Todos os anos, durante o mês de abril, a Base Aérea de Santa Cruz, localizada na cidade do Rio de Janeiro, recebe as Unidades Aéreas de Caça da Força Aérea Brasileira para um grande encontro. Chamado de Reunião da Aviação de Caça (RAC), o evento tem os objetivos de cultuar as tradições, relembrar histórias e preservar o legado deixado não apenas daqueles que lutaram nos céus da Itália durante a Segunda Guerra Mundial, mas também, das gerações de Caçadores que os sucederam. Este ano, a celebração foi especial, pois marcou os 80 anos de um feito histórico. Em 22 de abril de 1945, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça realizou o maior número de missões em um único dia. Foram onze, cada uma delas, composta por Esquadrilhas com quatro aviões e com apenas 22 pilotos disponíveis para o voo. Não por acaso, a data é comemorada na Força Aérea Brasileira como o Dia da Aviação de Caça. Durante quatro dias, o site Aviação em Floripa acompanhou toda a programação da Reunião da Aviação de Caça desse ano e preparou para seus leitores um conteúdo especial, ilustrado por tabelas inéditas e diversos infográficos exclusivos, trazendo detalhes do evento, além de um breve histórico da Aviação de Caça da FAB, suas aeronaves, Unidades Aéreas e muito mais. Boa leitura!!
A Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira atualmente é composta por nove Unidades Aéreas, distribuídas de norte a sul do país (veja infográfico mais abaixo). Cinco delas, são classificadas como de "Primeira Linha", operando com aeronaves de alto desempenho e capacidade de combate. As demais, empregam o mesmo vetor, o turboélice de treinamento e ataque leve A-29 Super Tucano, fabricado pela Embraer, considerado o mais eficiente e moderno avião no mundo em sua categoria e um grande sucesso de vendas mundo afora. O modelo é utilizado tanto na formação dos futuros Pilotos de Caça da FAB em Natal/RN, quanto no policiamento do espaço aéreo junto às fronteiras norte e oeste, coibindo a entrada de voos ilícitos procedentes dos países vizinhos, feitos por aviões de pequeno porte, transportando drogas ou contrabando. Essa tarefa é de responsabilidade do 3º Grupo de Aviação e seus três Esquadrões, localizados estrategicamente nas cidades de Boa Vista/RR, Porto Velho/RO e Campo Grande/MS. Por sua vez, a espinha dorsal de caças da FAB, é formada pelos supersônicos F-39E Gripen (Anápolis/GO) e F-5EM/FM Tiger II (Santa Cruz/RJ e Canoas/RS), além dos caças-bombardeiros subsônicos A-1AM/BM (Santa Maria/RS), estes, previstos para deixar o serviço ativo em breve.
Na Base Aérea de Natal, situada na cidade de Parnamirim/RN, está concentrada a formação de todos os pilotos operacionais da FAB. No começo de cada ano, o local recebe os Aspirantes oriundos da Academia da Força Aérea (AFA), localizada em Pirassununga/SP, para os Cursos de Especialização Operacional em suas quatro vertentes: Asas Rotativas (CEO-AR), Caça (CEO-CA), Transporte (CEO-TR) e Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (CEO-IVR), todos com duração de nove meses. No tocante à Caça, o curso é ministrado no Segundo Esquadrão do Quinto Grupo de Aviação (2º/5º GAv), com o objetivo de utilizar o avião como plataforma de armas, além de apresentar aos aviadores egressos do "Ninho das Águias", as doutrinas, táticas e procedimentos utilizados na Aviação de Caça. A aeronave empregada nessas importantes tarefas, é a versão de dois assentos do A-29 Super Tucano. É no Esquadrão Joker que também acontece o primeiro contato dos Aspirantes com a rotina de uma Unidade Aérea de Caça. Concluído o curso, os jovens Caçadores, agora no posto de Segundo-Tenente, seguem para um dos três Esquadrões do 3º Grupo de Aviação, onde vão iniciar na prática, a função como Pilotos de Caça e, ao mesmo tempo, realizar os primeiros cursos de progressão operacional na carreira, qualificando-os como Líder de Esquadrilha. Nessas Unidades Aéreas, são pelo menos dois anos voando o A-29 Super Tucano, até que se possa pleitear uma vaga em um Esquadrão de "Primeira Linha", o topo da atividade operacional para qualquer Piloto de Caça. Somando-se os quatro anos de Academia da Força Aérea, mais um ano de Especialização Operacional, além do período nos "Terceiros", são necessários no mínimo, sete anos de muito estudo e dedicação para que se possa pilotar as melhores, mais rápidas e capazes aeronaves de caça da FAB. Um outro caminho para os aviadores que concluem esse tempo de serviço, é o retorno para Natal ou Pirassununga, na qualidade de Instrutor de Voo.
Os registros históricos são imprecisos em indicar com exatidão, desde quando os Esquadrões de Caça da FAB se reúnem para um grande encontro anual, entretanto, é possível afirmar que no começo dos anos 60, isso já acontecia, inicialmente de forma itinerante, entre as Bases Aéreas que abrigavam Unidades de Caça na época, Canoas/RS (1º/14º GAv), Fortaleza/CE (1º/4º GAv) e Santa Cruz/RJ, sede do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa) desde 1945, quando a Unidade retornou da Campanha da Itália. Alguns anos depois, decidiu-se que o evento, agora oficializado sob o nome de Reunião da Aviação de Caça (RAC), deveria acontecer em um local fixo e a escolha recaiu sobre a Base Aérea de Santa Cruz, um dos berços da aviação de combate da FAB. Conhecido nos seus primórdios por outros nomes, como Festividade da Caça ou Semana de Caça, pois durava realmente vários dias, a partir da década seguinte, com a criação da 1ª Ala de Defesa Aérea (1ª ALADA), em Anápolis/GO e o surgimento posterior de outras Unidades Aéreas, aos poucos, a RAC foi ganhando um caráter maior de formalidade e uma organização mais elaborada. O encontro que começou apenas como um tributo ao legado deixado pelos pioneiros e uma confraternização entre pilotos, com o tempo, adicionou e integrou novos elementos, até se chegar ao modelo atual, contando com a participação de Oficiais a nível de Comando, além da troca de experiências e conhecimentos entre todos, através da realização de palestras sobre assuntos ligados ao dia-a-dia da Aviação de Caça.
Após o surgimento da Reunião da Aviação de Caça, um outro evento começou a tomar forma, envolvendo as Unidades Aéreas de Caça existentes à época na FAB, compostas pelo 1º GAvCa (Jambock e Pif Paf), 1º/4º GAv (Pacau) e 1º/14º GAv (Pampa). Assim nasceu o Torneio da Aviação de Caça (TAC), uma disputa por meio de competições aéreas e esportivas, criado com os objetivos de consolidar e aprimorar a doutrina de emprego, permitir o intercâmbio entre os Esquadrões participantes, avaliar a eficiência operacional das Unidades Aéreas de Caça e o preparo físico e militar dos seus integrantes, além de estimular e fortalecer a integração e o espírito de corpo. A primeira edição aconteceu em abril de 1966, na Base Aérea de Santa Cruz, durante as comemorações da Semana da Caça daquele ano, com o Esquadrão Pampa de Canoas/RS, sagrando-se campeão. Até então, as Unidades Aéreas de Caça da FAB realizavam apenas torneios internos, chamados de "Taça Eficiência", porém, nos mesmos moldes do TAC, ou seja, com provas aéreas (nas modalidades ar-ar e ar-solo) e esportivas (voleibol, cabo de guerra, provas de tiro, entre outras). Inicialmente realizado em fases, distribuídas ao longo do ano entre as Bases Aéreas que abrigavam Unidades de Caça, a partir de 1987, o TAC passou a ser disputado em uma única etapa. Com o passar do tempo, o Torneio da Aviação de Caça ganhou novos participantes, novas sedes, mudou de formato, mas se manteve com os mesmos propósitos.
Até o início da década de 70, como visto, a Força Aérea Brasileira contava com três Unidades Aéreas de Caça, sendo elas, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça e seus dois Esquadrões, em Santa Cruz/RJ, o Primeiro Esquadrão do Quarto Grupo de Aviação, em Fortaleza/CE e o Primeiro Esquadrão do Décimo Quarto Grupo de Aviação, sediado em Canoas/RS. Cabe destacar que desde a criação do Ministério da Aeronáutica, em janeiro de 1941, diversas Unidades de Caça chegaram a existir, porém, por conta de reestruturações e reorganizações administrativas e/ou operacionais, muitas acabaram extintas ou incorporadas a outras. Nesse contexto, uma das mais emblemáticas e efêmeras, foi o Esquadrão Seta, localizado em Natal/RN e que existiu por apenas três anos (1975-1978), atuando na formação dos novos Pilotos de Caça da FAB. A entrada em serviço do AT-26 Xavante em 1971, o advento do supersônico Mirage III no ano seguinte, além da aquisição de outros modelos de aeronaves de combate mais à frente, permitiram o surgimento de novas Unidades Aéreas. Na tabela abaixo, estão listadas por ordem cronológica, todas as Unidades Aéreas de Caça, passadas e presentes, da Força Aérea Brasileira.
Ao longo de sua história, a Força Aérea Brasileira operou com 14 modelos distintos de aviões de caça. O primeiro deles foi o Curtiss P-36A Hawk, com dez exemplares recebidos dos Estados Unidos em 1942. Ainda no começo da década de 40, a FAB incorporou aeronaves mais modernas e com melhor desempenho, sendo elas, o Curtiss P-40 Warhawk e o Republic P-47 Thunderbolt, ambos de fabricação estadunidense. Cabe destacar que o P-47 foi o avião utilizado pelo Primeiro Grupo de Aviação de Caça, durante a Segunda Guerra Mundial e que ainda permaneceu em uso no Brasil por mais alguns anos, após retornar do conflito. No início dos anos 50, a Aviação de Caça brasileira ingressou na era do jato, com a chegada do Gloster Meteor, adquirido do Reino Unido por intermédio de uma curiosa negociação: 70 aviões por 15 mil toneladas de algodão. Duas décadas mais à frente, um novo salto de qualidade, representado pelos primeiros modelos supersônicos a entrar em serviço na FAB, o francês Mirage III (1972) e o estadunidense F-5 (1975). Nessa época, um outro fato marcante, foi a montagem em território nacional (conduzida pela recém-criada Empresa Brasileira de Aeronáutica), do jato de treinamento avançado italiano Aermacchi MB-326, aqui designado como AT-26 Xavante. A parceria entre Brasil e Itália resultou posteriormente no Programa AMX, contemplando o projeto e a construção no país, de um caça-bombardeiro subsônico, equipado com eletrônica de última geração. O conhecimento adquirido pelos Engenheiros e Técnicos da EMBRAER permitiu que a empresa produzisse para a FAB no final dos anos 90, o A-29 Super Tucano, um turboélice de treinamento e ataque leve, que acabou se tornando um grande sucesso de exportação, em função das qualidades do avião. Mais recentemente, a Aviação de Caça ingressou em um novo patamar tecnológico e operacional, com o recebimento dos primeiros exemplares do F-39 Gripen, um caça de origem sueca, desenvolvido em conjunto com o Brasil e equipado com o que existe de mais moderno em termos de sensores e armamentos. Na atualidade, a frota de combate da Força Aérea Brasileira é composta por quatro modelos: A-1 e F-5 Tiger II, ambos em versões modernizadas, A-29 Super Tucano e os novos F-39 Gripen. Acompanhe abaixo, uma arte especial com uma linha do tempo, mostrando todos os tipos e variantes de aeronaves de caça operadas pela FAB, além de outros conteúdos visuais com informações complementares.