O Exercício Conjunto Escudo-Tínia 2022 marcou a despedida operacional do FAB 2461, um dos dois Hércules da Força Aérea Brasileira que têm entre suas atribuições, a missão de Reabastecimento em Voo (REVO). Por mais de quatro décadas, os KC-130 cruzaram os céus de Norte a Sul do país, sempre que necessário, "matando a sede" das nossas aeronaves de caça. A partir de agora, esta verdadeira lenda da Aviação de Transporte da FAB, começa a ceder espaço ao seu substituto, o Embraer KC-390 Millennium.
Um pouco de história
O desenvolvimento do Lockheed C-130 Hércules data do início da década de 50, tendo o protótipo YC-130 feito seu voo inaugural em 23 de Agosto de 1954. Concebido como uma aeronave de transporte tático, a excelência do projeto, a versatilidade e confiabilidade fizeram do Hércules, um dos aviões militares mais famosos e utilizados da história, sendo empregado por quase uma centena de Forças Armadas ao redor do planeta. Ao longo dos anos, inúmeras versões foram desenvolvidas, cumprindo um variado leque de missões distintas, comprovando as qualidades da aeronave. O Hércules continua em plena atividade mundo afora e com a linha de montagem ainda aberta, sendo sua variante atualmente fabricada, o C-130J Super Hércules.
A história do C-130 na FAB tem sua gênese em meados da década de 60, quando a FAB buscava uma aeronave para substituir seus Douglas C-47 "Dakota" e Fairchild C-82 "Packet" e complementar a frota de Fairchild C-119 "Flying Boxcar". Os cinco primeiros Hércules chegaram a partir de 1964, todos da versão C-130E, recebendo as matrículas FAB 2450 a FAB 2454. Estes aviões foram alocados ao 1º Esquadrão do 1º Grupo de Transporte (1º/1º GT), sediado no Galeão/RJ. Em 1968, mais três C-130E foram incorporados (Matrículas FAB 2455-57) à mesma Unidade Aérea. No ano seguinte, foram recebidos outros três C-130E, desta vez configurados para cumprir as missões de Busca e Salvamento (SAR), Aerofotogrametria e Reconhecimento Fotográfico. Estes aviões foram designados como SC-130E e operados pelo 1º Esquadrão do 6º Grupo de Aviação, o Esquadrão Carcará, em Recife/PE, ostentando as Matrículas FAB 2458 a FAB 2460. Em relação aos C-130E já utilizados pela FAB, estes exemplares apresentavam uma grande janela de observação na seção dianteira da fuselagem e aberturas no piso para a instalação de câmeras fotográficas.
Com o objetivo de ampliar a frota de C-130 Hércules e repor as perdas operacionais, em meados da década de 70, foram adquiridos mais cinco exemplares, desta vez, da versão C-130H, dotada de uma aviônica mais moderna e motores mais potentes. Este montante compreendeu três C-130H (FAB 2463-65) e mais dois KC-130H configurados para a função de Reabastecimento em Voo (REVO), os quais receberam as matrículas FAB 2461 e FAB 2462 (sobre esta variante, falaremos detalhadamente mais abaixo). A chegada desses aviões permitiu a ativação de uma terceira Unidade Aérea na FAB operadora do modelo, o 2º Esquadrão do 1º Grupo de Transporte de Tropa (2º/1º GTT), o Esquadrão Cascavel, sediado no Campo dos Afonsos/RJ. A década de 80 presenciou a incorporação de uma importante missão a ser desempenhada pelo C-130 e uma reorganização operacional da frota. Em 1983, os Hércules da FAB passaram a ser responsáveis pela logística aérea do Programa Antártico brasileiro (PROANTAR) em apoio à Estação Comandante Ferraz. O primeiro pouso no continente antártico ocorreu em 23 de Agosto do mesmo ano, cabendo ao FAB 2463, a primazia deste feito. Entre 1984 e 86, a FAB contratou a empresa norte-americana Derco Aerospace para converter cinco células C-130E para a versão C-130H LOW, visando a padronização da frota. Em 1987 foram recebidos mais três C-130H (FAB 2466-68) e no ano seguinte, os SC-130E do Esquadrão Carcará foram repassados ao 1º/1º GT, que incorporou assim, a função de Busca e Salvamento às suas atribuições.
A chegada dos italianos e a modernização
O advento do novo milênio trouxe novidades para a frota de C-130 Hércules da FAB. A primeira delas veio com o reforço de dez unidades C-130H, ex-Força Aérea italiana. Esses aviões chegaram ao Brasil entre os anos de 2001 e 2002 e apresentavam os padrões de pintura utilizados por aquela arma aérea (na cor cinza ou com a camuflagem padrão OTAN), recebendo aqui as matrículas FAB 2470-79. Por um certo tempo operaram na FAB com estes esquemas de pintura. Em 2003 iniciou-se um programa de modernização destes dez exemplares, mais tarde extendido para mais algumas células. Todo o processo foi conduzido pelo Parque de Material Aeronáutico do Galeão (PAMA-GL) envolvendo principalmente os sistemas de aviônicos, com a substituição dos mostradores e instrumentos analógicos por uma cabine totalmente digital (conceito chamado de "Glass Cockpit"), dominada por telas multifuncionais. Também houve a adição de lançadores de chaffs/flares, dando capacidade de auto-defesa à aeronave. No total, o programa de modernização contemplou dezoito aeronaves, que passaram a ser designadas como C-130M/KC-130M, recebendo ainda uma novo padrão de camuflagem nas cores cinza e verde.
Conhecendo o KC-130M Hércules
O Media Day do Exercício Escudo-Tínia 2022, realizado em Santa Maria/RS, no dia 15/11, proporcionou a oportunidade de conhecer em detalhes um dos dois KC-130M da FAB, no caso, a aeronave com a matrícula FAB 2461. O treinamento no Sul do país também marcou sua despedida operacional, após mais de 46 anos de serviço. Abaixo, compartilhamos com nossos leitores, algumas imagens que mostram algumas características e peculiaridades desta fantástica aeronave.
É inegável a importância dos C-130 Hércules para a Força Aérea Brasileira. Ao longo de 58 anos, foi a principal aeronave de transporte pesado da FAB, suprindo, lançando e resgatando com prontidão e eficiência, do calor amazônico ao frio antártico e com uma extensa folha de serviços prestados à população brasileira, levando sobre suas asas, o progresso, o desenvolvimento e a esperança aos quatro cantos do país. Falando especificamente dos KC-130, a sua chegada deu uma capacidade inédita à Força Aérea Brasileira, ao permitir que suas aeronaves de caça pudessem ser reabastecidas em voo, ampliando seu poder de ação e operacionalidade. Agora uma novo capítulo na história da Aviação de Transporte da FAB começa a ser escrito, com o bastão sendo passado ao seu sucessor, o KC-390 Millennium. As últimas unidades estão previstas para serem desativadas em 2024, quando se completará exatos 60 anos da chegada dos primeiros aviões e, curiosamente, sua história terminará onde tudo começou, o 1º/1º Grupo de Transporte. Até lá, ainda vamos ver por mais algum tempo, os grande quadrimotores cruzando os céus brasileiros com sua silhueta e som inconfundíveis.
2 comentários:
Muito boa a matéria, onde trouxe uma radiografia dos c -130 na FAB.
Bom dia. Como sempre reportagens de texto e fotográficas muito interessantes. Parabéns. Abraços. Geraldo.
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