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quinta-feira, 17 de abril de 2025

22 de abril: 80 anos de um dia histórico!!


22 de abril de 1945. Nesta data, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça escrevia a ferro e fogo, nos céus da Itália, a página mais emblemática em sua participação na Segunda Guerra Mundial, realizando o maior número de missões em um único dia. Com coragem e determinação, um punhado de jovens e audazes pilotos brasileiros, verdadeiros heróis sem capa, porém, dotados de asas, lançou-se contra as forças inimigas, destruindo infraestruturas vitais e causando grandes prejuízos materiais. Para marcar esse feito histórico e eternizar o legado daqueles que voaram, combateram e sacrificaram suas vidas em defesa da liberdade, o 22 de abril ficou consagrado como o Dia da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. O site Aviação em Floripa também presta sua justa homenagem ao Grupo de Caça e seus valorosos integrantes, com esta matéria especial, na qual vamos apresentar aos nossos leitores, através de informações e conteúdos visuais exclusivos, todas as missões voadas naquele dia. Boa leitura!!

Nota Editorial: Para a realização desta matéria, utilizamos como referência, as duas principais fontes de informações quando se trata da participação do Primeiro Grupo de Aviação de Caça na Segunda Guerra Mundial. Estamos falando dos websites "Jambock" e "Sentando a Púa", mantidos respectivamente pelos pesquisadores e entusiastas da Aviação Militar, Vicente Vasquez e Luís Gabriel, duas pessoas dedicadas em contar a história e preservar a memória do Grupo de Caça e daqueles que lutaram nos céus da Itália. Os infográficos presentes neste artigo e muito do que você vai ler aqui, só foram possíveis, graças ao trabalho primoroso apresentado por ambos. Para ajudar na divulgação, seguem nos banners abaixo, os endereços eletrônicos dos dois websites, para que nossos leitores possam conhecer muito mais sobre a rica história do Grupo de Caça. Basta clicar sobre as imagens.




O Brasil entrou oficialmente em guerra com as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), em 22  de agosto de 1942. Até alguns dias antes, o conflito era algo distante da grande maioria da população brasileira, que acompanhava as notícias através dos jornais e do rádio. Entretanto, nos primeiros dias daquele mês de agosto, uma série de torpedeamentos e afundamentos de navios mercantes ao longo do nosso litoral, por ação de submarinos alemães e italianos, ceifou a vida de centenas de brasileiros. A situação causou grande comoção e rapidamente levou a opinião pública a exigir uma resposta enérgica do governo do Presidente Getúlio Vargas, àquela afronta à soberania brasileira, que viria a se materializar com a declaração formal de guerra aos países do Eixo. A partir daquele momento, ficou decidido que o Brasil enviaria contingentes militares para lutar na Europa, ao lado das forças Aliadas, lideradas pelos Estados Unidos. Para tal, foi criada em agosto de 1943, a Força Expedicionária Brasileira (FEB), com militares do Exército Brasileiro, além de duas Unidades na Força Aérea Brasileira, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa, em dezembro de 1943) e a Primeira Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO, em junho de 1944), esta última, ficou vinculada à Artilharia Divisionária da FEB, executando missões de observação, reconhecimento aéreo e regulação de tiro de artilharia, durante o conflito.

Tenente-Coronel Nero Moura, Comandante do 1º Grupo de Aviação de Caça. Foto: FAB/Divulgação

Para o comando do Primeiro Grupo de Aviação de Caça, foi escolhido o então Major Nero Moura, um aviador experiente, oriundo da Aviação Militar do Exército Brasileiro. Um contingente com 16 pilotos e 16 graduados, todos voluntários, foi formado e seguiu para os Estados Unidos, em janeiro de 1944, a fim de receber treinamento e conhecer o funcionamento de uma Unidade Aérea de combate da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF).  Nesta fase, o avião voado já era conhecido dos brasileiros, o caça Curtiss P-40 Warhawk, que já era utilizado pela FAB. Decorridas algumas semanas de instrução em Orlando, na Flórída, a próxima etapa foi cumprida na Base Aérea de Aguadulce, no Panamá. Neste local, os homens de Nero Moura se encontraram com os demais integrantes que iriam compor o Grupo de Caça. Muito em breve, todos iriam para o Teatro de Operações na Europa. Para ganhar experiência e aprender as táticas de guerra aérea empregadas pelos estadunidenses, cada piloto voou cerca de 110 horas nos P-40 e, já como uma Unidade Aérea independente e autônoma, passou a integrar a defesa aérea do Canal do Panamá, voando missões de patrulhamento do espaço aéreo, lado a lado, com Esquadrões de Caça dos Estados Unidos. O primeiro contato com o avião que o Grupo de Caça iria utilizar na Itália, o Republic P-47 Thunderbolt, aconteceu em junho, na Base Aérea de Suffolk, próxima a Nova York. Após cerca de três meses, necessários para conhecer em detalhes a operação do P-47 e completar o treinamento, o contingente brasileiro, formado por cerca de 400 pessoas, entre pilotos, mecânicos e pessoal de apoio enfim, seguiu de navio para a Europa, chegando ao porto de Livorno, na Itália, em 6 de outubro de 1944. Não tardaria para o Primeiro Grupo de Aviação de Caça voar as primeiras missões de combate e receber o seu batismo de fogo.


Linha de voo com aviões da Esquadrilha Verde. Foto: FAB/Divulgação

Vista geral do Aeródromo de San Giusto, em Pisa, a segunda Base de Operações do Primeiro Grupo de Aviação de Caça. Fonte da imagem: print de tela do documentário "Senta a Púa!" BSB Cinema, 1999.

O local destinado à operação dos brasileiros, foi o Aeródromo de Tarquínia, situado próximo à cidade de Roma. O Grupo de Caça passou a ser a quarta Unidade Aérea pertencente ao 350º Grupo de Caças da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos. Os outros três, eram os Esquadrões de Caça nº 345 "Devil Hawks", nº 346 "Checkerboards" e nº 347 "Screaming Red Asses", todos operando com o mesmo equipamento, o caça-bombardeiro P-47D Thunderbolt. A fim de ganhar experiência em combate e conhecer a área de operação, os primeiros voos dos pilotos brasileiros foram realizados completando as esquadrilhas estadunidenses, atuando na posição de nº 4. As missões eram feitas com uma, duas ou três formações com quatro aviões cada. O dia 31 de outubro de 1944, marcou o início dos voos de familiarização. Foram 25 missões seguindo este modelo e já no dia 11 de novembro, o "First Brazilian Fighter Squadron", como a Unidade era conhecida por seus pares, iniciou de forma integral o cumprimento de suas missões, recebendo o código-rádio "Jambock". O Grupo de Caça manteve a organização utilizada desde os tempos do treinamento no Panamá, com as suas Esquadrilhas divididas por cores: Vermelha, Amarela, Azul e Verde. Cada uma delas era representada pelas letras "A", "B", "C" e "D", respectivamente. As letras eram seguidas por números de 1 a 6, de acordo com a antiguidade dos pilotos. Assim, o número "1" era reservado para o Comandante de cada Esquadrilha. Esses códigos eram pintados na carenagem do motor dos aviões. Por sua vez, o Comandante do Grupo de Caça, o Tenente-Coronel Nero Moura e o Oficial de Operações, Major Oswaldo Pamplona Pinto, tinham estampados em seus aviões, apenas os números "1" e "2". Com relação à divisão das Esquadrilhas, cabe ressaltar que, com o desenrolar da Campanha Aérea, em função da escassez de pilotos ou mesmo da disponibilidade de aviões na linha de voo, esse modelo de organização muitas vezes era deixado de lado, inclusive, em função das perdas em combate, a Esquadrilha Amarela acabou extinta e os pilotos remanescentes foram incorporados às outras três.

Antes de subir à nacele, um piloto brasileiro inspeciona uma bomba de 500 libras, com um recado para o inimigo: "Um souvenir da FAB". Foto: FAB/Divulgação

No centro da imagem, registrada pela câmera de combate do P-47, uma ponte é atacada com o emprego de bombas de 500 libras. Embora treinados tanto para o combate aéreo quanto para ataque ao solo, quando os pilotos do Grupo de Caça chegaram na Itália, a aviação alemã e italiana já havia sido varrida dos céus e a supremacia aérea sobre o campo de batalha, já era uma realidade. A partir daquele momento, o foco das missões voltou-se para o ataque à infraestrutura e à logística inimiga. Utilizando-se de bombas e do alto poder de fogo fornecido pelas oito metralhadoras calibre .50 do P-47, os pilotos brasileiros, com grande coragem e habilidade, foram responsáveis por grande número de alvos destruídos. Fonte da imagem: print de tela do documentário "Senta a Púa!" BSB Cinema, 1999.

No final de 1944, a conflito na Europa já se encontrava em uma fase muito diferente de quando começou. A outrora poderosa e avassaladora máquina de guerra alemã, que chegou a ocupar quase todo o continente, vinha sofrendo diversas derrotas e lentamente ia sendo empurrada em todas as frentes de batalha, de volta para o seu próprio território. Contudo, ainda apresentava uma defesa formidável e cobrou um preço alto aos Aliados, tanto em terra quanto nos céus. Conforme as tropas inimigas iam recuando, houve a necessidade de transferência da base de operações do 350º Grupo de Caças, a fim de não sacrificar a autonomia do P-47 e o tempo de missão. Assim, o Aeródromo San Giusto, situado a cerca de 200 km mais ao norte de Tarquínia, localizado nos arredores da cidade de Pisa, famosa por sua torre inclinada, passou a abrigar os Esquadrões do 350º Grupo. A mudança ocorreu nos primeiros dias de dezembro de 1944, entretanto, as missões continuaram tendo o objetivo de cortar as linhas de suprimentos alemães e impedir a reorganização das tropas ou a chegada da reforços. O ano de 1945 chegou e ficava cada vez mais evidente o fim do conflito na Europa. Com o objetivo de acelerar este fato e poupar vidas entre seus combatentes, o Alto-Comando Aliado planejou uma grande operação, com o apoio massivo dos meios aéreos, a fim de desferir um golpe final no inimigo. Chamada de Ofensiva da Primavera, as ações tiveram seu auge durante o mês de abril e contaram com a participação decisiva do Primeiro Grupo de Aviação de Caça, em especial no dia 22 de abril, quando a Unidade Aérea brasileira realizou o maior número de missões em um único dia. 


Ao fim do primeiro trimestre de 1945, o Grupo de Caça enfrentava o desgaste e as consequências dos intensos voos de combate sobre as áreas ainda dominadas pelas tropas inimigas. A audácia dos aviadores brasileiros e a incansável artilharia antiaérea alemã, cobraram um preço alto. Diversos pilotos foram abatidos, alguns deles mortos e outros feitos prisioneiros, sem contar os afastamentos por motivos de saúde. Essas situações reduziram de forma significativa, a quantidade de pilotos disponíveis na linha de voo e chegaram a desativar, como visto, uma das quatro Esquadrilhas do Grupo. As reposições vindas do Brasil não eram suficientes para suprir as baixas. Mesmo assim, todos os dias, em um esforço heroico daqueles que restavam, as missões eram cumpridas com a mesma eficiência, significando voar mais e assumir um risco e um desgaste muito maiores. É nesse contexto que o mês de abril iniciou-se e com ele, a ordem do Alto-Comando Aliado para que todas as Unidades Aéreas de combate presentes na Itália participassem de um grande esforço concentrado sobre a região do Vale do Rio Pó, com o objetivo de impedir que as tropas alemãs, naquele momento em retirada, se reorganizassem e criassem uma nova linha de resistência. Os pilotos brasileiros, com inabalável determinação, mais uma vez, mostraram seu valor. No intervalo de 6 a 29 de abril, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça executou 5% das missões de ataque realizadas por todas as Unidades das Forças Aéreas Aliadas, entretanto, alcançou marcas impressionantes, sendo responsável por destruir ou danificar, 15% dos veículos inimigos, 28% das pontes, além de 36% dos depósitos de combustível e 85% dos depósitos de munição.


O dia 22 de abril representou o auge do esforço e a dedicação que marcaram a participação do Grupo de Caça na Segunda Guerra Mundial. Em um único dia, foram realizadas onze missões, cada uma delas composta por esquadrilhas com quatro aviões, totalizando 44 surtidas. Vinte e dois pilotos subiram aos céus naquele dia, para atacar posições e alvos inimigos na região do Vale do Rio Pó. Alguns deles, chegaram a voar três missões e apenas um, o Tenente Marcos Eduardo Coelho Magalhães foi abatido pela artilharia antiaérea alemã, caindo em território inimigo e feito prisioneiro. Eram voos arriscados e cansativos. O forte calor dentro da nacele, aliado à tensão e ao esforço físico na pilotagem, faziam com que os aviadores chegassem a perder até 2 quilos em cada missão. A possibilidade de ser atingido e morrer ou ser capturado, era enorme. Os aviões decolavam equipados com bombas e foguetes, além das oito metralhadoras orgânicas, calibre .50. As missões tinham objetivos definidos e no regresso para a base em Pisa, os pilotos buscavam alvos de oportunidade. Ao fim daquele dia, o Grupo de Caça havia destruído ou danificado, 97 transportes a motor, 35 veículos com tração animal, um parque de viaturas e 14 edifícios ocupados pelo inimigo, avariando outros 17 veículos a motor, uma ponte de barca e uma ponte rodoviária, atacando ainda outras 4 posições militares. A partir de agora, passaremos a detalhar cada uma das onze missões voadas naquele dia histórico.

A primeira missão do dia 22 de abril teve a decolagem efetivada às 8h30 da manhã. A meteorologia desfavorável e a cobertura de nuvens sobre a área de operações não permitiram os voos logo após o amanhecer. Os pilotos escalados para o voo foram o Capitão Horário (Líder), tendo na sua Ala, o Tenente Lara, além dos também Tenentes Lima Mendes, como nº 3 e Canário, completando a formação. Os aviões estavam equipados cada um, com duas bombas de 500 libras (227 kg), mais a carga completa de munição calibre .50 das metralhadoras. A missão consistia em atacar objetivos localizados na margem sul e em pontos de travessia do Rio Pó. Uma ponte de pontões construída pela engenharia alemã, ao norte da cidade de San Benedetto, foi danificada. Um dos aviões foi atingido pela artilharia antiaérea, entretanto, conseguiu retornar para a Base.


Cinco minutos após a primeira esquadrilha, decolaram mais quatro P-47, agora liderados pelo Capitão Pessoa Ramos, com o Tenente Rocha como seu Ala e os Tenentes Perdigão (nº 3) e Paulo Costa (nº 4), completando a formação. Cada avião levava duas bombas de 500 libras, além de seis foguetes de 4,5 polegadas. Os objetivos estavam concentrados na mesma região da missão anterior. Foram atacadas duas pontes, uma rodoviária e outra, ferroviária. Durante o ataque, foi observado um grupo de casas com veículos militares camuflados em torno delas. Quatro das construções foram alvejadas e incendiadas com o uso das metralhadoras e os veículos destruídos, além de um outro, atingido em campo aberto. Todos os aviões retornaram sem danos para Pisa, pousando às 10h25.


Às 8h40 decolou a terceira esquadrilha, composta pelo Tenente Dornelles (Líder), Aspirante Poucinha (Ala), Tenente Eustórgio (nº 3) e Tenente Mocellin (nº 4). Neste momento, doze P-47 estavam simultaneamente no ar, seguindo para atingir seus objetivos. Os aviões desta formação decolaram com oito bombas de 500 libras e finalizaram o ataque à ponte de pontões atingida pela esquadrilha do Capitão Horácio, destruindo ainda, três baterias de artilharia antiaérea que defendiam a construção. Na mesma região, uma casa ocupada por tropas inimigas também foi destruída. Já nas imediações de Suzzara, foram atacadas uma estação ferroviária e três edificações com veículos militares. Mais uma vez, todos os aviões regressaram sem danos.


A quarta missão foi liderada pelo próprio Comandante do Grupo de Caça, o Tenente-Coronel Nero Moura, tendo ao seu lado, o Oficial de Ligação com a USAAF, o Capitão Buyers. Completando a formação, estavam os Tenentes Neiva (nº 3) e Goulart (nº 4). A decolagem se deu às 9h45, quando as três Esquadrilhas anteriores ainda estavam no ar, retornando de seus ataques. O alvo da missão 375 era uma região ao norte da área já atacada, entre as rodovias 40 e 70. Os aviões decolaram unicamente com a munição completa para as metralhadoras calibre "ponto 50" e fizeram um bom uso delas. Dos 7.680 cartuchos, 5.970 foram utilizados. Uma concentração entre 80 a 100 veículos militares foi localizada e atacada nos arredores de San Benedetto, com a maioria deles sendo destruída. No caminho de volta para Pisa, outros alvos de oportunidade foram avistados, porém, não havia mais munição suficiente nos aviões. As posições foram anotadas para ataques posteriores.


A missão seguinte decolou às 10h55 tendo como objetivo, a mesma área da Esquadrilha liderada por Nero Moura. A formação era composta pelos Tenentes Rui (Líder), Meira (Ala), Tormim (nº 3) e Coelho (nº 4), todos pertencentes a Esquadrilha Verde. Os aviões não carregavam bombas ou foguetes sob as asas e estavam armados unicamente com as metralhadoras. O que restou da concentração de veículos a motor atacada anteriormente, foi destruída, assim como trincheiras localizadas ao norte da Rodovia 10, próxima da cidade de Nogara. Após estes ataques, a Esquadrilha retornou à Base, sem nenhum dano aos aviões.


Às 11h40, a sexta missão do dia iniciou-se, com a decolagem da esquadrilha liderada pelo Capitão Horácio, acompanhado pelos Tenentes Lima Mendes (Ala), Lara (nº 3) e Canário (nº4). Todos eles estavam realizando o segundo voo naquele dia. Fazia pouco mais de uma hora que haviam retornado da missão anterior. Os aviões decolaram para efetuar Reconhecimento Armado sobre as áreas que já vinham sendo atacadas. Os P-47 estavam armados apenas com as metralhadoras e tinham à disposição, 7.680 cartuchos de munição, das quais 6.260 foram utilizados para destruir 15 caminhões abrigados em uma garagem improvisada, próximo de San Benedetto, além de duas edificações com diversos veículos a motor em torno delas. Também foram alvejados, 30 veículos à tração animal à Nordeste de San Felice, com a grande maioria deles, destruída.


A sétima esquadrilha do dia decolou às 12h40, tendo como Líder, o Tenente Dornelles em sua segunda missão, assim como o Tenente Eustórgio (Ala) e o Aspirante Poucinha (nº 4). Voando na posição nº 3, estava o Tenente Torres, o piloto que terminou a guerra com a maior número de missões no Grupo de Caça, com 99 missões ofensivas e 1 defensiva. Assim como ele, muito aviadores do Grupo de Caça fizeram mais de 80 missões na Campanha da Itália. Para se ter uma ideia da grandeza desses números, os pilotos estadunidenses retornavam para casa, após completarem 35 missões. Ao chegar sobre o objetivo, a formação encontrou condições meteorológicas desfavoráveis, mesmo assim, com determinação, destruiu com o uso das metralhadoras, quatro casas ocupadas pelo inimigo a leste de San Benedetto, além de dois veículos motorizados e um carro de comando. Também foram danificadas, duas balsas, um veículo a motor e dois carros de comando. Dos 7.680 cartuchos de munição disponíveis, apenas 260 restavam nos cofres, quando os aviões pousaram.


Mais quatro missões foram realizadas no período vespertino, a primeira delas, a oitava do dia, decolou às 13h45. Importante dizer que durante as ações naquele dia, enquanto duraram as operações, havia pelo menos sempre uma Esquadrilha no ar, atacando a logística do inimigo. Todos os pilotos que participaram da missão 379, estavam efetuando a segunda surtida do dia. Eram eles, o Capitão Pessoa Ramos (Líder), acompanhado pelos Tenentes Rocha (Ala), Perdigão (nº 3) e Paulo Costa (nº 4). O objetivo da missão era efetuar reconhecimento armado e atacar novamente as posições que já haviam sido alvejadas pela esquadrilha liderada pelo Tenente-Coronel Nero. Também foram danificadas pelos disparos das metralhadoras, quatro balsas, além de um veículo a motor, que foi destruído e outro, avariado 


Quando a esquadrilha liderada pelo Capitão Pessoa Ramos estava sobre a região do Vale do Rio Pó, atacando objetivos, decolava de Pisa, a nona missão do dia, comandada pelo Tenente-Coronel Nero, tendo como Ala, o Tenente Goulart e os Tenentes Neiva e Mocellin como pilotos nº 3 e 4, respectivamente, tinha início. Durante a missão, mais 13 veículos motorizados foram destruídos pela ação das metralhadoras dos aviões, além de outros três, avariados. A garagem improvisada que havia sido identificada e atacada anteriormente, foi fotografada pela câmera instalada no P-47 do Tenente Mocellin, comprovando a sua completa destruição.


A penúltima missão do dia teve início às 15h45, com a decolagem da esquadrilha comandada pelo Tenente Meira (Líder) e completada com os também Tenentes Tormim (Ala), Keller (nº 3) e Coelho (nº 4). A meteorologia sobre o Vale do Rio do Pó começava a degradar, com a baixa cobertura de nuvens dificultando as ações de identificação e ataque aos alvos em terra. Entretanto, deixando as dificuldades de lado, Meira e seus comandados conseguiram localizar e atacar um comboio com veículos transportando munições e explosivos, destruindo 21 deles e avariando alguns outros. A missão entretanto, teve um desfecho dramático. O Tenente Coelho, ao mergulhar seu P-47 para atacar um blindado, acabou sendo atingido pela artilharia antiaérea inimiga. O piloto conseguiu saltar de paraquedas mas acabou capturado e feito prisioneiro pelos alemães. Felizmente, alguns dias depois, com a iminente rendição alemã, acabou sendo libertado.


A décima primeira e última missão do dia, decolou do Aeródromo de Pisa às 15h15. A formação era comandada pelo Capitão Horácio e composta ainda pelo Capitão Buyers (Ala) e pelos Tenentes  Lima Mendes (nº 3) e Lara (nº 4). Ressalta-se que, tanto o Capitão Horácio quanto os Tenentes Lima Mendes e Lara, estavam realizando a terceira missão naquele dia, um feito marcante e que demonstrava todo o comprometimento e a dedicação do Grupo. O Capitão John Buyers atuava como Oficial de Ligação entre o Grupo de Caça e o Alto-Comando estadunidense no Teatro de Operações, entretanto, em virtude da baixa disponibilidade de pilotos, ele próprio voou duas missões no dia 22 de abril. Ao chegar sobre o objetivo, os pilotos, a exemplo da missão anterior, encontraram condições atmosféricas desfavoráveis, mesmo assim, foram destruídos um tanque leve, um carro de comando, além da edificação que servia de abrigo aos mesmos. As esquadrilhas que realizaram as duas últimas missões daquele dia memorável, pousaram quase ao mesmo tempo em Pisa, separadas por poucos minutos de intervalo. Encerrava-se um dia histórico para o Grupo de Caça e para a própria Aviação de Caça da FAB, deixando para as gerações futuras, um legado incontestável de patriotismo, coragem e determinação no cumprimento do dever.






No restante do mês de abril, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça continuou atacando o inimigo com grande determinação. Em um grande esforço por parte dos pilotos e das equipes de manutenção, mais dez esquadrilhas decolaram diariamente nos três dias seguintes, contribuindo de maneira decisiva para a vitória das Forças Aliadas. O mês encerrou com um total de 135 missões. Para se ter uma ideia da grandeza desse número, basta dizer que ele representou quase um terço das 444 missões cumpridas pela Unidade Aérea, nos pouco mais de seis meses em que atuou na Itália. A última missão do Grupo de Caça ocorreu no dia 2 de maio. Seis dias depois, a guerra terminava na Europa.



A imagem acima comprova toda a resistência do P-47. Durante uma missão, o 2º Tenente Raymundo da Costa Canário, na recuperação do mergulho após um ataque, atingiu uma chaminé com a asa direita de seu avião, perdendo uma parte da estrutura. Mesmo assim, conseguiu retornar à Base. Foto: FAB/Divulgação








Como reconhecimento pela atuação na Segunda Guerra Mundial, sobretudo nas ações heroicas desempenhadas durante a Ofensiva da Primavera, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça recebeu do Governo dos Estados Unidos, a "Presidential Unit Citation" ou "Citação de Unidade Presidencial", uma condecoração especial concedida a Organizações Militares que se destacaram em combate por bravura, determinação e espírito de corpo, cumprindo sua missão em condições extremas de perigo e dificuldade. Criada em 1941, até hoje, apenas três Unidades fora dos Estados Unidos foram agraciadas com a Comenda, sendo o Grupo de Caça, uma delas. A condecoração foi oficialmente recebida no dia 22 de abril de 1986, em Solenidade na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Em memória aos feitos históricos do Primeiro Grupo de Aviação de Caça e com o objetivo de eternizar o esforço de seus integrantes no cumprimento das missões, sobretudo no dia 22 de abril de 1945, a Força Aérea Brasileira celebra nesta data, o Dia da Aviação de Caça.

O Primeiro Grupo de Aviação de Caça continua em plena atividade até os dias atuais e completou no último dia 18 de dezembro, 81 anos de existência. Desde que retornou ao Brasil, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, sua sede é a Base Aérea de Santa Cruz, localizada no Rio de Janeiro. Ao longo do tempo, o célebre P-47 cedeu lugar aos jatos Gloster Meteor, Lockheed TF-33 e AT-26 Xavante. Hoje em dia, o 1º GAvCa opera com os caças supersônicos F-5EM/FM Tiger II e num futuro próximo, deverá ser reequipado com os modernos F-39 Gripen. Seu atual Comandante é o Major Aviador Gusttavo Freitas de Souza, no cargo desde o dia 21 de janeiro de 2025.

Os valores e ideais defendidos nos céus da Itália por Nero Moura e seus comandados, permanecem vivos nos Jambocks de hoje, que continuam a ostentar com orgulho em seus trajes de voo, o célebre emblema do avestruz guerreiro. Decorridos 80 anos daquele dia histórico, o legado de coragem, patriotismo e determinação no cumprimento da missão, deixado por aqueles audazes aviadores, atravessou o tempo. Princípios forjados no calor dos combates e muitas vezes, com o sacrifício da própria vida e que seguem moldando o caráter e servindo de exemplo e inspiração para todas as gerações de Pilotos de Caça da Força Aérea Brasileira que os sucederam. Lições que carregam consigo todas as vezes que decolam rumo aos céus. Aquele bravo grupo estava lá apenas para cumprir seu dever, mas fez muito mais que isso. Senta a Púa! Brasil!


terça-feira, 15 de abril de 2025

Exclusivo: Esquadrão Pantera realiza treinamento em Florianópolis

 

Entre os dias 1 e 17 de abril, a Base Aérea de Florianópolis está sediando o Exercício Técnico (EXTEC) "Içamento no Mar", com a presença de aeronaves H-60L Black Hawk e militares do Quinto Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação (5º/8º GAv), também conhecido como Esquadrão "Pantera", Unidade Aérea pertencente à Aviação de Asas Rotativas da FAB, localizada em Santa Maria/RS. O objetivo principal da manobra é o aperfeiçoamento das tripulações e equipes de resgate nas diversas técnicas que envolvem missões de Busca e Salvamento (SAR) em ambiente aquático, além da qualificação dos integrantes recém-chegados à Unidade Aérea, neste tipo de atividade, uma das muitas realizadas pelo Esquadrão. Conheça a partir de agora, através de fotos, informações e conteúdos visuais exclusivos, detalhes da estrutura atual da Aviação de Asas Rotativas da FAB, do Esquadrão Pantera e sobre o treinamento. Boa leitura!! 


O Esquadrão Pantera é uma das cinco Unidades Aéreas que compõem o Oitavo Grupo de Aviação, estrutura que reúne o emprego operacional com helicópteros na Força Aérea Brasileira e que atende à seguinte distribuição geográfica: Primeiro Esquadrão (1º/8º GAv, Natal/RN); Segundo Esquadrão (2º/8º GAv, Porto Velho/RO); Terceiro Esquadrão (3º/8º GAv, Santa Cruz/RJ); Quinto Esquadrão (5º/8º GAv, Santa Maria/RS) e; Sétimo Esquadrão (7º/8º GAv, Manaus/AM). Estas unidades são responsáveis por uma grande variedade de atividades, incluindo Transporte Aeroterrestre, Ataque, Busca e Salvamento, Evacuação Aeromédica, Missões Humanitárias, entre outras. Além dos Esquadrões subordinados ao Oitavo Grupo, a Aviação de Asas Rotativas da FAB possui outras três unidades dedicadas às missões de Instrução de Voo, Busca e Salvamento e Transporte de Autoridades, localizadas respectivamente em Natal/RN, Campo Grande/MS e Brasília/DF.

De forma resumida, a história do Esquadrão Pantera está ligada à criação do Quarto Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque (4º EMRA), no início da década de 70, em Santa Maria/RS, mais tarde redesignado como 5º EMRA. Na época, assim como as demais Unidades Aéreas deste tipo, o 5º EMRA operava uma frota combinada de aviões e helicópteros, daí advindo a palavra "Misto", realizando uma ampla gama de missões. Em setembro de 1980, todas essas Unidades Aéreas foram extintas e em seu lugar, surgiu o Oitavo Grupo de Aviação, passando a empregar exclusivamente aeronaves de asas rotativas. Em sua nova fase, agora denominada como 5º/8º GAv, a Unidade continuou operando com o lendário Bell UH-1H até 2011, quando começaram a chegar os Sikorsky H-60L Black Hawk, vetor que equipa o Esquadrão Pantera na atualidade. Ao longo do tempo, foram inúmeras participações em resgates e situações de calamidade pública, prestando um apoio fundamental para a população. Entre as mais marcantes, a remoção para hospitais das vítimas do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (2013), auxílio aos atingidos por desastres climáticos em Santa Catarina (2008) e no Rio Grande do Sul, no ano passado. O Esquadrão Pantera é subordinado operacionalmente ao Comando de Preparo (COMPREP) e administrativamente à Base Aérea de Santa Maria (BASM). O Emblema da Unidade traz como elemento central, uma pantera negra com semblante agressivo e seu grito de guerra é a expressão "Oigalê Fera!", típica das terras gaúchas, utilizada para chamar a atenção de algo, exprimir admiração ou respeito por algum fato ou situação. Atualmente a Unidade Aérea é comandada pelo Tenente-Coronel Aviador Kleison Roni Reolon.


O treinamento conta com a participação de três helicópteros H-60L Black Hawk e cerca de sessenta militares. Para isso, o Esquadrão Pantera deslocou para Florianópolis, boa parte de sua estrutura, incluindo também o Alerta SAR. Durante todo o ano, 24 horas por dia, em coordenação com o SALVAERO Sul, a Unidade Aérea mantém uma aeronave em prontidão, capaz de decolar em poucos minutos para atender emergências ou realizar missões de Busca e Salvamento em qualquer ponto da região Sul do Brasil, tanto em terra quanto sobre o mar. O adestramento na capital catarinense é focado em dois tipos de cenários, o resgate de pessoas à deriva na água e situações de Evacuação Aeromédica (EVAM) de tripulantes em embarcações. Ambas as ações fazem parte da rotina do Esquadrão e para tal, os pilotos, operadores de guincho e o pessoal do resgate, precisam estar bem treinados para realizá-las com a máxima eficiência. É uma atividade que exige de todos, muita atenção, trabalho em equipe, coordenação, além de habilidade na pilotagem, para manter a aeronave em voo pairado, à baixa altura e em qualquer condição de tempo, de dia ou de noite, nesse caso, com o auxílio de Óculos de Visão Noturna (NVG). Nesse contexto, o exercício este ano está trazendo como novidade, o resgate noturno. Além da capacitação e do treinamento neste tipo de situação, a prática também vai permitir que o Esquadrão possa testar e validar doutrinas de emprego com este tipo de equipamento, algo fundamental no caso de acionamentos reais. Importante dizer que o treinamento tem validade de um ano e é obrigatório para todos os integrantes operacionais da Unidade Aérea, sejam eles veteranos ou recém-chegados. Também é uma excelente oportunidade para a padronização de procedimentos e o entrosamento das equipes.

Um dos helicópteros em Florianópolis fica de prontidão, em caso de acionamento para qualquer tipo de emergência. A bordo, a aeronave já está guarnecida com os equipamentos necessários para atender todos os tipos de salvamento.

Fotos: Marcelo Lobo da Silva



O treinamento prossegue durante a noite, com o emprego de Óculos de Visão Noturna (NVG). O Esquadrão Pantera foi o pioneiro na FAB na utilização deste equipamento nas operações com helicópteros.


Para o salvamento em meio aquático, existem diversas técnicas de resgate. Uma das mais conhecidas, atende pelo nome de Kapoff, método de içamento desenvolvido pelos ingleses e empregado na FAB, desde os anos 80. O procedimento é utilizado em situações em que não é possível o salvamento por outras formas, a não ser com a presença do helicóptero. Embora possa parecer simples aproximar a aeronave, descer o guincho e trazer uma pessoa para bordo, toda a ação é cercada de condicionantes e variáveis, incluindo o estado de saúde da vítima, as características do local, fatores climáticos, entre outros. O treinamento acontece nas águas da Baía Sul, bem em frente à Base Aérea de Florianópolis, em uma área pré-definida, distante a cerca de 2 km da orla. Já a atividade de resgate em embarcação, foi realizada na semana passada e contou com o apoio da Marinha do Brasil, através da participação do Navio-Patrulha (NPa) P-63 "Babitonga", vinculado ao Quinto Distrito Naval (5º DN), com sede na cidade de Rio Grande/RS. Essa etapa ocorreu nas imediações da cidade de Itajaí, litoral norte catarinense.

Treinamento de resgate em embarcação, com o apoio do Navio-Patrulha (NPa) P-63 "Babitonga", da Marinha do Brasil. Foto: Sgt. Ferraz/Esquadrão Pantera

A relação do Esquadrão Pantera com Florianópolis é antiga. Desde a década de 80, a Unidade Aérea se desloca regularmente para a capital catarinense, com o propósito de realizar seus treinamentos operacionais, anteriormente conhecidos pelos nomes de "Guasca" (Resgate) e "Mata Pato" (Tiro contra alvos aéreos e terrestres). São vários os fatores que justificam o deslocamento da Unidade Aérea desde o interior gaúcho até o litoral catarinense. Entre os principais, está o apoio logístico proporcionado pela Base Aérea de Florianópolis, fornecendo as condições ideais de hospedagem e alimentação para as tripulações e de manutenção e abrigo para as aeronaves. Outro ponto fundamental é a geografia da Ilha de Santa Catarina, com as águas calmas e abrigadas da Baía Sul, servindo como palco perfeito para o adestramento das tripulações. Além disso, a proximidade com a Base Aérea, permite que o helicóptero alcance a área de treino em poucos minutos, resultando em substancial economia de combustível e maior tempo útil de atividade.

A imagem acima mostra a localização da área destinada ao treinamento de resgate sobre a água. Um dos principais trunfos para que este treinamento aconteça na capital catarinense, é a proximidade com a Base Aérea de Florianópolis. Fonte da imagem: Google Earth

H-60L Black Hawk do Esquadrão Pantera, decolando para mais um exercício de resgate. Foto: Marcelo Lobo da Silva

Durante o treinamento em Florianópolis, uma típica missão de resgate envolve a participação de um helicóptero e de um bote inflável. A bordo da aeronave, estão, além dos dois pilotos, o operador do guincho e a equipe de resgate. Na embarcação, seguem militares da Força Aérea Brasileira, que farão o papel de "vítimas" à deriva na água, para serem resgatadas. Na condução do bote, estão sempre integrantes experientes em salvamento, aptos a atuarem com rapidez, em caso de emergência ou necessidade. Na manhã de ontem, segunda-feira (14/4), o site Aviação em Floripa teve o privilégio em acompanhar uma dessas missões, embarcando junto com a equipe no bote. No total, foram realizados quatro içamentos individuais, além de alguns resgates com o uso da maca. Nesse caso, um boneco simula uma pessoa com um quadro de saúde mais crítico, necessitando do equipamento para ser conduzida ao helicóptero. Tudo acontece a poucos metros de altura sobre o mar, requerendo grande atenção, destreza e coordenação de todos a bordo da aeronave. Acompanhe abaixo, em fotos do colaborador Ângelo dos Santos Melo, detalhes do resgate na água.

A equipe que participou da missão, juntamente com o Editor do site Aviação em Floripa, primeiro à esquerda na foto e, ao seu lado, o colaborador e fotógrafo, Ângelo dos Santos Melo. Foto: Sgt. Jeber/SCS BAFL

Fotos: Ângelo dos Santos Melo

O Sistema de Busca e Salvamento Aeronáutico Brasileiro, conhecido pela sigla SISSAR, é vinculado ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), um dos braços da Força Aérea Brasileira. A estrutura é reconhecida mundialmente pelo seu preparo, prontidão e eficiência para localizar e socorrer ocupantes de aeronaves e embarcações em situações de perigo, em uma área de 22 milhões de quilômetros quadrados, equivalente a mais de duas vezes toda a extensão do continente europeu. São diversas Organizações Militares, tendo na ponta da lança, as Unidades Aéreas, as tripulações e equipes de resgate. É uma cadeia coordenada, organizada e motivada, trabalhando diuturnamente com um único objetivo: "Para que outros possam viver!". Existe um famoso ditado que diz que "Você luta como treinou". Esta máxima também é verdadeira quando se trata de salvar vidas. Por este motivo, exercícios como o que está ocorrendo em Florianópolis são tão importantes. É por intermédio deles, que a FAB e suas equipes de resgate se capacitam para estar sempre prontas e preparadas para atuar em prol da Segurança de Voo e da sociedade brasileira.

O site Aviação em Floripa agradece ao Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER), ao Comando de Preparo (COMPREP), à Seção de Comunicação Social da Base Aérea de Florianópolis (SCS/BAFL) e ao Esquadrão Pantera, pela autorização, acesso, acompanhamento e informações prestadas sobre o Exercício, sem os quais, esta matéria não teria sido possível.

quarta-feira, 19 de março de 2025

APP Sul começa a ganhar forma em Florianópolis [Atualização]


Esta matéria é uma atualização do conteúdo publicado em janeiro pelo site Aviação em Floripa, a respeito da implantação da APP Sul na Base Aérea de Florianópolis, um sistema que promete otimizar o controle do tráfego aéreo em toda a região Sul do Brasil. Na manhã da última sexta-feira (14/3), a Base Aérea de Florianópolis passou a ser subordinada ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), em substituição ao Comando de Preparo (COMPREP), Organização Militar a qual estava ligada desde fevereiro de 2022 O ato de transferência foi marcado por uma cerimônia reservada e sem a presença de público externo. A partir de agora, começam efetivamente, as obras que visam a adaptação do local escolhido para receber os equipamentos e toda a logística necessária para a implementação do projeto e a operação desta estrutura, que promete representar um avanço significativo na padronização e na segurança operacional.

A cerimônia militar, realizada na BAFL, contou com a presença do Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, Oficiais-Generais do Alto-Comando da Aeronáutica e de outras Organizações Militares da FAB, além de militares da Guarnição de Aeronáutica de Florianópolis (GUARNAE-FL).

O evento contou com a presença do Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Aviador Marcelo Kanitz Damasceno (à diretita). Ao seu lado, o Comandante da Base Aérea de Florianópolis, Coronel Aviador João Paulo Gomez Lima da Silva. Foto: Sgt Miguel/BAFL

Com a incorporação da Base Aérea de Florianópolis ao DECEA, o próximo passo será a concentração dos Centros de Controles de Aproximações (APP) Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre nas dependências da BAFL, visando aprimorar a segurança da navegação aérea, a eficiência operacional e a integração tecnológica. A expectativa é que a mudança permita um gerenciamento mais eficiente de mais de 200 mil tráfegos aéreos por ano. Nas palavras do Diretor-Geral do DECEA, Tenente-Brigadeiro do Ar Maurício Augusto Silveira de Medeiros: “Essa transição promove a otimização dos recursos operacionais, patrimoniais e humanos, melhorando a coordenação e comunicação entre as equipes, reduzindo riscos e aumentando os índices de segurança, prioridade máxima do DECEA”.

Foto: SO Balderramas/BAFL

Foto: Sgt Miguel/BAFL

Quando se fala em monitoramento do espaço aéreo, para a grande maioria das pessoas, a primeira imagem que vem á cabeça, remete à Torre de Controle de um Aeroporto. Entretanto, o sistema que coordena e controla todas as atividades aéreas e aeronaves, tanto no solo como nos céus, sejam elas tripuladas ou não, é muito mais complexo e envolve uma extensa rede interligada, composta por um grande número de organizações e profissionais, dedicados diuturnamente, todos os dias do ano, em zelar pela segurança do voo, com o objetivo de que todos cheguem aos seus destinos. Uma destas estruturas, atende pelo nome de Controle de Aproximação, conhecido pela sigla APP (do inglês Approach Control). Ele é responsável pelo controle dos tráfegos aéreos e fornecer informações durante a chamada fase intermediária do voo, que acontece logo após a decolagem e vai até os momentos que antecedem o pouso de uma aeronave. Também monitora os tráfegos aéreos que estão de passagem sobre a sua área de atuação, cruzando o espaço aéreo. Cabe ao Controle de Aproximação, proporcionar a adequada separação entre as aeronaves, disciplinar, acelerar e manter ordenado o fluxo de tráfego aéreo, além de orientar e instruir as aeronaves na execução dos procedimentos de espera, saída e chegada aos aeródromos em sua jurisdição. Os principais aeroportos brasileiros, incluindo aqueles localizados em todas as capitais das Unidades da Federação brasileiras, possuem seu próprio APP, totalizando 41 estruturas deste tipo espalhadas pelo país.

As áreas sob a responsabilidade de um APP compreendem a fase intermediária do voo, iniciada logo após a decolagem e finalizada momentos antes do pouso de uma aeronave. Essa importante etapa do voo é composta por dois espaços aéreos bem definidos, chamados de CTR (Control Zone, ou Zona de Controle) e TMA (Terminal Control Area, ou Área de Controle Terminal). Infográfico: Aline Prete/DECEA/Divulgação

Vista do interior de uma sala de controle de tráfego aéreo em um APP. Foto: DECEA/Divulgação

No Brasil, o organismo responsável pelo controle do espaço aéreo, por prover serviços de navegação aérea que viabilizam os voos e a ordenação dos fluxos de tráfego aéreo é o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), um dos braços da Força Aérea Brasileira e que tem sua sede na cidade do Rio de Janeiro. Em resposta ao aumento do volume de tráfegos aéreos, à maior diversidade de meios aéreos e aos recentes desenvolvimentos tecnológicos no campo da aviação, o DECEA instituiu o Programa SIRIUS, composto por uma série de empreendimentos com o objetivo de tornar o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), muito mais eficiente e seguro sobre os 22 milhões de quilômetros quadrados que abrangem a área sob responsabilidade e jurisdição da Força Aérea Brasileira, incluindo todo o território nacional e boa parte das águas do Atlântico Sul.

Estrutura atual do Sistema de Controle do Espaco Aéreo Brasileiro (SISCEAB). Fonte: DECEA/Divulgação

Um dos empreendimentos do Programa SIRIUS é composto pela aglutinação dos Órgãos de Controle de Aproximação. Nesse sentido, a Região Sul do Brasil passará a receber um serviço centralizado de coordenação e monitoramento dos tráfegos aéreos sobre os três Estados, unificando a partir da capital catarinense, as operações dos APPs de Curitiba (APP-CT), Porto Alegre (APP-PA) e da própria Florianópolis (APP-FL), reunidos na APP Sul, que deve começar a funcionar integralmente a partir do próximo ano. Até lá, o atual sistema continua em pleno funcionamento e fornecendo o suporte necessário às operações aéreas. Uma outra consequência da implementação da APP Sul, será a desativação do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Florianópolis (DTCEA-FL), com suas funções sendo absorvidas e integradas à nova estrutura, que ficará sediada nas dependências da Base Aérea de Florianópolis.

Local escolhido para abrigar a APP Sul, em Florianópolis. Fonte da imagem: Google Earth



O local que irá abrigar a estrutura da APP Sul, são os centenários hangares existentes na Base Aérea de Florianópolis, construídos na década de 1920, quando o local pertencia à Marinha do Brasil, que ali operava o Centro de Aviação Naval de Florianópolis. Fotos: Marcelo Lobo da Silva (arquivo pessoal).

A escolha de Florianópolis para sediar a APP Sul se deve à localização geográfica, em posição  centralizada, cobrindo de forma mais efetiva todos os pontos da Região Sul. Florianópolis passa a ser a primeira Base Aérea em plena atividade da FAB a ser subordinada operacionalmente ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Recentemente a área outrora ocupada pela extinta Base Aérea de Recife também passou para o controle do DECEA, incorporada ao Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA III). Segundo apuramos, a mudança do COMPREP para o DECEA não afetará o cotidiano de atividades da Organização Militar nem o papel exercido pela Base Aérea de Florianópolis dentro do Comando da Aeronáutica, continuando sua função primária em contribuir para a manutenção da soberania do espaço aéreo, ajudando na integração do território nacional, com vistas à defesa da Pátria. Dessa forma, a BAFL deverá seguir recebendo durante o ano, Exercícios Operacionais e as qualificações anuais das diversas Unidades Aéreas que compõem as Aviações da FAB, principalmente aquelas ligadas à missão de Busca e Salvamento (SAR). Quanto ao efetivo, certamente haverá um acréscimo de pessoal, em virtude da chegada dos profissionais que irão atuar diretamente na operação da APP Sul.

Nascida no calor dos combates da Segunda Guerra Mundial, a Base Aérea de Florianópolis (BAFL) é tão antiga quanto à própria Força Aérea Brasileira (FAB), criada em janeiro de 1941, oriunda da fusão entre os componentes aéreos do Exército e da Marinha. Naquele tempo, a aviação já se fazia presente na capital catarinense desde maio de 1923, quando a Marinha do Brasil, expandindo suas asas aos quatros cantos do país, implantou aqui um de seus Centros de Aviação Naval. Ativada oficialmente em 22 de maio de 1941, ao longo do tempo, a Organização Militar recebeu diversas denominações: Base Aérea de Florianópolis (1941-1942), 14º Corpo de Base Aérea de Florianópolis (1942-1944), Base Aérea de 2ª Classe de Florianópolis (1944-1947), Destacamento de Base Aérea de Florianópolis (1947-1970) e novamente Base Aérea de Florianópolis, designação que se mantém até os dias atuais. 

A história da BAFL é marcada por mudanças estruturais que contribuíram para sua evolução. Em 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, como visto, a unidade passou da Marinha do Brasil (MB) para a Força Aérea Brasileira. Em 2017, sua subordinação foi transferida do Comando-Geral do Ar (COMGAR) para a Secretaria de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica (SEFA), retornando ao COMPREP em fevereiro de 2022. Em seu discurso, o atual Comandante da Base Aérea de Florianópolis, Coronel Aviador João Paulo Gomez Lima da Silva, destacou que: “Ao longo de todas essas mudanças, permanecemos firmes graças a um efetivo dedicado e obstinado. Agora, sob a estrutura do DECEA, a BAFL se alinha ainda mais ao trinômio de Defender, Controlar e Integrar. Seguiremos apoiando as unidades da FAB que operam aqui, garantindo a soberania do nosso espaço aéreo e a defesa da Pátria”. A partir de 14 de março de 2025, um novo capítulo começou a ser escrito na história da Base Aérea de Florianópolis.

Texto: Aviação em Floripa, com informações complementares da Força Aérea Brasileira.