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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Entrevista com o Comandante da Força Aeronaval

 


Na semana em que a Aviação Naval completou 106 anos de criação, o site Aviação em Floripa teve a oportunidade em visitar o Comando da Força Aeronaval (ComForAerNav) e conversar com seu atual Comandante, Contra-Almirante Augusto José da Silva Fonseca Junior. Fomos recebidos em sua sala para uma cordial entrevista na qual abordamos alguns temas ligados principalmente ao presente da Aviação Naval.

O Contra-Almirante Fonseca Junior tem 54 anos de idade, é natural de Pensacola, no Estado da Flórida (EUA), casado e pai de três filhas. É Guarda-Marinha de 13 de Dezembro de 1990 e chegou ao atual posto em 31 de março de 2019. Entre os cargos e comissões em que atuou estão, a Fragata Constituição (F-42); 1º Esquadrão de Helicópteros de Esclarecimento e Ataque (Esqd. HA-1); Comandante do 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (Esqd. VF-1); Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM); Encarregado do Grupo de Fiscalização e Recebimento das aeronaves AF-1/1A na EMBRAER; Comandante do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval "Almirante José Maria do Amaral Oliveira" (CIAAN), Chefe do Estado-Maior do Comando da Força Aeronaval (ComForAerNav), entre outros. Está à frente da Força Aeronaval desde 07 de Abril deste ano.



AF: A Aviação Naval conta hoje com onze Esquadrões, sendo quatro deles distritais. Essa estrutura atende às necessidades da Marinha ou existem planos para a criação de novos Esquadrões em São Pedro da Aldeia ou em outros pontos do país?

C.-Alte. Fonseca Junior: Atualmente esta estrutura vem atendendo ao que a Marinha precisa, dentro das suas destinações constitucionais e atribuições. Planos formalizados para uma expansão não existem, mas estamos fazendo alguns experimentos em alguns Distritos, como por exemplo, aumentando o número de aeronaves, colocando outros modelos de aeronaves para aumentar a capacidade de Busca em alto-mar em missões SAR. Então nós temos hoje aeronaves operando no Quarto Distrito Naval, no Quinto Distrito Naval, aeronaves de maior capacidade, que são os UH-15. Isso está em fase de avaliação pela Marinha e nós sempre analisamos o contexto, principalmente nas nossas apostas e necessidades em defesa da nossa Amazônia Azul e sempre estamos em constante análise nesse estudo de novas necessidades. Então, pode ser que futuramente nós tenhamos outros Esquadrões ao longo de nossa costa, em outros Distritos. Isso é uma possibilidade que pode acontecer no futuro.


AF: O conflito entre Rússia e Ucrânia vem confirmando o alto valor militar dos Veículos Aéreos Não Tripulados como uma plataforma de armas altamente eficaz. Recentemente a Marinha ativou seu primeiro Esquadrão equipado com Aeronaves Remotamente Pilotadas. Já se pensa na aquisição de VANTs armados?

C.-Alte. Fonseca Junior: A Marinha recentemente inaugurou seu primeiro Esquadrão de Aeronaves Remotamente Pilotadas. É o primeiro passo que a Marinha deu nesse sentido. Nós estávamos um pouco atrasados em relação à utilização desse meio e o Esquadrão QE-1 vai funcionar como um pontapé inicial da Marinha nessa área. Vai servir como uma escola para a Marinha, para desenvolver doutrina, para conhecer o equipamento, para desenvolver as operações e paulatinamente a nossa intenção é ir se desenvolvendo e conhecendo cada vez mais para poder chegar em unidades com maior capacidade, maiores, sempre dentro do que nós necessitamos para poder fazer a defesa da nossa costa. Então, futuramente eu acredito que nós realmente tenhamos drones e aeronaves remotamente pilotadas com capacidade de combate, com armamentos instalados, com carga útil que possa ser utilizada como armamento, mas isso aí é o futuro. Estamos ainda no pontapé inicial, estamos ainda iniciando as operações, então, temos que agir com cuidado, paulatinamente, para que tudo funcione da melhor maneira possível.


AF: Por enquanto cumprem apenas a função de Reconhecimento, certo?

C.-Alte. Fonseca Junior: Por enquanto são utilizados em missões de Vigilância, Reconhecimento e Inteligência. Esse Esquadrão vai funcionar como uma escola para a Marinha. A partir daí vamos começar a aprender a mexer no equipamento, a desenvolver doutrina, para empregá-lo junto aos nossos meios navais, junto ao Corpo de Fuzileiro Navais, nas missões em apoio aos Distritos Navais. Então, é o início de um caminho que é longo e que eu vejo como infinito, não tem volta. O Esquadrão está numa fase de treinamento da tripulação para conhecer a aeronave. É uma fase de adestramento intenso do Esquadrão, dos pilotos e mecânicos, que nós fazemos sempre de forma anterior ao emprego operativo do meio, para que em breve estejamos prontos para cumprir nossas missões embarcadas em nossos navios, em apoio ao Corpo de Fuzileiros, em apoio a qualquer missão que os Distritos Navais tenham. Então, é um processo que está começando e tenho certeza de que o potencial de crescimento é enorme.


AF: Este ano o Esquadrão HU-51, sediado em Rio Grande/RS, recebeu um helicóptero UH-15 para atuar operacionalmente junto àquela Unidade Aérea. Quais foram os propósitos e já é possível aferir os resultados?

C.-Alte. Fonseca Junior: O Esquadrão HU-51, localizado em Rio Grande, recebeu recentemente uma aeronave UH-15, na verdade, a colocação dessa aeronave lá está funcionando como um projeto piloto para a Marinha. Estamos analisando se realmente teremos condições de ter uma aeronave daquele porte naquele Esquadrão, em uma série de questões logísticas e operacionais, mas a gente entende que aquela região precisa de uma aeronave daquele porte, principalmente para apoio às nossas missões de Busca e Salvamento. Naquela região as variações meteorológicas são muito grandes e muito rápidas e a gente entende que realmente é necessário a Marinha dispor naquela região de aeronaves de maior porte. Então, isso está funcionando como um projeto-modelo e a tendência é que se tenha esse tipo de aeronave operando lá no Sul de forma definitiva.


AF: Existem planos para reproduzir esse estudo em outras regiões do país ou por enquanto vai ficar concentrada apenas no Sul pelas especificidades já mencionadas?

C.-Alte. Fonseca Junior: A gente já tem algumas aeronaves UH-15 no Quarto Distrito, em Belém. Recentemente foi colocada essa no Sul como projeto piloto e futuramente conforme as necessidades surjam, realmente pode ser que a gente coloque em outras regiões. Mas não existe nenhum estudo para este tipo de aeronave em outros Distritos Navais.



AF: A Aviação de Patrulha da FAB conta hoje com três Esquadrões, sediados em Belém, Santa Cruz e Canoas. A frota está se aproximando do final de sua vida útil e pelo menos ao que sabemos, não se vislumbram substitutos a curto prazo. O Senhor pensa que ainda cabe uma aeronave pilotada nessa função? E essa atribuição deveria ser passada para a Marinha, como acontece em outros países?

C.-Alte. Fonseca Junior: Essa é uma questão que já perdura há bastante tempo aqui no nosso país, essa questão da Aviação de Patrulha. A patrulha marítima é uma função da Marinha, cuidar do nosso litoral, da nossa Amazônia Azul e eu vejo o futuro como uma consequência natural da Marinha participar desse processo de utilização de uma Aviação de Patrulha para monitorar nossos mares, para monitorar nossa costa, para monitorar nossa Amazônia Azul. Mas esse é um processo que já vem se desenvolvendo há vários anos. A Força Aérea detém o domínio dos meios e é ela que realmente faz esse tipo de missão. Eu acho que a Aeronave Remotamente Pilotada vai entrar com bastante força nesse tipo de operação mas não de forma exclusiva. Eu acho que a Aeronave Remotamente Pilotada vem para operar em conjunto com as aeronaves tripuladas. Eu não acredito que as aeronaves tripuladas sejam extintas em função das remotamente pilotadas e eu vejo a Aviação Naval com uma vocação bastante forte para direcionar seus esforços futuros nessa tendência de atuar também na patrulha marítima de forma que a gente possa controlar junto com nossos navios, o nosso mar territorial, a nossa plataforma continental. Eu acho que é uma tendência natural que vai acontecer nos próximos anos de uma maneira consensual e natural.


AF: A Marinha trocou um de seus UH-15B Super Cougar por um lote de quinze helicópteros H-125 Esquilo. Segundo se comenta, deste montante, cinco viriam para o Esquadrão HI-1 e os demais exemplares seriam distribuídos para outras Unidades Aéreas. Essa informação está correta? Caso afirmativo, esses cinco aparelhos são suficientes para a instrução ou eles viriam para complementar a frota atual de helicópteros Jet Ranger?

C.-Alte Fonseca Junior: A Marinha no contrato do TH-X tem previsão de receber quinze aeronaves. Nós não temos ainda uma definição do número de unidades que ficarão no Esquadrão HI-1 ou em outro Esquadrão qualquer. Essa definição ainda não foi estudada, não está ainda amadurecida, vai depender de estudos que a gente faça nos próximos meses tão logo esse contrato seja assinado e a gente tenha a confirmação que receberemos essas unidades, aí sim vamos passar a analisar com mais calma como será a distribuição. Mas com certeza o número de aeronaves que a gente colocar no HI-1 será um quantitativo suficiente para atender a demanda da Marinha na formação dos seus pilotos.


AF: A ideia então é substituir e não complementar os Jet Ranger...

C.-Alte Fonseca Junior: A ideia é substituir e colocar novas aeronaves no Esquadrão de Instrução. São quinze exemplares, só não se sabe ao certo é se todos irão para o HI-1 ou se vão ser distribuídos para outros Esquadrões. Isso será decidido futuramente. Está em análise.


AF: Finalizando, decorridos 106 anos de nossa Aviação Naval, como o Senhor a vê no presente e como imagina o seu futuro?

C.-Alte Fonseca Junior: Eu vejo a Aviação Naval hoje como uma força madura, uma força que traz um legado dos seus antecessores bastante solidificado, a gente tem uma cultura organizacional trazida aqui nos vários anos de existência, colocada pelos nossos pioneiros, que são aqueles que iniciaram tudo isso lá atrás. Nós temos meios extremamente modernos. Se formos analisar nossa frota, são aeronaves modernas, dentre os principais que tem no mundo para suas missões específicas, com algumas exceções, mas na sua grande maioria nós temos helicópteros que são considerados como de última geração e a gente tem ao longo desses anos um apoio incondicional do Alto-Comando da Marinha para que sempre possamos adquirir meios novos, renovar nossas frotas e substituir nossas unidades a partir do momento que elas se tornem obsoletas e antigas. 

E o futuro, eu vejo como uma força que realmente tem um campo enorme para se desenvolver, tanto na área de Aeronaves Remotamente Pilotadas, não só as táticas mas as estratégicas também. Temos a possibilidade de futuramente receber novos aviões com capacidade de pouso e decolagem em Navios Aeródromos de maneira vertical, eu acho que isso permitiria até que a gente pudesse utilizar o próprio Navio Atlântico. Então, são possibilidades que ficam abertas e que com certeza a Marinha, com sua dedicação, com seu trabalho, com a seriedade de seus homens, vai acabar conseguindo conquistar esses objetivos para que nós possamos manter a nossa Aviação no patamar que a gente tem hoje, um patamar de excelência, reconhecida por várias Marinhas do mundo, com capacidade de operação noturna, a bordo de navios com pequenas plataformas de pouso. Isso não é qualquer Marinha no mundo que faz e a gente tem esse reconhecimento, fruto do trabalho dos nossos pilotos, dos nossos integrantes, dos nossos mecânicos, de todos que compõem e fazem parte deste grupo e usam a asa no peito, não só no peito, mas também aqueles que tem a asa no coração, pois nem todos são pilotos, mas temos muitos que gostam da nossa atividade e que se apaixonam pelo nosso ambiente. Isso é muito bacana de se ver, quando estamos trabalhando aqui no nosso dia a dia.


Aproveitamos a oportunidade para presentear o Comandante Fonseca Junior com um quadro em homenagem aos 106 anos da Aviação Naval da Marinha do Brasil, contendo um mosaico de fotos de nossa autoria, feitas em diferentes momentos e em locais distintos, mas que ilustram e demonstram a prontidão e a operacionalidade das aeronaves que integram a Força Aeronaval. A todos os integrantes da Aviação Naval, homens e mulheres que se dedicam diuturnamente na defesa de nossa Amazônia Azul, deixamos aqui um sincero e merecido Bravo Zulu!




Gostaríamos de agradecer ao Contra-Almirante Fonseca Junior por nos conceder parte de seu tempo para receber o site Aviação em Floripa, pela forma atenciosa com que nos recepcionou e pela disposição e paciência em responder às perguntas aqui apresentadas. Agradecimentos especiais à Tenente Manuela Wermelinger por todo seu empenho e apoio em tornar este momento e esta entrevista possíveis.






3 comentários:

fabrica de convites disse...

Boa tarde. Uma especial entrevista, resulta em respostas de ótimo conteúdo. Parabéns. Muito obrigado. Abraços. Geraldo Búrigo de Carvalho.

Aviação em Floripa disse...

Boa noite, eu que agradeço. Muito bom tê-lo a bordo!

PARABENIZAÇÃO disse...

Uma entrevista de real interesse e muito esclarecedora. Demonstrando que estamos e continuamos sendo muito bem representados, e também muito bem colocados em termos de Marinha nesse mundo atual tão tecnológico. Esse comando como em todos os outros que se passaram na BAeNSPA verdadeiramente são mui respeitosos e possuidores de enorme conhecimento. Merecedores dos aplausos de todos os aldeienses que tiveram a escolha de sermos nós os acolhedores da Base em nosso município. Parabéns ao Contra Almirante Fonseca Júnior ao qual orgulho-me de ter compartilhado como colega de classe no Colégio Cenecista Almirante Barroso (berço de muitos renomados que hoje conhecemos)
João Loures

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