Entre os dias 7 e 25 de Novembro, o Estado do Rio Grande do Sul, está sendo palco de um dos maiores treinamentos operacionais anuais da Força Aérea Brasileira (FAB), o Exercício Conjunto (EXCON) Escudo-Tínia. Mais de 50 aeronaves das Aviações de Caça, Reconhecimento, Asas Rotativas e Transporte e cerca de 800 militares, vindos de diversas partes do país participam da manobra, que tem como sedes as Bases Aéreas de Canoas e Santa Maria, situadas respectivamente na Região Metropolitana de Porto Alegre e na porção central do Estado. Além destes locais, a cidade de Santana da Boa Vista, também está sendo empregada na operação, como veremos mais adiante. Durante estas três semanas, os céus gaúchos ficarão movimentados com as aeronaves envolvidas no treinamento, realizando diversos tipos de missões, tais como: Escolta, Reconhecimento Aéreo, Controle e Alarme em Voo, Ataque, Varredura, Reabastecimento em Voo, Posto de Comunicação no Ar, Defesa Aérea e Transporte Aéreo Logístico. O nome do exercício tem origem na mitologia etrusca, onde Tínia era o deus supremo e senhor dos ceús, comandando os raios e trovões. O site Aviação em Floripa preparou esta matéria especial, trazendo aos seus leitores, muitas imagens e informações sobre este importante treinamento da Força Aérea Brasileira. Boa leitura!
Um treinamento, múltiplos benefícios
Iniciado em 2019, o Exercício Tínia chega neste ano em sua quarta edição, desta vez, agregando no seu contexto, a Operação Escudo Antiáereo, treinamento que envolve a participação das Unidades Militares de Defesa Antiaérea dos três braços das Forças Armadas, em proveito da operacionalidade e adestramento conjunto, daí advindo o nome Escudo-Tínia. Contando com um número expressivo de aeronaves e militares envolvidos nas diversas etapas que compõem uma operação desta magnitude, todo o planejamento e coordenação está a cargo do Comando de Preparo (COMPREP) e do Comando de Operações Aerospaciais (COMAE), demonstrando desde a mobilização dos meios aéreos e efetivos, o alto poder de pronta-resposta da FAB em situações que necessitem de um rápido deslocamento da Força para qualquer ponto do país. Além das Unidades Aéreas e de Defesa Antiaérea, o exercício tem a participação direta do Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA II) e do Primeiro Grupo de Comunicações e Controle (1º GCC), provendo todo o suporte de Controle do Espaço Aéreo e de Comunicações.
De acordo com o Comandante da Base Aérea de Canoas e Diretor do Exercício (DIREX), Coronel Aviador Marcelo Zampier Bussmann, o treinamento tem entre seus objetivos principais, adestrar os militares para a condução de missões aéreas, permitir o treinamento técnico das Unidades de Defesa Antiáerea e consolidar dentro da Força, a doutrina de operação conjunta, servindo ainda o exercício, para a verificação, revisão e aprimoramento das doutrinas e táticas de emprego operacional. As diretrizes descritas pelo Coronel Bussmann, colaboram e fortalecem o papel central da Força Aérea Brasileira em sua missão-fim, garantindo a operacionalidade de seus Esquadrões Aéreos com o intuito de manter a soberania do espaço aéreo e integrar o território nacional, com vistas à defesa da pátria.
Embora seja de responsabilidade da Força Aérea Brasileira, o treinamento conta este ano com a participação de efetivos e Unidades de Defesa Antiaérea do Exército Brasileiro (EB), da Marinha do Brasil (MB) e da própria FAB que, além da interoperabilidade, têm aqui uma excelente oportunidade para adestrar seu pessoal e testar seus equipamentos e técnicas de emprego contra os meios aéreos, adicionando também uma camada a mais de realismo e complexidade ao planejamento e execução das missões a serem realizadas pelos pilotos. As Unidades e Grupos de Defesa Antiaérea que estão participando do treinamento são as seguintes: pela FAB, os Grupos de Defesa Antiaérea (1º, 2º e 3º GDAAE); a Bateria de Artilharia Antiaérea (BiaArtAAe) do Batalhão de Combate Aéreo (BtlCmbAe) da Marinha do Brasil e Baterias de Artilharia Antiaérea (BiaAAAe) dos Grupos de Artilharia Antiaérea (GAAAe) do Exército Brasileiro.
O treinamento, a exemplo das edições anteriores, acontece na região Sul do país, local que reúne as condições ideais para a realização de um exercício desse porte. Um dos motivos, é a presença de duas grandes Bases Aéreas próximas entre si, com toda a infra-estrutura logística e operacional necessária para as aeronaves e de apoio aos militares. Outro ponto favorável é o baixo volume de tráfegos aéreos comerciais e civis, comparado com outras regiões, garantindo a segurança e a fluidez na condução das missões aéreas. Além desses, a meteorologia nesta época do ano no Sul do país também ajuda, com temperaturas mais amenas e predomínio de tempo bom, permitindo um fluxo contínuo na condução das operações de voo.
O contexto do exercício
O treinamento acontece dentro de um ambiente simulado de guerra aérea convencional, também chamada de guerra regular, ou seja, quando há um conflito entre forças de dois países ou uma aliança ou coalizão militar, por meio de ações que reproduzem a disputa por um território e o estabelecimento do controle e manutenção do seu espaço aéreo. Dentro deste cenário, o Estado do Rio Grande do Sul foi dividido em dois territórios, denominados de "País Alfa" e "País Bravo", identificados no mapa pelas cores azul e vermelha, respectivamente. Estas duas "nações" têm entre si, uma área em litígio localizada dentro do País Bravo. A região em disputa pelos "dois países" está situada entre os municípios de Encruzilhada do Sul e Santana da Boa Vista. É neste local que encontram-se as Unidades de Defesa Antiaérea participantes do exercício, defendendo os "alvos" a serem atingidos pelas aeronaves de ataque do "País Alfa".
Das Bases Aéreas de Canoas e Santa Maria partem os meios aéreos de ataque e defesa de ambos os lados, posicionando-se em áreas previamente definidas no mapa de forma a garantir a proteção de seus respectivos territórios e efetuarem as ações ofensivas ou defensivas da área em disputa. Além destas aeronaves, decolam também das duas sedes do treinamento, todos os demais vetores que vão apoiar e complementar cada uma das missões, provendo o Reabastecimento em Voo, o Controle Aéreo Aerotransportado, o Transporte de tropas e suprimentos, Reconhecimento Aéreo, Busca e Resgate, dentre outras. Cada missão destas, engloba um "pacote" de aeronaves dos mais variados tipos e funções, atuando em conjunto para o cumprimento de um determinado objetivo ou ação. Esse é o conceito básico das missões aéreas compostas, também chamadas de COMAO (do inglês, Composite Air Operation, ou Operação Aérea Composta) e, o adestramento desta doutrina de emprego dos meios aéreos (amplamente testado e validado em combate por diversas forças aéreas mundo afora em diferentes conflitos nas últimas décadas), é um dos pontos centrais buscados pela FAB em exercícios como o Escudo-Tínia.
De acordo com o Co-Diretor do Exercício, Coronel Aviador Luciano Antônio Marchiorato Dobignies, durante o treinamento, as missões vão se tornando mais complexas e desafiadoras, agregando cada vez mais aeronaves em torno da execução de um objetivo, exigindo atenção e dedicação máxima de todos os participantes. Embora seja um exercício, tudo é feito o mais próximo possível de uma situação real. Ao longo do ano, as diversas Unidades Aéreas da FAB realizam vários treinamentos específicos e de menor escala e, nas palavras do Coronel Marchiorato, exercícios como o Escudo-Tínia se constituem numa excelente oportunidade para a Força Aérea Brasileira reunir dentro de um mesmo contexto e estrutura, todas elas, aprimorando a organização, a comunicação, o intercâmbio e a troca de experiências com o intuito que este conjunto atue de forma coordenada e integrada, como os elos de uma corrente, para o cumprimento da missão.
Embora as aeronaves e toda a movimentação em torno delas concentrem todas as atenções, existem diversas outras atividades dentro do Exercício Escudo-Tínia que são tão ou mais importantes para o desenvolvimento das operações. A participação da cidade de Santana da Boa Vista e região próxima, onde foram dispostas as equipes de Defesa Antiaérea, exigiu grande dedicação e esforço quanto ao deslocamento de materiais, montagem de acampamentos, abrigos e a instalação da infra-estrutura necessária para uma operação fora de sede ou deslocada. Alimentar, acomodar e fornecer o conforto e as condições ideiais de trabalho para os envolvidos no exercício não é uma tarefa fácil. Isso é função do Grupamento de Apoio Logístico de Campanha (GALC), organização da FAB responsável por prover todo o suporte logístico em situações de mobilização das Unidades Militares com seus efetivos e equipamentos.
Os meios aéreos
Os principais modelos de aeronaves utilizadas pela Força Aérea Brasileira estão participando do EXCON Escudo-Tínia, evidenciando a grandeza e a importância do exercício. Entre eles, temos os caças F-5M Tiger II, A-1M e A-29 Super Tucano; o avião de vigilância e controle aéreo E-99M; as aeronaves de reconhecimento remotamente pilotadas RQ-450 e RQ-900; além das aeronaves de apoio e transporte logístico: C-95M Bandeirante, C-105 Amazonas, KC-130M Hércules, KC-390 Millenium; e o helicóptero H-60L Black Hawk. A distribuição de forças de cada lado do "conflito" ficou assim definida, conforme mostram as imagens abaixo:
De maneira geral, as aeronaves de Defesa Aérea, compostas pelos caças F-5M Tiger II e o avião especializado em Controle e Vigilância Aérea, E-99, estão concentrados em Canoas. Por sua vez, Santa Maria reúne as aeronaves de Ataque (A-1M e A-29), Transporte e Reabastecimento em Voo (C-95M Bandeirante, C-105 Amazonas, KC-130M Hércules e KC-390 Millenium), as Aeronaves Remotamente Pilotadas (RQ-450 e RQ-900) e os helicópteros H-60L Black Hawk. Ao contrário do que se possa imaginar, Canoas e Santa Maria não são, cada qual, a sede da "Força Aérea" dos dois países beligerantes. Para a edição deste ano, as aeronaves de certa forma, estão concentradas nas duas Bases Aéreas por suas funções primárias, cumprindo as suas missões para ambos os lados, a partir dos locais onde estão sediadas.
Operando a partir de Canoas, está a espinha dorsal da Aviação de Caça da FAB, formada pelos Northrop F-5EM/FM Tiger II. Sua tarefa básica durante o treinamento é prover a Defesa Aérea para que as aeronaves de Ataque e Transporte possam executar e cumprir suas missões. O avião atua dos dois lados do conflito fictício, tanto protegendo pelo ar a área em litígio, quanto combatendo as aeronaves adversárias que fazem a defesa da mesma. Pilotos das três Unidades Aéreas que empregam o modelo na FAB, 1º Grupo de Defesa Aérea (Anápolis/GO), 1º Grupo de Aviação de Caça (Santa Cruz/RJ) e 1º Esquadrão do 14º Grupo de Aviação (Canoas/RS) estão participando do treinamento, que conta presencialmente com aeronaves de Santa Cruz e Canoas.
Sikorsky H-60L Black Hawk
Uma visita ao pátio operacional
A exemplo do que havia acontecido em Canoas na semana anterior, a Força Aérea Brasileira abriu espaço para os profissionais de imprensa conhecerem em detalhes, as atividades do Exercício EXCON Escudo-Tínia, desta vez na Base Aérea de Santa Maria, propiciando mais uma oportunidade para a obtenção de informações e o registro de imagens das aeronaves operando a partir da "Sentinela Alada dos Pampas", como a Base é conhecida. O evento foi realizado no dia 15 de Novembro, Feriado de Proclamação da República e organizado pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, ocorrendo em dois momentos, sendo a parte da manhã reservada para as mídias especializadas e o período da tarde, recebendo também os jornais e emissoras de TV locais.
As atividades programadas para a imprensa contaram com uma visita ao pátio operacional e aos hangaretes para conhecer de perto as aeronaves sediadas em Santa Maria. Também houve o deslocamento até pontos próximos à pista, a fim de que todos acompanhassem alguns pousos e decolagens. O Comandante da Base Aérea e Co-Diretor do Exercício, Coronel Aviador Luciano Antônio Marchiorato Dobignies recebeu os veículos de mídia para uma conversa, na qual forneceu informações sobre o treinamento e respondeu a alguns questionamentos pertinentes às atividades que estão sendo desenvolvidas em prol da operação.
A partir de agora, fechando esta matéria especial, brindamos nossos leitores com uma compilação de imagens mostrando mais um pouco das aeronaves e da movimentação durante os dois dias de Media Day (Em Canoas e Santa Maria), os quais o site Aviação em Floripa teve a chance de acompanhar. Deixo aqui registrado que iniciativas como essa da Força Aérea Brasileira, em oportunizar a cobertura jornalística de uma operação dessa envergadura são extremamente importantes, pois permitem que a imprensa possa mostrar para a sociedade, um pouco do trabalho e das atividades da FAB em prol da defesa de nossa soberania e do nosso espaço aéreo.
6 comentários:
MISSÃO CUMPRIDA! Parabéns pelas belas fotos e texto envolvente!
Sem duvida a melhor materia ja publicada aqui. Parabens pelo texto e fotos!
Obrigado, aos amigos e leitores Sílvio e Ângelo, pelas palavras de incentivo.
Excelente cobertura jornalística e parabéns pelas fotos, ficaram ótimas.
Uma beleza de abordagem. Excelentes fotos. Parabéns.
Muito Obrigado, Sérgio e Cel. Camazano. Sempre bom tê-los a bordo!
Postar um comentário