São cinco horas da manhã,
enquanto a maior parte da cidade ainda dorme, o Aeroporto Internacional
Hercílio Luz (FLN/SBFL) recebe o Boeing 727 da Total Linhas Aéreas procedente
de São Paulo e Curitiba em mais um voo do Serviço Postal, trazendo correspondências e
encomendas para Florianópolis e região. Conseguir ver ou registrar este avião
não é uma tarefa fácil, todos os dias, o voo parte da capital catarinense no
final da noite e retorna antes do amanhecer no dia seguinte. Durante o dia, a
aeronave fica estacionada numa área remota do aeroporto, longe dos olhares da
maioria dos passageiros ou de seus admiradores. Mesmo sem a tecnologia dos seus
primos mais novos, quem tem a chance de vê-lo no solo ou em voo, rapidamente se
encanta pelas belas e clássicas linhas deste trijato.
A aeronave permanece durante todo o dia em área remota no pátio do aeroporto. Neste período ela é reabastecida, passa pelos cuidados e inspeção da equipe de solo e é carregada com correspondências e encomendas dos Correios que seguirão de Florianópolis para Curitiba e São Paulo.
Com asas enflechadas, cauda em
“T” e seus três motores dispostos na seção traseira da fuselagem, o projeto do
727 remonta ao início da década de 60, época de ouro da aviação, onde a cada
dia, novos aviões nasciam das pranchetas dos projetistas, com desenhos e
formatos que pareciam desafiar as leis da Física. Fabricado pela estadunidense
Boeing, o 727 fez seu primeiro voo em 9 de fevereiro de 1963 e foi planejado
para atender às rotas de curta distâncias das companhias aéreas, com o intuito
de complementar um outro clássico da Boeing, o quadrireator 707, utilizado em
rotas de longo alcance. A ideia deu certo, com o 727 se tornando um grande
sucesso comercial, sendo por mais de uma década, o jato comercial mais
produzido no mundo. Quando a sua linha de montagem se encerrou em 1984, um total de 1831
aeronaves haviam sido fabricadas e ainda se passariam mais seis anos para que o
recorde de avião comercial mais vendido no mundo fosse superado pelo seu
sucessor, o Boeing 737.
De qualquer ângulo que se olhe, o Boeing 727 impressiona pela beleza de suas linhas.
Com o passar do tempo, a
introdução de modelos de aeronaves com tecnologia de ponta, menor consumo de
combustível e maior capacidade de transportar pessoas, além das severas
restrições de ruídos em boa parte dos aeroportos, inviabilizaram a continuidade
da operação de voos comerciais de passageiros do Boeing 727, porém, a
modernidade não foi capaz de aposentá-lo. Um novo nicho de mercado surgiu para
o lendário avião, o transporte de cargas. Derivada do modelo comercial 727-200,
a versão cargueira atualmente mais utilizada nesta função é denominada de
727-200F Advanced, equipada com três motores Pratt & Whuiney JT-8D-17A e
uma estrutura reforçada da fuselagem capaz de transportar cerca de 25 toneladas
de carga.
Detalhe da seção traseira da fuselagem, cauda e dos motores JT8D-17A.
Vista da seção inferior da fuselagem
Detalhe da bequilha do Boeing 727.
As três fotos abaixo, pertencem ao Boeing 727 da Total com a matrícula PT-MTQ (c/n 22053). Elas foram tiradas em 2001 e mostram a cabine de comando do avião e o compartimento de cargas. Decidimos publicá-las com o objetivo de mostrar aos nossos leitores o interior da aeronave, pois não foi possível fazer fotos internas desta vez. Apenas pedimos desculpas pela qualidade das imagens, já que as mesmas foram escaneadas a partir de fotos impressas em papel fotográfico.
Ao contrário dos modernos aviões comerciais que utilizam o conceito chamado de "glass cockpit", onde a maioria das funções de voo concentram-se em telas multifuncionais (MFD), o painel do 727 é totalmente dominado por instrumentos analógicos. (Foto: Marcelo Lobo da Silva/acervo pessoal)
Posto localizado à direita, atrás dos assentos dos pilotos e destinado ao Engenheiro de Voo. (Foto: Marcelo Lobo da Silva/acervo pessoal)
Ao contrário dos modernos aviões comerciais que utilizam o conceito chamado de "glass cockpit", onde a maioria das funções de voo concentram-se em telas multifuncionais (MFD), o painel do 727 é totalmente dominado por instrumentos analógicos. (Foto: Marcelo Lobo da Silva/acervo pessoal)
Posto localizado à direita, atrás dos assentos dos pilotos e destinado ao Engenheiro de Voo. (Foto: Marcelo Lobo da Silva/acervo pessoal)
Vista geral do compartimento de cargas. (Foto: Marcelo Lobo da Silva/acervo pessoal)
Operado comercialmente ao longo
do tempo pelas principais companhias aéreas brasileiras como por exemplo,
Cruzeiro, VARIG, VASP e TransBrasil, entre outras, atualmente duas empresas
continuam a operar o Boeing 727 em sua versão cargueira no Brasil, a RIO Linhas
Aéreas e a Total Linhas Aéreas, através da sua subsidiária Total Cargo. Com
sede em Belo Horizonte (MG), a Total possui uma frota de seis aeronaves 727,
matriculadas PR-TTB (Boeing 727-223/Adv(F), c/n 22007), PR-TTO (Boeing 727-2M7/Adv(F),
c/n 21200), PR-TTP (Boeing 727-2M7/Adv(F), c/n 21502), PR-TTW (Boeing 727-225/Adv(F),
c/n 22438), PT-MTQ (Boeing 727-243/Adv(F), c/n 22053) e PT-MTT (Boeing 727-243/Adv(F),
c/n 22167), sendo que destas, três estão operando de forma efetiva. São fotos
de um dos 727 operacionais, o PR-TTW, que tivemos o privilégio de registar no
pátio secundário do aeroporto e que ilustram esta matéria. Acompanhe abaixo, mais algumas fotos deste verdadeiro clássico da aviação.
3 comentários:
Parabéns pelo blog. Moro na cidade de Santo André, SP, e todas as madrugadas por volta das 4:20h, escuto passar uma aeronave em um processo de decolagem bem lento. Um certo dia resolvi rastreá-la pelo FightRadar24 e descobri que era esta aeronave. A priveira vez que voei em um avião commercial foi em 1978 em um 727, tenho muito carinho e boas lembranças deste modelo. Um abraço, Alberto Riomao.
Hoje 27/05/2017 essa mesma aeronave acabou de passar aqui em São Caetano às 04:10. Vi pelo flightRadar24.
Essa maquina vai deixar saudade quando parar de operar.
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