3 de fevereiro de 1964. Em algum lugar ao sul da República Democrática do Congo, localizada na África Central, dois helicópteros Sikorsky H-19D Chickasaw, a serviço da Organização das Nações Unidas (ONU), pilotados por tripulações da FAB, retornavam para sua base de operações. A missão era o resgate de um grupo de missionários e suas famílias, ameaçados pelas milícias armadas que dominavam diversas áreas do interior do país. Mergulhado em uma intensa e sangrenta guerra civil há pelo menos duas décadas, desde 1960, o Brasil, juntamente com outras nações, mantinha contingentes militares integrando as Forças de Paz da ONU. Um dos helicópteros, conduzido pelo Tenente Ércio Braga e o Sargento João Martins Capela Júnior, apresentou um vazamento de óleo e foi obrigado a realizar um pouso de emergência, ainda em território hostil. Diante da situação, a outra aeronave, guarnecida pelo Tenente Milton Naranjo e pelo Sargento Wilibaldo Moreira Santos, desceu em meio aos tiros disparados pelos rebeldes e conseguiu efetuar o salvamento dos tripulantes e passageiros a bordo do helicóptero acidentado. Esse episódio marcou o batismo de fogo da Aviação de Asas Rotativas e a primeira ação de resgate em combate da Força Aérea Brasileira. Para eternizar esse feito e em memória ao ato de coragem, heroísmo e desprendimento das tripulações, arriscando suas próprias vidas para que outros pudessem viver, o dia 3 de fevereiro ficou consagrado na FAB como o Dia da Aviação de Asas Rotativas.
Voando numa época sem a tecnologia e os equipamentos modernos de hoje em dia, apenas com uma carta de navegação em mãos e muita determinação, os militares da FAB foram responsáveis pelo salvamento de mais de 100 missionários e suas famílias. Exatamente seis décadas se passaram desde aquele episódio, entretanto, o legado, o espírito guerreiro das tripulações e o ideal de que ninguém é deixado para trás, permaneceram imutáveis, ao longo de todos esses anos. Para homenagear a Aviação de Asas Rotativas da Força Aérea Brasileira, o site Aviação em Floripa preparou uma matéria especial, na qual vamos trazer aos nossos leitores, uma radiografia completa e atual, contando a sua história e apresentando através de imagens, tabelas e infográficos exclusivos, as aeronaves do passado e do presente, as Unidades Aéreas e muito mais. Espero que apreciem o conteúdo e tenham todos uma boa leitura!
Por definição, helicóptero é uma aeronave de asas rotativas, que depende principalmente da sustentação gerada por um ou mais rotores de acionamento mecânico que giram em eixos substancialmente verticais, para se suportar e se movimentar no ar, podendo pairar, voar à ré e para os lados, além do voo à frente. Embora a ideia e os primeiros esboços de helicóptero tenham surgido há mais cinco séculos com o gênio italiano Leonardo da Vinci (1542-1519), somente em 1908, com o inventor franco-alemão Emil Berliner (1851-1929), é que surgiu um motor rotativo eficiente. Entretanto, levaria ainda mais três décadas à frente, até que o primeiro modelo funcional de helicóptero tomasse forma, quando em 1938, o alemão Anton Flettner (1885-1961) criou o Fl 265, um aparelho experimental que serviu para validar conceitos e usos para o novo tipo de máquina voadora. Quase ao mesmo tempo, o russo naturalizado norte-americano Igor Sikorsky (1889-1972), desenvolveu os primeiros exemplares com características realmente de operação, primeiro com o VS-300 e depois com o R-4, tornando-se esse, o primeiro helicóptero construído em escala de produção. Em outras partes do mundo, nesta época, alemães, britânicos, soviéticos, entre outros, desenvolviam seus protótipos e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), serviu como um laboratório e campo de prova, testemunhando o aparecimento e o uso, embora limitado, de modelos rudimentares de helicópteros, utilizados basicamente para missões de salvamento e observação. O desenvolvimento do helicóptero nas formas e funções como conhecemos hoje em dia, ganhou força já a partir do pós-guerra, com a exploração de sua versatilidade e múltiplas capacidades de emprego, permitindo o surgimento de inúmeros tipos para as mais diversas finalidades de uso civil e militar.
Desenho e explicações do conceito, feitos por Leonardo da Vinci, que séculos mais tarde, levariam ao surgimento do helicóptero. Imagem: divulgação
Sikorsky R-4, o primeiro helicóptero produzido em massa. Foto: USAAF
A história do emprego de helicópteros com a Força Aérea Brasileira data do início da década de 50, época em que o Ministério da Aeronáutica empreendeu um grande plano de modernização de seus meios aéreos, incluindo a aquisição de suas primeiras aeronaves de asas rotativas. Após estudos, o modelo escolhido foi o Bell 47D1, do qual foram adquiridos quatro exemplares em meados de 1952, novos de fábrica, aqui designados como H-13D. Devido à perda de um dos exemplares no processo de transporte dos Estados Unidos ao Brasil, efetivamente três aeronaves entraram em serviço no início de 1953, recebendo as matrículas FAB 8500 a 8502. Os helicópteros foram operados inicialmente pela Seção de Aeronaves de Comando (SAC), no Aeroporto Santos Dumont/RJ, Unidade Aérea dedicada ao transporte de autoridades (nesta época, a cidade do Rio de Janeiro ainda era a Capital Federal) e que mais tarde, se tornaria o Grupo de Transporte Especial (GTE).
Bell H-13H. Fotos: A. Camazano A. (Arquivo)
H-13D equipado com flutuadores. Foto: A. Camazano A. (Arquivo)
Entre os equipamentos vindos com os H-13D, estavam flutuadores e a possibilidade de pouso na água. Além disso, duas macas externas poderiam ser instaladas nas laterais, permitindo o emprego em missões de resgate e assim, o desenvolvimento das primeiras doutrinas ligadas à atividade de Busca e Salvamento (SAR), função para a qual a aeronave passou a ser utilizada a partir de 1960, com a Segunda Esquadrilha de Ligação e Observação (2ª ELO), sediada no Galeão/RJ. Por um breve período, o helicóptero operou também com o recém-criado 2ª Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (2º/10º GAv), na Base Aérea de São Paulo, que passou a concentrar, naquela época, toda a formação dos pilotos de asas rotativas da FAB. A perda do FAB 8500 e de seus ocupantes em um acidente em maio de 1959, além da crescente demanda por mais unidades para as tarefas de instrução e apoio ao Exército e Marinha, motivaram a FAB a aumentar sua frota de helicópteros. Assim, no início de 1960, começaram a chegar mais treze Bell 47, agora da versão G2, adquiridos diretamente do fabricante. Em relação à versão D1, este modelo apresentava um motor mais potente e melhor desempenho. Um novo lote, com mais 36 OH-13H chegou em 1971, provenientes do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) e classificados como H-13H. Isso permitiu a distribuição e operação da aeronave por uma grande quantidade de Organizações Militares e Unidades Aéreas da FAB, nas tarefas de Instrução, Transporte, Busca e Salvamento e Emprego Geral. Posteriormente as duas células restantes de H-13D foram atualizadas para o padrão "Hotel", uniformizando a frota, trabalho executado nas instalações do Parque Aeronáutico dos Afonsos, no Rio de Janeiro. O H-13 deixou o serviço ativo em setembro de 1990 e seu último operador foi o 1º Esquadrão do 11º Grupo de Aviação (1º/11º GAv), utilizando-o no treinamento básico dos futuros Pilotos de helicópteros da FAB.
Com a criação em 6 de dezembro de 1957 do 2º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação, em Guarulhos/SP, como a Unidade Aérea da FAB especializada em Busca e Salvamento (SAR), era necessária a aquisição de um helicóptero capaz de cumprir essa missão. Após estudos, a melhor opção custo/benefício recaiu sobre o Sikorsky S-55 em sua versão militar, chamada de H-19 Chickasaw, modelo de fabricação estadunidense, com capacidade para transportar 10 soldados ou 8 macas O primeiro voo do S-55 ocorreu em novembro de 1949 e, nos anos seguintes a sua entrada em serviço, a aeronave foi amplamente empregada por diversas Forças Armadas mundo afora nas tarefas de Transporte, SAR e Emprego Geral. Quatro exemplares foram adquiridos do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) via Programa de Assistência Militar, em dezembro de 1957, aqui recebendo as matrículas FAB 8504 a FAB 8507 e designados como H-19D. Os helicópteros chegaram ao Brasil em fevereiro de 1958. Vieram desmontados, um a um, a bordo de cargueiros C-124 Globemaster II da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) e na Fábrica do Galeão/RJ, foram então remontados e colocados em condições de voo e operação. Apesar de poucas unidades, este helicóptero, durante seu tempo de serviço com a FAB, realizou inúmeras missões de busca e resgate e em apoio a calamidades naturais em diversas localidades do país, além de ser o responsável por forjar as primeiras doutrinas operacionais para as aeronaves de asas rotativas, na missão de Busca e Salvamento.
Todas as fotos: A. Camazano A. (Arquivo)
A escassez de peças para o seu motor a pistão e a própria obsolescência do modelo frente aos novos helicópteros equipados com grupo propulsor turboeixo, decretaram em 1967, a retirada das três células remanescentes dos agora designados SH-19D (o FAB 8504 havia sido perdido em um acidente em outubro de 1960, na localidade de Barra do Piraí/RJ) da atividade SAR com o Esquadrão "Pelicano". O SH-19D permaneceu ainda em atividade com a FAB por algum tempo, atuando junto ao Centro de Instrução de Emprego de Helicópteros (CIEH), em Santos/SP, nas funções de treinamento e transporte, até ser desativado, em 6 de junho de 1969. É importante registrar que a experiência adquirida nessas aeronaves e na sua operação, permitiu o envio de pilotos brasileiros ao Congo, em cumprimento de missão de paz da ONU, conforme mostrou a introdução desta matéria.
A entrada em operação dos Bell 47 no início de 1953, trouxe para a FAB a experiência inédita no emprego de aeronaves de asas rotativas. Uma das funções desses helicópteros era o transporte de autoridades, entretanto, contando com acomodação para apenas um passageiro, além do Piloto, essa tarefa ficava bastante limitada. Para resolver a situação, o Ministério da Aeronáutica adquiriu cinco exemplares da variante "J" do Bell 47, denominada de "Ranger" pela fabricante e dotada de uma cabine carenada com capacidade para transportar três passageiros. Os aparelhos começaram a chegar a partir de outubro de 1958, recebendo a designação H-13J e as matrículas FAB 8508 a FAB 8512. Foram distribuídos ao 2º Esquadrão do Grupo de Transporte Especial (GTE-2), inicialmente no Aeroporto Santos Dumont/RJ e, a partir de 1961, da nova Capital Federal, a cidade de Brasília/DF. Durante um certo tempo, alguns exemplares do H-13J também operaram com o 2º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação Embarcada (2º/1º GpAvEmb), na Base Aérea de Santa Cruz/RJ, atuando na qualificação das tripulações daquela Unidade Aérea, que em breve iria receber helicópteros antissubmarino.
H-13J. Fotos: A. Camazano A (Arquivo)
H-13J em uso com o 2º/1º GpAvEmb. Foto: A. Camazano A (Arquivo)
Embora fossem mais adequados à missão de Transporte VIP que o Bell 47D, com o passar do tempo, o H-13J se tornou obsoleto e inseguro para a tarefa de conduzir o Presidente da República ou membros do Alto Escalão. Assim, em 1968, foram retirados dessa função e passaram a ser operados pela Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga/SP, executando tarefas ligadas à Instrução dos Cadetes, Busca e Salvamento e de Ligação. O modelo continuou em operação na FAB até meados de 1974, quando foram desativados. Um dos exemplares, o FAB 8510, encontra-se preservado no Museu Aerospacial (MUSAL), na cidade do Rio de Janeiro.
Um campo de atividade realizado pelos helicópteros e que ainda não havia sido explorado pela FAB, era a Guerra Antissubmarino (ASW, do inglês Anti-Submarine Warfare). Por se tratarem de modelos especializados e com custo mais elevado de aquisição, o foco inicial permaneceu com as aeronaves utilitárias, nas funções de Transporte, Instrução e Busca e Salvamento. Isso começou a mudar com a compra pelo governo brasileiro do Navio Aeródromo Ligeiro A-11 "Minas Gerais", em 13 de dezembro de 1956 e incorporado à Marinha do Brasil em 6 de dezembro de 1960. Para o guarnecimento da embarcação com aeronaves, foi criado em 6 de fevereiro de 1957, o 1º Grupo de Aviação Embarcada (1º GpAvEmb), composto por dois Esquadrões, um para a operação com aviões antissubmarino e outro com caças, posteriormente alterado para o emprego de helicópteros. Vale lembrar que nessa época, a Marinha do Brasil não dispunha de meios aéreos, uma vez que, com a criação do Ministério da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira, em janeiro de 1941, tanto a Aviação Naval quanto a Aviação Militar do Exército Brasileiro, haviam sido extintas. Passada uma década, a Marinha lentamente vinha trabalhando para reaver suas asas, inicialmente, atuando na recomposição e reorganização das suas atividades, com a recriação da Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), em 1952, mas ainda longe de operar quaisquer modelos de aeronaves
H-34 com as cores da FAB. Todas as fotos: A. Camazano A. (Arquivo)
Definida a Unidade Aérea que iria operar as aeronaves a bordo do "Minas Gerais", a atenção de voltou para os tipos. Para o 1º Esquadrão (1º/1º GpAvEmb, código-rádio Cardeal), foi escolhido o Grumman S-2F1 Tracker, designado na FAB como P-16 e, para o 2º Esquadrão (2º/1º GpAvEmb, código-rádio Anujá), foram adquiridos seis helicópteros Sikorsky S-58, recebendo a denominação de H-34 e as matrículas FAB 8550 a FAB 8555. Os aparelhos foram recebidos durante o ano de 1961, entretanto, um fato curioso é que nunca chegaram a operar de forma efetiva no navio com as cores da FAB. A iminente situação da operação das aeronaves da FAB em um navio da Marinha foi a gota d'água em uma disputa entre as duas Forças que já vinha se arrastando há algum tempo. Para acalmar os ânimos, o então Presidente da República, Humberto de Alencar Castelo Branco, assinou o Decreto nº 55.627, de 26 de janeiro de 1965, determinando que a FAB repassasse os helicópteros para a Marinha, porém, negando a operação dos aviões a bordo, atribuição que seguiria com a FAB. Com a Aviação Naval, o H-34 recebeu a designação HS-1 e as matrículas N-3001 a N-3006. Para operá-los, foi criado em 28 de maio de 1965, o 1º Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino (Esqd.HS-1), sediado em São Pedro da Aldeia/RJ. Com seu novo operador, os helicópteros seguiram atuando por mais dez anos, quando, em 1975, os quatro exemplares remanescentes, foram retirados do serviço ativo.
Entre o final dos anos 50 e meados da próxima década, o aperfeiçoamento do motor turboeixo revolucionou a operação dos helicópteros. Entre as vantagens trazidas por esta forma de propulsão, estavam uma significativa melhora no desempenho geral, maior potência e economia de combustível. Na metade dos anos 60, a Aviação de Asas Rotativas da FAB era composta unicamente por modelos movidos por motores a pistão, formada pelos Bell 47 em suas variantes H-13D, H e J, além dos Sikorsky H-19, modelos empregados essencialmente nas tarefas de Busca e Salvamento, Instrução e Emprego Geral. Ressentindo-se de um modelo com melhor desempenho e capacidade de operação, ao mesmo tempo, atento ao desenvolvimento tecnológico, o Ministério da Aeronáutica iniciou estudos para a modernização, recomposição e incremento da frota, sendo escolhido o Bell Model 205D, tornando-se o primeiro helicóptero da FAB com motor do tipo turboeixo. O UH-1 Huey, designação militar do Bell Model 205, é daqueles exemplos na aviação que transcenderam o tempo e fizeram história, estando no mesmo patamar de verdadeiras lendas ou clássicos entre as máquinas voadoras, como os Douglas DC-3 ou o caça P-51 Mustang, entre tantos outros tipos que marcaram seu nome para sempre. Dentre os helicópteros, não há nada que supere sua fama, número de exemplares produzidos ou operadores, sendo quase um sinônimo quando se pensa em aeronaves de asas rotativas. Desenvolvido pela Bell como um helicóptero utilitário, entrou em operação a partir de 1962 e ganhou notoriedade durante a Guerra do Vietnã, executando uma grande variedade de missões, em função da sua versatilidade de emprego.
SH-1D FAB 8535, visto na Base Aérea de São Paulo, no final da década de 60, em seus primeiros anos de operação com a FAB. Foto: A. Camazano A. (Arquivo)
SH-1D FAB 8539, com o padrão de pintura SAR. Foto: A. Camazano A.
UH-1D FAB 8538, do 5º EMRA, com armamento lateral. Foto: A. Camazano A. (Arquivo)
UH-1D FAB 8534 do 5º EMRA, em setembro de 1978. Foto: A. Camazano A
No Brasil, o "Sapão", apelido carinhoso como o helicóptero era tratado e conhecido na FAB, iniciou sua vida operacional no ano de 1967, com a entrada em serviço de seis exemplares, novos de fábrica. Aqui receberam a designação SH-1D e as matrículas FAB 8530 a FAB 8535. Estas aeronaves foram alocadas ao 2º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (2º/10º GAv), em Guarulhos/SP, Unidade Aérea da FAB especializada em missões SAR e, não demoraria para o UH-1 ser colocado à prova. A missão que marcou o início do modelo como aeronave operacional na FAB, foi o resgate dos sobreviventes do acidente com o C-47 matrícula FAB 2068, no mesmo ano de sua entrada em serviço. No começo dos anos 70, mais um lote com oito aparelhos foi adquirido, desta vez, configurados para as tarefas de Emprego Geral, Transporte e Reconhecimento Armado. Estes, passaram a ser identificados como UH-1D e matriculados como FAB 8536 a FAB 8543, sendo distribuídos ao recém-criado 4º e logo depois renomeado 5º Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque (5ª EMRA), em Santa Maria/RS, além de algumas unidades para o Centro de Instrução de Helicópteros (CIH), em Santos/SP. Face ao bom desempenho em suas atividades, mais 34 exemplares, desta vez, da variante 205H, com motor mais potente e melhor desempenho, foram compradas nos anos de 1972 (24), 1976 (2) e 1980 (8), de segunda mão do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) e da Força Aérea Israelense, sendo designadas como UH-1H e ganhando as matrículas FAB 8650 a FAB 8683. Com a chegada destas novas células, foi possível a distribuição para os demais EMRAs e depois, para diversas outras Unidades Aéreas da FAB. Com a finalidade de padronizar a frota, os helicópteros do modelo "D" foram convertidos para o padrão "H", posteriormente, a partir de 1979. Coube ao UH-1 também o início do emprego na Aviação de Asas Rotativas do helicóptero como plataforma de armas, com a utilização de metralhadoras e foguetes, sendo o precursor da implantação das doutrinas de tiro ar-solo lateral e frontal para as equipagens da FAB.
UH-1H/H-1H. Todas as fotos: FAB/Divulgação
Finalmente, em 1996, para recompletar a frota e manter a proficiência operacional, foram adquiridos mais 20 helicópteros UH-1H, provenientes dos estoques na Europa do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army), matriculados como FAB 8684-8703. Esses helicópteros vieram com uma camuflagem em tom de verde musgo fosca, apresentando ainda, elementos na composição da tinta que reduziam a detecção da aeronave por sinais de radar. Este esquema de pintura foi aplicado depois às células mais antigas e ainda operacionais. Outro diferencial destes exemplares era a iluminação interna da cabine e do painel de instrumentos ser compativel com o uso de Óculos de Visão Noturna, trazendo uma capacidade inédita para a FAB. O H-1H, como passou a ser designado a partir de 2006, seguiu em uso na FAB até o ano de 2018, sendo seu último operador, o 2º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (2º/10º GAv), em Campo Grande/MS, que por curiosidade, também havia sido a primeira Unidade Aérea a receber o modelo, em 1967. No total, foram 51 anos de operação do helicóptero em suas versões "D" e "H", tornando-se de longe, o vetor de asas rotativas empregado por mais tempo pela FAB. Neste tempo, foram incontáveis missões de resgate, misericórdia ou de apoio à população brasileira e inúmeras gerações de tripulações que tiveram a honra e o privilégio de conduzir e operar com esta lendária máquina voadora.
Dando prosseguimento ao processo de renovação da frota de helicópteros da Força Aérea Brasileira, chegou a vez da função de Transporte VIP receber uma nova aeronave. A operação com o H-13J trouxe uma significativa melhora em relação ao seu antecessor na tarefa de transportar o Presidente da República e outras autoridades, porém, o modelo já estava bastante defasado, necessitando de um substituto, com maior nível de conforto e confiabilidade de operação. Dessa forma, foram elaborados estudos para um novo helicóptero com motorização turboeixo para as tarefas de Transporte Especial, Treinamento, Ligação e Observação. O escolhido foi o Bell Modelo 206A Jet Ranger, do qual seriam adquiridos sete exemplares, novos de fábrica, com as entregas iniciando-se em julho de 1968. Três deles, especialmente configurados para o Transporte VIP, designados como VH-4 e matriculados FAB 8570 a FAB 8572, sendo recebidos com a tradicional pintura utilizada pelo GTE. Os demais, foram destinados para a funções de Emprego Geral, Ligação, Observação e Operações Aéreas Especiais. Estes exemplares vieram com um esquema camuflado, denominados de OH-4 e ganharam as matrículas FAB 8580 a FAB 8583.
VH-4 FAB 8571, com as cores do GTE, em agosto de 1983. Foto: A. Camazano A.
OH-4 no início da década de 70, operando com o 5º EMRA. Foto: A. Camazano A (Arquivo)
UH-4 FAB 8571, ostentando um vistoso padrão de pintura, em dezembro de 1990, época em que servia junto ao Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Foto: A. Camazano A.
Enquanto os VH-4 seguiram para o Grupo de Transporte Especial (GTE), em Brasília/DF, os OH-4 foram operados inicialmente pelo Centro de Instrução de Helicópteros (CIH) em Santos/SP, complementando a formação dos pilotos de helicóptero da FAB. Posteriormente, passaram a atuar nas tarefas para as quais foram adquiridos, com dois exemplares sendo incorporados à 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO), no Campo dos Afonsos/RJ e os outros dois distribuídos para os 2º e 5º Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), sediados em Recife/PE e Santa Maria/RS, respectivamente. A perda de três helicópteros (um VH-4 e dois OH-4) nos anos seguintes a sua entrada em serviço, motivaram a conversão dos aparelhos remanescentes ao padrão VH-4 e sua concentração no GTE, a partir de maio de 1980. Um novo acidente com perda total em 1984, fez com que as três células remanescentes, agora designadas UH-4, fossem repassadas ao Centro Técnico Aerospacial (CTA), em São José dos Campos/SP, entretanto, a falta de um helicóptero para a tarefa de Transporte Especial, levaram novamente os Jet Ranger para o GTE até que um novo modelo para a função fosse adquirido.
VH-4B FAB 8590, com seu último esquema de pintura utilizado na FAB. Foto: A. Camazano A. (Arquivo)
Em 1988, a FAB recebeu o reforço de duas unidades, desta vez do modelo 206B, anteriormente operadas pela Marinha do Brasil, recebendo a designação UH-4B e as matrículas FAB 8590 e FAB 8591. Com relação ao esquema de pintura, operaram inicialmente com uma pintura nas cores branca e laranja e após passarem por revisão, a mesma foi mudada para a pintura padrão do GTE, branca com faixa a faixa azul-marinho, alterando também sua designação de UH-4B para VH-4B. O último operador na FAB dos Jet Ranger foi o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no Estado do Maranhão, onde os exemplares originais atuaram de 1987 até 1995 como aeronaves orgânicas, nas tarefas de transporte de pessoal, vigilância aérea do perímetro do Centro e Busca e Salvamento, sendo a seguir desativados, com um deles, o FAB 8571, doado para a Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR), em Guaratinguetá/SP para servir como aeronave de instrução em solo para os alunos. Este exemplar encontra-se atualmente preservado no Museu Aerospacial (MUSAL), na cidade do Rio de Janeiro. Por sua vez, os dois helicópteros recebidos em 1988, seguiram operando junto ao CLA até o ano de 2007, quando foram armazenados no Parque de Material dos Afonsos, no Rio de Janeiro, encerrando assim, a história do modelo com a FAB. Em 2013, estes dois aparelhos foram devolvidos para a Marinha, que os utilizou como fontes de peças de reposição para o restante de sua frota de Bell 206B.
Com o passar do tempo e o amadurecimento no emprego com sua Aviação de Asas Rotativas, surgiu a necessidade da FAB ter em seu inventário, aeronaves de maior porte, principalmente para o transporte de tropas, cargas e equipamentos bélicos maiores, aproveitando a extraordinária mobilidade proporcionada pelo helicóptero. Estudos nesse sentido foram iniciados em meados da década de 70 e, em 1979, foi aberta uma concorrência internacional para a aquisição de seis a dez aeronaves de porte médio e bimotora, capaz de transportar até dezesseis soldados equipados, realizar voo noturno ou por instrumento, possuir alta velocidade de cruzeiro, estar equipada para cumprir missões de Busca e Salvamento (SAR), em qualquer tempo e terreno, além de transportar carga interna e externamente, por meio de gancho de carga. Nesta mesma época, a Aviação de Asas Rotativas da FAB passava por uma grande transformação organizacional, com o helicóptero ganhando grande importância no pensamento estratégico da Força, deixando de ser um coadjuvante em Esquadrões Mistos para ganhar o protagonismo em Unidades Aéreas próprias e especializadas. Dessa forma, foi criado o Oitavo Grupo de Aviação e seus quatro Esquadrões, 1º (Belém/PA), 2º (Recife/PE), 3º (Campo dos Afonsos/RJ) e 5º (Santa Maria/RS), herdeiros diretos dos respectivos Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque. A exceção ficou com o 4º EMRA em Guarulhos/SP, que se tornou o 1º Esquadrão do 13º Grupo de Aviação (1º/13º GAv) e foi transferido para Santa Cruz/RJ.
CH-33 Puma. Fotos: A. Camazano A. (Arquivo)
Demonstração operacional, durante o Dia da Aviação de Caça em Santa Cruz/RJ, em 22 de abril de 1982. Foto: A. Camazano A.
Voltando à escolha do novo helicóptero de transporte, a francesa Aérospatiale saiu-se vencedora na disputa, com o modelo SA-330 Puma. A versão recebida pela FAB era a mais moderna produzida, com as pás dos rotores principal e de cauda feitas de materiais compostos e com a presença de um radar meteorológico instalado no nariz da aeronave, projetando as informações em uma tela colorida no painel de instrumentos. A chegada do Puma também quebrou um paradigma, sendo o primeiro helicóptero na história da FAB de procedência diferente dos Estados Unidos. Seis exemplares foram adquiridos, designados como CH-33 e recebendo as matrículas FAB 8700 a FAB 8705. A Unidade Aérea escolhida para operá-los foi o 3º/8º GAv, sediado no Campo dos Afonsos/RJ, tendo como missões principais, o transporte de tropas, Busca e Salvamento (SAR), infiltração e exfiltração de Forças Especiais, transporte aéreo logístico e transporte de cargas externas, além de eventualmente servir ao transporte presidencial. Com a chegada das aeronaves, os Bell UH-1H então empregados pelo Esquadrão foram distribuídos para outras Unidades. O primeiro exemplar chegou em outubro de 1981, a bordo de uma aeronave C-130 Hércules da FAB e nas semanas seguintes, todos os seis aparelhos já encontravam-se no Brasil, sendo rapidamente montados nas instalações do Parque Aeronáutico dos Afonsos e colocados em operação. Embora eficiente e confiável na execução de suas tarefas, o tempo de atividade do CH-33 Puma na FAB foi marcado por problemas logísticos, resultando em baixa disponilidade, o que abreviaram sua retirada de operação. Em 1986, as cinco células remanescentes foram entregues de volta à Aérospatiale como parte do pagamento pela aquisição dos novos AS-332 Super Puma, o sucessor direto da aeronave, maior e mais moderno. Durante os poucos anos de permanência na FAB, os helicópteros Puma voaram pouco mais de 11 mil horas, com a perda de uma aeronave em um acidente no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.
A necessidade por maior espaço útil interno e capacidade para transportar cargas, motivou a FAB a trocar o CH-33 pelo seu sucessor direto, o AS-332 Super Puma, um aperfeiçoamento do Puma, mais moderno, com fuselagem maior e melhor desempenho de operação. Dez exemplares foram adquiridos em 1986, da versão AS-332M, aqui designados como CH-34, matriculados de FAB 8730 a FAB 8739 e recebendo a camuflagem padrão das aeronaves operacionais da FAB à época, em tons de verde e marrom. Esses aparelhos seguiram para o 3º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação (3º/8º GAv), no Campo dos Afonsos/RJ, atuando nas missões que já eram realizadas pelos CH-33 Puma. No ano seguinte, parte da frota passou a ser empregada pelo recém-criado 7º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação (7º/8º GAv), em Manaus/AM, entretanto, seu período de atividade com aquela Unidade foi curto, pois o aparelho não se adaptou bem ao clima quente e úmido da região amazônica, sendo substituído em 1991 pelos UH-1H, com os exemplares retornando para o Esquadrão Puma no Rio de Janeiro.
Todas as fotos: FAB/Divulgação
O amplo espaço interno, a estabilidade no voo e a segurança dada pelos dois motores, levaram o Super Puma a ser a aeronave escolhida para a importante função de transportar o Presidente da República. Para isso, um novo helicóptero, desta vez da versão AS-332M1 foi adquirido, novo de fábrica, em julho de 1997, recebendo a designação VH-34 e a matrícula FAB 8740. Em relação aos seus pares operacionais, este exemplar possuía um interior especialmente configurado para a tarefa. Externamente, além da pintura, o grande diferencial dessa aeronave, era a carenagem disposta logo atrás da cabine de pilotagem, do lado esquerdo da fuselagem, abrigando um aparelho de ar-condicionado. Este exemplar operou inicialmente sob a tutela do 3º/8º GAv e, a partir de 2004, foi incorporado ao Grupo de Transporte Especial, em Brasília/DF. Posteriormente, um segundo VH-34 passou a operar com a Unidade Aérea, fruto da conversão do FAB 8735, originalmente um CH-34, para o Transporte VIP. Em 2006, toda a frota de helicópteros de emprego operacional da FAB passou por uma alteração de designação, assim, os CH-34 passaram a ser identificados como H-34. O modelo continuou em operação até meados de segunda década do novo milênio, quando foi retirado de operação, substituído pela aeronave escolhida pelo Projeto H-X, do qual falaremos mais adiante.
No final dos anos 70, o governo brasileiro planejava a instalação de uma fábrica de helicópteros no país. Como resultado da licitação internacional aberta, a francesa Aérospatiale saiu-se vencedora, inicialmente funcionando junto ao Centro Técnico Aerospacial (CTA) em São José dos Campos/SP e, dois anos mais tarde, mudando-se para o seu parque fabril definitivo, localizado na cidade de Itajubá/MG. Ficou decidido que a primeira aeronave produzida em território nacional seria um desenvolvimento recente da fabricante francesa, o AS-350B Écureuil, um helicóptero utilitário leve, tornando-se logo um sucesso de vendas da Aérospatiale, tanto no mercado civil quanto com operadores militares ao redor do mundo. Aqui o modelo recebeu a denominação HB-350B Esquilo e teve como primeiro cliente, a Marinha do Brasil, que encomendou seis exemplares da aeronave. Cabe ressaltar que o Esquilo foi o primeiro helicóptero a ser operado pelos componentes aéreos das três Forças, primeiro com a Marinha e depois, com a FAB e o Exército, que estava reativando a sua Aviação, nesta época.
UH-50 Esquilo. Foto: FAB/Divulgação
Em meados da década de 80, juntamente com os AS-332M Super Puma, a FAB, adquiriu dez helicópteros AS-355, versão biturbina do AS-350 Écureuil. A devolução dos seis CH-33 Puma que eram operados pela FAB, como parte do pagamento pela compra dos novos helicópteros, permitiu a inclusão de 30 exemplares do HB-350B Esquilo no pacote. Esses helicópteros seriam destinados a modernizar a formação e treinamento dos futuros Pilotos de Asas Rotativas da FAB, que nesse momento, ainda utilizava os veteranos Bell H-13H, os quais encontravam-se totalmente ultrapassados para a tarefa. Os novos helicópteros começaram a ser recebidos em outubro de 1986, ganhando a designação UH-50 e as matrículas FAB 8760 a FAB 8789. Adquiridos para a tarefa de formar pilotos, a primeira Unidade Aérea operadora na FAB foi o justamente o 1º Esquadrão do 11º Grupo de Aviação (1º/11º GAv), responsável por esta função na FAB. Inicialmente utilizados apenas na Instrução Avançada, a partir de 1990, com a desativação dos H-13, o Esquilo passou a ministrar todas as fases do curso.
Atual padrão de pintura dos H-50. Fotos: FAB/Divulgação
Uma parte dos Esquilos foi direcionada para outra Unidade Aérea, o 2º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação, sediado em Recife-PE, uma unidade operacional, onde os novos helicópteros seriam utilizados no treinamento e emprego em missões de Busca e Salvamento em Combate (C-SAR), Ligação e Observação, Operações Aéreas Especiais, incluindo a implantação da doutrina de combate ar-ar dissimilar contra outros tipos de helicópteros ou aviões de pequeno porte. O planejamento da FAB incluía ainda a distribuição de alguns exemplares de UH-50 para as Bases Aéreas que dispunham de aeronaves de caça de Primeira Linha (Anápolis/GO, Santa Cruz/RJ e Canoas/RS), além da Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga/SP, onde serviriam como aeronave orgânica e para a função SAR. Essa demanda foi alterada depois e apenas a Base Aérea de Anápolis e a AFA efetivamente receberam cada uma, um exemplar. Os anos de operação e os atritos da função de treinamento levaram à perda de alguns exemplares, reduzindo a frota de H-50, como o Esquilo passou a ser designado a partir de 2006, para cerca de 18 aeronaves. Com relação à pintura, o Esquilo sempre usou o padrão de camuflagem empregado pelas aeronaves operacionais da FAB, primeiro com o esquema de dois tons de verde e marrom e, a partir de 2014, o esquema vigente, em tons de verde e cinza. Atualmente as unidades de Esquilo remanescentes encontram-se agrupadas no 1º/11º GAv, em Natal/RN e um exemplar segue em uso com a Academia da Força Aérea.
Além do Esquilo monoturbina, a FAB operou com dez aeronaves da versão equipada com dois motores, denominada de AS-355 Ecureuil 2, a qual voou pela primeira vez em 28 de setembro de 1979. O modelo escolhido pela FAB foi o AS-355 da variante F2 e pelo acordo firmado, os aparelhos deveriam ser montados no Brasil pela Helibras, recebendo a denominação local de HB-355F2 Esquilo Biturbina. Estes helicópteros começaram sua operação a partir de 1987, com dois exemplares configurados para a função de Transporte VIP, designados como VH-55 e matriculados como FAB 8818 e FAB 8819, junto ao Grupo de Transporte Especial (GTE), em Brasília/DF. As demais unidades receberam as matrículas de FAB 8810 a FAB 8817, a designação CH-55 e foram destinadas a cumprirem missões de Transporte e Emprego Geral. Estes helicópteros podiam também ser utilizados com uma ampla gama de armamentos, tais como, casulos de metralhadoras, lançadores de foguetes e metralhadoras laterais instaladas junto às portas, além de possuírem capacidade de voo por instrumentos (IFR). Os dois motores forneciam uma confiabilidade a mais na operação, assim, foram alocados ao recém-criado 7º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação (7º/8º GAv), em Manaus/AM, permitindo seu emprego com segurança sobre as inóspitas e extensas áreas da região amazônica.
CH-55 FAB 8816, pertencente ao Esquadrão Harpia. Foto: A. Camazano A.
Detalhes do logo do 7º/8º GAv e das marcações. Foto: A. Camazano A.
H-55 com a matrícula FAB 8811 do DCTA/GEEV, visto em agosto de 2010. Observe a instrumentação para testes em voo, instalada na seção dianteira da aeronave. Foto: A. Camazano A. (Arquivo)
VH-55 FAB 8819 com as cores do GTE. Foto: A. Camazano A.
Com o objetivo de ampliar a presença e a operação de aeronaves de asas rotativas na região Norte, a FAB deslocou alguns CH-55 para Belém/PA no início da década de 90, em virtude da reativação do 1º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação (1]º GAv), naquela localidade. A história do Esquilo biturbina na região amazônica seria marcada pelo alto número de acidentes e na perda de cinco dos oito exemplares. Diante disso, a FAB resolveu, em fins da década de 90, distribuir dois dos três exemplares remanescentes, os FAB 8811 e FAB 8816, ao Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV), atual Instituto de Pesquisas e Ensaios em Voo (IPEV), em São José dos Campos/SP.. Por sua vez, o FAB 8810, que não se encontrava mais em condições de voo, foi estocado no Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMA-AF), na cidade do Rio de Janeiro. Quanto aos dois VH-55, serviram com o GTE até o ano de 2009, na tarefa de transportar o Presidente da República e membros do Alto Escalão em deslocamentos de curta distância. Durante a época de serviço com o GTE, a dupla era conhecida pelo carinhoso apelido de "Tico e Teco", numa alusão aos simpáticos esquilos dos desenhos animados. Na sequência, estes dois exemplares, agora designados como H-55, foram distribuídos ao 3º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação (3º/8º GAv), onde operaram até fevereiro de 2010, quando foram enviados ao IPEV, permanecendo nesta Unidade até 2012, quando foram recolhidos e estocados em condições de voo, juntamente com os FAB 8811 e FAB 8816, no Parque de Material dos Afonsos. Finalmente, em agosto de 2013, estes quatro exemplares foram doados à Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro.
Após a modernização de parte de seus meios aéreos em meados da década de 80, somente cerca de duas décadas adiante, a Força Aérea Brasileira incorporaria novos modelos de helicópteros em seu inventário. Formando a espinha dorsal da Aviação de Asas Rotativas da FAB desde o início dos anos 70, os valorosos Bell H-1H começavam a apresentar sinais de desgaste e de baixa disponibilidade, devido à grande carga de missões a que essas aeronaves eram submetidas. Atento a isso, o Alto-Comando já vinha desde meados da década de 90 buscando soluções para resolver esse problema, culminando com a compra em maio de 2005, por intermédio do Programa estadunidense chamado de FMS (Foreign Military Sales, ou Vendas Militares a Estrangeiros) de um lote inicial de seis H-60L Black Hawk, helicóptero biturbina, fabricado pela Sikorsky, o sucessor natural do UH-1, uma aeronave extremamente versátil e operacional, amplamente empregada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos e por diversos outros operadores militares ao redor do planeta. Os helicópteros começaram a chegar a partir de agosto de 2006 e foram destinados ao 7º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação (7º/8º GAv) em Manaus/AM, recebendo a designação H-60L e as matrículas FAB 8901 a FAB 8906. Essas aeronaves foram entregues com um esquema de pintura fosca na cor verde-musgo, utilizada pelo Exército dos Estados Unidos (U.S. Army), de onde vieram. Com a entrada em operação do modelo, os H-1H empregados pelo 7º/8º GAv foram repassados ao Esquadrão "Pelicano" em Campo Grande/MS, reforçando a frota da Unidade Aérea na tarefa de Busca e Salvamento (SAR).
Todas as fotos: FAB/Divulgação
A introdução em serviço do H-60L trouxe um enorme ganho operacional para a Aviação de Asas Rotativas da FAB. A utilização do novo vetor demonstrou toda a capacidade de emprego do Black Hawk e comprovaram sua eficiência no cumprimento de todo tipo de tarefa, desde Busca e Salvamento em Combate (C-SAR), Infiltração e Extração de Forças Especiais, Missões Humanitárias, entre outras, podendo transportar mais carga, a maiores distâncias e com um elevado nível de segurança fornecido pelos seus dois motores. Além disso, a capacidade plena do uso de óculos de Visão Noturna, dava a condição de operação de dia ou de noite, em qualquer condição meteorológica. Em virtude de todas estas vantagens, decidiu-se pela aquisição de um segundo lote de aeronaves, desta vez, novas de fábrica, totalizando dez unidades. O acordo foi firmado entre os anos de 2008 e 2009 e os helicópteros foram recebidos a partir de fevereiro de 2011, destinados ao 5º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação (5º/8º GAv), sediado em Santa Maria/RS. Esta nova série deu continuidade à sequência de matrículas do modelo, sendo identificados como FAB 8907 a FAB 8916. Estes aparelhos foram entregues com a nova camuflagem padrão da FAB, em tons de verde e cinza, diferenciando-os das aeronaves do primeiro lote. Da mesma forma que o Esquadrão "Harpia" havia feito quando da chegada do H-60, o 5º/8º GAv também repassou seus H-1H para o 2º/10º, tornando-se este, o último reduto do veterano helicóptero na FAB.
Todas as fotos: FAB/Divulgação
Em 2018, após uma carreira de mais de meio século com a FAB e uma extensa ficha de serviços inestimáveis à população brasileira, o H-1H finalmente encontrou seu merecido descanso. A partir deste momento, a tarefa de Busca e Salvamento por asa rotativa realizada pelo 2º/10º GAv, foi assumida pelo H-60 Black Hawk. Para tal, dois exemplares operados pelas outras Unidades Aéreas foram cedidos temporariamente ao Esquadrão "Pelicano". Finalmente, entre 2018 e 2019, a Unidade Aérea passou a contar com seus próprios H-60, os FAB 8901 e FAB 8907, respectivamente operados anteriormente pelo 7º e pelo 5º/8º GAv. Atualmente não existe uma diferença ou divisão entre as aeronaves do primeiro e segundo lote. Após a revisão de nível parque, qualquer um dos exemplares em serviço, pode ser redistribuído para uma das três Unidades Aéreas que operam o modelo. Cabe ressaltar ainda, que os H-60 Black Hawk do primeiro lote estão progressivamente abandonando o esquema original de pintura e recebendo o padrão de camuflagem em tons de verde e cinza, utilizado pelas aeronaves de emprego operacional da FAB.
O transporte da Presidência da República e de membros do Alto Escalão do país, sempre foi uma atribuição da Força Aérea Brasileira. A responsabilidade de conduzir os que conduzem, requer aeronaves sempre em perfeitas condições de voo e com um excelente nível de segurança e conforto. Desde que a Aviação de Asas Rotativas da FAB surgiu, no início da década de 50, os quesitos listados acima são os principais fatores na escolha e operação dos helicópteros que prestam esse serviço. Assim, com o objetivo de manter o padrão de qualidade, em 2005, o Ministério da Defesa (MD), lançou uma concorrência internacional para uma aeronave bimotora, dotada de moderna aviônica, incluindo a completa operação por instrumentos, para substituir os dois VH-55 Esquilo biturbina então em uso pelo Grupo de Transporte Especial (GTE). Dentre as propostas recebidas, a que atendeu todos os requisitos técnicos e financeiros foi o modelo EC-135 da francesa Eurocopter (antiga Aérospatiale). O contrato foi assinado no início de 2008, contemplando duas aeronaves, mais equipamentos de apoio e treinamento. Os helicópteros foram produzidos nas instalações da Eurocopter na Alemanha, desmontados para o transporte até o Brasil e remontados e testados em Itajubá/MG, pela Helibras, subsidiária da empresa européia.
Todas as fotos: FAB/Divulgação
Na FAB, a aeronave recebeu a designação VH-35 e as identificações FAB 8500 e FAB 8501. Interessante observar que estas matrículas já haviam sido utilizadas no passado pelos pioneiros H-13D. A entrada em serviço com o 3º Esquadrão do Grupo de Transporte Especial (GTE-3) iniciou-se em julho de 2008 e prosseguiu na transição até o início do próximo ano. Durante esse período, os dois VH-35 e os dois VH-55, foram utilizados de forma conjunta, atendendo a Presidência da República em deslocamentos de curta distância. Visando uma segurança maior na operação, no final de 2010, os dois VH-35 receberam a instalação de um sistema anti-colisão, chamado de TCAS (Traffic Alert and Collision Avoidance System, ou Sistema de Alerta de Tráfego e Prevenção de Colisões).
Ao longo dos anos de operação de helicópteros na FAB, aos poucos, a função de ataque foi sendo incorporada à doutrina de emprego operacional, porém, sempre como uma atividade secundária, uma vez que os modelos de aeronaves de asas rotativas utilizados pela Força até então, tinham essa capacidade limitada a metralhadoras e lançadores de foguetes, muitas vezes, sendo necessário recorrer a adaptações para o uso desses armamentos. A presença de um helicóptero específico para as funções de apoio de fogo, escolta e ataque contra alvos em solo, era um anseio antigo da FAB, assim como também da Aviação do Exército Brasileiro, porém, tal desejo sempre esbarrava no alto custo de aquisição e operação deste tipo de aeronave. Em 2008, o governo brasileiro fechou um grande acordo comercial com a Rússia, envolvendo a exportação de carne bovina. Como contrapartida, surgiu a possibilidade de parte do pagamento ser feita através de equipamentos militares, entre eles, aeronaves de asas rotativas de ataque. O modelo ofertado foi o Mil MI-35M, versão de exportação do Mi-24V, um dos mais recentes desenvolvimentos do lendário e icônico helicóptero originalmente projetado na antiga União Soviética, conhecido por sua grande robustez e poder de fogo. Além de muitos operadores ao redor do planeta, o modelo foi amplamente testado em combate, tendo em sua ficha de serviço, a participação em inúmeros conflitos.
Todas as fotos: FAB/Divulgação
O acordo contemplou a aquisição de doze exemplares, novos de fábrica, sendo esta a primeira vez que as Forças Armadas brasileiras iriam operar um vetor aéreo de procedência russa. Além dessa questão, a compra desagradou alguns setores, principalmente pela implantação de uma nova cadeia logística e pela conhecida prática das empresas russas na falta de suporte pós-venda de seus produtos. Para facilitar a adaptação, os aparelhos vieram equipados com sistema de missão e aviônicos de origem israelense, fornecidos pela Elbit Systems. Ficou estabelecido que as aeronaves seria designadas como AH-2 Sabre, recebendo as matrículas de FAB 8951 a FAB 8962. A Unidade Aérea escolhida para operá-las, seria o 2º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação, Unidade já com um retrospecto de emprego com helicópteros armados, transferida de Recife/PE (onde operava com os H-50 Esquilo), para a cidade de Porto Velho/RO, atendendo ao planejamento estratégico da FAB. Os aparelhos foram sendo recebidos a partir de dezembro de 2009, em lotes de três aeronaves cada, sendo trazidos semidesmontadas em cargueiros Antonov An-124 diretamente para sua base de operações, onde seriam então remontados, testados e colocados em condições de voo. Devido a questões técnicas e orçamentárias, somente em novembro de 2014, com o recebimento do último lote, o Esquadrão atingiu sua dotação completa de aeronaves.
Todas as fotos: FAB/Divulgação
A operação do AH-2 Sabre trouxe para a Aviação de Asas Rotativas da FAB, capacidades até então inéditas, como por exemplo, o ataque a veículos de combate blindados, através dos mísseis anticarro transportados sob as duas pequenas asas laterais, uma das características mais notáveis do família de helicópteros Mi-24/Mi-35. Além dos mísseis, diversos outros tipos de armamentos podiam ser transportados, como lançadores de foguetes de diversos calibres, além de tanques suplementares de combustível. Como armamento de cano, o AH-2 veio equipado com um canhão duplo de 23 mm instalado em uma torreta no nariz da aeronave, guiada por uma mira montada no capacete do Artilheiro. Uma outra peculiaridade desse helicóptero era a presença de um compartimento interno para cargas ou passageiros, podendo transportar até oito combatentes totalmente equipados. Apesar de todas estas vantagens e funcionalidades, durante seu tempo de serviço com o FAB, o modelo sofreu com problemas de logística, suprimentos e manutenção, algo que já havia sido alertado, mesmo antes de sua aquisição. Além disso, as aeronaves aproximavam-se da necessidade de uma atualização de "meia-vida", demandando um alto investimento para tal. Diante desse quadro, o Comando da Aeronáutica decidiu em 2021 pela desativação do AH-2 Sabre, a iniciar-se a partir do ano seguinte, completando-se ainda em 2022. No momento, onze das doze células permanecem estocadas no Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa/MG, à espera de um comprador ou aguardando uma outra destinação, Um exemplar, o FAB 8961, foi encaminhado para o Museu Aerospacial (MUSAL), na cidade do Rio de Janeiro, em agosto de 2022.
Em meados dos anos 2000, iniciou-se estudos no âmbito do Ministério da Defesa para a produção ou aquisição de um helicóptero de transporte de porte médio para atender as necessidades operacionais das três Forças. Nessa época, tanto a Marinha do Brasil quanto a Força Aérea Brasileira buscavam um substituto para suas frotas de AS-332 Super Puma das variantes "F" e "M", respectivamente. Por sua vez, o Exército Brasileiro tinha o objetivo de aumentar sua capacidade de transporte de tropa. Nesse sentido, foi criado pelo Ministério da Defesa, o Projeto H-XBR, gerenciado pela Força Aérea Brasileira. Após a análise das propostas, a que melhor atendeu aos critérios estabelecidos, foi a da Airbus Helicopters (Ex-Eurocopter e Aérospatiale). O contrato foi assinado em 2008, contemplando o fornecimento de 50 aeronaves, tornando-se o maior programa de aquisição de helicópteros da história do Brasil. Pelo acordo, ficou estabelecido que as aeronaves seriam produzidas no país pela Helibras, com a seguinte distribuição, para a Força Aérea, 18 unidades, sendo 2 configuradas para Transporte VIP; Exército e Marinha, cada qual, com 16 exemplares, sendo os desta última, entregues em três configurações distintas. O modelo escolhido foi o H-225M, denominação comercial do EC-725 Super Cougar, um helicóptero militar de porte médio e derivado do próprio AS-332 Super Puma, representando o mais recente e sofisticado desenvolvimento dessa família de helicópteros, iniciada em meados dos anos 60, com o surgimento do SA-330 Puma.
H-36 Caracal em sua versão básica. Todas as fotos: FAB/Divulgação
Versão operacional do H-36 Caracal. Observe a sonda retrátil para Reabastecimento em Voo. Foto: FAB/Divulgação
VH-36. Foto: FAB/Divulgação
Com relação à FAB, foi adotado o nome "Caracal" para o helicóptero (denominação também utilizada pela Força Aérea e Exército franceses e que diz respeito a um tipo de felino, da família dos linces, comum no norte da África e Ásia Menor). Os exemplares para Transporte VIP receberam a designação VH-36 e as matrículas FAB 8505 e FAB 8506, sendo operados pelo 3º Esquadrão do Grupo de Transporte Especial (GTE-3), em Brasília/DF. Quanto ao modelo operacional, foi designado como H-36 em duas versões (Básica e Operacional, esta, mais sofisticada, dotada de sonda retrátil para Reabastecimento em Voo), com a série de matrículas iniciando pelo FAB 8510. Curiosamente, as matrículas adotadas para os H-36/VH-36 já haviam sido utilizadas por outras aeronaves da FAB no passado, dos modelos H-19 (FAB 8504 a 8507), H-13J (FAB 8508 a 8512) e H-13H (FAB 8513 a 8525). O primeiro exemplar foi recebido oficialmente em dezembro de 2010 e as entregas ainda encontram-se em andamento. As duas Unidades Aéreas da FAB que empregam o H-36 Caracal são o 1º e o 3º Esquadrões do 8º Grupo de Aviação, sediados em Natal/RN e Santa Cruz/RJ, respectivamente.
"Se voar é sobre-humano... pairar, é divino". Essa frase, de autor desconhecido, expressa muito bem as peculiaridades do voo em aeronaves de asas rotativas, centradas em suas principais características, ou seja, poder decolar e pousar de forma vertical, além de manter-se parado no ar, qualidades que durante muito tempo, foram exclusividade destas máquinas voadoras. Operar um helicóptero não é uma tarefa fácil, a começar pelos seu controle de voo, realizado por dois comandos operados de forma simultânea, chamados de cíclico e coletivo, ao invés do avião, que se utiliza apenas de um, o conhecido manche. Qualquer ação equivocada, pode afetar a estabilidade ou a aerodinâmica do voo do helicóptero, geralmente realizado a baixa altura e desviando de obstáculos. Concentração, atenção, coordenação e conhecimento técnico são apenas alguns dos predicados necessários para aqueles que conduzem ou almejam voar este tipo de aeronave.
Tão logo os primeiros helicópteros começaram a chegar na Força Aérea Brasileira, era preciso iniciar a formação dos profissionais que os iriam voar e manter. Esta atribuição coube inicialmente, como visto, ao 2º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (2º/10º GAv), criado em 6 de dezembro de 1957, na Base Aérea de Cumbica, em São Paulo, como a Unidade Aérea especializada na FAB para a missão de Busca e Salvamento (SAR). Nesse sentido, foi a primeira a utilizar helicópteros de forma operacional, forjando as primeiras doutrinas de emprego neste tipo de aeronave, assim, era natural que esse conhecimento fosse repassado adiante. Durante certo tempo, a formação do pessoal técnico em asas rotativas foi ministrada pelo Esquadrão "Pelicano", dividindo espaço com a sua tarefa principal, situação que perdurou até 1967, quando esta tarefa mudou de local.
Bell H-13H, durante muito tempo, o helicóptero utilizado para formar os futuros Pilotos de Asas Rotativas da FAB. Foto: Arquivo Nacional
Vista da Base Aérea de Santos, na década de 80. Ao centro, o Prédio do Comando e a esquerda, na imagem, pode-se ver um dos hangares. Foto: Jornal Cidade de Santos
A história de Santos, localizado no litoral de São Paulo, com a aviação é antiga. Quando a Força Aérea Brasileira foi criada em 1941, já existia ali uma estrutura para prover apoio a aeronaves, fruto da utilização da cidade como uma das bases de hidroaviões da Aviação Naval, desde as décadas de 20 e 30. O local foi escolhido para abrigar o Destacamento da Base Aérea de Santos (DestBAST) e, em 8 de setembro de 1967, passou a prover a formação dos futuros Pilotos de Asas Rotativas da FAB, através da instalação do Núcleo e logo depois da ativação do Centro de Instrução e Emprego de Helicópteros (CIEH), em 20 de outubro de 1967, empregando inicialmente helicópteros H-13D/H e H-19D, com o foco da instrução direcionado para o aprendizado de técnicas e táticas para as tarefas de apoio à Força Terrestre do Exército Brasileiro e missões de Salvamento. Logo depois, com vistas a instalar e concentrar em um único local, um Centro de Formação responsável por toda a infraestrutura ligada ao emprego de seus helicópteros, ou seja, não apenas a pilotagerm, mas também a manutenção, a FAB decidiu extinguir o CIEH, criando em seu lugar, em janeiro de 1970, o Centro de Instrução de Helicópteros (CIH). A nova Unidade era subordinada ao então Comando de Formação e Aperfeiçoamento (COMFAP) e foi finalmente ativada em junho de 1971. Nessa época, as aeronaves à disposição para a Instrução Aérea, eram os H-13H, OH-4 e UH-1D, com estes dois últimos modelos, logo após, sendo direcionados para o 5º EMRA em Santa Maria/RS, ficando apenas o H-13H exercendo a função de treinamento.
O Centro de Instrução de Helicópteros teve uma vida curta. Em seu lugar, seria criada em abril de 1973, a Ala 435, agora vinculada ao Comando Aerotático (COMAT), adquirindo o status de Esquadrão Operacional, mas mantendo ainda a função herdada do CIH. A numeração "435" guarda uma história curiosa por trás do seu significado. Seguindo a nomenclatura da FAB á época, o numeral das centenas correspondia à Zona Aérea na qual a Unidade Aérea estava lotada. Por sua vez, o algarismo das dezenas, dizia respeito a qual Comando ela estava vinculado, e, por fim, o último dígito era a ordem da própria Unidade, este, escolhido de forma aleatória. Assim, a Ala 435 era a quinta Unidade do Comando Aerotático, sediada na 4ª Zona Aérea, que abrangia o Estado de São Paulo. Em junho de 1979, ocorreu uma nova alteração. Atendendo a uma reorganização da estrutura operacional da FAB, a Ala 435 deixou de existir e em seu lugar, surgiu o 1º Esquadrão do 11º Grupo de Aviação (1º/11º GAv). Dois anos mais tarde, além da Instrução, a Unidade Aérea passou também a selecionar e formar Pilotos nas tarefas de Ligação e Observação e de Busca e Salvamento para aeronaves UH-1H; realizar a adaptação de Pilotos em aeronaves OH-13H; além de formar pessoal especializado em manutenção de aeronaves de asas rotativas. Nestas atividades, era utilizado o binômio H-13H/UH-1H. Com a chegada dos H-50 Esquilo, em 1986, o UH-1H foi repassado para outras Unidades Operacionais da FAB e, a partir de 1990, com a desativação do H-13H, o Esquilo assumiu todas as etapas da Instrução Aérea. Durante o ano de 2006, a Base Aérea de Santos deixou de ser sinônimo de asas rotativas e o berço dos futuros Pilotos de helicópteros da FAB. A partir de então, o novo endereço seria Natal, no Rio Grande do Norte, local que permanece como sede do Esquadrão Gavião até os dias atuais.
Foto: FAB/Divulgação
Para se tornar um Piloto de Helicóptero na FAB, o caminho começa na Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR), em Barbacena/MG (Nível Médio) ou na Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga/SP (Nível Superior). É nesta Instituição que o sonho de voar e ser um Piloto Militar começa de fato a ganhar forma. São quatro anos de muito estudo, disciplina militar e dedicação, além de uma intensa rotina de treinamentos físicos e intelectuais. Paralelo a isso, seguem as aulas teóricas e práticas, nas quais o Cadete aprende todos os segredos do voo. Ao término desse período, os agora declarados Aspirantes a Oficial, são designados, por escolha ou pela classificação, para um dos três Esquadrões da FAB, responsáveis pela transformação do Piloto Militar em um Piloto Operacional. São eles, o 1º/5º GAv (Aviação de Transporte, Patrulha ou Inteligência, Vigilância e Reconhecimento), 2º/5º GAv (Aviação de Caça) e 1º/11º GAv (Aviação de Asas Rotativas), todos, sediados em Natal/RN. Nessas Unidades, se aprende a utilizar a aeronave como arma de guerra, explorando ao máximo todas as suas capacidades.
O curso de formação é composto por aulas teóricas e práticas. O momento mais marcante é o voo solo. Ao final, é tradição em todas as Aviações, o aluno receber um batismo, após o pouso. Todas as fotos: FAB/Divulgação
Falando especificamente da operação com helicópteros, como visto, os ensinamentos são ministrados pelo 1º Esquadrão do 11º Grupo de Aviação, através do Curso de Especialização Operacional em Asas Rotativas (CEO-AR), com duração aproximada de nove meses e basicamente dividido em duas fases. uma básica e outra avançada. A primeira, consiste na adaptação ao modelo de aeronave a ser voada, no caso, o H-50 Esquilo, compreendendo a parte teórica e, a seguir, instruções em voo de técnicas de pilotagem, exercícios básicos de aproximação, pousos pontuais e corridos, além de treinamentos em emergências como pane hidráulica, perda de potência e autorrotação, culminando com o tão aguardado voo solo. Na parte avançada do curso, os estagiários aprendem as missões específicas da Aviação de Asas Rotativas, totalizando cerca de 100 horas voadas em sua formação. Concluída esta etapa com êxito, o Oficial Aviador, agora ocupando o posto de Segundo-Tenente, é direcionado para uma das diversas Unidades Aéreas da FAB que empregam helicópteros espalhadas pelo território nacional (veja infográfico mais adiante), a fim de dar prosseguimento em sua carreira e na sua progressão operacional. Para o 3º Esquadrão do Grupo de Transporte Especial (GTE-3), responsável pelas aeronaves de asas rotativas, em função de sua atribuição de conduzir as maiores autoridades do país, apenas Pilotos com maior experiência de voo, podem pleitear ou ser selecionados para esta Unidade Aérea.
Tão importante quanto voar, é manter! O papel do mecânico de aeronaves é fundamental no dia-a-dia das Unidades Aéreas. Dele depende a operacionalidade e a segurança do voo. Foto: FAB/Divulgação
Para quem vai trabalhar com a manutenção e apoio aos helicópteros da FAB, o caminho é a Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR), em Guaratinguetá/SP, Instituição de Ensino responsável por formar os graduados que irão atuar nas diversas Organizações Militares da FAB espalhadas pelo país. São muitas especialidades que podem ser escolhidas, relacionadas diretamente à operação com aeronaves de asas rotativas, como Estrutura e Pintura (GBEP), Equipamento de Voo (GBEV), Eletricidade e Instrumentos (GBEI), Fotointeligência (GBFT), Mecânica de Aeronaves (GBMA), Material Bélico (GBMB), entre outras. Após formados, como Terceiros-Sargentos, esses militares são distribuídos, de acordo com o interesse do Comando da Aeronáuticas para as diversas Unidades Aéreas e Organizações Militares da FAB, a fim de colocarem em prática, todos os ensinamentos dos três anos de curso.
O voo de formatura assim como a prática do emprego de armamentos ar-solo são duas atividades que fazem parte do currículo de formação dos futuros Pilotos de helicóptero da FAB. Todas as fotos: FAB/Divulgação
Atualmente a Aviação de Asas Rotativas da FAB é composta por quatro modelos de helicóptero, os H-50 Esquilo, H-36/VH-36 Caracal, VH-35 e H-60 Black Hawk, operados por oito Unidades Aéreas, além de algumas Organizações Militares que utilizam aparelhos de forma isolada como aeronaves orgânicas, Com exceção do Grupo de Transporte Especial (GTE), responsável pelo transporte de autoridades (vinculado ao Gabinete do Comandante da Aeronáutica - GABAER), todas as demais são subordinadas operacionalmente ao Comando de Preparo (COMPREP), Unidade que congrega todas a estrutura operacional da FAB e que tem como missão principal, preparar, para o emprego, os Meios Aeroespaciais e de Força Aérea sob sua responsabilidade, a fim de manter a soberania do espaço aéreo e integrar o território nacional. Acompanhe abaixo, através de artes especialmente elaboradas para esta matéria, a localização e as Unidades Aéreas que compõem a Aviação de Asas Rotativas da FAB.
Ao longo do tempo, alguns modelos de helicópteros empregados pela Força Aérea Brasileira, conforme iam sendo retirados de operação, ganharam um lugar de destaque em Organizações Militares, em locais públicos ou no Museu Aerospacial (MUSAL), Instituição da FAB responsável pela preservação da sua história, localizado na cidade do Rio de Janeiro. O site Aviação em Floripa elaborou especialmente para esta matéria, uma tabela contendo uma lista das aeronaves de asas rotativas atualmente preservadas ou em exposição.
A renovação de boa parte da frota de helicópteros da FAB a partir de meados dos anos 2000, com aparelhos modernos, de tecnologia recente e novos de fábrica, garantirá a operação com eficiência e o cumprimento de suas missões constitucionais pelos próximos anos. No momento, a entrega dos H-36 Caracal segue em curso. Recentemente, o 1º/8º GAv recebeu o FAB 8522, restando agora, apenas mais dois exemplares para serem recebidos, completando assim, o lote de quinze aeronaves deste modelo. O último H-36 do contrato original, o décimo sexto, foi trocado por um lote de 12 helicópteros Airbus H-125. Seguindo a tradição, esses aparelhos deverão ser produzidos pela Helibras, subsidiária da Airbus Helicopters, em Itajubá/MG. Para quem não sabe, o H-125 nada mais é do que a designação comercial atual do popular e conhecido Esquilo, baseada em sua versão B3, o modelo mais avançado da família, equipado com o motor Arriel 2D, dotado de controle eletrônico, além de cockpit digital e compatível com óculos de visão noturna. Na FAB, ele será o substituto do próprio H-50 Esquilo na função de formação dos seus futuros pilotos de asas rotativas.
Comenta-se que em breve, deverá ser anunciada a aquisição de um terceiro lote de helicópteros H-60 Black Hawk, reforçando a frota do modelo e possivelmente permitindo que o 2º/8º GAv em Porto Velho/RO, volte à operacionalidade, uma vez que, desde a retirada de serviço precoce do AH-2 Sabre, em 2022, a Unidade Aérea está sem aeronave, aguardando a definição de um substituto. Estas são as perspectivas presentes e futuras para a Aviação de Asas Rotativas, um dos mais importantes braços operacionais da Força Aérea Brasileira, com uma extensa ficha de inestimáveis serviços prestados à população brasileira e um legado de sacrifícios e dedicação em prol do desenvolvimento do país.
Para a realização desta matéria, o site Aviação em Floripa utilizou como fontes de pesquisa para a elaboração dos textos, as principais referências no Brasil em termos de história de nossa Aviação Militar, os websites
Armas Nacionais;
História da Força Aérea Brasileira, do pesquisador Rudnei Dias da Cunha e;
Spotter, do fotógrafo Luciano Porto, duas pessoas dedicadas à divulgação da cultura aeronáutica, as quais este Editor tem o privilégio de partilhar a amizade. Além do ambiente virtual, o livro
"Aeronaves Militares Brasileiras: 1916-2015", de autoria de Jackson Fllores Jr., serviu também como subsídio para o conteúdo escrito. Por fim, um agradecimento mais que especial ao Coronel Aviador da Reserva, Aparecido Camazano Alamino, historiador e pesquisador aeronáutico, a maior autoridade brasileira na preservação da memória da Força Aérea Brasileira, por sua valiosa ajuda, com a cessão de emblemas, informações e principalmente fotos, de seu grandioso acervo a respeito das aeronaves operadas pela FAB, desde a sua criação até os dias atuais. Sem o seu apoio, esta matéria ficaria incompleta.
1 comentários:
Mais uma excelente material didático, mostrando a evolução dos helicópteros na FAB, este material se fosse abordado numa live atrairia muitos entusiastas , sendo que o sapão e como mesmo vc disse é comparável ao dc3, p51, uma aeronave inesquecível, parabéns por mais esta excelente reportagem.
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