Entre os dias 30 de outubro e 17 de novembro, o Estado do Rio Grande do Sul está sendo palco de uma das principais e maiores Operações anuais da Força Aérea Brasileira (FAB), o EXCON (Exercício Conjunto) Escudo-Tínia. Mais de 30 aeronaves, pertencentes às Aviações de Caça, Transporte, Asas Rotativas e Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (IVR), vindas de diferentes regiões do país estão participando do treinamento, que tem suas sedes nas Bases Aéreas de Canoas e Santa Maria. O nome do Exercício tem origem na mitologia etrusca, onde Tínia era o deus supremo e senhor dos ceús, comandando os raios e trovões. O site Aviação em Floripa preparou para seus leitores, uma matéria especial, com muitas fotos e informações sobre este importante treinamento da FAB. É este conteúdo que você passa a acompanhar a partir de agora. Boa leitura!
Um treinamento, múltiplos benefícios
O principal objetivo do Exercício Conjunto Escudo-Tínia é adestrar as Unidades Aéreas e de Defesa Antiaérea no cumprimento de ações com vistas a defender a soberania do espaço aéreo, atacar o território inimigo ou negar o uso do céu às aeronaves adversárias. Na edição deste ano, a manobra envolve cerca de 1.200 militares da Força Aérea Brasileira, Marinha do Brasil e Exército Brasileiro. Estão sendo empregadas em torno de 30 aeronaves da FAB, incluindo os caças F-5M Tiger II e A-1M; as aeronaves de transporte KC-390 Millennium e C-105 Amazonas; o helicóptero H-60 Black Hawk, os vetores de alerta em voo E-99M e de reconhecimento RQ-900 (veja quadro mais abaixo). Completando os meios aéreos, a Marinha do Brasil está participando pela primeira vez com aeronaves, utilizando seus caças AF-1B/C Falcão.
O Exercício representa a junção de dois grandes treinamentos da Força Aérea Brasileira que até o ano passado, aconteciam de forma separada, o Exercício Escudo Antiaéreo, sob responsabilidade do Comando de Operações Aerospaciais (COMAE), com a participação de Unidades de Artilharia Antiaérea pertencentes aos três braços das Forças Armadas; e o Exercício Tínia, coordenado e conduzido pelo Comando de Preparo (COMPREP), focado na simulação de guerra convencional ou regular, ou seja, envolvendo o embate entre forças militares de dois países ou de uma coalizão ou aliança entre nações. Realizado geralmente no mês de novembro, o Escudo-Tínia é o coroamento de todas as ações e atividades que as diversas Unidades Aéreas da FAB fizeram ao longo do ano e, neste momento, todos têm a oportunidade de trabalhar em conjunto e de forma integrada. Além disso, permite o intercâmbio, a troca de experiências e de informações e a padronização de procedimentos entre Força Aérea, Exército e Marinha. É um fechamento de ciclo com muitos benefícios e com uma grande carga de aprendizado.
Realizado desde 2019, o treinamento vem evoluindo ao longo tempo, incorporando novos cenários e elementos de forma a deixá-lo o mais realista possível. Prova inequívoca disso, como já mencionado, foi a união dos Exercícios Escudo Antiaéreo e Tínia. Para o Comandante da Base Aérea de Santa Maria e Co-Diretor do Exercício, Coronel-Aviador Luciano Antônio Marchiorato, esse casamento entre as duas operações é extremamente benéfico, pois se constitui em uma excelente oportunidade para conciliar as ações do preparo e o emprego dos meios e equipagens.
Um por Todos...Todos por Um!
O Exercício tem seus focos principais na Defesa Antiaérea e na execução de Missões Aéreas Compostas, também conhecidas pela sigla COMAO (do inglês Composite Air Operation), através do emprego de "pacotes" com diversos tipos de aeronaves com funções distintas e específicas, atuando de forma simultânea e coordenada em torno de um objetivo comum. É dessa forma que a moderna guerra aérea se desenvolve e emprega seus meios aéreos na atualidade. Estar treinado e qualificado nestas atividades é de suma importância. Além de buscar a consolidação doutrinária das Operações Aéreas Compostas, o exercício permite o adestramento técnico de Defesa Antiaérea e nesse ano, traz uma significativa mudança estratégica, contribuindo para tornar o treinamento mais complexo e tecnológico. Nas palavras do Diretor do Exercício, Coronel-Aviador Marcelo Zampier Bussmann, "o Exercício Escudo-Tínia 2023 traz componentes da área cibernética e espacial que estão sendo agregados às ações de Força Aérea para maximizar a nossa capacidade operacional dentro do contexto que foi colocado para o Exercício este ano". Durante o treinamento, estão sendo realizadas missões que abrangem as atividades de Alerta em Voo, Assalto Aeroterrestre, Ataque, Controle e Alarme em Voo, Defesa Antiaérea, Coleta e Defesa Cibernética, Escolta, Policiamento do Espaço Aéreo, Posto de Comunicação Aeroespacial, Reabastecimento em Voo, Reconhecimento Aeroespacial, Ressuprimento Aéreo, Segurança das Instalações, Supressão de Defesa Antiaérea Inimiga, Transporte Aéreo Logístico e Varredura. Ainda de acordo com o Oficial, estão previstas durante as três semanas de duração da manobra, cerca de 900 horas de voo, as quais na sua percepção, representam uma quantidade adequada e suficiente para o cumprimento dos objetivos propostos para o treinamento.
Os meios aéreos estão distribuídos entre as Bases Aéreas de Canoas e Santa Maria. Enquanto a primeira abriga os caças F-5EM/FM Tiger II e os aviões de alerta em voo E-99M, todos os demais participantes estão agrupados e operando a partir de Santa Maria. Cada voo realizado no treinamento, reúne diversas aeronaves decolando de locais diferentes, cada uma delas com desempenho e envelopes de emprego distintos, sendo necessário uma grande coordenação para que todos consigam estar sobre o objetivo ao mesmo tempo. Com o passar dos dias, o nível de complexidade das missões vai aumentando, exigindo tanto das tripulações quando dos militares envolvidos nas demais tarefas em solo, um alto grau de preparo, organização e atenção. Por sua vez, as Unidades de Artilharia Antiaérea da FAB, Marinha e Exército, encontram-se localizadas em áreas nas regiões de Santana da Boa Vista e Caçapava do Sul, interior do Rio Grande do Sul. Nesses locais foi montada uma logística completa de forma a apoiar a operação e funcionamento dessas Unidades, com alojamentos, alimentação, Hospital de Campanha, estruturas de Comando e Controle, entre outras.
Um exercício desse porte, com tantas aeronaves militares em voo ao mesmo tempo, requer também um grande trabalho de monitoramento e controle do espaço aéreo, a fim de garantir a segurança de voo e a operação dos demais usuários. Esta tarefa está a cargo do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), através do 2º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Espaço Aéreo (CINDACTA II), localizado em Curitiba/PR e do 2º Esquadrão do 1º Grupo de Comunicação e Controle (2º/1º GCC), com sede em Canoas. Durante o período de vigência do treinamento, foram criadas regiões específicas para as operações aéreas, cada uma delas com áreas e limites verticais bem definidos e divulgadas através de NOTAMs (Notificações Aeronáuticas), documento que todos os Pilotos precisam consultar e ter ciência antes de realizarem seus planos de voo. Segundo o Coronel Bussmann, um dos atrativos ou principais razões pelas quais o treinamento ocorre no Rio Grande do Sul, além da proximidade entre as duas Bases Aéreas, é justamente a ausência de um grande volume de tráfegos aéreos civis e comerciais (comparado com outras regiões do país), minimizando o risco de conflitos ou acidentes e permitindo uma maior liberdade e fluidez nas operações.
No conjunto de aeronaves participantes do Exercício Escudo-Tínia, cada uma tem o seu papel ou função para garantir o sucesso da missão. Os caças F-5 Tiger II são os responsáveis tanto em prover a defesa das outras aeronaves quanto em tentar abatê-las; os aviões de alerta em voo E-99M utilizam seu grande radar aerotransportado para a vigilância do espaço aéreo e para a identificação de ameaças; a Aeronave Remotamente Pilotada RQ-900 tem a atribuição de fazer o reconhecimento do terreno e tentar identificar as posições da artilharia antiaérea, que serão alvo de ataques dos A-1M da FAB e AF-1 Falcão da Marinha; os aviões de transporte C-105 Amazonas e KC-390 Millennium, executam o transporte logístico e o lançamento de cargas e paraquedistas e o KC-390, ainda provê o Reabastecimento em Voo dos F-5M, A-1M e AF-1; os helicópteros H-60 Black Hawk, realizam incursões a baixa altura sobre o terreno, na busca e resgate de Pilotos abatidos. Por sua vez, as tropas em solo, munidas de mísseis antiaéreos portáveis (com grande poder de mobilidade e de difícil localização), representam uma grande ameaça e desafio para todas as aeronaves. Tudo isso demonstra o dinamismo, a complexidade e o nível de dificuldade presentes no treinamento.
A estreia dos Falcões dos Mares
Um dos destaques e uma novidade
deste ano do Exercício Escudo-Tínia é a presença do 1º Esquadrão de Aviões de
Interceptação e Ataque da Marinha do Brasil, também conhecido como Esquadrão
VF-1, sediado na cidade de São Pedro da Aldeia/RJ. Participando pela primeira vez de
treinamento, os homens e máquinas atualmente comandados pelo Capitão de Mar e
Guerra José Assunção Chaves Neto, estão operando ao lado do A-1M da FAB,
cumprindo missões de supressão das defesas antiaéreas das forças inimigas, uma
tarefa que requer voar baixo e rápido para não ser detectado pelos radares nem
ser engajado pelos armamentos terra-ar, exigindo uma enorme carga de tensão e
atenção dos Pilotos. Duas aeronaves estão atuando a partir de Santa Maria, os
Falcões com as matrículas N-1004 (AF-1B, monoposto) e N-1021 (AF-1C, biposto), dois
dos seis aviões da versão modernizada, que atualmente compõem a frota da
Unidade Aérea.
A participação dos aviões da
Marinha é de grande relevância, pois reforça a questão da interoperabilidade
entre as Forças e oportuniza ao Esquadrão e seus integrantes, atuar em conjunto
com outros tipos de aeronaves, permitindo a padronização de procedimentos e o
aprendizado e a troca de conhecimentos, táticas e doutrinas de emprego, algo
que é benéfico para todos. Este intercâmbio é um dos objetivos secundários do
Exercício Escudo-Tínia, algo sempre importante e valioso em operações desta
magnitude.
Tigres em ação
Ainda não foi desta vez que o novíssimo caça da FAB e substituto dos F-5 num futuro próximo, o F-39 Gripen, fez sua estreia em uma operação. Alocados ao 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), com sede em Anápolis/GO, o modelo entrou em serviço em dezembro de 2022 e encontra-se no momento em fase de implantação junto à Unidade Aérea e qualificação dos Pilotos que irão voá-lo, buscando atingir a Capacidade Inicial de Operação (IOC, do inglês Initial Operational Capability). Para as próximas edições do Exercício Escudo-Tínia, bem como em outros grandes treinamentos que a FAB participa, o F-39 será presença constante.
Agradecimentos à Força Aérea Brasileira, ao Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER) e à Direção do Exercício Escudo-Tínia pela oportunidade em participar de um dia de atividades do treinamento, possibilitando a coleta das informações e o registro das imagens que ilustram essa matéria.
7 comentários:
Fato interessante que vc abordou no final, e a ausência do Gripen, pelo menos uns dois poderiam participar.
Seria bacana falar um pouco do papel dos AF-1 nesse exercício junto com os A-1. Vejo que finalmente os falcões estão participando desses exercícios integrando mais ainda as forças.
Parabéns pela excelente materia Marcelo,aquele abraço Canoense,do amigo Cauê/Canal Notícias Digitais
Os F-39 ainda não estão aptos a participar de exercícios, pois estão em fase de implantação e de capacitação dos pilotos.
Excelente matéria. Apenas uma correção: na tabela das aeronaves participantes, na realidade o F-5EM 4825 pertence ao Pampa e o 4826 pertence ao Grupo de Caça. Estão invertidos na tabela.
Bom dia. Reportagem gigante na qualidade e no tamanho. Parabéns. Muito obrigado.
Tabela corrigida. Obrigado pela observação!
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