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domingo, 12 de novembro de 2023

Exercício Escudo-Tínia 2023: A FAB "em guerra" no Sul

 

Entre os dias 30 de outubro e 17 de novembro, o Estado do Rio Grande do Sul está sendo palco de uma das principais e maiores Operações anuais da Força Aérea Brasileira (FAB), o EXCON (Exercício Conjunto) Escudo-Tínia. Mais de 30 aeronaves, pertencentes às Aviações de Caça, Transporte, Asas Rotativas e Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (IVR), vindas de diferentes regiões do país estão participando do treinamento, que tem suas sedes nas Bases Aéreas de Canoas e Santa Maria. O nome do Exercício tem origem na mitologia etrusca, onde Tínia era o deus supremo e senhor dos ceús, comandando os raios e trovões. O site Aviação em Floripa preparou para seus leitores, uma matéria especial, com muitas fotos e informações sobre este importante treinamento da FAB. É este conteúdo que você passa a acompanhar a partir de agora. Boa leitura!


Um treinamento, múltiplos benefícios

O principal objetivo do Exercício Conjunto Escudo-Tínia é adestrar as Unidades Aéreas e de Defesa Antiaérea no cumprimento de ações com vistas a defender a soberania do espaço aéreo, atacar o território inimigo ou negar o uso do céu às aeronaves adversárias. Na edição deste ano, a manobra envolve cerca de 1.200 militares da Força Aérea Brasileira, Marinha do Brasil e Exército Brasileiro. Estão sendo empregadas em torno de 30 aeronaves da FAB, incluindo os caças F-5M Tiger II e A-1M; as aeronaves de transporte KC-390 Millennium e C-105 Amazonas; o helicóptero H-60 Black Hawk, os vetores de alerta em voo E-99M e de reconhecimento RQ-900 (veja quadro mais abaixo). Completando os meios aéreos, a Marinha do Brasil está participando pela primeira vez com aeronaves, utilizando seus caças AF-1B/C Falcão.

O Exercício representa a junção de dois grandes treinamentos da Força Aérea Brasileira que até o ano passado, aconteciam de forma separada, o Exercício Escudo Antiaéreo, sob responsabilidade do Comando de Operações Aerospaciais (COMAE), com a participação de Unidades de Artilharia Antiaérea pertencentes aos três braços das Forças Armadas; e o Exercício Tínia, coordenado e conduzido pelo Comando de Preparo (COMPREP), focado na simulação de guerra convencional ou regular,  ou seja, envolvendo o embate entre forças militares de dois países ou de uma coalizão ou aliança entre nações. Realizado geralmente no mês de novembro, o Escudo-Tínia é o coroamento de todas as ações e atividades que as diversas Unidades Aéreas da FAB fizeram ao longo do ano e, neste momento, todos têm a oportunidade de trabalhar em conjunto e de forma integrada. Além disso, permite o intercâmbio, a troca de experiências e de informações e a padronização de procedimentos entre Força Aérea, Exército e Marinha. É um fechamento de ciclo com muitos benefícios e com uma grande carga de aprendizado.


Linha de voo dos caças F-5EM/FM Tiger II, em Canoas/RS.

Lançamento de paraquedistas do Exército Brasileiro a partir de aeronave C-105 Amazonas. Foto: Ângelo dos Santos Melo

Realizado desde 2019, o treinamento vem evoluindo ao longo tempo, incorporando novos cenários e elementos de forma a deixá-lo o mais realista possível. Prova inequívoca disso, como já mencionado, foi a união dos Exercícios Escudo Antiaéreo e Tínia. Para o Comandante da Base Aérea de Santa Maria e Co-Diretor do Exercício, Coronel-Aviador Luciano Antônio Marchiorato, esse casamento entre as duas operações é extremamente benéfico, pois se constitui em uma excelente oportunidade para conciliar as ações do preparo e o emprego dos meios e equipagens.



Um por Todos...Todos por Um!

O Exercício tem seus focos principais na Defesa Antiaérea e na execução de Missões Aéreas Compostas, também conhecidas pela sigla COMAO (do inglês Composite Air Operation), através do emprego de "pacotes" com diversos tipos de aeronaves com funções distintas e específicas, atuando de forma simultânea e coordenada em torno de um objetivo comum. É dessa forma que a moderna guerra aérea se desenvolve e emprega seus meios aéreos na atualidade. Estar treinado e qualificado nestas atividades é de suma importância. Além de buscar a consolidação doutrinária das Operações Aéreas Compostas, o exercício permite o adestramento técnico de Defesa Antiaérea e nesse ano, traz uma significativa mudança estratégica, contribuindo para tornar o treinamento mais complexo e tecnológico. Nas palavras do Diretor do Exercício, Coronel-Aviador Marcelo Zampier Bussmann, "o Exercício Escudo-Tínia 2023 traz componentes da área cibernética e espacial que estão sendo agregados às ações de Força Aérea para maximizar a nossa capacidade operacional dentro do contexto que foi colocado para o Exercício este ano". Durante o treinamento, estão sendo realizadas missões que abrangem as atividades de Alerta em Voo, Assalto Aeroterrestre, Ataque, Controle e Alarme em Voo, Defesa Antiaérea, Coleta e Defesa Cibernética, Escolta, Policiamento do Espaço Aéreo, Posto de Comunicação Aeroespacial, Reabastecimento em Voo, Reconhecimento Aeroespacial, Ressuprimento Aéreo, Segurança das Instalações, Supressão de Defesa Antiaérea Inimiga, Transporte Aéreo Logístico e Varredura. Ainda de acordo com o Oficial, estão previstas durante as três semanas de duração da manobra, cerca de 900 horas de voo, as quais na sua percepção, representam uma quantidade adequada e suficiente para o cumprimento dos objetivos propostos para o treinamento.

Coronel-Aviador Marcelo Zampier Bussmann, Diretor do Exercício. Foto: FAB/Divulgação

Localidades que estão participando do treinamento desse ano.

Os meios aéreos estão distribuídos entre as Bases Aéreas de Canoas e Santa Maria. Enquanto a primeira abriga os caças F-5EM/FM Tiger II e os aviões de alerta em voo E-99M, todos os demais participantes estão agrupados e operando a partir de Santa Maria. Cada voo realizado no treinamento, reúne diversas aeronaves decolando de locais diferentes, cada uma delas com desempenho e envelopes de emprego distintos, sendo necessário uma grande coordenação para que todos consigam estar sobre o objetivo ao mesmo tempo. Com o passar dos dias, o nível de complexidade das missões vai aumentando, exigindo tanto das tripulações quando dos militares envolvidos nas demais tarefas em solo, um alto grau de preparo, organização e atenção. Por sua vez, as Unidades de Artilharia Antiaérea da FAB, Marinha e Exército, encontram-se localizadas em áreas nas regiões de Santana da Boa Vista e Caçapava do Sul, interior do Rio Grande do Sul. Nesses locais foi montada uma logística completa de forma a apoiar a operação e funcionamento dessas Unidades, com alojamentos, alimentação, Hospital de Campanha, estruturas de Comando e Controle, entre outras.




Áreas reservadas para o Exercício Escudo-Tínia. Fonte das imagens: https://aisweb.decea.mil.br/

Um exercício desse porte, com tantas aeronaves militares em voo ao mesmo tempo, requer também um grande trabalho de monitoramento e controle do espaço aéreo, a fim de garantir a segurança de voo e a operação dos demais usuários. Esta tarefa está a cargo do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), através do 2º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Espaço Aéreo (CINDACTA II), localizado em Curitiba/PR e do 2º Esquadrão do 1º Grupo de Comunicação e Controle (2º/1º GCC), com sede em Canoas. Durante o período de vigência do treinamento, foram criadas regiões específicas para as operações aéreas, cada uma delas com áreas e limites verticais bem definidos e divulgadas através de NOTAMs (Notificações Aeronáuticas), documento que todos os Pilotos precisam consultar e ter ciência antes de realizarem seus planos de voo. Segundo o Coronel Bussmann, um dos atrativos ou principais razões pelas quais o treinamento ocorre no Rio Grande do Sul, além da proximidade entre as duas Bases Aéreas, é justamente a ausência de um grande volume de tráfegos aéreos civis e comerciais (comparado com outras regiões do país), minimizando o risco de conflitos ou acidentes e permitindo uma maior liberdade e fluidez nas operações.







No conjunto de aeronaves participantes do Exercício Escudo-Tínia, cada uma tem o seu papel ou função para garantir o sucesso da missão. Os caças F-5 Tiger II são os responsáveis tanto em prover a defesa das outras aeronaves quanto em tentar abatê-las; os aviões de alerta em voo E-99M utilizam seu grande radar aerotransportado para a vigilância do espaço aéreo e para a identificação de ameaças; a Aeronave Remotamente Pilotada RQ-900 tem a atribuição de fazer o reconhecimento do terreno e tentar identificar as posições da artilharia antiaérea, que serão alvo de ataques dos A-1M da FAB e AF-1 Falcão da Marinha; os aviões de transporte C-105 Amazonas e KC-390 Millennium, executam o transporte logístico e o lançamento de cargas e paraquedistas e o KC-390, ainda provê o Reabastecimento em Voo dos F-5M, A-1M e AF-1; os helicópteros H-60 Black Hawk, realizam incursões a baixa altura sobre o terreno, na busca e resgate de Pilotos abatidos. Por sua vez, as tropas em solo, munidas de mísseis antiaéreos portáveis (com grande poder de mobilidade e de difícil localização), representam uma grande ameaça e desafio para todas as aeronaves. Tudo isso demonstra o dinamismo, a complexidade e o nível de dificuldade presentes no treinamento. 







F-5EM/FM Tiger II








E-99M




KC-390 Millennium




C-105 Amazonas

H-60 Black Hawk. Foto: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal do autor)

RQ-900. Foto: Marcelo Lobo da Silva (acervo pessoal do autor)




A-1AM/BM


H-36 Caracal

A estreia dos Falcões dos Mares

Um dos destaques e uma novidade deste ano do Exercício Escudo-Tínia é a presença do 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque da Marinha do Brasil, também conhecido como Esquadrão VF-1, sediado na cidade de São Pedro da Aldeia/RJ.  Participando pela primeira vez de treinamento, os homens e máquinas atualmente comandados pelo Capitão de Mar e Guerra José Assunção Chaves Neto, estão operando ao lado do A-1M da FAB, cumprindo missões de supressão das defesas antiaéreas das forças inimigas, uma tarefa que requer voar baixo e rápido para não ser detectado pelos radares nem ser engajado pelos armamentos terra-ar, exigindo uma enorme carga de tensão e atenção dos Pilotos. Duas aeronaves estão atuando a partir de Santa Maria, os Falcões com as matrículas N-1004 (AF-1B, monoposto) e N-1021 (AF-1C, biposto), dois dos seis aviões da versão modernizada, que atualmente compõem a frota da Unidade Aérea.



A participação dos aviões da Marinha é de grande relevância, pois reforça a questão da interoperabilidade entre as Forças e oportuniza ao Esquadrão e seus integrantes, atuar em conjunto com outros tipos de aeronaves, permitindo a padronização de procedimentos e o aprendizado e a troca de conhecimentos, táticas e doutrinas de emprego, algo que é benéfico para todos. Este intercâmbio é um dos objetivos secundários do Exercício Escudo-Tínia, algo sempre importante e valioso em operações desta magnitude.


Tigres em ação


Dentre todos os tipos de aeronaves empregadas no Exercício Escudo-Tínia, os caças supersônicos F-5EM/FM Tiger II são os mais numerosos. Ao todo, dezesseis F-5 (14 monopostos e 2 bipostos) estão presentes em Canoas (veja tabela mais abaixo). Dependendo da missão, um total de até 12 desses aviões estão sendo utilizados de forma simultânea. As duas Unidades que operam o modelo na FAB atualmente, o 1º Grupo de Aviação de Caça, com sede em Santa Cruz/RJ e o 1º Esquadrão do 14º Grupo de Aviação, sediado em Canoas/RS, estão participando, cumprindo missões de Defesa Aérea para ambos os lados do cenário fictício montado para o treinamento, incluindo a conquista e manutenção de Superioridade Aérea, Escolta e combates aéreos do tipo BVR (do inglês, Beyond Visual Range, ou Além do Alcance Visual). Boa parte dos aviões estão usando versões de treinamento de alguns dos modelos de mísseis ar-ar de curto alcance  utilizados pela FAB, instalados em um dos trilhos das pontas das asas, dispositivos que simulam com eficiência todos os parâmetros de engajamento e disparo dos mísseis reais.










Uma missão típica do emprego dos F-5EM/FM Tiger II no Exercício Escudo-Tínia envolve a decolagem de quatro aeronaves no papel de agressores, isto é, os responsáveis por interceptarem e atacarem o "pacote" de aeronaves componentes de uma missão. Na sequência, partem outros oito F-5, integrantes da "Blue Force", que vão defender o "pacote". Esses voos contam com a participação e apoio direto de outros modelos de aeronaves, sobretudo os E-99M para identificar as aeronaves "inimigas" e vetorar a força de defesa até elas, além do KC-390 Millennium para o Reabastecimento em Voo. Interessante comentar que cada um desses grupos de F-5 tem a presença igual de componentes dos dois Esquadrões em suas formações de voo, permitindo que os Pilotos de ambas as Unidades Aéreas, vivenciem todas as situações e cenários que o treinamento apresenta.






















Tão importante quanto voar, é fazer voar. Tanto no Exercício Escudo-Tínia quanto no dia-a-dia das Unidades Aéreas, o trabalho das equipes de solo é fundamental para o sucesso da missão.




Atualmente a única característica que identifica a Unidade Aérea a qual pertencem os F-5 da FAB, é a faixa no topo do estabilizador vertical. Os aviões do Esquadrão Pampa, apresentam cinco estrelas, numa referência ao Cruzeiro do Sul. Já as aeronaves do 1º Grupo de Caça ostentam a "Blue Ribbon", condecoração recebida dos Estados Unidos em 1986 pela atuação do Grupo na Segunda Guerra Mundial.

Ainda não foi desta vez que o novíssimo caça da FAB e substituto dos F-5 num futuro próximo, o F-39 Gripen, fez sua estreia em uma operação. Alocados ao 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), com sede em Anápolis/GO, o modelo entrou em serviço em dezembro de 2022 e encontra-se no momento em fase de implantação junto à Unidade Aérea e qualificação dos Pilotos que irão voá-lo, buscando atingir a Capacidade Inicial de Operação (IOC, do inglês Initial Operational Capability). Para as próximas edições do Exercício Escudo-Tínia, bem como em outros grandes treinamentos que a FAB participa, o F-39 será presença constante.

Agradecimentos à Força Aérea Brasileira, ao Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER) e à Direção do Exercício Escudo-Tínia pela oportunidade em participar de um dia de atividades do treinamento, possibilitando a coleta das informações e o registro das imagens que ilustram essa matéria.


7 comentários:

sergio m. borba disse...

Fato interessante que vc abordou no final, e a ausência do Gripen, pelo menos uns dois poderiam participar.

Anônimo disse...

Seria bacana falar um pouco do papel dos AF-1 nesse exercício junto com os A-1. Vejo que finalmente os falcões estão participando desses exercícios integrando mais ainda as forças.

VOZ NATIVA COMUNICAÇÕES disse...

Parabéns pela excelente materia Marcelo,aquele abraço Canoense,do amigo Cauê/Canal Notícias Digitais

Anônimo disse...

Os F-39 ainda não estão aptos a participar de exercícios, pois estão em fase de implantação e de capacitação dos pilotos.

Anônimo disse...

Excelente matéria. Apenas uma correção: na tabela das aeronaves participantes, na realidade o F-5EM 4825 pertence ao Pampa e o 4826 pertence ao Grupo de Caça. Estão invertidos na tabela.

Anônimo disse...

Bom dia. Reportagem gigante na qualidade e no tamanho. Parabéns. Muito obrigado.

Aviação em Floripa disse...

Tabela corrigida. Obrigado pela observação!

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