Neste mês de Setembro fez exatamente dois anos que chegou ao Brasil, o primeiro exemplar do caça multimissão F-39 Gripen, avião que pelas próximas décadas será a espinha dorsal e a ponta da lança da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. Para celebrar este fato marcante e o aniversário de 12 anos de criação do site Aviação em Floripa, brindamos nossos leitores com uma matéria especial, na qual vamos mostrar um pouco da história e detalhes da aeronave, protagonista do principal e mais importante programa de modernização da Aviação de Caça da FAB nas últimas décadas.
O começo de tudo
No final da década de 90, a primeira linha da Defesa Aérea brasileira era composta pelos supersônicos Dassault Mirage IIIE/D e Northrop F-5E/F Tiger II, classificados, dentro da hierarquia cronológica e de desenvolvimento tecnológico que se convencionou utilizar para esta categoria de aviões, como caças de segunda e terceira gerações, respectivamente. Além dos dois, a aviação de combate da Força Aérea Brasileira utilizava o subsônico A-1, resultado de uma parceria industrial entre Itália e Brasil, uma aeronave sem dúvida mais recente e moderna, porém, não propriamente dita "de caça", tendo seu emprego primário voltado para missões de Ataque ao Solo, Interdição do Campo de Batalha e Reconhecimento Tático. Enquanto isso, as grandes potências já voavam aviões de quarta geração ou um aprimoramento desta (chamada de 4,5 ou 4+) e já começavam a sair das pranchetas projetos de quinta geração, capitaneados pelo Lockheed F-22 Raptor dos Estados Unidos, inaugurando uma revolução e uma nova era nos modos de voar e lutar para se obter a supremacia dos céus. Junto a esta nova geração de aviões de caça, seguia em paralelo o surgimento de doutrinas e táticas de combate aéreo, explorando todas as capacidades tecnológicas e de armamentos à disposição destas aeronaves, sobretudo os conceitos chamados de BVR (Beyond Visual Range, ou Além do Alcance Visual), baseado no engajamento e destruição do inimigo a longas distâncias e NCW (Network Centric Warfare, ou Guerra Centrada em Redes), conectando diferentes meios aéreos, navais e/ou terrestres no campo de batalha, buscando uma resposta mais rápida, eficaz e coordenada das ações.
Adquiridos durante a década de 70, o Mirage III e o F-5 Tiger II (acima), colocaram a FAB na era supersônica e representavam, à época do início do Programa F-X, seus principais vetores para a defesa do Espaço Aéreo brasileiro. Crédito das imagens: FAB
Linha evolutiva das gerações de caças a jato através do tempo, de acordo com o desenvolvimento tecnológico. Fonte: https://www.electricalelibrary.com/en/2018/10/01/jet-fighter-generations/
Atenta a tudo isso e buscando diminuir o gap tecnológico, a Força Aérea Brasileira, após a realização de diversos estudos técnicos, lançou em 2001 o Programa F-X, visando a modernização de sua aviação de combate, com o objetivo de substituir, em um primeiro momento, os Mirage III e a médio prazo, os F-5 Tiger II. Durante os quatro anos seguintes, o processo de seleção do futuro caça da FAB passou por altos e baixos, com diversas propostas e concorrentes se apresentando para obter o milionário contrato, sem contudo, se chegar a um consenso e o programa acabou sendo cancelado no início de 2005. No ano seguinte (já com os Mirage III fora de serviço), as discussões foram retomadas e uma nova licitação lançada, agora denominada de F-X 2. Novos requisitos técnicos foram elaborados e novos candidatos apresentaram-se para a disputa, na figura dos europeus EF-2000 Eurofighter (Reino Unido/Espanha/Alemanha/Itália), Dassault Rafale (França) e Saab Gripen NG (Suécia), dos estadunidenses Boeing F-18E/F Super Hornet e Lockheed Martin F-16C/D Fighting Falcon, mais o russo Sukhoi Su-35 Super Flanker. Após extensa análise das propostas que deveriam contemplar além das aeronaves, um amplo e completo pacote que envolvia a transferência de tecnologia e compensações comerciais (chamadas de offset), chegou-se a uma lista reduzida de aviões, sobrando na disputa, o Boeing Super Hornet, o Dassault Rafale e o Saab Gripen NG. Finalmente, em Dezembro de 2013, o caça sueco foi anunciado como o vencedor do Programa F-X 2, com a aquisição inicial de 36 unidades, sendo 28 monopostas e 8 bipostas.
O pequeno viking
O Gripen é um caça leve, de quarta geração, monomotor, apresentando uma configuração de asas em delta combinadas com canards (superfícies aerodinâmicas instaladas à frente das asas) e controles de voo assistidos e controlados por computadores (conceito chamado de fly-by-wire). Sua história tem início no fim da década de 70, quando a Flygvapnet (Força Aérea da Suécia), buscava uma aeronave para suceder os seus caças Saab 35 Draken e Saab 37 Viggen, reunindo numa mesma plataforma todas as funções executadas por aqueles aviões. O desafio foi entregue à Saab e assim, em 9 de Dezembro de 1988, voou pela primeira vez o JAS-39 Gripen (JAS, de Jakt, Attack, Spaning, ou Caça, Ataque e Reconhecimento), trazendo já na sua designação, o conceito multimissão pretendido pela Força Aérea sueca. Após um longo período de desenvolvimento, finalmente o modelo entrou em serviço durante o ano de 1997 nas versões iniciais JAS-39A/B, mais tarde, substituídas pelos modelos C/D, incorporando uma série de melhoramentos e aviônicos mais modernos. Esta variante, além da Suécia, é operada pelas Forças Aéreas da África do Sul, Tailândia, República Tcheca e Hungria.
JAS-39C/D Gripen, o caça padrão da Flygvapnet. Crédito: Saab/Divulgação
Em 2007, um Gripen de dois assentos foi utilizado em um programa de testes para incorporar novos equipamentos e atualizações ao modelo. Chamado inicialmente de "Gripen Demo", depois Gripen NG (Next Generation, ou Próxima Geração), esta aeronave serviu de base para os Gripen das versões E/F adquiridas pela FAB. Embora mantenha o desenho básico e muitas das funcionalidades encontradas nas versões C/D, pode-se dizer que trata-se de um avião completamente novo, tal o número de tecnologias e aperfeiçoamentos agregados ao projeto. Entre eles, está uma nova motorização, o turbofan General Electric F-414-GE-39E (gerando cerca de 25% a mais de potência que o motor das versões anteriores do Gripen), maior capacidade interna de combustível, mais pontos sob as asas e fuselagem para a fixação de armas, um novo radar de Varredura Eletrônica Ativa (da sigla em inglês AESA, Active Electronally Scaned Array), o ES-05 Raven, desenvolvido pela italiana Leonardo, um painel de voo totalmente redesenhado do tipo WAD (Wide Area Display, ou Tela de Área Ampla), produzido pela brasileira AEL Sistemas, além de diversos sensores e armamentos especialmente planejados para a aeronave.
Um JAS-39D, chamado de "Gripen Demo ou NG" foi utilizado para testar novos equipamentos e aprimoramentos que levaram ao desenvolvimento da versão Gripen E. Fotos: Saab/Divulgação
Equipamentos testados no Gripen NG e os aperfeiçoamentos incorporados ao Gripen E. Fonte: Saab
Linha do tempo evolutiva da família Gripen e os principais melhoramentos incorporados aos modelos. Fonte: https://www.defesanet.com.br/flygvapnet/noticia/1040/O-Processo-de-Modernizacao-Sueco/
As atualizações e as novas tecnologias testadas no "Gripen Demo" e aplicadas aos Gripen E/F, o elevaram de patamar, inserindo-o na categoria dos caças de quarta geração e meia plus (4,5+ ou 4++), ombreando em termos de capacidade de combate, sensores e armas, aos Boeing F-15EX (Estados Unidos), Lockheed Martin F-16E/F/V (Estados Unidos), HAL Tejas Mk.2 (Índia), Sukhoi Su-35 “Super Flanker” (Rússia), Chengdu J-10C “Firebird” (China), entre outros. Comparado a alguns destes modelos, o caça sueco apresenta dimensões mais modestas, trazendo como pontos negativos, uma menor capacidade de carga bélica e um menor alcance. Por outro lado, apresenta um reduzido custo de operação por hora de voo e algumas de suas funcionalidades são encontradas apenas em caças de quinta geração.
O Gripen brasileiro
A história do Programa Gripen brasileiro começou no final de 2013, quando a Saab venceu a concorrência do Programa F-X 2, destinada à modernização da frota de aeronaves de caça da Força Aérea Brasileira. Em Outubro de 2014, foi firmado o contrato com o governo brasileiro para o desenvolvimento e a produção de 36 aeronaves, divididas entre 28 exemplares de um único assento (Modelo "E") e mais 8 da versão de treinamento (Modelo "F"), esta, exclusiva do Brasil, uma vez que a Suécia optou por manter sua frota de aeronaves JAS-39D para a conversão de seus pilotos para os 60 Gripen E encomendados para sua Força Aérea. Juntamente com as aeronaves, o acordo incluiu também o suporte logístico, armamentos e simuladores de voo. A proposta sueca desbancou os concorrentes dos Estados Unidos e França, oferecendo o menor preço de aquisição unitário, garantindo ainda a possibilidade da indústria aeronáutica brasileira participar ativamente do processo de desenvolvimento da aeronave, permitindo o conhecimento e o domínio de tecnologias sensíveis que, no futuro, podem possibilitar o projeto e a construção de um caça inteiramente nacional.
Impressão artística do cockpit do Gripen E. O grande destaque é a tela única chamada de WAD (Wide Area Display), projetada pela brasileira AEL Sistemas e adotada também para os aviões suecos. Um dos diferenciais dessa tecnologia, em relação a múltiplas telas, é a tecnologia chamada de fusão de dados, capaz de reunir diversas informações de voo, de missão e navegação em um mesmo ambiente. Fonte: https://aeromagazine.uol.com.br/artigo/monitor-panoramico-desenvolvido-no-brasil-sera-utilizado-no-caca-desenvolvido-em-parceria-com-suecia_3848.html
Melhorias e novidades no Gripen E/F em relação ao modelo Gripen C/D.
Previsto para entrar em serviço ainda este ano com o Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), em Anápolis/GO, a chegada do Gripen representará um importante salto qualitativo e tecnológico para a FAB. Além da Embraer, Akaer e AEL Sistemas, parceiras diretas da Saab no projeto do avião e de seus componentes, o programa vai fomentar diversos setores da indústria de defesa nacional, envolvidos no processo de desenvolvimento de estruturas, sistemas, aviônicos, na produção, ensaios em voo e na capacitação para apoiar, manter e modernizar a frota de aeronaves pelas próximas décadas, utilizando mão-de-obra brasileira e gerando milhares de empregos diretos e indiretos. Algumas dessas empresas foram incluídas na cadeia de fornecedores da Saab, tanto para a produção dos Gripen E/F, quanto para outras parcerias que possam vir a ser desenvolvidas no futuro. Mas os benefícios não pararam por aí. Outro ponto de suma importância no Programa F-X 2 e requisito fundamental na escolha da proposta vencedora, era a questão das compensações comerciais ou offsets. Nesse aspecto, a Saab está investindo e ampliando a sua presença no Brasil através das subsidiárias Saab Aeronáutica e Montagens (SAM) e da Saab Sensores e Serviços do Brasil, ambas localizadas em São Bernardo do Campo/SP. Todo esse processo gerou um dos maiores programas de transferência de tecnologia já realizados para a Força Aérea Brasileira e para o Brasil, e o maior já feito pela Saab para outro país.
Empresas e Parceiros brasileiros no desenvolvimento do Gripen E/F. Fonte: Saab/Divulgação
Infográfico mostrando a participação das principais empresas brasileiras no programa brasileiro do Gripen. Fonte: https://www.aereo.jor.br/2022/04/01/cacas-f-39-gripen-da-fab-devem-chegar-hoje-ao-porto-de-navegantes-em-santa-catarina/
O projeto e construção de um avião de combate na maioria dos casos tem uma diversificada origem de seus sistemas, sensores, componentes, motor e armamentos. No caso do Gripen, isso não é diferente, conforme mostra o infográfico acima. Fonte: https://brainly.com.br/tarefa/35869417
Vista geral das instalações da Saab Aeronáutica e Montagens (SAM), em São Bernardo do Campo/SP. Foto: Saab/Divulgação.
Tipos de estruturas e quantidades que estão sendo produzidas no Brasil pela SAM e que serão utilizadas na construção dos aviões para o Brasil e Suécia, além de atender outras nações que futuramente possam adquirir o Gripen. Fonte: Saab/Divulgação
Desde a assinatura do contrato em 2014, o cronograma de entregas sofreu alguns ajustes, assim como a responsabilidade pela construção do modelo biposto (Gripen "F") e a quantidade total de aeronaves previstas na encomenda original. Em Abril deste ano, durante a Solenidade em comemoração ao Dia da Aviação de Caça, o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, anunciou a inclusão de mais quatro unidades do Gripen ao lote inicial contratado, passando de 36 para 40 aviões, sendo este acréscimo composto por mais quatro aeronaves monopostas. Na oportunidade, também foi demonstrado o interesse da FAB em adquirir futuramente um segundo lote de aviões, composto por mais 26 exemplares. Outra mudança importante diz respeito às oito aeronaves de dois assentos, versão exclusiva do Brasil e que pelo acordo inicial, seriam fabricadas integralmente no Brasil e, a partir de agora, terão sua construção na planta industrial da Saab em Linköping. Por sua vez, mais unidades do Gripen E serão montadas no Brasil, padronizando a nossa linha de produção e deixando-a aberta por mais tempo, por consequência, garantindo empregos e a ocupação da mão-de-obra local. Até o momento da publicação desta matéria, quatro exemplares de série (todos construídos pela Saab), encontram-se no Brasil, juntamente com o protótipo de testes (o primeiro a chegar, em Setembro de 2020), totalizando cinco aviões. Enquanto este é utilizado para dar continuidade ao programa de ensaios em território nacional, os demais encontram-se em diferentes estágios cumprindo as etapas necessárias para a obtenção do Certificado Militar, uma espécie de licença para o operação da aeronave no país.
Exemplares entregues ao Brasil até o momento. Fonte: arte própria
Tabela mostrando o cronograma atual de entregas. Fonte: arte própria
* A tabela acima traz o cronograma apresentado pela FAB à imprensa, em Maio deste ano, em Brasília/DF. Nele não consta a informação quando as quatro unidades adicionais, anunciadas em Abril de 2022, serão entregues.
Obs. 1: Com a mudança da construção dos oito Gripen F do Brasil para a Suécia, o recebimento dos Gripen F poderá sofrer alterações e podem não seguir o exposto no cronograma. Há notícias que o primeiro exemplar biposto já teve iniciada a sua construção, com entrega prevista já para o ano que vem.
Obs. 2: Este cronograma refere-se à entrega dos aviões de produção em série. O exemplar de testes com a Matrícula FAB 4100, recebido em 2020, deverá ser incorporado à frota somente no término do programa. Sendo assim, deve ser um dos nove Gripen E alocados ao ano de 2027.
Nota Editorial: O site Aviação em Floripa entrou em contato com a Assessoria de Comunicação Social da FAB, a fim de buscar esclarecimentos sobre os pontos levantados acima referentes ao cronograma de entregas, principalmente com relação aos quatro Gripen adicionais e também sobre os aviões de dois assentos. Entretanto, até o fechamento desta matéria, não recebemos informações que permitam a atualização do cronograma.
Principais mudanças no Gripen F em relação ao modelo monoposto (Gripen E). Fonte: Saab/Divulgação
Todos as aeronaves que chegam ao Brasil têm como destino final as instalações da Embraer Defesa e Segurança, localizada na cidade de Gavião Peixoto, interior de São Paulo. Lá foi construído em parceria com a Saab, o Centro de Ensaios em Voo do Gripen ou GFTC (do inglês, Gripen Flight Test Center), destinado a elaborar os procedimentos e a capacidade para implementar novos recursos que possam aprimorar o emprego da aeronave durante sua vida operacional com a Força Aérea Brasileira. O Centro é integrado ao programa de ensaios do Gripen já em execução na Suécia, desde 2017. Sua estrutura é capaz de coletar em tempo real as informações de telemetria dos voos, para que os dados sejam analisados por pilotos, técnicos e engenheiros envolvidos na campanha de ensaios realizada pelo Brasil e pela Suécia. Além disso, esses dados permitem que os Engenheiros de Voo deem todo o suporte necessário aos pilotos durante os ensaios. As atividades no Brasil incluem dentre outros aspectos, a avaliação da performance e comportamento da aeronave no clima tropical. Também estão sendo testadas as particularidades da versão brasileira do Gripen, como por exemplo, a integração de armamentos e o sistema Link-BR2 (desenvolvido em parceria entre a FAB e a AEL Sistemas), que fornece dados criptografados e comunicação de voz entre as aeronaves.
Centro de Ensaios em Voo do Gripen, localizado em Gavião Peixoto/SP. Fonte: Saab/Divulgação
Também localizado em Gavião Peixoto, o Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (do inglês, Gripen Design and Development Network, ou GDDN), é responsável por apoiar as áreas de engenharia, os trabalhos de ensaios e testes e a integração de sistemas, além de atuar no desenvolvimento e melhorias nos softwares e demais componentes eletrônicos e de apoio às missões do Gripen, com o objetivo de ampliar a versatilidade do avião, fazendo com que ele atenda da melhor forma aos interesses e requisitos operacionais da FAB. É para o GDDN que vai a maior parte dos técnicos e engenheiros das várias empresas participantes do programa, após receberem o treinamento na Suécia. A estrutura possui centros de engenharia, simuladores, entre outros recursos. O ambiente é integrado virtualmente entre os dois países e com segurança de dados e informações.
Infográfico com diversas informações sobre o Gripen E. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ poder/2020/10/saiba-tudo-sobre-o-gripen-caca-da-fab-que-faz-voo-de-estreia-nesta-sexta-feira-em-brasilia.shtml
Diferenças entre as versões do Gripen E e F. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ poder/2020/10/saiba-tudo-sobre-o-gripen-caca-da-fab-que-faz-voo-de-estreia-nesta-sexta-feira-em-brasilia.shtml
Infográfico com diversas informações técnicas e operacionais do Gripen E/F. (clique sobre a imagem para uma melhor visualização). Fonte: FAB
Primeiro voo do FAB 4100 na Suécia, em Agosto de 2019, o primeiro Gripen E produzido para a FAB. Fotos: Saab/Divulgação
Apresentação e entrega oficial do primeiro Gripen E da FAB, em Setembro de 2019. Crédito: Lasse Hejdenberg
Primeiro exemplar de produção em série, deixando a linha de montagem em Linköping, na Suécia. Foto: Saab/Divulgação
Entrega oficial dos quatros primeiros Gripen E de série para a FAB, na Suécia, em Novembro de 2021. Fotos: Saab/Divulgação
O escudo e a lança de Odin
Uma aeronave de caça tem em seu grupo propulsor, na eletrônica embarcada e nos armamentos, a tríade que garante a sua sobrevivência no campo de batalha e a chave para o sucesso da missão. Quando o Gripen entrar em serviço operacional, a Força Aérea Brasileira estará recebendo um avião no chamado "estado da arte", incorporando o que há de mais moderno em termos de sensores, equipamentos e armas. O Gripen é propulsado por um turbofan General Electric F414-GE-39E, um motor capaz de produzir 22 mil libras de empuxo com o pós-combustor em pleno funcionamento. A potência do motor F414 permite ao Gripen decolar com peso máximo de 16.500 kg em apenas 500 metros de pista, seja a partir de uma pista comum ou até mesmo de um trecho de rodovia. Além disso, dá ao Gripen a capacidade de voar em regime de supercruise, isto é, mantendo o voo em velocidades supersônicas sem o uso do pós-combustor, resultando em economia de combustível e estendendo a vida útil do motor e o tempo necessário para a sua manutenção.
Instalação do motor F414 em um Gripen da FAB. Foto: Saab/Divulgação
Motor turbofan General Electric F414. Foto: GE
O Gripen é um caça multimissão, ou seja, cumpre com a mesma eficiência as tarefas de Interceptação, Defesa Aérea, Ataques Ar-Terra, Ar-Mar, Reconhecimento e Guerra Eletrônica. Na moderna arena de combate, tem vantagem quem localiza e ataca primeiro. Nesse aspecto, o Gripen é dotado de uma ampla gama de sensores, dispositivos de defesa e armamentos que lhe conferem ampla proteção contra ameaças e alta probabilidade para detectar, engajar e destruir o inimigo. São diversos equipamentos a bordo para o Controle de Tiro, Guerra Eletrônica (EW) e Comunicação, com o objetivo de "blindar" a aeronave, tornando-a furtiva eletronicamente e aumentando sua taxa de sobrevivência. A partir de agora vamos trazer algumas informações sobre alguns desses componentes.
Nota Editorial: As informações descritas abaixo foram compiladas com base no completo e excelente artigo produzido pelo site Tecnomilitar. Para quem quiser saber mais, acesse a matéria na íntegra, através do link:
https://tecnomilitar.wordpress.com/2020/12/15/gripen/
O radar do Gripen e seu principal equipamento de controle de tiro é o Leonardo ES-05 Raven, do tipo AESA (Antena de Varredura Eletrônica Ativa, do inglês, Active Electronically Scanned Array). Essa tecnologia é centrada em pequenos módulos de transmissão e recepção, capazes de gerar e irradiar seu próprio sinal independente e que juntos formam a matriz de transmissão e recepção. As vantagens deste tipo de radar são principalmente, a elevada disponibilidade e confiabilidade, cobertura simultânea do ar, solo e mar, rastreamento com amplo campo de visão e elevada capacidade de resistir ao bloqueio eletrônico adversário (Contra-Contramedidas Eletrônicas – ECCM). O ES-05 possui 4 modos principais de operação: ar-ar, combate aéreo, ar-superfície e intercalado, que conduz buscas aéreas e de superfície simultaneamente.
Radar Raven ES-05 instalado no Gripen Demo. Foto: Saab/Divulgação
A grande inovação do Raven, porém, não é a sua arquitetura AESA, mas, a antena montada sobre uma plataforma estrutural angulada em 40° do tipo swashplate, que gira livremente e de maneira circular ao redor do eixo longitudinal da aeronave. O reposicionamento da antena inclinada (que também ajuda a diminuir a assinatura radar frontal da aeronave), aliado à movimentação eletrônica do feixe de onda, permitem ao Raven escanear um volume maior de céu do que se tivesse uma antena fixa. Enquanto uma antena AESA fixa ou apenas com direcionamento mecânico possui um ângulo de varredura de 60 graus a partir da linha central (cerca de 60° para cada lado do radome), por sua vez, no ES-05, este ângulo de varredura pode atingir até 100 graus a partir da linha central, permitindo assim que ele veja alvos atrás da chamada “linha 3-9” ou “visão sobre os ombros”. Taticamente, a “visão sobre os ombros”, dentre outros benefícios, ajuda no combate BVR, permitindo ao Gripen disparar um míssil BVR e manter o alvo dentro do campo de visão do radar enquanto faz um deslocamento perpendicular em relação a ele, proporcionando, via link de dados, manter a posição do alvo atualizada para o míssil em voo, elevando assim a probabilidade de abate enquanto a aeronave mantém-se distante.
Campo de observação do Raven ES-05. Fonte: Site Tecnomilitar
Tecnologia AESA swachplate. Crédito: Dioge Tsutsumi/Tecnomilitar
Após o radar, o sistema diretor de tiro mais importante do Gripen E/F é o IRST Skyward-G (também fabricado pela Leonardo), instalado à frente do para-brisa. O IRST (Sistema Infravermelho de Busca e Rastreamento, do inglês Infra-Red Search and Track), atua como uma espécie de radar térmico, apresentando os dados das fontes de calor no mesmo formato de uma tela de radar, podendo informar com elevada precisão a posição angular do alvo e por estimativa, a sua distância. Por ser passivo, ou seja, não emite sinais, o equipamento detecta e rastreia o inimigo sem denunciar a presença ou a posição da aeronave. Também pode funcionar como um sistema redundante ao radar caso este esteja sofrendo algum tipo de interferência eletrônica inimiga.
Detalhe do sensor IRST. Os exemplares brasileiros entregues até o momento não vieram com o equipamento instalado, entretanto, por ser modular, pode ser facilmente montado. Fonte: https://www.flightglobal.com/
Vale a pena ressaltar que no Gripen E/F de série, o radome foi ligeiramente modificado em relação aos protótipos, apontando ligeiramente mais para baixo. A mudança não ocorreu por qualquer problema de espaço ou interferência do radar, mas para melhorar o campo de observação do IRST. As duas imagens abaixo mostram de forma clara esta alteração.
Protótipo FAB 4100, com o radome tradicional. Foto: Marcelo Lobo da Silva/Aviação em Floripa
FAB 4102, Gripen E de série com o radome modificado. Foto: Marcelo Lobo da Silva/Aviação em Floripa.
Os Gripen da FAB também serão equipados com o pod de designação de alvos Litening G4 Advanced (também chamado de Litening G5) da empresa americana/israelense Northrop Grumman/Rafael. O Litening G4 Advanced é um sistema de sensores infravermelhos eletro-ópticos de quarta geração para mira e vigilância que permite que as aeronaves de combate detectem, adquiram, identifiquem e rastreiem alvos (principalmente em solo) a longas distâncias. Este sistema atua em conjunto com as bombas guiadas e os mísseis ar-terra, garantindo a precisão dos ataques.
Pod de designação de alvos Litening instalado em um Gripen C da Força Aérea da Suécia. Fonte: https://tecnomilitar.wordpress.com/
No cenário de guerra aérea da atualidade, o domínio da informação é essencial, através da capacidade das aeronaves "conversarem" entre si ou com os centros de Comando e Controle aerotransportados ou em terra, em um ambiente ou rede própria, de forma segura e sem ser interceptada ou compreendida pelo inimigo. Esse é o conceito básico da chamada Guerra Centrada em Redes (do inglês, Network Centric Warfare), desenvolvido na última década do século passado e que tem na tecnologia de enlace ou link de dados, a sua principal ferramenta. O sistema de comunicação adotado para as aeronaves brasileiras é chamado de Link BR-2, desenvolvido pela FAB e AEL Sistemas, atualmente em fase final de testes e implantação. Ele permitirá a troca de dados como informações de radar, vídeos e imagens entre diversas plataformas aéreas, navais e terrestres, a qualquer hora e em qualquer lugar, utilizando um protocolo criptografado avançado com alto grau de segurança.
Meios aéreos da FAB previstos para utilizarem o sistema Link BR-2.
O Link BR-2 irá conectar diferentes plataformas em múltiplos ambientes. Fonte: Revista Força Aérea, Rio de Janeiro, v. 126, n. 1, p. 49-59, out. 2020.
Assim como o Sistema de Comunicação, outro ponto-chave diz respeito à chamada Guerra Eletrônica (EW, do inglês Electronic Warfare), fornecendo proteção eletrônica para as aeronaves de caça, frente às ameaças representadas por radares e mísseis inimigos. São vários tipos de sensores e dispositivos espalhados pela aeronave, identificados por antenas e protuberâncias em diversas pontos da fuselagem, asas e no estabilizador vertical, conjunto este denominado pela Saab como "Arexis". Entre esses equipamentos, estão o Sistema de Alerta Radar (RWR, do inglês Radar Warning Receiver), que detecta quando a aeronave está sendo iluminada por radares inimigos e o Sistema de Alerta de Aproximação de Mísseis (MAWS, ou Missile Approach Warning System), avisando o piloto, que assim pode efetuar manobras evasivas ou utilizar as Contra-Medidas eletrônicas à disposição, como o lançamento de chaffs (partículas metálicas que confundem o radar) e flares (iscas luminosas para atrair os mísseis guiados pelo calor). Além da parte defensiva, a Saab desenvolveu um pod para missões ofensivas de Guerra Eletrônica, chamado de EAJP (Electronic Attack Jammer Pod, ou Casulo de Interferência para Ataque Eletrônico), com o objetivo de interferir nos radares e sistemas de detecção e defesa inimigos. Os sensores ficam armazenados em um casulo de 4 metros de comprimento e 350 kg, transportado externamente sob uma das asas do Gripen E/F.
Conjunto de sensores e dispositivos de Guerra Eletrônica defensiva do Gripen E/F. Fonte: Saab
Infográficos contendo as principais funcionalidades do Gripen E/F (clique sobre as imagens para uma melhor visualização das informações). Fonte: Saab/Divulgação
Uma diferença entre os Gripen E sueco e brasileiro, diz respeito aos sensores e equipamentos de Guerra Eletrônica (EW) operados pelos dois países. A parte da aeronave onde isto fica mais visível são os trilhos das pontas das asas. O sistema de EW do Gripen E/F brasileiro tem uma pequena diferença no Sistema de Alerta Radar (RWR), que cobre bandas de frequência ligeiramente diferentes do modelo sueco, que tem o trilho mais volumoso, por apresentar requisitos para ameaças diferentes. Fotos: Saab/Divulgação.
Pod EW EAJP instalado no protótipo do Gripen E 39-10. Fotos: Saab/Divulgação
O Gripen possui dez posições para cargas externas, sendo que destas, nove têm capacidade para transportar armamentos. O leque de opções é amplo e diversificado, incluindo todos os tipos de mísseis e bombas de fabricação ocidental, além de tanques externos de combustível e casulos designadores de alvos e de guerra eletrônica, totalizando uma capacidade de 5 toneladas nas dez estações (duas nas pontas das asas, quatro sob as asas e mais quatro sob a fuselagem, sendo três delas capacitadas para armas). De acordo com a missão ou o objetivo a ser atingido, existe uma variedade de combinações diferentes para o arsenal à disposição. Cada estação apresenta um limite de peso específico, sendo as mais reforçadas, ou seja, as que conseguem levar cargas mais pesadas ou volumosas, as internas sob as asas (3R/3L) e a central sob a fuselagem (5C). Além disso, o Gripen apresenta como armamento orgânico, um canhão de fabricação alemã Mauser BK-27, de 27 mm, instalado internamente na parte esquerda inferior da fuselagem e com provisão para 120 cartuchos de munição e cadência de disparo para 1.700 projéteis por minuto. Um detalhe interessante é que a arma está disponível apenas na versão monoposta da aeronave. Os tanques de combustível externos têm capacidade para 300 galões (1.135 litros) ou 450 galões (1.700 litros), este último desenvolvido especialmente para os Gripen E/F.
Canhão Mauser BK-27 de fabricação alemã. Fonte: https://weaponsystems.net/system/880-27mm+Mauser+BK-27
O canhão fica posicionado na parte inferior esquerda da fuselagem. Fonte: Saab/Divulgação
Capacidade máxima de transporte por tipo de carga externa e as estações habilitadas para cada uma delas.
Algumas configurações e composições possíveis de acordo com a missão ou alvo a ser atingido.
Raio de combate é a distância até onde o caça pode ir, combater e retornar para sua base de origem, sem reabastecimento em voo. A ilustração acima mostra até onde o Gripen chega nesta condição, com algumas configurações de cargas externas. Fonte: arte própria, elaborada com dados técnicos fornecidos pela Saab.
Entre as armas e sistemas compatíveis com o Gripen, podemos destacar os mísseis ar-ar de guiagem infravermelha, IRIS-T, A-Darter, AIM-9M Sidewinder, MAA-1 Piranha, Python 4 e 5, os misseis ar-ar de guiagem por radar, Derby, AIM-120 AMRAAM e MBDA Meteor. O armamento ar-solo, inclui as bombas guiadas das famílias Paveway, GBU-31 JDAM, Ebit Lizzard e Rafael SPICE, bombas do tipo standoff, como a AGM-154 JSOW, dispensadores de bombas inteligentes (SDB), como os GBU-39 e GBU-53, entre outros modelos e variedades de bombas; mísseis anti-navio, como o sueco RBS-15 e ar-superfície dos modelos Taurus KEPD 350, MBDA Brimstone, MBDA SPEAR 2 e 3, AGM-158 JASSM e AGM-65 Maverick, entre outros. Com relação aos equipamentos de apoio às missões, temos o designador de alvos Litening, pods de reconhecimento Recce Lite, Thales DJRP, SaabTech MRPS, Jammer Arexis e despistadores programáveis, como o LADM, além de armas não-guiadas, como as bombas da família Mk.80 e lançadores de foguetes. O Gripen tem ainda a capacidade para transportar simultaneamente até três tanques de combustível extras nos suportes internos da asas e no central sob a fuselagem.
Algumas opções de cargas externas para o Gripen E/F (para uma melhor visualização, clique sobre a imagem). Fonte: Saab/Divulgação
Mísseis ar-ar adquiridos pela FAB para os Gripen E/F. Fonte: FAB
Nota Editorial: Alguns dos armamentos citados anteriormente, bem como os mostrados na imagem mais acima, compõem as várias opções disponíveis no mercado para a aeronave e que são passíveis de serem integrados ao sistema de armas do Gripen. Alguns deles já fazem parte do arsenal da Força Aérea Brasileira, outros estão em processo de aquisição, porém, por razões logísticas, de custos, ou mesmo de necessidade, nem todos serão comprados ou operados em nosso país. Recentemente foram comprados pela FAB, para uso exclusivo dos Gripen E/F, os mísseis ar-ar IRIS-T e Meteor, considerados entre os mais eficazes e letais em suas categorias. Além deles, bombas inteligentes e casulos para aquisição de alvos e de reconhecimento, também foram adquiridos.
Desenho em 3 vistas do Gripen E. Fonte: Saab/Divulgação
Uma jornada por mar, terra e ar
A longa viagem dos aviões rumo ao Brasil tem início na Fábrica e Centro de Testes da Saab, localizado junto ao Linköping City Airport (LPI/ESSL). De lá, as aeronaves decolam para um voo de curtíssima duração até o Aeroporto de Norrköping (NRK/ESSP), separados entre si por uma distância de apenas 50 km. Do aeroporto, seguem rebocados por via terrestre até o Porto da cidade, onde são embarcados em um navio especialmente fretado para a operação. Os aviões vêm abrigados no porão de cargas da embarcação, presos ao assoalho, em uma estrutura própria para este transporte. São mais de 12 mil quilômetros separando os Portos de Norrköping e Navegantes, litoral norte de Santa Catarina, vencidos em cerca de 21 dias de navegação. A escolha do porto catarinense para receber os aviões tem a ver com as facilidades de logística para a operação, dentre as quais, podemos destacar, a pequena distância (cerca de 2 km) entre as instalações da Portonave e o Aeroporto Internacional Ministro Victor Konder (NVT/SBNF), vias largas, com bom pavimento e livre de obstáculos, a pista do Aeroporto com dimensões seguras para a decolagem, local para abrigar os aviões com segurança durante a preparação para o voo e o baixo volume de tráfego aéreo, comparado com outros aeroportos brasileiros.
A distância entre entre os Aeroportos de Linköping e Norrköping é de cerca de 50 km. Fonte: arte própria, elaborada a partir do Google Maps
Trajeto de navegação entre o Porto de Norrköping, na Suécia e Navegantes, Brasil. São mais de 12 mil quilômetros de distância, vencidos em cerca de 21 dias de navegação. Fonte: arte própria, elaborada a partir de informações do site Marine Traffic
Após a atracação do navio, ocorre a operação de retirada dos aviões, através do içamento e posterior recolocação das rodas do trem de pouso principal (retiradas no embarque para fixar os aviões no piso do porão de cargas). Em seguida, acontece o traslado do porto até o aeroporto, feito sempre no período da madrugada (para não causar impactos ao trânsito de veículos e para diminuir a presença de curiosos), sob forte esquema de segurança, envolvendo a escolta durante todo o trajeto pelas equipes de Infantaria da Aeronáutica, com a participação da Polícia Militar e outros órgãos de segurança e de apoio. A entrada na área do aeródromo é feita por um portão, construído em 2020, quando da chegada do primeiro Gripen ao Brasil. O acesso até o hangar ocorre pela própria pista de pousos e decolagens. São necessários de dois a três dias para a equipe de técnicos da Saab e da FAB deixarem os aviões prontos para o voo. Isso compreende a instalação dos assentos ejetáveis, a energização e testes em todos os sistemas das aeronaves e o giro dos motores. Após a realização desses procedimentos, as aeronaves estão prontas para decolar pela primeira vez e seguir rumo ao Centro de Ensaios em Voo do Gripen, em Gavião Peixoto/SP.
Localização da Portonave e do Aeroporto de Navegantes. A pequena distância entre as duas instalações é um dos principais motivos pela escolha da cidade catarinense ser a porta de entrada dos Gripen no Brasil. Fonte: arte própria, elaborada a partir do site Google Earth
Os aviões são transportados no porão de cargas do navio, em uma estrutura própria para este tipo de transporte. Para a fixação, são retiradas as rodas do trem de pouso principal. Foto: Saab/Divulgação
Sequência de imagens mostrando o processo de retirada do navio. Todas as fotos: Saab/Divulgação
A distância entre a Portonave e o Aeroporto de Navegantes é de aproximadamente dois quilômetros. O trajeto dos aviões por via terrestre é rápido, dura cerca de 30 minutos, facilitado por vias largas e livres de obstáculos. Fonte: arte própria, elaborada a partir do site Google Earth
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Traslado pelas ruas de Navegantes. Foto: Marcelo Lobo da Silva/Aviação em Floripa
Fazer esta viagem por via marítima, apesar de demorada, acaba sendo mais segura e econômica, em comparação com um voo de traslado. Há que se considerar que são aeronaves recém-saídas de fábrica, ainda não homologadas, praticamente sem terem voado ainda e com apenas um motor, não sendo recomendado voos de longa duração nestas condições, principalmente em grandes trechos sobre o mar. A pequena autonomia, mesmo com tanques extras de combustível, obrigaria a realização de escalas para reabastecimento. Outro ponto a se levar em conta, é a questão do sobrevoo do espaço aéreo de diversos países, ainda mais por uma aeronave de combate, o que requer o aviso prévio e uma autorização especial para cada um deles, envolvendo uma grande burocracia. Cabe ressaltar que, por mais inusitado que pareça, operações de entrega de aviões a bordo de navios não são incomuns. Podemos citar como exemplo, o recebimento dos A-4 Skyhawk pela Marinha do Brasil e dos Gripen C/D sul-africanos, feitos nesta mesma modalidade.
Palavras finais
A chegada do Gripen representa um divisor de águas para nossa Aviação de Caça. É inegável o salto tecnológico que a Força Aérea Brasileira ganhará com a entrada em serviço dos F-39E/F Gripen, inserindo-a definitivamente no "estado da arte" da moderna arena do combate aéreo, permitindo o aprimoramento e o desenvolvimento de todo um conjunto de novas doutrinas e táticas de emprego, por conseguinte, elevando o patamar operacional de suas equipagens e da força aérea como um todo. Ganha toda a indústria nacional, não apenas as empresas ligadas diretamente ao projeto ou ao setor aeronáutico, permitindo a absorção de conhecimento e o domínio de várias tecnologias de ponta que permeiam a criação e o desenvolvimento de uma aeronave de última geração, seja no projeto em si, seja na confecção e produção de componentes ou na integração de sistemas, além de incentivar a geração de empregos em todos os níveis da cadeia produtiva que envolvem um programa desse porte. Enfim, ganha o Brasil, ao adquirir um vetor com grande poder de dissuasão no sempre complexo tabuleiro de xadrez da geopolítica regional, recolocando nossa aviação de combate em termos quantitativos e qualitativos novamente na liderança continental, garantindo que nosso imenso manancial de riquezas naturais e a soberania de nosso espaço aéreo continuem bem defendidos pelas próximas décadas.
1 comentários:
Fantástica e completa abordagem. Parabéns e obrigado por tão importantes e interessantes informações.
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