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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Asas navais preservadas na orla de São Pedro da Aldeia

 


A cidade de São Pedro da Aldeia. localizada na chamada "Região dos Lagos", litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, não é famosa apenas pelas suas belas paisagens naturais, qualidade de vida, simpatia e hospitalidade de seus moradores. Desde 1961, ela abriga o Comando da Força Aeronaval e também é sede da única Base Aérea da Marinha e de sete dos onze Esquadrões de Voo que formam o seu componente aéreo. Não por acaso, a cidade é também conhecida como "A Morada da Aviação Naval". Aproveitando a recente visita a São Pedro da Aldeia, o site Aviação em Floripa foi conhecer uma importante iniciativa de resgate e perpetuação de uma parte da história da Aviação Naval brasileira, representada por duas aeronaves colocadas em exposição permanente ao alcance de todos. Além do caráter histórico, os monumentos também simbolizam os fortes laços de amizade e de parceria que unem a cidade e o povo aldeense à Marinha do Brasil e sua Aviação. Em mais um conteúdo exclusivo, brindamos nossos leitores com a presente matéria, trazendo, imagens, informações e curiosidades acerca delas.

Quem chega a São Pedro da Aldeia/RJ, é recepcionado logo na entrada da cidade, por duas das mais relevantes e icônicas aeronaves da história recente da Aviação Naval brasileira. Instaladas junta à orla da Lagoa de Araruama, um dos principais cartões postais do município, elas rapidamente ganharam brilho próprio, chamando a atenção de todos e constituindo-se em mais uma atração turística para a pacata e simpática cidade com pouco mais de cem mil habitantes, que desde o início da década de 60, recebeu de braços abertos a chegada da Aviação Naval, representada pela construção e instalação da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), uma das responsáveis pelo desenvolvimento econômico do município e região próxima. Vamos contar a partir de agora, um pouco da história destas duas aeronaves e trazer detalhes sobre os exemplares expostos. Boa leitura!


O Rei dos Mares

Durante a chamada "Guerra Fria" (1947-1991), período da História que ficou marcado pelo confronto político e ideológico entre Estados Unidos e União Soviética, um dos principais campos de batalha no tocante ao desenvolvimento de novas aeronaves e armamentos, era o mar. De forma a combater a crescente frota de submarinos soviéticos, um dos pilares da estratégia norte-americana de defesa, residia na chamada Guerra Antissubmarino (ASW, do inglês Anti-Submarine Warfare). É neste contexto que no final da década de 50, surge o Sikorsky Sea King, sucessor do SH-34 Seabat, fabricado pela mesma empresa. Até este momento, o emprego ASW necessitava de uma aeronave para localizar e outra para neutralizar uma ameaça submarina. O Sea King mudou isso, sendo capaz de executar as duas funções de maneira eficiente em uma mesma plataforma. Também foi um dos primeiros helicópteros no mundo a utilizar a propulsão turbo eixo no lugar dos motores a pistão. O projeto era inovador, a fuselagem possuía a parte inferior em forma de casco que, juntamente com os dois estabilizadores de flutuação lateral, permitia o pouso da aeronave na superfície do mar. A cabine principal acomodava dois operadores de sonar/radar e os demais equipamentos de guerra antissubmarina. O rotor principal de cinco pás possuía atuadores hidráulicos que recolhiam as pás para trás, permitindo a hangaragem em espaços reduzidos. O modelo voou pela primeira vez em 11 de março de 1959, designado inicialmente como HSS-2 e logo depois como SH-3A.

O protótipo XHSS-2 Sea King, visto aqui em seu primeiro voo. Fonte: https://www.thisdayinaviation.com/11-march-1959/

Em meados da década de 60, entrou em serviço a versão SH-3D, com motores mais potentes, novos sensores e maior autonomia, atualizada anos mais tarde para o modelo "Hotel", com a conversão de várias células SH-3A e D, padronizadas para esta configuração. Além dos Estados Unidos, o Sea King foi produzido sob licença no Reino Unido, Canadá, Japão e Itália, incorporando equipamentos e pequenas melhorias, de acordo com as necessidades de cada país. A linha de produção se encerrou em 1997, com mais de 1.300 exemplares fabricados. Entre os principais operadores, além dos países citados acima, utilizaram o Sea King em diferentes versões, Arábia Saudita, Argentina, Brasil, Dinamarca, Espanha, Índia, Irã, Malásia, Noruega, Paquistão, entre outros. Alguns países ainda possuem exemplares em serviço ativo, na função primária ASW ou convertidos para outras tarefas.

A Marinha do Brasil começou a receber os primeiros Sea King em 1970, numa encomenda totalizando quatro unidades da versão S-61D-3 (SH-3D), novos de fábrica, com o objetivo de complementar e posteriormente substituir a frota de SH-34J "Baleia", utilizados pelo 1ª Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (Esqd.HS-1). A chegada desses helicópteros representou um grande salto operacional e tecnológico para a Unidade Aérea, sendo também os primeiros vetores de asa rotativa biturbina a entrar em serviço na América do Sul. As aeronaves foram matriculadas de N-3007 a N-3010 e chegaram ao Brasil em 28 de abril de 1970, a bordo do Porta-Aviões norte-americano CV-66 "USS America". Em 1972, a Unidade Aérea recebeu mais dois exemplares (N-3011 e N-3012), totalizando cinco aeronaves em serviço, uma vez que em novembro de 1970, o N-3009 havia sido perdido em um pouso de emergência em Florianópolis. Os primeiros anos de operação com o novo vetor foram intensos, com a Unidade Aérea buscando atingir a sua plena capacidade operacional e a qualificação de suas equipagens, com a realização de inúmeros treinamentos e a participação em diversas Operações, inclusive com nações amigas. Em 1976, mais uma baixa, desta vez, o N-3008, caiu no mar, ao largo de Cabo Frio, durante um treinamento noturno, vitimando todos os ocupantes a bordo. Levaria quase duas décadas até que finalmente partes da aeronave fossem encontradas e resgatadas. 

Foto: MB/Divulgação

Foto: MB/Divulgação

Desde sua entrada em serviço na Marinha, o Sea King ampliou de forma significativa a missão de detectar e atacar alvos submarinos, estabelecendo uma sólida e eficiente doutrina de emprego ASW, formando várias gerações de Pilotos Navais nesse complexo e importante ramo de atuação da guerra no mar. Em 1981, de forma a repor as perdas e aumentar a capacidade de emprego do Esquadrão HS-1, a Marinha do Brasil assinou um contrato com a empresa italiana Agusta para a aquisição de quatro helicópteros Agusta-Sikorsky ASH-3D, novos de fábrica, aqui designados como SH-3A e com as matrículas N-3013 a N-3016. Esses helicópteros chegaram no final de 1984 a bordo do Navio de Transporte de Tropa G-16 "Barroso Pereira". Entre as funcionalidades trazidas pelos novos vetores, estava a capacidade de empregar o míssil antinavio AM-39 Exocet, colocando o Esquadrão em um novo patamar e capaz de cumprir também, a partir deste momento, ataques contra navios de superfície. No mesmo acordo que efetivou a compra dos helicópteros italianos, foi incluída a atualização das quatro células remanescentes (N-3007, N-3010, N-3011 e N-3012) para o mesmo padrão. Todos os helicópteros modernizados retornaram ao Brasil em maio de 1988. Em janeiro do ano seguinte, o N-3014 sofreu uma perda de potência durante uma decolagem noturna do NAeL "Minas Gerais", vindo a cair no mar próximo ao navio, resultando na perda da aeronave e de parte da tripulação.

Foto: MB/Divulgação

No primeiro semestre de 1996, o Brasil adquiriu da Marinha dos Estados Unidos (U.S. Navy), mais seis Sea King, desta vez do modelo SH-3H, que haviam dado baixa do serviço ativo e encontravam-se estocados. Essas aeronaves, depois de revisadas, foram embarcadas no NAeL "Minas Gerais" no porto de Pensacola (Flórida) e desembarcaram no Rio de Janeiro, em 10 de junho de 1996. Elas apresentavam um sonar mais avançado e potente, o AQS-18(V), semelhante ao utilizado nos SH-60F Seahawk (sucessor do Sea King), além de um radar Marconi LN66HP instalado na porção central inferior da fuselagem, característica que os diferenciavam visualmente dos SH-3A. Aqui, esses helicópteros foram designados como SH-3B e ganharam as matrículas N-3017 a N-3019 e N-3029 a N-3031. Além desses seis helicópteros, a Marinha havia recebido dois "charutos" ou fuselagens extras de SH-3D, sem condições de voo, em setembro de 1994, apenas como fornecedoras de peças de reposição. A partir de 2012, o Esquadrão HS-1 começou a incorporar os novos Sikorsky S-70B Seahawk e, no dia 25 de agosto do mesmo ano, durante os festejos de aniversário da Aviação Naval, o SH-3 fez seu último voo, encerrando uma carreira de 42 anos de bons serviços prestados em defesa da nossa soberania e em apoio à Esquadra brasileira. No total a Marinha operou com dezesseis SH-3 em três diferentes configurações (veja quadro abaixo).

Até o momento da publicação desta matéria, sete SH-3 Sea King retirados de serviço, encontram-se preservados em Praças, Museus ou outros locais públicos, entre eles o exemplar tema deste artigo. O primeiro local de exibição desta aeronave foi a Praça Almirante Protógenes Guimarães, anexa à Escola Almirante Carneiro Ribeiro, localizada defronte à Rodovia RJ-106, espaço inaugurado em 10 de janeiro de 1999, sendo este, o Sea King preservado e em exposição a mais tempo. A partir deste ano, o helicóptero ganhou um novo endereço, próximo ao anterior, na entrada da cidade. O local, assim como a aeronave, foram completamente revitalizados, constituindo-se em mais uma atração turística do município de São Pedro da Aldeia. Confira abaixo, um pequeno vídeo produzido pela Marinha do Brasil, mostrando detalhes do traslado, montagem e instalação do helicóptero em seu novo e permanente espaço de visitação.

Clique sobre a imagem acima, para assistir ao vídeo.

Praça Almirante Protógenes Guimarães, o primeiro local de exibição do N-3009. Foto: Arquivo pessoal do autor.

Um fato curioso sobre esta aeronave é que, apesar de ostentar a matrícula N-3009, na verdade este exemplar é um dos dois SH-3 adquiridos em 1994 como fonte de peças de reposição e que nunca voaram pela Marinha do Brasil. A fuselagem foi completada com componentes de outros helicópteros do mesmo modelo e pintada com as cores originais do verdadeiro N-3009, que se acidentou em Florianópolis, ao fazer um pouso de emergência na localidade conhecida como Praia da Gamboa, em 21 de novembro de 1970. A escolha desta matrícula foi uma homenagem ao "Guerreiro 09", em memória do primeiro SH-3 da Marinha a ser perdido em acidente, felizmente neste caso, sem vítimas. Acompanhe abaixo, imagens da aeronave em seu novo local de exibição.














O Falcão dos Céus


Concebido no início da década de 50 pela fabricante estadunidense Douglas, mais tarde McDonnell Douglas, o A-4 Skyhawk é um jato monoturbina, subsônico e com asas em delta, projetado como uma aeronave de ataque para operar a bordo dos Porta-Aviões da Marinha dos Estados Unidos (U.S. Navy). Foi bastante utilizado e ganhou notoriedade como caça-bombardeiro ao longo da Guerra do Vietnã (1955-1975), com a Força Aérea de Israel nos confrontos com os árabes, sobretudo na Guerra dos Seis Dias (1967) e Conflito do Yom Kippur (1973) e também com os argentinos durante a Guerra das Falklands/Malvinas (1982). O desempenho em combate mostrou as qualidades do aparelho e do projeto, tornando o A-4 um grande sucesso, com o desenvolvimento de diversas versões ao longo do tempo, sendo produzidos entre 1954 (ano em que ocorreu o primeiro voo) até 1979 (quando a linha de produção se encerrou), um total de 2.960 exemplares, operados por várias Forças Aéreas e Marinhas ao redor do mundo.

O protótipo XA4D-1, que voou pela primeira vez em 22 de junho de 1954. Foto: U.S. Navy

O modelo empregado pelo Brasil foi originalmente operado pela Força Aérea do Kuwait a partir de meados da década de 70. Na ocasião foram encomendados um total de 30 A-4 monopostos da versão "M", chamada de Skyhawk II, mais 6 aeronaves bipostas TA-4, passando a serem designadas como A-4KU (matriculadas de 801 a 830) e TA-4KU (881 a 886), respectivamente. Estes aviões inclusive chegaram a ser utilizados em combate logo no início da Guerra do Golfo, em 1991, durante a invasão do Kuwait pelo Iraque. Do lote inicial de 36 exemplares, entre perdas de operação e em decorrência dos combates frente aos iraquianos, restaram 23 aeronaves, que ficaram estocadas até serem adquiridas pelo Brasil no final dos anos 90. Cabe ressaltar que os aviões estavam entre os últimos A-4 produzidos e cada célula contava com uma média aproximada de apenas 1.500 horas de voo, restando ainda grande potencial de utilização, tornando-se à época, uma excelente oportunidade de compra para a Marinha do Brasil, que logo após a liberação para voltar a ter aviões em seu inventário, buscava um vetor para realizar operações embarcadas a partir do Navio Aeródromo Ligeiro (NAeL) A-11 "Minas Gerais" e posteriormente do Navio Aeródromo (NAe) A-12 "São Paulo".


Fotos: MB/Divulgação

O contrato com o governo brasileiro foi assinado em 1998 e representou um marco para a Aviação Naval, que reinaugurava assim, a sua aviação de asa fixa, sendo também os primeiros aviões a jato operados pela Marinha em sua história. Aqui, os aviões foram designados como AF-1 Falcão (para os monopostos, que receberam as matrículas N-1001 a N-1020) e AF-1A Falcão (para os bipostos, matriculados de N-1021 a N-1023). Em 2 de outubro de 1998, o 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (Esqd.VF-1) foi criado, tendo a Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia como sua sede. A partir deste momento, iniciou-se o processo para tornar a nova Unidade Aérea da Marinha plenamente operacional e a qualificação de seus Pilotos para o cumprimento de suas missões em apoio à Esquadra, tanto a partir de terra, quanto de sua base flutuante, o A-11 "Minas Gerais" e depois, o A-12 "São Paulo". 

Foto: MB/Divulgação

A operação do AF-1 Falcão ao longo dos anos, mostrou a necessidade de uma atualização de meia-vida, principalmente no tocante aos sensores e capacidade de autodefesa. Assim, em 2009 foi assinado um contrato com a Embraer Defesa e Segurança para a modernização de parte da frota. Após algumas mudanças na quantidade de aeronaves contempladas pelo programa, ficou estabelecido que sete exemplares (cinco monopostos e dois bipostos) seriam elevados ao padrão AF-1B/C, respectivamente. Entre os aperfeiçoamentos implementados estavam, um novo radar, a adoção de um novo conceito de cabine, com a substituição dos mostradores analógicos por telas de LCD multifunção, operação da aeronave e dos controles de voo e missão a partir do manche e do acelerador, instalação de novos sensores, entre outras melhorias. O avião com a matrícula N-1011 foi escolhido como o protótipo do Programa AF-1M, que fez seu primeiro voo em agosto de 2013 em sua nova configuração. Posteriormente, esta aeronave viria a ser perdida em uma colisão em voo com outro AF-1 Falcão, em julho de 2016, vitimando o Piloto. Atualmente o Esquadrão VF-1 opera com sua frota completa de aviões modernizados, sendo quatro monopostos e dois bipostos.

O protótipo do Programa AF-1M. Foto: Embraer

AF-1B Falcão modernizado. Foto: MB/Divulgação


Conforme a tabela acima, existem até o momento quatro exemplares de AF-1 Falcão preservados, dentre eles, o exposto no centro de São Pedro da Aldeia. Esta aeronave em questão tem um grande valor histórico, pois foi o AF-1 Falcão com a matrícula N-1006, que realizou o primeiro pouso enganchado no NAeL A-11 "Minas Gerais", em 15 de janeiro de 2001. Também foi este exemplar que protagonizou a primeira catapultagem, três dias depois. A ideia da exposição permanente de uma aeronave para representar o vínculo entre a cidade de São Pedro da Aldeia e a Aviação Naval, tomou forma em agosto de 2020, fruto de uma iniciativa do Poder Público municipal em conjunto com a Marinha do Brasil. Como visto, a aeronave escolhida foi um dos AF-1 Falcão não contemplados pela modernização e que encontrava-se estocado nas dependências do Complexo Aeronaval. O avião foi colocado em uma estrutura especialmente construída, junto à orla da Lagoa de Araruama, próxima ao centro da cidade. Acompanhe abaixo, um vídeo com a operação de traslado e da instalação, além de fotos do monumento, feitas durante nossa recente visita à cidade.

Clique sobre a imagem acima, para assistir ao vídeo.
















Localização das duas aeronaves na orla da Lagoa de Araruama, em São Pedro da Aldeia. Fonte da imagem: Google Earth


3 comentários:

Anônimo disse...

Marcelo, bom dia. Feliz a cidade que pode admirar diariamente estas magníficas máquinas. Geraldo.

sergio m. borba disse...

Mais uma brilhante reportagem, essa eu não sabia que um sea King se acidentou aqui em Florianópolis. As coberturas jornalísticas do Marcelo são nota 10.

Anônimo disse...

Em João Pessoa havia um avião parecido com um Lockheed Lodestar no Aeroclube. Depois da desativação do Aeroclube, não sei pra onde foi.

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