, abrigo e segurança). Fechando a tríade, que faz de Florianópolis um dos melhores locais do país para a realização de Operações Aéreas, está o baixo volume de tráfegos aéreos comerciais e civis, comparado com grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. Isso garante uma fluidez maior nas ações de decolagem e pousos e, ao mesmo tempo, diminui a chance de incidentes ou conflitos com outras aeronaves. Por trás de toda essa organização e controle no céu, está o fundamental apoio do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Florianópolis (DTCEA-FL), localizado junto ao Aeroporto Internacional Hercílio Luz e responsável por monitorar e gerenciar toda a movimentação aérea ao redor da capital catarinense.
Aviação de Caça reunida em Florianópolis para o TAC 2007. Fonte: SCS/BAFL
Pelo conjunto de motivos elencados no parágrafo anterior, ao longo do tempo, a Base Aérea de Florianópolis se tornou quase o segundo lar de algumas Unidades Aéreas da FAB, que aqui buscam realizar o treinamento e a qualificação de suas equipagens. Entre elas, podemos citar o Esquadrão "Pantera" (Santa Maria/RS) e seus rotineiros exercícios chamados de "Mata Pato" (Ataque contra alvos aéreos e terrestres) e "Guasca", focado na atividade de Busca e Salvamento. Outro frequentador assíduo é o Esquadrão "Gordo", com sede no Rio de Janeiro e equipado com os grandes quadrimotores C-130 Hércules (em processo de substituição pelo KC-390 Millennium), tendo a capital catarinense como palco de exercícios como o "ManeSAR", voltados para o adestramento de missões de Busca e Resgate sobre ambientes marítimos e terrestres.
Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
Florianópolis também recebe com frequência, treinamentos operacionais de maior envergadura, reunindo ao mesmo tempo, várias Unidades Aéreas e centenas de militares. Entre estes, podemos citar a FAEX, OPERAER e o Exercício Carranca. Em 2002, a Base participou da primeira edição de exercício multinacional CRUZEX (Brasil, França e Argentina), abrigando em sua sede, os caças supersônicos Northrop F-5E/F Tiger II do Esquadrão "Pampa" (Canoas/RS), que atuaram, dentro do contexto do exercício, como a força atacante do "País Vermelho". Outro destaque foi o Torneio da Aviação de Caça, em 2007, com a participação de todas as Unidades Aéreas de Caça da FAB de norte a sul do país, além de outros Esquadrões de apoio e convidados, totalizando cerca de 40 aeronaves de combate reunidas na capital catarinense.
Organizada pela extinta Segunda Força Aérea (II FAE), o treinamento reunia em Florianópolis, todos os Esquadrões de Patrulha, Asas Rotativas e Busca e Salvamento da FAB. Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
A OPERAER aconteceu no segundo semestre de 2002 e foi uma das maiores operações aéreas já realizadas em Santa Catarina, tanto em duração quanto no número de militares e aeronaves participantes. Todas as fotos: SCS/BAFL
Focada na atividade de Busca e Salvamento e sob coordenação do DECEA e COMPREP, o Exercício Operacional Carranca é um dos maiores treinamentos anuais da Força Aérea Brasileira. Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
Em maio de 2002, o Esquadrão "Pampa" deslocou parte de seus caças F-5E/F Tiger II para Florianópolis, como parte da primeira edição do Exercício Multifuncional CRUZEX. Fotos: SCS/BAFL / Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
Por ter abrigado durante muito tempo um Esquadrão de Patrulha, a Base Aérea de Florianópolis, em diversas ocasiões foi sede da Reunião da Aviação de Patrulha (RAP), realizada anualmente no mês de maio, congregando as suas Unidades Aéreas, composta por competições operacionais e desportivas, além de uma Solenidade Militar alusiva ao Dia da Aviação de Patrulha, comemorado no dia 22 de maio. Além da troca de experiências e intercâmbio, o encontro serve para reforçar os laços de amizade entre a nova e a velha geração de patrulheiros. Atualmente, as três Bases Aéreas da FAB que sediam Unidades Aéreas de Patrulha são, Santa Cruz/RJ (1º/7º GAv, Esquadrão "Orungan"), Canoas/RS (2º/7º GAv, Esquadrão "Phoenix") e Belém/PA (3º/7º GAv, Esquadrão "Netuno").
Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
A mão amiga da sociedade catarinense
Embora tenha um caráter essencialmente militar, a Base Aérea de Florianópolis desde sua criação, manteve uma relação muito próxima com a sociedade catarinense. Ao longo do tempo, os laços de amizade se fortaleceram de muitas formas. Em diversos momentos de sua história recente, Santa Catarina, foi marcada por eventos climáticos extremos, causando incontáveis prejuízos econômicos e a perda de centenas de vidas. Em todos esses episódios, a BAFL foi protagonista nas ações de ajuda e apoio à população, mobilizando seu efetivo e transformando seu pátio no ponto de partida para que as aeronaves pudessem prestar o necessário auxílio e socorro às vítimas. Nesse sentido, destaca-se o papel desempenhado pela Força Aérea Brasileira, por intermédio da Base Aérea de Florianópolis, nas catástrofes naturais de 1974, na região sul catarinense e nos anos de 1983 e 2008, no Vale do Itajaí.
Quando o socorro que vem do céu se fez necessário, lá estava a FAB para levar auxílio a quem mais precisava. Todas as fotos: FAB
O vínculo da Base Aérea de Florianópolis com a sociedade civil não se expressa apenas em situações de calamidade, mas também praticando a solidariedade, o incentivo à cidadania e à inclusão, através da presença em festividades e apoio a iniciativas sociais, culturais e esportivas. São inúmeras as atividades e projetos em benefício da população. Entre eles, podemos citar a participação da Base Aérea de Florianópolis nas edições da Feira da Esperança, evento organizado anualmente pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) em Florianópolis, com o objetivo de arrecadar recursos para o atendimento nas áreas de saúde, educação e assistência social para crianças, jovens e adultos. Ainda com relação à APAE, a Base promove em suas dependências, no mês de Janeiro, uma Colônia de Férias para os alunos da instituição. Durante quase três semanas, os participantes ficam hospedados nos alojamentos da BAFL e vivenciam experiências para ampliar o espírito de grupo, cooperação, dignidade e respeito. A Base Aérea, além de oferecer a hospedagem, proporciona o apoio médico e logístico para as diversas atividades culturais da programação.
Participantes da Colônia de Férias da APAE. Foto: BAFL
Outros dois projetos sociais de extrema relevância são o "Caravana do Ar" e o Programa Forças no Esporte (PROFESP). Enquanto o primeiro é uma iniciativa da própria Base Aérea de Florianópolis, voltado para as crianças residentes nas comunidades vizinhas à Instituição, o segundo é mais amplo e envolve diversas Organizações Militares da Força Aérea, Marinha e Exército pelo país afora. Entretanto, ambos apresentam os mesmos objetivos, ou seja, democratizar a prática e a cultura do esporte, além de promover o pleno exercício da cidadania e a inclusão, principalmente para as crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Os alunos que participam dos programas na BAFL, realizam as atividades duas vezes por semana, no contraturno escolar. Entre as modalidades oferecidas, estão a prática do rugby, muay thai, basquete, judô e aulas de música. Após uma pausa em 2020 por causa da pandemia, aos poucos os projetos estão sendo retomados.
Fotos: BAFL / Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
A caçula das práticas esportivas na Base Aérea de Florianópolis é a patinação artística. O projeto começou este ano e passou a integrar o Programa Forças no Esporte (PROFESP) da BAFL, atualmente coordenado pelo Coronel Tolosa. Além de propiciar um local para o treinamento e preparação da equipe comandada pelo técnico Alisson Gassen, visando as competições nacionais e internacionais, a chegada da patinação na BAFL vai proporcionar às crianças participantes do programa, a oportunidade de ter um contato mais próximo com um esporte ainda pouco difundido no país. De acordo com Caroline Assur, mãe de uma integrante da equipe e uma das responsáveis pela ida do projeto para a BAFL, as aulas inicialmente terão uma frequência semanal e atenderão seis crianças. Ela, que também é patinadora complementa, "ao longo do ano, iremos buscar a ampliação do projeto, comprando novos patins para inclusão de mais crianças. O interesse é divulgar o esporte pouco conhecido e, após essa iniciação, queremos através de novas oportunidades, incluir essas crianças nas competições tornando possível o ingresso delas na área profissionalizante, podendo também trazer oportunidades de uma carreira para elas".
Equipe de patinação artística nas dependências da BAFL. Fotos: Izabel Tozatto e Alisson Gassen, via Caroline Assur
O mês de outubro é de festa na Força Aérea Brasileira. O dia 23 marca a conquista definitiva do ar pela genialidade de um brasileiro, Alberto Santos Dumont. Neste dia, em 1906, o aviador alçou voo com seu 14 Bis, no Campo de Bagatelle, em Paris e, diante de uma plateia atônita e maravilhada, provou que voar por meios próprios e de forma sustentada, não era privilégio apenas dos pássaros. Em memória a este fato marcante, o dia 23 de outubro é reconhecido como o "Dia do Aviador" e o "Dia da Força Aérea Brasileira". Muito além dessa homenagem, as diversas Organizações Militares da FAB espalhadas pelo país, realizam uma série de atividades internas e externas durante o mês de outubro. A principal delas e a mais aguardada é o evento chamado de "Portões Abertos", um dia repleto de atrações e atividades, no qual a população tem a oportunidade em conhecer de perto as aeronaves e as atividades exercidas pelos militares da FAB. Na capital catarinense não é diferente e, em cada edição, o tradicional evento costuma atrair milhares de pessoas ao pátio da Base Aérea de Florianópolis. Sem acontecer desde 2019, por causa da pandemia, este ano a festividade retorna, tendo inclusive, sua data já confirmada para 14 de outubro.
Vista aérea do Portões Abertos da BAFL, em outubro de 2008. Fonte: SCS/BAFL
Portões Abertos da BAFL, na terra ou no céu, sempre uma grande festa! Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
A Base Aérea de Florianópolis hoje
A Base Aérea de Florianópolis (BAFL) está localizada na cidade de mesmo nome, capital do Estado de Santa Catarina. A missão da Base é a de proporcionar o apoio administrativo às Unidades sediadas, bem como às frações de Unidades Militares que estejam operando nela deslocadas. Além disso, tem por finalidade, executar as atividades de preparo e emprego das Unidades Militares subordinadas, desdobradas e em trânsito, bem como a execução dos processos finalístico, de gestão e de suporte, conforme diretrizes, planos e ordens dos Comandos Superiores. É subordinada operacionalmente ao Comando de Preparo (COMPREP, Brasília/DF) e administrativamente ao Quinto Comando Aéreo Regional (V COMAR, Canoas/RS). A Base Aérea de Florianópolis faz parte, juntamente com o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Florianópolis (DTCEA-FL), da Guarnição de Aeronáutica de Florianópolis (GUARNAE-FL), criada pela Portaria nº 331/GM3, de 3 de junho de 1991. A BAFL é composta pelas seguintes estruturas: Esquadrão de Comando (EC), Grupo Operacional (GOP), Grupo de Serviços de Base (GSB), Grupo Logístico (GLOG), Grupo de Segurança e Defesa (GSD) e Grupo de Saúde (GSAU). Seu atual Comandante é o Tenente-Coronel Aviador Jaques da Silva Valle, no cargo desde 11 de janeiro de 2022.
Estrutura atual da Base Aérea de Florianópolis. Todas as fotos: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal)
Fonte: BAFL
Fonte: BAFL
Fonte: BAFL
Agradecimentos
O site Aviação em Floripa parabeniza a Base Aérea de Florianópolis pelos seus 82 anos de criação e saúda também a Aviação Naval da Marinha do Brasil pelo pioneirismo em ter iniciado toda esta história, ajudando na consolidação da Aviação no Estado de Santa Catarina e no próprio desenvolvimento da capital catarinense. Gostaríamos de agradecer ao Comando da Base Aérea de Florianópolis e a sua Seção de Comunicação Social, que nos abriram todas as portas e deram acesso irrestrito para a pesquisa de imagens e informações em seus livros históricos. À Secretaria de Comando, pelos dados relativos ao atual Comandante. Agradecimento também à Marinha do Brasil pelo inestimável apoio, através da Diretoria de Patrimônio Histórico pelo envio de imagens do Centro de Aviação Naval de Santa Catarina. Enfim, a todos que de alguma forma, contribuíram e auxiliaram na realização desta matéria.
Bibliografia
FGV Projetos. 100 Anos da Aviação Naval no Brasil. Rio de Janeiro: FGV Projetos, 2016.
BAFL. Base Aérea de Florianópolis: 90 Anos de História. Florianópolis, 2013
FLORES JR, Jackson. Aeronaves militares brasileiras: 1916-2015. 1 ed. Rio de Janeiro: Action, 2015.
2º/10º GAv - Esquadrão Pelicano. Spotter, 2001. Disponível em: <http://www.spotter.com.br/ esquadroes/pelicano_02.htm>. Acesso em: 10 de abr. de 2023.
2º/7º GAv - Esquadrão Phoenix. Spotter, 2001. Disponível em: <http://www.spotter.com.br/esquadroes/ phoenix_02.htm>. Acesso em: 12 de abr. de 2023.
HISTÓRIA DA FORÇA AÉREA BRASILEIRA. História da Força Aérea Brasileira: 1996-2021, 1996. Disponível em: <https://historiadafab.rudnei.cunha.nom.br/>. Acesso em: 28 mar. 2023.
ARMAS NACIONAIS. Armas Nacionais: Modelismo & História, 2010. Disponível em: <https://www.armasnacionais.com/>. Acesso em: 17 abr. 2023.
AVIONS LEGENDAIRES. Avions Legendaires, 1998. Disponível em: <https://www.avionslegendaires.net/>. Acesso em: 20 abr. 2023.