Até o final deste mês de janeiro, a Base Aérea de Florianópolis (BAFL) está recebendo e apoiando duas aeronaves McDonnell Douglas A-4 Skyhawk, pertencentes ao Primeiro Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (VF-1), Unidade Aérea da Aviação Naval da Marinha do Brasil (MB) sediada na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), localizada na cidade de mesmo nome, no Estado do Rio de Janeiro. Os aviões estão em Florianópolis desde o dia 8 de janeiro, como parte da Operação ASPIRANTEX 2022, tradicional exercício organizado anualmente pela Marinha do Brasil. Além de contribuir para o adestramento e o pronto-emprego dos meios navais e aeronavais da Esquadra, o treinamento também tem o objetivo de apresentar de forma prática aos Aspirantes da Escola Naval, Instituição de Ensino e formação dos futuros Oficiais da Marinha, características e detalhes da vida no mar e das operações a bordo dos navios, além de auxiliar na escolha das especialidades que os alunos irão abraçar em suas carreiras.
O Exercício ocorre de 06 a 27 de janeiro e tem como cenário de atuação a área marítima compreendida entre os Estados do Rio de Janeiro/RJ e do Rio Grande do Sul/RS. De acordo com informações enviadas ao blog pelo Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM), a Operação está dividida em 6 fases, dentre pré-comissão, fases de mar, fases de porto e regresso. Durante as fases de mar, estão sendo executados diversos exercícios de caráter estritamente militar, relacionadas com as atividades que dizem respeito às tarefas básicas do Poder Naval, com ações de presença nas Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB). O Comandante da 1ª Divisão da Esquadra (ComDiv-1), Contra-Almirante Marcelo Menezes Cardoso, é o Comandante do Grupo-Tarefa, responsável pelo planejamento e execução das atividades referentes à ASPIRANTEX 2022. Diversos meios navais e aéreos estão envolvidos diretamente no treinamento, entre eles, o Navio-Aeródromo Multipropósito “Atlântico” (A-140), Navio Doca Multipropósito “Bahia” (G-40), Fragata “Liberal” (F-43), Fragata “Independência” (F-44), Submarino “Tikuna” (S-34), Navio-Patrulha Oceânico “Amazonas” (P-120) e o Navio de Apoio Oceânico “Mearim” (G-150). O componente aéreo conta com a participação de cinco Esquadrões da Marinha do Brasil e as seguintes aeronaves: Bell IH-6B Jet Ranger III (Esqd. HI-1), Helibras UH-12 Esquilo (Esqd. HU-1), Helibras UH-15 Super Cougar (Esqd. HU-2), Sikorsky MH-16 Seahawk (Esqd. HS-1) e McDonnell Douglas AF-1B/C Skyhawk (Esqd. VF-1). A Força Aérea Brasileira também participa da Operação, voando a partir de suas bases, com aviões de patrulha Lockheed P-3AM Orion e Embraer P-95M Bandeirante Patrulha.
Concebido no início da década de 50 pela fabricante estadunidense Douglas, mais tarde McDonnell Douglas, o A-4 Skyhawk é um jato de ataque com asas em delta, projetado inicialmente como um atacante nuclear para operar a bordo dos Porta-Aviões da Marinha dos Estados Unidos (U.S. Navy). Foi bastante utilizado e ganhou notoriedade como aeronave de ataque convencional e caça-bombardeiro ao longo da Guerra do Vietnã (1955-1975), com a Força Aérea de Israel nos confrontos com os árabes, sobretudo na Guerra dos Seis Dias (1967) e Conflito do Yom Kippur (1973) e também com os argentinos durante a Guerra das Falklands (1982). O desempenho em combate mostrou as qualidades do aparelho e do projeto, tornando o A-4 um grande sucesso, com o desenvolvimento de diversas versões ao longo do tempo, sendo produzidos entre 1954 (ano em que ocorreu o primeiro voo) até 1979 (quando a linha de produção se encerrou), um total de 2.960 exemplares, operados por várias Forças Aéreas e Marinhas ao redor do mundo. Atualmente apenas o Brasil e a Argentina, além da Draken International, uma empresa privada dos Estados Unidos que presta serviços de treinamento de combate aéreo, continuam a utilizar o A-4.
O modelo empregado pelo Brasil foi originalmente operado pela Força Aérea do Kuwait a partir de meados da década de 70. Na ocasião foram adquiridos um total de 30 A-4 monopostos da versão "M", chamada de Skyhawk II, mais 6 aeronaves bipostas TA-4, passando a serem designadas como A-4KU (matriculadas de 801 a 830) e TA-4KU (881 a 886), respectivamente. Estes aviões inclusive chegaram a ser utilizados em combate logo no início da Guerra do Golfo, em 1991, durante a invasão do Kuwait pelo Iraque. Da encomenda inicial de 36 exemplares, entre perdas de operação e em decorrência dos combates frente aos iraquianos, restaram 23 aeronaves, que ficaram estocadas até serem adquiridas pelo Brasil no final dos anos 90. Cabe ressaltar que os aviões estavam entre os últimos A-4 produzidos e cada célula contava com uma média aproximada de apenas 1.500 horas de voo, restando ainda grande potencial de utilização, tornando-se à época, uma excelente oportunidade para a Marinha do Brasil, que logo após a liberação para voltar a ter aviões em seu inventário, buscava um vetor para realizar operações embarcadas a partir do Navio Aeródromo Ligeiro (NAeL) A-11 "Minas Gerais" e posteriormente do Navio Aeródromo (NAe) A-12 "São Paulo".
O contrato com o governo brasileiro foi assinado em 1998 e representou um marco para a Aviação Naval, que reinaugurava assim, a sua aviação de asas fixas, sendo também os primeiros aviões a jato operados pela Marinha em sua história. Em setembro do mesmo ano, as aeronaves chegaram ao Brasil a bordo de um navio mercante, sendo trasladados em seguida por via terrestre até sua nova casa, a Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), no Estado do Rio de Janeiro. Na Marinha, receberam a designação AF-1 para os monopostos, matriculados de N-1001 a N-1020 e AF-1A para o modelo biposto, ganhando as matrículas de N-1021 a N-1023. Após um breve período, necessário para a montagem completa dos aviões e testes em solo, eis que no dia 26 de março de 2000, precisamente às 14h e 23min, o AF-1 matrícula N-1007, sob o comando de um piloto contratado, decolou da pista de São Pedro da Aldeia. Dois meses após este feito, foi a vez do então Capitão-Tenente Alvarenga, tornar-se o primeiro piloto da Marinha a realizar um voo no A-4, inaugurando assim de forma efetiva, o início das atividades do Esquadrão Falcão. O próximo passo seria o começo das operações embarcadas e elas tiveram lugar a partir de setembro de 2000, primeiramente apenas com passagens e toques e arremetidas sobre o convoo do NAeL "Minas Gerais" até que no dia 13 de janeiro de 2001 aconteceu o primeiro pouso enganchado no navio e três dias após, a primeira decolagem catapultada, ambas as ações protagonizadas pelo AF-1 com a matrícula N-1006. A partir deste momento o Esquadrão atingia sua capacidade operacional e os anos seguintes foram marcados pelos treinamentos constantes e a contínua qualificação dos pilotos no aprimoramento técnico da aeronave, na participação em Exercícios Militares com a Esquadra e no cumprimento das missões sob responsabilidade da Unidade Aérea.
Prestes a completar dez anos de operação com a Marinha do Brasil, em abril de 2009 foi assinado um acordo com a Embraer Defesa e Segurança (EDS) para modernizar parte da frota de aviões, buscando torná-los mais efetivos frente à moderna arena de combate. As aeronaves passaram a contar então com um radar multimissão e muito mais eficiente (ELTA EL/M 2032, de fabricação israelense), modernos sensores, dispositivos de auto-defesa, novos equipamentos de comunicação e navegação, além sistemas aperfeiçoados de geração de energia e de oxigênio, entre outras melhorias. Dentro da cabine muita coisa mudou também, com a adoção de um HUD (Head-Up Display, equipamento que projeta ao nível dos olhos do piloto informações cruciais durante o voo), HOTAS (Hands On Throttle and Stick, permitindo que o controle de todas as funções vitais durante uma missão de combate estejam concentradas na manete de potência e no manche) e a substituição de boa parte dos mostradores analógicos por duas telas multifuncionais, chamadas de CMFD (Color Multi-Funcion Display). Além disso o contrato também incluiu a completa revisão do motor Pratt & Whitney J52-P-408 que equipa os aviões. Inicialmente planejada para contemplar doze aparelhos (9 monopostos e 3 bipostos), posteriormente esta quantidade foi reduzida para sete aeronaves a serem elevadas ao novo padrão (5 monopostos e 2 bipostos). A entrega dos exemplares modernizados iniciou-se em maio de 2015 e ainda está em curso, restando uma aeronave para ser entregue (vide tabela mais abaixo). Com a modernização houve também uma ligeira mudança na identificação dos modelos que passaram a ser designados como AF-1B (monopostos) e AF-1C (bipostos).
Hora de acionar!
Sempre zelosos e atentos a todos os detalhes, a equipe de solo garante a segurança do voo e o bom andamento da missão.
Criado em 2 de outubro de 1998, o Primeiro Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (Esquadrão VF-1) é atualmente comandado pelo Capitão-de-Fragata Aviador Naval José Assunção Chaves Neto e tem sua sede na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), localizada no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, sendo a única Base Aeronaval do Brasil. Além do Esquadrão Falcão, a BAeNSPA abriga ainda em suas instalações, mais cinco Unidades Aéreas de Helicópteros, um Esquadrão operador de Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARPs), um Centro de Instrução, além de outras Organizações Militares de apoio. A missão do Esquadrão VF-1 é "Executar a defesa aérea da Força Naval e garantir a superioridade aérea necessária à aplicação do Poder Naval onde e quando este se fizer necessário" e tem como lema a expressão em latim, "In Aere Defensio Maris" ("No Ar, a Defesa do Mar"). A modernização trouxe um incremento significativo na operacionalidade e um fôlego renovado à Unidade Aérea e suas equipagens e até que o bastão seja passado para um novo vetor, o Esquadrão Falcão continuará fiel ao seu lema e cumprindo com excelência sua missão na projeção do Poder Naval, na defesa de nossa soberania e na salvaguarda das riquezas de nossa imensa Amazônia Azul.
Gostaríamos de agradecer ao Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM) pelas informações referentes à Operação ASPIRANTEX 2022, aos integrantes do Esquadrão VF-1 da Marinha do Brasil, Capitão-de-Corveta Anapurús (Oficial de Operações) e Capitão-de-Fragata Assunção (Comandante), pela autorização e oportunidade em acompanhar uma tarde de atividades do Esquadrão Falcão em Florianópolis, ao Capitão-de-Corveta FN Sabá (Imediato) pelo apoio e esclarecimentos prestados durante nossa visita e ao Suboficial Gomes, pelo acompanhamento de pátio e informações de operação da aeronave. Ao Capitão Rolf, Oficial de Ligação da FAB com a Marinha durante a manobra, pela intermediação junto ao Esquadrão VF-1, ao Suboficial Balderramas pela autorização de acesso à BAFL e ao Terceiro-Sargento Tafarel da Base Aérea de Florianópolis pela ajuda de sempre ao blog Aviação em Floripa. Sem o auxílio das pessoas e Instituições citadas acima, esta matéria não teria sido possível.
Referências:
Histórico do Esquadrão VF-1. disponível em: <http://www.spotter.com.br/esquadroes/vf1_falcao_02.htm >. Acesso em: 13 jan. 2022.
McDonnell Douglas A-4KU/TA-4KU Skyhawk II. disponível em: <http://www.naval.com.br/anb/ANB-aeronaves/MDD_A4_Skyhawk/MDD_A-4_Skyhawk.htm >. Acesso em 13 jan. 2022.
McDonnell-Douglas A-4MB Skyhawk II (AF-1, AF-1A, AF-1B, AF-1C). disponível em: < https://asassobreosmares.rudnei.cunha.nom.br/2021/07/18/mcdonnell-douglas-a-4mb-skyhawk-ii-af-1-af-1a-af-1b/ >. Acesso em 14 jan. 2022.
Falcões em Patrulha. disponível em: <https://forcaaerea.com.br/loren-ipsum-3/>. Acesso em: 18 jan. 2022.
11 comentários:
Excelente artigo
PARABÉNS A NOSSA FORÇA MUITO ORGULHO.
AVANTE. BRASIL
Excelente. Parabéns pela matéria e glória aos nossos aviadores.
Viva a MARINHA!!!
O AVIÃO CONDUZ O MAIS ALTO A BANDEIRA DO BRASIL!🇧🇷
Excelente matéria. Esgotou o assunto para os plastimodelistas e entusiastas. Parabéns.
Yes, nós temos BAeNSPA, Nós temos AF1!
Nós temos o privilégio de ter este blog. Parabéns pelo excelente trabalho.
Excelente matéria. Vida longa a Base aérea de Florianospolis, apoiando sempre seus esquadrões sediados e unidades das forças irmãs com excelência.
Parabéns pelo conteúdo apresentado.
Visitar pra ver os aviões tem como
Lembrando o passado pensando no futuro, agora é com vocês novos Falcões. Asas que defende a soberania nacional.
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